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A Proibição de Preparar Algo no Yom Tov Para Outro Dia

Rabino I. Dichi

Corpo saudável: Pré-requisito para o estudo da Torá

Uma vez que manter um corpo saudável e sadio está entre os caminhos de D’us, porque não se pode entender ou ter qualquer conhecimento do Criador, caso esteja doente - deve-se evitar o que prejudica o corpo e se acostumar com o que é saudável e auxilia o corpo a se tornar mais forte.

Assim, ter uma boa saúde e estar completo, em relação a seus órgãos, é pré-requisito para o estudo da Torá.

É necessário afastar-se do que possa prejudicar o corpo e somente usar o que lhe traga saúde ou a recuperação da mesma.

Não se deve comer, a não ser que se tenha fome; nem beber, se não estiver com sede. Contudo, decerto que o Rambam não se refere a dias secos, quando a água deve ser ingerida, ou ambientes secos, nos quais se deve beber mesmo quando não se tem sede. O corpo necessita manter-se hidratado - isso é benéfico para nossa saúde.

O Rambam aconselha algo muito importante: as pessoas não devem segurar suas necessidades fisiológicas nem por um instante. Todas as vezes que precisar usar o toalete, que o faça imediatamente, pois isso ajuda a manter a boa saúde.

Moderação, sempre!

O Rambam observa que, ao ter fome e se alimentar, a pessoa não deve fazê-lo a ponto de passar mal. Ela deve comer com moderação, pois a superalimentação prejudica sua saúde. Ele aconselha que sempre se reduza um quarto da quantidade que saciaria completamente sua fome, pois assim, sentir-se-á mais leve e melhor. O Rambam continua dizendo, em suas recomendações, a não ingerir muito líquido durante a refeição, acrescentando um pouco de vinho à água. Quando a comida começar a ser digerida pelo corpo, poderá beber a água que necessitar. Mas que também não se exceda na água, mesmo depois de a comida ser digerida.

Atualmente, os médicos recomendam, especialmente nos dias secos, a ingestão abundante de água. Assim, prevalece a orientação atual da medicina, pois essas orientações do Rambam não são halachot, mas sim, conselhos ligados à saúde, que podem variar e mudar com o passar dos anos, como neste caso.

Entretanto, há uma orientação que é vigente até os dias de hoje: que a pessoa não se sente à mesa para comer sentindo vontade de fazer necessidades fisiológicas. Não se deve comer nesta situação.

Também não se deve comer antes de se movimentar um pouco, para que seu corpo se aqueça.

E o Rambam dá uma regra: que não coma imediatamente ao acordar. Que faça algum tipo de exercício, para aquecer o corpo e, antes de se alimentar, descanse um pouco. Após o exercício, é recomendável um banho de água quente.

Dicas ao se alimentar

Todas as vezes que for comer, a pessoa deve se sentar ou reclinar para o lado esquerdo, evitando que se engasgue - isso era uma prática comum nas gerações anteriores. O Rambam ainda diz para não fazer o corpo se cansar; que se espere o término da digestão para só depois caminhar, cavalgar, etc. Evitar exercícios físicos logo após as refeições.

Conforme o Rambam, todos os que caminham ou se exercitam após as refeições não estão trazendo nenhum tipo de benefício ao corpo.

Horas de Sono

O dia e a noite têm, ao todo, 24 horas. Sendo assim, é suficiente que se durma um terço, que são 8 horas.

Em livros posteriores ao Rambam, está escrito que seis horas são suficientes. O importante é que a pessoa não exagere. Diz o Ben Ish Chay (Parashat Vayishlach) que não pense o homem que quanto mais dormir será mais benéfico para seu corpo. Os médicos estão de acordo que o homem não deve dormir menos do que seis horas e mais do que oito. O excesso de sono é prejudicial ao corpo e seis horas é o suficiente para sua saúde. Portanto, aquele que dormir por seis horas terá concluído o tempo necessário para a saúde física. Por conseguinte, no restante das horas da noite ele se ocupará com a saúde de seu espírito, estudando Torá. Se acontecer de dormir menos do que seis horas em alguma noite - que é o tempo mínimo necessário para a saúde do corpo - porém acrescentar na saúde de sua alma, é claro que isso não lhe faltará, nem prejudicará a saúde física. Sendo assim, nas noites de Shabat, da véspera do Rosh Chodesh, durante o mês de Elul e nos Dez Dias de Penitência, por exemplo, caso dormir menos que seis horas, poderá ficar sossegado, pois isso não trará dano nenhum à saúde de seu corpo.

O Ben Ish Chay acrescenta (Parashat Pekudê) que o sono da noite é necessário e benéfico também para o lado espiritual, porque existe um sentido oculto de que o sono seja algo elevado. Por isso é necessário que tenhamos em vista que, ao dormir, também estamos servindo Hashem, na acepção “Bechol derachecha Daehu” - todos os nossos atos devem ser em prol de Hashem e por amor a Ele. Por isso, nossos mestres, de abençoada memória, regulamentaram que se diga uma berachá antes de dormir: a berachá de hamapil.

Durante o dia, o sono é ruim para os tsadikim (justos) e bom para os reshaim perversos. Exceto shabat de dia, quando o sono também é bom para os tsadikim conforme mencionado no “Shaar Hacavanot” do Arizal.

Não se deve, portanto, dormir mais do que isso. O Rambam ainda diz que a pessoa deve ir dormir cedo para que, com o nascer do sol, essas 8 horas diárias necessárias ao sono estejam completas e o indivíduo já esteja acordado. Portanto, se for dormir cedo, vai se levantar antes de o Sol raiar.

Este é um dos grandes problemas na nossa geração. Não há disciplina para que se tenham horários determinados para dormir, acordar, se alimentar, etc.

Posição correta ao dormir

Neste parágrafo, o Rambam ensina que a melhor posição para dormir é a de lado. Não se pode dormir de costas ou de bruços. No início da noite, deve se deitar do lado esquerdo (o que facilita a digestão); depois, do meio da noite para seu final, deve se virar para o lado direito. Não se deve deitar logo após comer; o ideal é esperar entre três ou quatro horas para, então, dormir.

Não se deve dormir durante o dia. Evidentemente, se a pessoa levantou de madrugada e precisar de certo descanso durante o dia, poderá fazê-lo, mas sem exagero.

“Hishtanu Hatevaim”

Há um conceito aceito pelos nossos sábios denominado “Hishtanu Hatevaim”, a natureza de certas coisas modificou-se no decorrer das gerações. Dentre os alimentos que o Rambam recomenda ou não recomenda é possível que o efeito de alguns deles tenha mudado, como também, a natureza dos seres humanos pode ter-se modificado com o passar das gerações, tornando as pessoas mais ou menos sensíveis a determinados alimentos.

Nesta obra trazemos o texto original do Rambam.

Recomendamos a leitura de “Chayim Beriim Cahalachá”, de autoria do Rav Yechezkel As’chayek, que trata sobre os cuidados especiais que devemos ter com a saúde e o que é e o que não é benéfico na alimentação de nossos dias. Esse livro foi publicado em hebraico, inglês, francês e espanhol. Por muitos anos, o autor desse livro foi o secretário pessoal do Rav Shach zt”l, que cuidou de sua saúde com muito desvelo e imensa dedicação.

Recomendações para uma boa saúde

As pessoas que têm médico particular devem acatar suas recomendações. Com isso estarão fazendo a sua parte para cumprir a mitsvá de “venishmartem meod lenafshotechem”.

No entanto, é importante saber que no consenso quase unânime da maioria dos profissionais de saúde da atualidade, os mais importantes cuidados que devemos ter com nossa saúde são:

1) O consumo de água, que ajuda a manter nosso organismo hidratado e atua em todas as funções do corpo, além de manter a temperatura corporal sempre equilibrada.

2) Uma alimentação saudável para manter a energia do corpo. Ela deve oferecer ao organismo, nutrientes ricos em vitaminas, sais minerais, fibras e proteínas, como cereais integrais, leguminosas, hortaliças, frutas, peixes, carnes magras, ovos, leites e seus derivados.

3) Sono e descanso do corpo, quando o organismo relaxa e repõe as energias gastas ao longo do dia.

4) A prática de exercícios para gastar as energias e manter o corpo em movimento. Ela auxilia também a melhorar a respiração, a circulação do sangue e o condicionamento físico.

Em consultórios, laboratórios, hospitais e clínicas, há folhetos explicativos sobre o cuidado com a saúde. Desde que sejam de fontes fidedignas, deve-se ler atentamente e seguir seus conselhos.

É evidente que ao dizer a berachá de “Refaênu” na Amidá, pedirá a Hashem que conserve sua saúde e a de todos os seus.

As berachot intermediárias da Amidá foram instituídas no plural, pois fazemos tefilá por todo Am Yisrael.

Conselhos de alimentação do Rambam

Diz o Rambam que os alimentos laxativos, como, por exemplo, uvas, figos, amoras, peras, melancia, certos tipos de abobrinhas e pepinos, devem ser ingeridos antes das refeições, como um aperitivo, um “hors-d’oeuvre”. Não se deve misturá-los com a refeição principal. Deve-se ingeri-los, aguardar um pouco sua digestão e, só depois, iniciar a refeição.

Por outro lado, há alimentos que exigem mais esforço dos intestinos, que não são recomendados - como romãs, marmelos, maçãs e peras da Crustumênia (região da Roma Antiga) - que devem ser ingeridos após a refeição, mas sem exagero (Alguns médicos recomendam a ingestão dessas frutas na forma de compotas, cozidas, para uma melhor digestão.).

Para uma boa digestão, recomenda o Rambam, se forem servidas carne bovina e carne de frango ou peru na mesma refeição, come-se primeiramente a carne de aves e só depois a de boi. Quando forem servidos ovos e aves numa mesma refeição, que coma primeiro os ovos.

Há dois tipos de carnes especificadas na Torá: behema daká - carne ovina (de cordeiro), caprina (de cabrito) e de cervo, por exemplo, e behemá gassá - carne bovina (de boi). Nesse caso deve-se, primeiramente, ingerir a carne de behema daká, que é mais leve e suave e, depois, a de behemá gassá, que é mais pesada.

No verão, dê preferência a alimentos de natureza fria. Não se deve exagerar nos condimentos, embora o vinagre seja recomendável nessa época do ano. E no inverno, opte por alimentos quentes e, até mesmo, lance mão de mais condimentos. Em temperaturas baixas, é recomendável a ingestão de mostarda em grãos e de férula assafétida, pois ela ajuda a manter a temperatura corporal.

Com esses conselhos, tem-se a noção de como se alimentar em lugares mais frios e nos que são mais quentes.

Alimentos nocivos

Há alimentos extremamente prejudiciais e é correto abster-se deles. Por exemplo, peixes grandes, salgados e envelhecidos, como bacalhau; queijo salgado e envelhecido, cogumelos e trufas (cogumelos subterrâneos); também uma carne que, antigamente, era salgada e envelhecida e vinho sem ter fermentado (antes dos primeiros 40 dias de sua fabricação). Outra comida não recomendada é aquela que ficou muito tempo exposta ao calor e seu cheiro já revela estar “azeda”. Aliás, todo alimento com cheiro ruim ou amargo não deve ser ingerido jamais. Para o corpo, é como se fosse veneno, diz o Rambam.

Há outros alimentos nocivos, mas não tanto, quanto os citados anteriormente. Deles, é bom que se coma pouco e com um grande intervalo de dias desde sua ingestão. Não se deve habituar-se a estes alimentos: peixes grandes, queijos, leite que já tenha passado vinte e quatro horas da ordenha (atualmente, não temos este problema, graças ao sistema de pasteurização e da refrigeração), carne de bois e bodes grandes. Também favas, lentilhas, pão de cevada, pães muito finos, repolho, cebola, alhos-porós, alho, mostarda em grãos, rabanete. Esses todos não são muito benéficos ao organismo, não devendo ser ingeridos todos os dias, senão pouco e no inverno. Favas e lentilhas, em especial, não devem ser ingeridas, nem no inverno nem no verão. Já a abóbora come-se no verão.

Alimentos que devem ser evitados segundo o Rambam

Dentre os alimentos que também não são bons, embora em grau menor do que os citados anteriormente, o Rambam enumera: aves aquáticas (como patos, gansos), pombas, tâmaras, pães assados em azeite ou amassado em óleo e a farinha que foi muito peneirada, da qual não sobrou nada do farelo do trigo. Não é correto que o indivíduo se exceda nesses alimentos.

Mas, se o indivíduo for sábio e conseguir vencer seus instintos, não sendo atraído por esses alimentos, não ingerindo nenhum dos citados anteriormente, a não ser que precise deles para se curar de alguma enfermidade, então, ele é verdadeiramente um herói (um valente). “Quem é o valente de verdade? Aquele que domina seus instintos” (Pirkê Avot).

Alimentos que não devem ser constantes

A pessoa deve se privar de frutas da árvore; não se exceder, tanto nas secas quanto nas frescas. E se não estiverem maduras, são como espadas para o corpo, segundo o Rambam. Também não é bom ingerir alfarrobas. Tampouco as frutas ácidas. Come-se delas um pouco e apenas no verão e nos climas quentes. Figos, uvas, amêndoas são sempre bons, tanto frescos quanto secos, e se pode comer deles o quanto se queira, embora não devam ser constantes na alimentação.

O mel e o vinho são ruins para as crianças, e bons para os idosos, já que ajudam a aquecer o corpo.  Portanto, devem ser mais consumidos no inverno, alerta o Rambam.

No verão, a pessoa deve se alimentar com 2/3 do que ingere no inverno.