Esta parashá relaciona as leis referentes a
quem decide ser um nazir.
Nazir é aquele que faz
uma promessa, de que durante pelo menos trinta dias (o mínimo admitido para a
promessa de nezirut) não beberá vinho,
não cortará o cabelo e não se impurificará por mortos.
Além de ficar proibido de tomar vinho, o nazir fica proibido de consumir uvas frescas ou
mesmo uvas passas. Nossos sábios explicam que o motivo desta proibição é fazer
com que o nazir afaste-se
de tudo o que estiver ligado ao vinho, para que não venha a consumir o próprio
vinho. Ou seja, estas são precauções necessárias para que não venha a
transgredir a promessa de nezirut.
Este cuidado, para que alguém não venha a infringir
uma mitsvá da Torá, ocorre
em muitos outros casos ditados pelos nossos sábios. Ele é um cerco para
manter o indivíduo distante da transgressão. Esta passagem nos ensina a
importância desses cercos, ao ponto de nossos sábios dizerem, que aquele que
viola estes cercos é como se estivesse infringindo a própria mitsvá. Porque a partir daí, já não resta mais
nenhum obstáculo para transgredir a mitsvá da Torá.
O Midrash compara
o Nazir ao Cohen Gadol. Qual é o motivo de tanta consideração para com
o nazir? Ibn Ezra, mefaresh da Torá contemporâneo
de Rambam, nos explica sobre o segundo versículo do
cap. 6 de Bamidbar (“Ish ki yafli lindor
nêder...”), que o nazir, ao
fazer este nêder (promessa), age de
uma forma diferente dos demais seres humanos, que costumeiramente são atraídos
pelos desejos materiais. O Nazir, ao
assumir este compromisso, demonstra que quer se afastar dos desejos materiais,
com a finalidade de se aproximar mais do Todo-Poderoso, uma vez que o consumo
de vinho tira a visão correta das coisas e afasta o ser humano dos serviços
Divinos (“Ki hayáyin mashchit
hadáat veavodat Hashem”).
A restrição do nazir cortar
o cabelo consta em Bamidbar (6:5): “Col yemê nêder
nizro táar lô yaavor al roshô...
Cadosh yihyê” –
Todos os dias de seu voto de Nazir,
navalha não passará sobre sua cabeça... sagrado será. Sobre esta restrição,
temos a explicação do Seforno. Ao deixar
seu cabelo crescer, está ao mesmo tempo deixando de lado a preocupação de
embelezar-se e a preocupação com o físico. “Cadosh
yihyê” – E será santo, ou seja, estará
afastado dos desejos materiais.
A Torá exigiu do nazir,
no dia do término de sua nezirut, que
trouxesse ao Bêt Hamicdash um corban (um sacrifício). Isso porque alguém que
alcançou tamanho nível espiritual, ao ponto de ser comparado ao cohen gadol (sumo-sacerdote),
deveria permanecer neste grau elevado e não deixar a nezirut.
Como ao findar sua nezirut ele não
permanecerá neste nível e voltará ao contato com os desejos materiais e coisas
terrestres das quais havia se privado, necessita fazer um corban que sirva como capará (perdão)
por sua decaída espiritual (vide Rambam, Bamidbar 6:11).
Aprendemos, então, a importância do “cerco” feito
pelos “chachamim” e também o quanto
é necessário nos assegurarmos, de que não estamos decaindo do nível espiritual
já alcançado. Se houver uma decaída, ela será considerada um erro grave, ao
ponto de ser necessário um corban como capará.