
Dia 9 de AV
  Quando os espiões voltaram para o deserto, trazendo notícias  da terra prometida, dez deles pecaram falando mal da terra de Israel. O povo,  então, chorou, reclamando que D’us os havia tirado do Egito para morrer naquela  terra. Não confiaram nas promessas Divinas de que a terra de Israel era muito  boa. D’us disse então: “Hoje eles choram sem motivo. Eu darei, pois, motivos  verdadeiros para que chorem nesse dia por gerações”.
  O dia em que os espiões pecaram foi o dia Nove de Av.
  Realmente, nosso povo tem motivos suficientes para chorar em Tishá Beav. Além do pecado dos espiões, várias desgraças nos abateram  neste dia. A cidade de Betar foi destruída. Tarnosrufus Harashá arou o  terreno onde ficava o Côdesh Hacodashim. Foi em Tishá Beav a  publicação do decreto da expulsão de todos os judeus da Espanha e, o mais  doloroso de tudo, o Bêt Hamicdash, tanto o primeiro quanto o segundo,  foi destruído.
  O Bêt Hamicdash
  Mesmo sabendo que o Bêt Hamicdash era a casa de D’us,  é difícil para nós entendermos sua grandeza e o que significava para nosso  povo. Saber um pouco de como era o Templo e o que havia dentro dele, porém,  ajuda-nos a ter uma vaga idéia de sua grandeza e santidade.
  O primeiro Bêt Hamicdash foi construído por Shelomô Hamêlech. Nele estava presente a Shechiná - a presença Divina.
  O Templo não poderia ser construído com instrumentos de  ferro, pois este material está ligado à guerra e à destruição. O Bêt  Hamicdash, em contrapartida, deveria ser puro. Para cortar as pedras do  Primeiro Templo sem a ajuda dos instrumentos de ferro foi utilizado o shamir, uma espécie de verme que cortava as pedras.
  O Rei Salomão edificou o Templo à altura de seu reinado -  repleto de riquezas e preciosidades, segundo a ordem do D’us Todo-Poderoso.
  O Segundo Bêt Hamicdash foi construído por Herodes,  setenta ano depois da destruição do primeiro. Apesar de muito menos rico e  também menos santo que o primeiro, o Segundo Templo era de beleza tal que a Guemará relata: “Quem não viu o Templo de Herodes, nunca viu uma construção bonita  em sua vida”.
  Hoje, o que nos resta dos dois grandes templos é o Côtel  Hamaaravi, onde milhares de judeus lamentam a destruição do Templo e rezam  para que o Todo-Poderoso reconstrua Yerushaláyim e o Bêt Hamicdash.
Os Milagres
  Dez milagres aconteciam constantemente no Bêt Hamicdash.  Vejamos alguns deles:
  Apesar de as oferendas serem realizadas em local aberto,  nunca as chuvas apagaram seu fogo.
  O vento não desviava a coluna de fumaça que saía das  oferendas, ou seja, a fumaça formava uma coluna reta até o céu.
  Nos dias de Pêssach, Shavuot e Sucot, quando o  povo de Israel se reunia no Bêt Hamicdash, todo o povo cabia dentro do  Templo. Apesar de ficarem todos apertados quando de pé, no momento em que se  curvavam e se ajoelhavam havia espaço de sobra para todos.
Os Kelim - Utensílios
  Aliada à kedushá (santidade) do próprio Bêt  Hamicdash, havia também, a santidade dos utensílios do Templo. Esses  utensílios eram os mesmos do Mishcan (Tabernáculo), que foram trazidos  do deserto.
O Shulchan - a Mesa
  O Shulchan era feito de madeira e coberto de ouro.  Era onde os cohanim guardavam os pães que seriam comidos por eles.
  O Ramban explica que o significado da mesa era o de mostrar  que, depois da Criação do Mundo, não existe a possibilidade de que se crie algo  do nada, porém, é possível fazer com que algo que já existe se multiplique.  Assim, as bênçãos de fartura de todo Am Yisrael vinham da bênção que  recaía sobre os pães feitos pelos cohanim e deixados na Mesa.
  Sobre essa bênção, nossos sábios contam que, todo cohen que  comesse apenas um pedaço de pão do Shulchan, ficava satisfeito.
O Mizbach Hazahav - o Altar de Ouro
  Assim como a Mesa do Pão, o Altar de Ouro era feito de  madeira e coberto de ouro. Nele era queimado o ketôret (incenso) que  servia para a redenção do povo.
  O livro “Siftê Cohen” explica que o ketôret era a  principal de todas as oferendas. Por isso, ele era feito de manhã antes de  todas as outras, e à noite, como última oferenda.
A Menorá
  A Menorá é, provavelmente, de todos os utensílio do Bêt  Hamicdash, o mais conhecido por nós. Era também o objeto mais precioso do  Templo.
  A Menorá foi feita de somente uma peça maciça de ouro  puro.
  As chamas de Menorá eram acesas de forma que todas  apontassem para o centro. Ela deveria ficar sempre acesa, dia e noite.
  Existem algumas opiniões sobre como era a Menorá. A  principal diferença entre essas opiniões é quanto à forma de seus braços. O  Rashi e o Rambam sustentam que os braços da Menorá saíam do braço  central, três de cada lado, na diagonal e em linha reta. Já segundo Ibn Ezra,  os braços laterais saíam do braço central não em linha reta, mas sim, formando  arcos.
  Outra diferença diz respeito à base da Menorá. Algumas  opiniões explicam que a base era quadrada, enquanto outras sustentam que ela  era redonda.
  Há quem diga que a Menorá esteja até hoje enterrada  em algum lugar. Outros dizem que foi levada pelos romanos depois da destruição  do Segundo Templo e que está hoje no Vaticano.
O Chôshen
  O Chôshen fazia parte de uma das oito roupas do Cohen  Gadol. Era constituído por uma chapa dupla de ouro, com doze pedras  preciosas incrustadas, nas quais estavam gravados os nomes das doze tribos de  Israel. Entre as duas chapas havia um pergaminho com a inscrição dos Urim  Vetumim (segundo Rashi, o nome de D’us de 42 letras).
  O Chôshen ficava pendurado sobre o peito do cohen. Quando havia algo para perguntar a D’us, o Cohen Gadol fazia a  pergunta ao Chôshen e as letras correspondentes à resposta brilhavam,  graças aos Urim Vetumim. Uma força, também vinda por intermédio dos Urim  Vetumim, fazia com que o cohen soubesse exatamente como ajuntar as  letras para formar a reposta (há outras explicações a respeito).
O Aron Hacôdesh - a Arca Sagrada
  O Aron era o objeto mais sagrado do Bêt Hamicdash. Era feito de madeira e coberto, por dentro e por fora, de ouro. Possuía uma  tampa também de ouro. No interior do Aron havia as Tábuas da Lei - tanto  as primeiras (os pedaços, já que elas foram quebradas por Moshê) quanto as  segundas - e um Sêfer Torá escrito por Moshê sob ordem de D’us.
  Sobre a tampa do Aron, a Arca Sagrada,foram  colocados os Keruvim - anjos com faces de crianças. Os Keruvim ficavam  posicionados um de frente para o outro, olhando um para o outro, e com as  pontas das asas encostadas umas nas outras.
  O Aron ficava dentro do Côdesh Hacodashim. O Côdesh  Hacodashim era o lugar mais sagrado do Templo, onde só o Cohen Gadol entrava  apenas uma vez por ano, no dia de Yom Kipur. O Côdesh Hacodashim era  um lugar tão sagrado que até mesmo o Cohen Gadol, se não estivesse  completamente puro, ao entrar, morreria, devido à santidade do local.
  Junto à Arca Sagrada, no Côdesh Hacodashim, estavam  também o cajado de Aharon Hacohen (o irmão de Moshê) e uma amostra do man (o alimento que caía do céu para nossos antepassados no deserto).
  Um fato interessante, e milagroso, sobre o Aron é que  ele “não ocupava espaço”. O Côdesh Hacodashim media 20 amot (aproximadamente  10 metros) por 20 amot. O Aron tinha a medida de 2,5 amot de  comprimento por 1,5 amot de largura. Apesar disso, medindo-se de uma  ponta do Aron até a parede do Côdesh Hacodashim, resultariam 10 amot, acontecendo o mesmo do outro lado (medindo-se da outra ponta do Aron até  a outra parede do Côdesh Hacodashim).
  Quando Shelomô Hamêlech construiu o Bêt Hamicdash, já sabia que ele seria futuramente destruído. Por isso, fez uma caverna  subterrânea, abaixo dele, para que o Aron fosse escondido antes da  destruição para não ser profanado. Assim foi feito e junto ao Aron foram  escondidas também o cajado de Aharon e a amostra do man, que permanecem  lá até hoje.
  Que o dia de Tishá Beav, que nos traz tanta tristeza,  transforme-se em breve em um dia só de alegrias com a construção do Terceiro  Templo. Então voltaremos a ter todas as maravilhas do Bêt Hamicdash e de  Jerusalém reconstruída.
Na Época da Destruição do Templo 
  A Guemará, em Massêchet Guitin, conta vários  episódios da época da destruição do Templo. Um desses trágicos episódios  refere-se ao profeta Zecharyá.
  Zecharyá era um dos profetas da época do Primeiro Templo. Em  seu tempo, o povo começou a idolatrar um dos reis do reinado de Yehudá, chamado  Yoash. Zecharyá advertiu o povo a não praticar a idolatria, porém não foi  ouvido. Não apenas isto, como também Yoash mandou que seus ministros matassem o  profeta. Zecharyá foi assassinado dentro do próprio Bêt Hamicdash, na Azará. O sangue de Zecharyá permaneceu derramado na Azará, fervendo, por  muitos anos.
  Quando Nabucodonosor invadiu Israel, Nevuzaradan, um de seus  generais, invadiu Jerusalém, causando milhares de mortes. Quando o general  entrou no Templo, encontrou o sangue de Zecharyá, que ainda fervia na Azará. Perguntou o que era aquilo e disseram-lhe que era o sangue dos sacrifícios.  Trouxeram então animais e sacrificaram-nos para comparar se era realmente o  mesmo sangue, mas não era.
  Nevuzaradan disse: “Se vocês não me disserem do que é este  sangue, eu os rasgarei com tridentes de ferro”.
  Responderam-lhe então: “Nós tínhamos um profeta que nos  advertiu com as palavras de D’us e nós o assassinamos. Desde então seu sangue  não tem descanso.”
  O general disse que faria o sangue descansar. Trouxe o  Grande e o Pequeno San’hedrin e assassinou-os, mas o sangue não se acalmou.  Derramou o sangue de crianças e o sangue continuou fervendo.
  Ele disse então: “Zecharyá, Zecharyá. Matei os melhores de  vocês. Talvez você queira que eu mate todos?”
  O sangue então parou de ferver.
  Foi aí que Nevuzaradan passou por um momento de  arrependimento e pensou: “Se por causa de uma pessoa o sangue ferveu até agora,  demonstrando que sua morte não foi perdoada, o que então acontecerá comigo, que  matei milhares?!