Parashat Vaerá

O Temor a D'us


Nos Caminhos da Eternidade
Rabino Isaac Dichi

Continuamos a tratar nesta parashá o tema tratado na parashá anterior: o temor ao Todo-Poderoso.

Nesta parashá (Shemot 9:18-19) antes de D’us enviar a praga de granizo aos egípcios, Par’ô foi advertido de que uma chuva de pedras muito forte, como nunca houve igual, iria ocorrer no Egito. Era prudente que se recolhesse para dentro de casa todo o gado e tudo o que havia no campo, porque todo o homem ou animal que estivesse no campo, seria atingido pela saraiva e morreria.

Torá (Shemot 9:20-21) segue dizendo que “aquele que temeu a palavra do Eterno dentre os servos do Faraó, fez fugir a seus servos e a seu gado às casas e quem não pôs em seu coração à palavra do Eterno, deixou seus servos e seu gado no campo”. O surpreendente desta passagem é que, quando a Torá se referiu aos que recolheram seu gado, usou a linguagem “hayarê et devar Hashem” – aquele que temeu a palavra do Eterno – e quando se referiu aos que não recolheram o gado, em vez de dizer “e os que não temeram a palavra do Eterno...”, a Torá escreveu “Vaasher lô sam libô el devar Hashem” – E aquele que não prestou atenção à palavra do Eterno.

O rabino Avraham Zalmans zt”l diz que com isso a Torá quer nos ensinar, que há uma condição básica e necessária para conseguirmos atingir o grau de temor ao Eterno: devemos ser atentos e ponderar os valores espirituais. Não houve quem tivesse prestado a devida atenção às coisas espirituais, que não tenha alcançado o temor ao Eterno.

Por isso, quando a Torá se refere àqueles que não recolheram o seu gado, ela enuncia: “Aqueles que não prestaram atenção à palavra do Eterno”. Se tivessem prestado atenção e levado em consideração o conselho dado, teriam atingido o grau de “yerê Shamáyim”.

Há dois níveis diferentes no conceito de Yir’at Shamáyim: o primeiro consiste daqueles que temem o Todo-Poderoso, por receio das conseqüências que ocorrerão à conta de ter transgredido Suas leis. Em princípio, este tipo de temor é fácil de ser alcançado, como explica o Messilat Yesharim, no capítulo 24. Todo o ser humano gosta de si mesmo e teme efeitos que possam prejudicá-lo. Este nível, entretanto, não é o grau satisfatório para os sábios e para os intelectuais.

O nível elevado de Yir’at Shamáyim é denominado por nossos sábios de “Yir’at Haromemut”. Ele é obtido pela conclusão a que o ser humano chega quando analisa a grandeza do Eterno. Conseqüentemente, afasta-se dos pecados e esforça-se ao máximo para não transgredir as leis da Torá. Em respeito à grandeza do Criador, cumpre as mitsvot por ser a vontade Dele.

Após a compenetração necessária, o indivíduo – sabendo de suas limitações e da grandeza de D’us – não se vê em condições de fazer algo que seja contrário à vontade do Eterno. Esta conclusão só pode ser alcançada, depois de muita dedicação no estudo da Torá. Conforme diz o Rabino Shelomô Wolbe em seu livro Alê Shur vol. II., o estudo da Torá e o nível de yir’á caminham juntos e têm um pacto entre si.

O Rei Shelomô diz (Mishlê 1:7): “Yir’at Hashem reshit dáat” – O temor ao Eterno é o início de todo o conhecimento. O Rei David diz no mizmor 19 do Tehilim: “Yir’at Hashem tehorá omedet laad” – Quando o temor a D’us é puro, ele será permanente. Nesse mesmo capítulo, no versículo anterior, o rei David escreve: “Pikudê Hashem yesharim, messamechê lev; mitsvat Hashem bará meirat enáyim” – Os preceitos de D’us são corretos, contentam o coração e suas mitsvot são nítidas e iluminam os olhos.

Quando unimos a yir’á ao estudo e cumprimento da Torá, podemos estar convictos de que estamos no caminho correto, na realização de nossos deveres perante o Todo-Poderoso. Juntos, a yir’a e o estudo da Torá completam o ser humano e ajudam-no na trajetória para alcançar os valores e níveis espirituais, que almeja atingir durante os anos de sua vida.