Produção de Suco de Uva Casher

Nascente: Por que o vinho e o suco de uva são bebidas tão importantes e acompanham o Kidush e comemorações judaicas?
Rabino M. A. Iliovits: O vinho é considerado por nossos sábios a bebida mais nobre, porque tem a qualidade de saciar e de alegrar as pessoas. Por isso, foi escolhido para acompanhar as celebrações mais importantes.

Nascente:Qual a gravidade de consumir vinho ou suco de uva não casher?
R. Iliovits: O suco de uva e o vinho possuem, igualmente, as mesmas restrições judaicas. A severidade de consumir vinhos e sucos de uva não casher deve-se ao fato de que, no passado, o vinho era usado em cultos e oferendas de idólatras. Muitas vezes, o vinho encontrado com não judeus já tinha sido usado nesses cultos de idolatria - tornando proibido seu consumo, com uma proibição bíblica (deoraytá).

Além disso, o vinho muitas vezes é causa de assimilação, quando consumido em confraternizações entre judeus e não judeus - causando proximidade entre as pessoas. Assim, o consumo de vinhos não casher toca nas proibições mais severas da Torá - avodá zará e guiluy arayot. Por isso, os sábios do Talmud proibiram energicamente qualquer vinho ou suco de uva não casher - mesmo que a relação com estas proibições está aparentemente remota.

Nascente: Qual a diferença entre o suco de uva casher e o não casher?
R. Iliovits: Para ser casher, o suco de uva deve ser preparado com muito cuidado. Há duas condições principais:
1. Que estejam envolvidos na produção apenas judeus praticantes.
2. Que a produção seja realizada em máquinas livres de qualquer vestígio de outros vinhos e sucos. Até mesmo a água formada do condensado de vapor que teve apenas contato indireto (com separação por parede de metal) com outro vinho ou suco, deve ser esgotada antes da produção casher. Antes de iniciar a produção casher, é necessário casherizar todo o equipamento e eliminar qualquer traço de produções prévias. A partir daí, os rabinos e mashguichim devem acompanhar todos os estágios, para garantir que a operação seja realizada exclusivamente por pessoas autorizadas - judeus praticantes. No final, toda a produção deve ser lacrada, para evitar adulterações ou trocas.

Nascente: Estes cuidados tornam a produção do vinho mais difícil que a de outros produtos? Quais as dificuldades de produzir suco de uva casher?
R. Iliovits: Quando se trata de qualquer outro produto - comidas ou bebidas - uma vez iniciada a produção com os equipamentos limpos e com ingredientes autorizados, a produção pode seguir sem maiores cuidados e exigências. Com o vinho é totalmente diferente. Indivíduos qualificados devem estar presentes, cuidando para que apenas as pessoas autorizadas participem no processo de produção.

Nascente: Onde é produzido o suco de uva da Kosher Mart?
R. Iliovits: Atualmente, numa fábrica chamada Vinícola Mena Kaho, uma das empresas mais modernas da região vinícola de Bento Gonçalves. A grande vantagem deste local é que toda a fábrica se dedica, durante os dias que necessitamos, exclusivamente para a nossa produção. Não é praticada nenhuma outra atividade simultânea com a fabricação do suco casher. Os donos da empresa gentilmente atendem a todas as nossas solicitações de boa vontade. Assim, conseguimos fabricar o suco de uva estritamente dentro das exigências da halachá com excelência de forma adequada e segura.

Nascente: Existem cuidados que sua equipe toma e podem eventualmente não ser observados em outros produtores?
R. Iliovits: Sim. Em outros estabelecimentos de grande porte, dificilmente a empresa cede toda a produção para a fabricação casher. Isso significa que, simultaneamente, são fabricados produtos não casher, com o risco de misturarem-se ou interferirem de alguma forma na produção casher - comprometendo a qualidade de casher lamehadrin.

Nascente: Quantas pessoas de sua equipe estão envolvidas na produção?
R. Iliovits: Costumamos acompanhar a fabricação de suco de uva em cinco pessoas. Quatro mashguichim me acompanham, para que todas as atividades sejam minuciosamente supervisionadas, até o envase final do produto.

Nascente: O suco de uva casher Mena Kaho custa o mesmo que os sucos não casher?
R. Iliovits: Não. Mas a diferença é pequena comparada com os demais produtos da mesma qualidade. Obviamente, o produto final sai um pouco mais caro, para cobrir o diferencial pago na fábrica para que ela cesse suas atividades normais e também as despesas do deslocamento de cinco pessoas até o local da produção, transporte, salários, etc.

Nascente: O lucro desta atividade compensa tanto esforço? Vale a pena o sacrifício?
R. Iliovits: Já que você tocou neste assunto, gostaria de abordar um ponto muito importante sobre o modo de a Kosher Mart trabalhar de uma forma geral. Algumas pessoas possuem uma impressão errada sobre a Kosher Mart. Esta empresa não é voltada para lucros. Não foi criada com fins lucrativos. Seu objetivo é atender as necessidades da comunidade em termos de cashrut lamehadrin, o fornecimento de produtos casher de alto nível que necessitem de acompanhamento especial. Para que estes produtos existam nas prateleiras, foi necessária a criação de uma empresa especial de distribuição.

Tomamos como exemplo a produção de atum enlatado. Digamos que a Kosher Mart produza 1000 caixas deste produto. Cada loja compra apenas cinco ou dez caixas! Se nós apenas supervisionássemos a produção, sem adquirir o produto da fábrica, ela não venderia estas pequenas quantidades para nossos comerciantes. Por isso, foi necessário montar uma empresa de distribuição que, não somente acompanha a produção, mas que também adquire a produção e revenda-a em quantidades pequenas para instituições como escolas e lojas de varejo. A necessidade imprescindível da manutenção de uma empresa, que legalmente compra e revende mercadorias, gera gastos de aluguéis, salários, transportes, impostos, etc. Isso resulta em um gasto mensal muito elevado. Esse é o motivo do "over price" dos produtos casher.

A Kosher Mart não tem um "dono" que visa lucro. Os funcionários são assalariados. Inclusive o diretor da empresa recebe uma remuneração bastante modesta. Respondendo à pergunta inicial - se vale a pena tanto sacrifício - a Kosher Mart se vê na obrigação de produzir um suco de uva de alta qualidade para a comunidade. Nem este nem qualquer outro produto é fabricado por lucro. A empresa está totalmente montada no intuito de atender as necessidades de fornecimento casher lamehadrin para o público que faz questão disso.

Nascente: Quanto à qualidade, comparando o suco Mena Kaho com os importados...
R. Iliovits: A qualidade do suco Mena Kaho é excelente! De primeira linha mesmo. A qualidade das uvas e os demais cuidados em todos os estágios da produção são classificados nos padrões do que há de melhor no mercado de suco de uva do centro vinícola do país - Bento Gonçalves é a capital do vinho nacional. Neste ano, a pedido de muitos consumidores, adicionamos um pouco açúcar ao produto para agradar ainda mais ao paladar dos consumidores.

Nascente: Quanto suco é produzido a cada ano?
R. Iliovits: De 20 a 30 mil litros. Isso é suficiente para o consumo da colônia durante aproximadamente 12 meses. A validade deste suco é de três anos, por ser envasado em vidro.

Nascente: O suco já é fervido na vinícola? Isso diminui a qualidade?
R. Iliovits: Ao contrário! O suco é fervido para que tenha a qualidade de "yáyin mevushal", não estando mais sujeito às restrições dos vinhos não cozidos - cujos cuidados são muito rígidos.

Nascente: Pode-se acrescentar água ou açúcar ao suco antes de fazer o Kidush?
R. Iliovits: Não há problema em acrescentar açúcar. Quanto à quantidade de água que pode ser acrescida, há diferentes opiniões entre os possekim. Para atender às recomendações mais exigentes, aconselho não acrescentar mais de 15% de água - mesmo sendo um suco 100% integral, sem qualquer adição de água na fábrica.

Nascente: O consumidor pode adquirir o suco diretamente na Kosher Mart?
R. Iliovits: A Kosher Mart vende o produto por atacado, em caixas.