Introdução ao Macam

Trataremos, nesta oportunidade, das tradições das músicas sefaraditas dos judeus originários de países do oriente, como Egito, Síria, Líbano, Turquia e outros.

Não existe uma grande preocupação no Brasil de continuar esta tradição e formar novos chazanim. Raramente encontramos um bom chazan nascido neste país. Não há coros infantis nem aulas de chazanut. Na maioria das vezes é necessário trazer chazanim do exterior para conduzir as orações.

A impressão do público que desconhece as tradições da chazanut é que os chazanim não falam abertamente sobre o assunto, mantêm um pouco de segredo, de mistério. A partir de agora, Nascente destrincha os segredos da chazanut. À primeira vista, os conceitos podem parecer um pouco complicados, mas mesmo uma leitura superficial desta matéria dará uma boa base teórica no tema e até um pouco mais do que isso.

Os ritmos e melodias empregados nas músicas judaicas sefaraditas se confundem com a própria música árabe. A maioria dos pizmonim - poemas cantados - compostos por grandes chachamim tem a melodia de famosas músicas árabes aplicadas aos versos escritos pelos sábios. Conforme explicam estes eruditos, a utilização de músicas árabes profanas em poemas que versam sobre temas sagrados eleva espiritualmente tais melodias, transformando-as em sagradas. Conforme explica o Rav Refael Antabi Tabush zt"l, a música é uma faísca sagrada. Quando cantada de forma profana, desce para o nível da impureza. Mas se a mesma música for aplicada em uma letra sagrada, isto faz com que tal faísca seja atraída para o lado da santidade.

O universo musical árabe, e consequentemente o sefaradi em questão, está dividido e rotulado em inúmeros ritmos, que formam "ambientes musicais". Tais ritmos constituem uma combinação de tratamento definido entre tons e são denominados de "macam" ou, no plural, "macamim". Cada macam deve ser executado com base em um determinado tom da escala musical.

Existem oito macamim principais e dezenas de outros intermediários e derivados dos primeiros. Os macamim principais são chamados de "avot hamacamim" - os "pais" dos macamim - e são: rast, nahuand, chadjaz, bayat, tsaba, siga, adjam e náua.

O mahur, por exemplo, é um derivado do rast, mais alto que este. O bayat shuri é um tipo de pequeno chadjaz dentro do bayat e o mechayar é uma execução do bayat alto.

Alguns trechos das orações, principalmente das orações de Shabat, são cantados. O chazan pronucia toda a oração em voz alta e quando chega nestes trechos pre estabelecidos, começa a cantá-los seguindo alguma melodia conhecida para que o público cante junto. Apesar de serem apenas alguns trechos da oração literalmente cantados, que obedecem a uma melodia definida, a oração inteira é cantarolada seguindo basicamente um macam escolhido.

O costume para a escolha dos macamim é, resumidamente, o seguinte: As orações de dias comuns são realizadas em siga. Na sexta-feira, o Arvit de Shabat é realizado em náua ou nahuand. O Mussaf e a Minchá de Shabat são realizados em rast e o Arvit de motsaê Shabat, em bayat.

O macam do Shacharit de Shabat varia a cada semana de acordo com a parashat hashavua.

O Chazan Joseph Sassoun explica a origem da escolha do macam:

"Para tornar a tefilá mais agradável e para aumentar o prazer de rezar, grandes sábios, que possuíam elevado dom musical, instituíram a tradição de cantar um macam diferente a cada Shabat na oração de Shacharit. Esta escolha não foi aleatória. Para cada Shabat, de acordo com a porção semanal lida na Torá, tais sábios procuraram um ou mais pizmonim - cânticos - relacionados com a parashá. Instituíram então o macam da oração de cada Shabat coincidindo com o do pizmon, que serviu como referência. A melodia deste pizmon era também aplicada a algum trecho da oração. Há também shabatot cujo assunto da parashá é alegre e festivo. Nestas oportunidades, escolhia-se um macam alegre para conduzir a tefilá. Em outros shabatot, nos quais os temas da parashá são mais tristes, escolhia-se um macam também mais triste. A cada dia das festas judaicas - Pêssach, Sucot - também corresponde um macam específico."

"No Shabat que antecede a festa de Purim, por exemplo, costuma-se cantar o macam siga, pois há vários pizmonim de Purim que seguem este macam. Já no Shabat Chazon, o Shabat anterior ao dia 9 de av, costuma-se executar o macam chadjaz. No dia 9 de av relembramos a tragédia da destruição dos dois Templos Sagrados e há um pizmon em chadjaz relacionado com a destruição do Templo, além de que este é um macam de melodias tristes. Assim também, no Shabat correspondente a Parashat Vaychi, canta-se em chadjaz, pois nesta parashá consta o falecimento de Yaacov Avinu."