Macamat

As Bases do Fascinante Sistema de Melodias Utilizado nas Orações dos Sefaradim do Oriente Médio


O "macam" (ou makam, maqam, ma'am, maqamat) árabe é o sistema de modos melódicos usados na música árabe tradicional.

Literalmente, a palavra "macam" significa "lugar" ou "local". Cada macam é construído em uma escala (um lugar), e carrega uma tradição que define suas particularidades: notas importantes, desenvolvimento melódico e modulação. Tanto as composições quanto as improvisações na música árabe tradicional são baseados no sistema macam.

A cada Shabat, as congregações judaicas sefaradiyot do Oriente Médio realizam as orações utilizando um macam diferente.

Cada oração é cantada basicamente segundo um macam. O macam usado na oração de Shachrit é escolhido com base no tema da porção semanal da Torá, na história relatada nesta parashá ou na sua mensagem. As melodias usadas em um determinado macam objetivam de forma eficaz expressar a mentalidade emocional apropriada na oração.

O chazan da congregação conduz as orações improvisando sua melodia conforme o macam específico daquela oportunidade. Em alguns trechos especiais da tefilá - como em Nishmat e no Cadish- melodias de "pizmonim" são inseridas nas palavras da oração.

Pizmonim são uma coleção de poemas associados a canções tradicionais judaicas e melodias. Há pizmonim específicos escritos para diferentes ocasiões, como Berit Milá, nascimento de uma menina, casamento, festividades - Pêssach, Shavuot, Sucot, yamim noraim, Purim, Chanucá - e Shabat. Há pizmonim que tratam do amor da nação judaica pela terra de Israel e Jerusalém. Muitos pizmonim descrevem nosso relacionamento com D'us. Outros são baseados em textos bíblicos. Alguns destes pizmonim são muito antigos. Por outro lado, alguns são baseados na música popular oriental, com palavras compostas especificamente para esta melodia.

O chazan escolhe de antemão algumas dessas músicas e as aplica nos trechos especiais da oração. Todas as músicas escolhidas devem pertencer de preferência ao macam predefinido para aquela oração.

A melodia da leitura da Torá não segue o macam da semana. A leitura da Torá é realizada quase em sua totalidade no macam sigá.

A oração de Cabalat Shabat e Arvit de sexta-feira geralmente é realizada segundo o macam naua ou nahuand.

Em muitas congregações, o macam preferido para Mussaf de Shab até o rast. A não ser que a oração de Shachrit tenha sido recitada segundo este macam. Neste caso, os preferidos para o Mussaf são bayat ou nahuand.

Muitas congregações usam sempre o macam bayat para o Arvit de Motsaê Shabat - sábado à noite. Outras, recitam nesta ocasião o mesmo macam que será utilizado no Shachrit do Shabat seguinte.

O macam para a oração de Shacharit de todos os shabatot do ano é predefinido e padronizado em uma lista oficial.

Listas muito diferentes de macam são encontradas em comunidades diferentes. Por exemplo, a lista de Alepo nem sempre é conforme com a de Damasco e Beirute. As listas dos egípcios e de Jerusalém também variam. Mesmo dentro da tradição alepina, não há unanimidade nas fontes escritas quanto a esta lista, embora elas sejam muito parecidas entre si.

Outro elemento determinante do macam pode ser um feriado judaico que cairá durante a semana seguinte ao Shabat. Neste caso, ou quando são lidas duas parashiyot da Torá no mesmo Shabat, o chazan utiliza algum outro critério para escolher o macam.

Como regra geral, o mesmo macam nunca é usado em duas semanas seguidas. Além disso, a lista tenta alternar os macamim de forma que estejam espalhados com intervalos de tempo parecidos, para evitar a redundância de ouvir o mesmo macam dentro de um curto período de tempo.

Existem alguns padrões que determinam qual macam será usado a cada semana. Alguns destes padrões são óbvios. Outros, não tão óbvios - e geram controvérsias.


Macam Rast

Rast é o primeiro macam no arranjo da macamat oriental. Portanto, representa um "começo". A palavra "rast" soa semelhante a "ras" - a palavra árabe para "cabeça". Como resultado prático, usamos o macam rast nas orações dos shabatot nos quais começamos a leitura de um novo chumash, bem como na oração de Mincháde Shabat, porque essa é a primeira vez que a próxima parasha é lida.

Sendo assim, nos shabatot que lemos as parashiyot Bereshit, Shemot e Vayicrá, o macam rast é aplicado na oração de Shachrit.

A parashat Shemot relata sobre um Berit Milá - do filho de Moshê. Normalmente, o macam associado ao Berit Milá é o macam saba. Entretanto, em Shemot, a idéia de início de um novo livro tem precedência, especialmente porque este foi um Berit Milá postergado.

Parashat Bamidbar
é geralmente lida no Shabat Calá, o Shabat anterior a Shavuot. Portanto, alguns usam o macam hosseni em vez de rast nesta oportunidade. No caso em que Shabat Bamidbar não for o Shabat Calá, o macam rast é empregado por todos.

Parashat Devarim é sempre lida no Shabat Chazon - o Shabat anterior a Tish'á Beav. Portanto, o macam hijaz é usado em vez de rast. Em Tish'á Beav relembramos a destruição dos Templos Sagrados. O macam hijaz é usado em oportunidades tristes.

Pizmonim famosos em rast são: Mahalalach, Yavô Dodi e Yoducha Rayonay.

Rast é tetracorde começando em C:



Macam Mahur

Mahur é uma versão mais agudado macam rast. O caminho para o fim de cada estrofe no macam mahur está em um tom alto.

A palavra mahur significa irritado, desgostoso e decepcionado em árabe. O macam expressa ansiedade, angústia, nervosismo e falta de estabilidade emocional.

Este macam só é usado duas vezes por ano: no Shabat Toledot e Balac. Nestas duas parashiyot, os personagens relatados Essav e Balac, respectivamente, estão decepcionados e irritados. Em Parashat Toledot, Essav está irritado por ter perdido as berachot de Yitschac, que as deu para para seu irmão Yaacov. Em Parashat Balac, o rei Balac está irritado porque o profeta Bil'am terminou por abençoar o Povo de Israel e pela iminente derrota que sofreria.

Há quem diga que mahur também deve ser usado no Shabat Shecalim e em Parashat Vayigash.

Pizmonim
famosos em mahur são: Shávti Shávti, Neimá Li Irach e Boi Berina Yaalá Adiná.


Macam Ajam

Este macam é originário da Pérsia (Irã). Por isso foi nomeado de "Pérsia". Em árabe, ajam significa Pérsia. Ajam é o equivalente árabe da "Escala Maior" ocidental.

Este macam está relacionado com festividades e alegria.

Há muitas canções patrióticas neste macam. Ele contém muitos pizmonim associados com os feriados e casamentos.

Aplicamos este macam às orações dos segundos dias dos yamim tovim- Pêssach, Shavuot e Sucot. Também utilizamos ajam nas parashiyot Vayetsê, Beshalach e Shofetim, que tratam de temas alegres. Vayetsê relata os casamentos de Yaacov Avínu. Beshalach narra o milagre da travessia do Mar Vermelho e a "Shirá" - Az Yashir Moshê - que foi recitada em júblilo pelo Povo de Israel. No sétimo dia de Pêssach, quando se repete a Shirá, o macam ajam é novamente o escolhido. Shofetim trata do alegre evento da escolha de um rei. Simchat Torá, um dia que representa alegria e felicidade, também é acompanhado pelo macam ajam.

Pizmonim
famosos em ajam são: Mac'helot Am, Roê Neeman Hu e Ani Licrat.

Ajam é tricorde começando em B:



Macam Nahuand

Nahuand é o nome de uma cidade no Curdistão iraniano.

Este macam era popular no Irã e na Turquia antes de fazer seu caminho até a Síria e Egito.

Nahuand é o equivalente mais próximo da "Escala Menor" ocidental. Ele é muito agradável para a audição ocidental. Por isso, é o que faz mais sucesso entre os yehudim ocidentais que ainda não estão acostumados com os ritmos orientais. Há muitas canções ocidentalizadas neste macam. Nahuand também engloba muitas músicas modernas israelenses.

O macam nahuand é aplicado quando há desarmonia e conflito. Mesmo que ele está listado nos livros de pizmonim como um possível macam de Shabat até sete vezes por ano, isto é uma inovação. Todas as listagens mais antigas, tanto manuscritas quanto impressas, não apontam nahuand como uma opção tão frequente. Muito pelo contrário. Segundo os estudiosos da música árabe, este macam foi considerado fora dos limites para uso sagrado até cerca de oitenta anos atrás, quando foi usado pela primeira vez para cantar orações islâmicas. Desde então, ele começou a ser usado tanto na comunidade judaica quanto na islâmica de Alepo. Nas comunidades onde grande parte dos frequentadores é leigo em relação à macamat, principalmente no ocidente, este macam é ainda mais usado - por agradar este público.

Há ainda um outro motivo - um tanto questionável - para o uso frequente do nahuand. Como o macam hijaz está relacionado com o conceito de tristeza, muitos sentem-se um tanto incomodados e receosos por utilizá-lo, e optam por trocá-lo pelo macam nahuand, considerado fortemente emotivo.

Este macam era comum entre os turcos. As regiões de Alepo próximas à Turquia seriam responsáveis por uma série de pizmonim antigos com música original Turca.

Nahuand
é usado geralmente no Shabat Pará.

Pizmonim
famosos em nahuand são: Ata El Cabir, Lach Ana Orech e Malki Tsuri El Cabir.

Nahuand
é tetracorde começando em C:



Macam Bayat

O macam Bayat ressona tranquilizador. Não implica, necessariamente, num determinado tema. É o macam sírio mais comum. Mais músicas, nos livros de pizmonim, são classificadas neste macam do que em qualquer outro.

Como este macam tem um humor suave, é usado em Arvit de motsaê Shabat e motsaê yom tov, quando a disposição para terminar o dia é de tal ordem. Há muitos pizmonim de motsaê Shabat em bayat.

Bayat simboliza um "juramento" entre duas partes - como é o caso do bar mitsvá, um juramento entre o homem e D'us. Há uma grande riqueza de pizmonim relacionados com o bar mitsvá compostos segundo este macam.

Bayat
também é usado nas comemorações de nascimentos de filhas. Uma possível explicação para isso é que "filha" em hebraico é "bat", que soa parecido com "bayat".

Os yehudim de Damasco usam esse macam no final de cada chumash - em paralelo com a idéia de usá-lo no final do Shabat.

Pizmonim
famosos em bayat são: Yefat Áyin, Yotser Adamá e Semach Beni.

Bayat
é tetracorde começando em D:



Macam Hosseni

Este macam é uma versão mais alta do macam bayat.

A palavra "hosn" significa beleza, esplendor. "Hosein" é o seu diminutivo, bem como um nome próprio.

Por isso, esse macam é usado quando se comemora a Outorga da Torá em Shavuot.

Outros usam hossenino Shabat anterior a Shavuot, mas não em Shavuot. Em Shavuot lemos Meguilat Rut. Os taamim desta meguilá estão em macam hosseni. O mesmo acontece com a música das Azharot cantada em Shavuot. Hosseni também é usado nas parashiyot Yitrô e Vaetchanan, que contêm os Dez Mandamentos. Este macam é usado algumas vezes ao longo do livro do Shemot, geralmente em conexão com o recebimento da Torá ou com a beleza do Mishcan, o Tabernáculo.

Há quem diga que se usa hossenino Shabat Hachôdesh.

Pizmonim famosos em hosseni são: El Mistater, Yemotay e Shalom Vatsêdec Nashácu.


Macam Naua

Entre outras coisas, naua simboliza o final de algo. Por isso, há quem o utilize no final da maioria dos chumashim.

Naua é o macam usado na recitação de mishnayot. Por isso, é utilizado no Cabalat Shabat, quando se recita muitas mishnayot de Shabat - o capítulo "Bamê Madlikin".

No final do último passuc no Cabalat Shabat lemos (Tehilim 93:5): "Levetechá nava codesh, Hashem, leôrechyamim". A palavra "nava" nesta passagem também alude ao macam naua porque "nava", pronunciado na maneira síria, seria "naua".

Há um outro macam parecido com naua, é o rahaui. O macam rahaui está intimamente relacionado com Pêssach por dois motivos: é o macam da Hagadá de Pêssach e também do pizmon "Emunim Irchu Shêvah", cantado em Pêssach. Usa-se esse macam no Shabat Hagadol - que antecede Pêssach.

Pizmonim famosos em naua são: Nav Yafá, Norá El Norá e Achalê Tsuri.

Naua é pentacorde começando em C:



Macam Saba

Saba significa literalmente "tristeza" em árabe. Em hebraico, significa "exército".

A palavra árabe "sabi" significa menino. É por isso que o macam saba também é usado para o Berit Milá. Outrossim, já que saba retrata a emoção da dor e do choro, está relacionado com o choro do bebê no Berit Milá.

Portanto, nos shabatot, saba é usado para parashiyot que contêm nascimentos, pactos (berit) ou em parashiyot com muitas mitsvot - que representam um pacto entre D'us e os homens. Também é usado quando há menção ou referência a um exército (tsavá) ou quando há a própria palavra "tsavá" na parashá.

Macam saba também é usado em Shemini Atsêret (oitavo dia de Sucot) e no oitavo dia de Pêssach, porque o número oito é fortemente associada como conceito de aliança - berit.

Os judeus de Damasco também usam este macam para expressar eventos tristes - da mesma forma que os judeus de Alepo usam o macam hijaz para esta finalidade.

Essas associações judaicas do macam saba com os temas citados diferem drasticamente do mundo árabe, que o associa exclusivamente à tristeza.

Pizmonim famosos em saba são: Atá Ahuvi, Yomá Tavá e Goel Yavô Rav Aliliyá.

Saba é tetracorde começando em D:



Macam Sigá

Sigá (ou sicá), significa "terceiro lugar" em persa. Este macam é chamado assim porque sua escala musical é uma inversão da escala do rast a partir da terceira nota da escala do rast. Rast é tetracorde começando em C. Sigá é tricorde começando em E. A terceira nota do rast - que é a primeira do sigá - é, por si, chamada de sigá também.

Nas parashiyot Bô, Behaalotecháe Êkev, que são as terceiras em seus respectivos livros, o macam sigá é utilizado.

Sigá
é aplicado nos shabatot quando há leituras especiais da Torá. Também é utilizado normalmente para as orações da semana. Além de tudo, é importante porque a maneira com que os sírios fazem a leitura da Torá segue basicamente o macam sigá.

Sigá denota majestade, pompa e cerimônia. Por isso, é usado nos primeiros dias de Shalosh Regalim - Pêssach, Shavuot e Sucot - e nas parashiyot relacionadas com a Menorá, cohanim, com a construção do Mishcan e com construções em geral.

Além disso, neste macam há uma seleção inteira de pizmonim relacionados com Purim. É por isso que sigá é usado no Shabat que antecede Purim - Shabat Zachor. Sem falar no fato de que este macam é de origem persa, e os acontecimentos da Meguilat Ester tiveram lugar na Pérsia.

Outros macamim na família sigá são: oj, iraq, huzam e sigá baladi.

Pizmonim famosos em sigá são: Yachid El Dagul Mervavá, Naguila Haleluyáh e Zehu Eli Vegoali.

Sigá é tricorde começando em E:



Macam Hijaz

Hijaz é uma referência a uma região no oeste da Arábia Saudita, conhecida até hoje.

Este macam, originário da Arábia Saudita, está ligado com tristeza e morte. É usado para marcar ocasiões tristes que ocorrem tanto no calendário judaico quanto na parashá.

Hijaz
também é aplicado normalmente nos funerais. Os sírios alepinos utilizam este macam em vários shabatot, cujas parashiyot mencionam acontecimentos tristes. Usam-no também na parashat Devarim, que antecede o jejum de Tish'á Beav.

De acordo com os judeus de Damasco, o único Shabat do ano que se usa hijaz é em parashat Devarim.

A maioria das músicas de origem chassídica e ashkenazi enquadram-se neste macam. Além disso, o famoso modo de orações ashkenazi "AhaváRabá Steiger" também se ajusta em hijaz. Por isso, há sinagogas em Israel que utilizam esse macam quando há convidados ashkenazim.

Outros macamim na família hijaz são: shahnaz, suzidil e zanjaran.

Pizmonim famosos em hijaz são: El Galil, Elecha Ecrá Yáh e Ozreni El Chay.

Hijaz é tetracorde começando em D:



Outros macamim

Há uma infinidade de outros macamim. Mas existem poucos pizmonim compostos segundo estes, e as orações geralmente não são baseadas neles. Apenas para citar alguns: Sasgar (contém apenas dois pizmonim), lami (dois pizmonim), ashiran (dois pizmonim), irac (ou sicá tam), jiharcá (muito parecido com ajam) e curd.