Introdução à Música no Judaísmo

Muitos frequentadores das sinagogas sefaraditas não chegam a perceber que a cada Shabat o ritmo da reza varia, e pensam que as melodias escolhidas nos diversos trechos cantados pelo público são aleatórios.
A cada Shabat existe um "macam" específico. A bibliografia sobre o assunto é escassa. Para os leigos, é muito difícil iniciar-se no tema.
Fique por dentro, ao menos teoricamente, de toda esta temática.
Nesta matéria, Nascente revela o "segredo dos chazanim"

A época das músicas e das canções existe no Povo Judeu desde o princípio da História. Quando o Mishcan foi erguido, D'us ordenou a Moshê e Aharon que cantassem com o primeiro trabalho. Futuramente, os leviyim foram encarregados de cantar no Mishcan e no Bêt Hamicdash.

O grande sábio Gaon de Vilna já dizia que na música existem muitos segredos, dos quais se pode aprender muito sobre como servir a D'us.

A Torá conta que Yuval, filho de Lêmech, viveu na oitava geração desde a Criação do Mundo e foi (Bereshit 4:21) "avi col tofes kinor veugav" - o pai de todos os que tocam lira e harpa - ou seja, foi o grande mestre precursor da música da lira e da harpa.

Não há contradição entre Torá e música, o inverso que é verdadeiro. Em muitos livros sagrados encontramos menção à elevação espiritual por intermédio da música, quando voltada à santidade, ao Criador, "Leshem Shamáyim".

Ela nos leva do mundo concreto e material, no qual estamos, ao mundo espiritual. Quem maior do que o Rei Davi, que era um grande Talmid Chacham e eminente em Torá e Yirat Shamáyim, para comprovar o valor da música! Toda sua vida entoou cânticos e louvores dedicados ao Todo-Poderoso. E todos os neviím, sobre os quais está escrito que não profetizavam a não ser em um clima de alegria acompanhada de cânticos e músicas!...

Através da música executada de forma pura, o homem pode chegar a atingir elevados níveis espirituais. O grande cabalista Ari zal mandou dizer ao Rav Yisrael Nadjara, autor de várias bacashot cantadas no Shabat, que quando ele compusesse pizmonim, deveria se sentar com temor e seriedade, pois os próprios anjos vinham escutar suas composições.

Conforme explica o Rav Yitschac Hutner, as palavras transmitem perfeitamente o significado de coisas concretas. Quando se fala "porta", por exemplo, entende-se claramente o que se quer dizer. Os sentimentos interiores precisam, igualmente, de uma ferramenta que transmita seu significado. A melhor ferramenta para isto é a música - de coração para coração. Através da música podemos manifestar nossos pensamentos e sentimentos de forma muito mais expressiva do que apenas contando a mesma coisa com palavras.

A música judaica tem a força de elevar o espírito do homem ao clima do qual ela trata. Assim, recitamos diariamente o Cântico do Mar, que relata sobre a travessia do Mar Vermelho. Outro famoso cântico é o Cântico de Devorá, que o Tanach traz, relatando uma das guerras da época.

Apesar do poder de comunicação da música e do auxílio que nos dá para transmitir idéias e "dar vida" a sentimentos, deve-se avaliar o tempo dedicado a ela, para não transformar o secundário em principal. A música é um servente, uma ferramenta, e não um objetivo.

A música sefaradi é muito parecida com as músicas árabes, mas certamente nossos sábios não se basearam na cultura de outros povos ao compor seus poemas, mas sim, na sagrada Torá. O intuito destes chachamim era o de fazer com que, principalmente os jovens, ao ouvirem tais músicas, ficassem motivados a voltar ao caminho da Torá. Como nos diz Rabi Yisrael Salanter zt"l: "Um judeu completo se compara a um violino, do qual emanam canções de Torá."

A música é uma arte. O gosto pela música sefaradi e a satisfação ao ouvir uma linda melodia desta origem devem ser, como o gosto por todo tipo de arte, cultivados. Quanto maior o conhecimento sobre o assunto e mais vivência com tal arte, maior prazer se obtém.

Quando se convive com a arte da música desde criança, acostuma-se o ouvido com os diversos ritmos, tons e melodias, então o desenvolvimento do aprendizado é muito mais fácil do que para alguém que se iniciou no assunto tardiamente. De qualquer forma, mesmo para quem "nasceu com o dom" da música, o avanço no conhecimento só vem com o estudo e com a prática.