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Sucot: A Importância da Paz

Rabino I. Dichi

Comemorando IV

“Que Ama a Paz e Persegue a Paz”

No Pirkê Avot consta que Aharon Hacohen “ama a paz e persegue a paz, ama as criaturas e as aproxima da Torá”. Ele se transformou em um símbolo de amor à paz e aos outros e, por causa disso, conseguiu aproximar muitos membros de Israel da Torá.

Também as “Ananê Hacavod” (Nuvens de Glória), que cercavam o acampamento de Israel no deserto, vieram por mérito de Aharon, conforme foi mencionado por nossos sábios em diversos lugares. Ao analisarmos o assunto, percebemos que também estas nuvens estavam ligadas à paz.

As nuvens delimitavam e protegiam o Povo de qualquer prejuízo, assim como a paz possui estas mesmas capacidades de ação espirituais. Ela permite que as pessoas morem juntas, adoça suas vidas e protege-as de qualquer desgraça e sofrimento que possam ocorrer quando ela está em falta.

“Não encontrou, o Eterno, um utensílio que contivesse a bênção, para Israel, exceto a paz” (fim da mishná, no Tratado de Uketsin). Assim como a discussão causa afastamento e destrói tudo, a paz age de modo inverso, juntando e ligando e, onde ela existir, encontraremos também a bênção.

A Verdadeira Paz

Hoje em dia, é muito comum falar sobre “paz” - entre países, entre partidos, etc. Escuta-se isso frequentemente e é possível se enganar - pensando que a paz a qual nossos sábios se referem é a mesma da qual tratam diversas nações - enquanto existe, na verdade, uma diferença colossal entre elas.

A paz entre os povos não decorre do amor à própria paz e amor às criaturas. Cada nação ama apenas a si própria e procura apenas o seu próprio bem. Então em determinadas situações para o seu próprio bem é indicado que não haja discussões e guerras com as nações vizinhas e, portanto, elas preferem tratados e acordos.

Quando nossos sábios se referem à paz, eles têm em mente algo inteiramente distinto. Trata-se de um conceito elevado e importante, que merece ser prezado e perseguido. A paz é uma situação espiritual que traz bênçãos e contém em si capacidades espirituais importantes.

A paz se origina da plenitude e das virtudes. Ela provém do fato de cada um olhar positivamente para o outro, sentindo que este não toma seu lugar e não o atrapalha. No futuro, reinará a paz entre todos os elementos da Criação e mesmo os animais selvagens pastarão junto com os herbívoros de hoje. Entretanto, mesmo antes desta época maravilhosa é possível fazer com que a paz domine. Junto com ela, virá a grande bênção que sempre a segue.

Cada um pode contribuir para trazer a paz a seu redor, tanto em relação a seus amigos e conhecidos quanto a sua família. Cada indivíduo deve esforçar-se por construir a verdadeira paz em seu lar, paz verdadeira que trará grandes bênçãos para toda a família.

Às vezes, as pessoas se dirigem a pessoas de fora de sua família, para apaziguá-las, enquanto abandonam a paz do seu próprio lar. É necessário saber que a paz começa em casa do próprio indivíduo e cada um deve esforçar-se para que sua casa esteja completa antes que se ocupe com o benefício de seus semelhantes.

Uma Moradia Provisória

As vantagens de sair da residência fixa e segura para a sucá, que é provisória, estão também ligadas a este assunto.

sucá indica que também este mundo é provisório, enquanto o verdadeiro “salão” se encontra no Mundo Vindouro. O atual é apenas um corredor, no qual se avança de encontro à meta.

Eis que o motivo das grandes discussões, brigas entre pessoas e litígios entre os povos é o desejo de expansão, aumento da força e da influência. Quando duas pessoas querem se expandir, cada uma às custas da outra, elas inevitavelmente se chocarão. Enquanto o indivíduo não estiver satisfeito com sua situação material, existe o risco de estourar a guerra.

Por outro lado, se cada um sente que este mundo é apenas um lugar de preparativos, sabendo que os outros não tirarão do que é seu e que, na prática, todos trabalham pela mesma meta - que é o engrandecimento da Glória Divina - todas as contendas cessarão.

No futuro, todos sentirão que ninguém reprime seus passos e invade o que é dele e sim o contrário: sua meta é ajudar, auxiliar e desenvolver. Então, reinará a verdadeira paz na Terra.

A Festa de Sucot

Estas conquistas espirituais da festa de Sucot podemos alcançar após os dias de julgamento e misericórdia: Rosh Hashaná Yom Kipur. Após coroarmos D’us em Rosh Hashaná e retornarmos em teshuvá e termos os pecados perdoados em Yom Kipur, há uma grande elevação espiritual. Sente-se que o Criador reina sobre tudo e que todos são Seus servos, cumpridores de Seus desígnios.

Consequentemente, quando chega a festa de Sucot e com ela o preceito de abandonar a casa e habitar em uma moradia provisória, isto é feito naturalmente. Sente-se que a meta deste mundo não é satisfazer os desejos do ser humano e, portanto, a ideia de viver em uma moradia provisória é mais facilmente aceita, assim como os valores a ela relacionados, que penetram melhor no coração.

“Para que saibam, suas gerações, que em sucot (cabanas) fiz sentarem os Filhos de Israel, quando os Tirei da Terra do Egito (Vayicrá 23:42). A lição do Êxodo do Egito, as bases da emuná dela aprendidas e a confiança em D’us, que protege Seu Povo com as Nuvens da Glória, são interiorizadas com o cumprimento do preceito da sucá. Na sucá sentimos que nos encontramos na “sombra da emuná” (tsila demehemenuta), no lugar onde paira a Presença Divina.

Esta é também a hora propícia para receber os “ushpizin” - a visita de sete justos do Povo de Israel: Avraham, Yitschac, Yaacov, Moshê, Aharon, Yossef e David. Aquele que amplia sua casa e fortalece sua posição material, em prol do bem-estar físico, não deixa lugar para visitas que são inteiramente espirituais. O lugar delas é justamente em uma moradia provisória, que lembra as Nuvens da Glória que cercavam o Povo no deserto.

As Nuvens da Glória e o Cuidado Divino

Mais uma grande lição é aprendida das Nuvens de Glória. De acordo com nossos sábios, o deserto era perigoso tanto pelo solo e o calor quanto pelos inimigos e animais selvagens. Dentro destas nuvens, com as quais D’us cercou o Povo, nada disto os afetava, além de que o caminho à sua frente tornava-se reto. Isto vem nos ensinar que o Criador protege a toda momento, mesmo durante os maiores perigos.

Quando a pessoa abandona sua casa e sai para a sucá, durante sete dias, é como se ela anunciasse que está indo para a Casa de D’us. Habitar a sucá demonstra que o Todo-Poderoso não abandona Seus filhos mesmo nas horas mais difíceis, quando Sua Face está oculta e há um aumento do materialismo e da impureza.

Mesmo então, é possível encontrar um lugar onde há apenas santidade e onde é possível se manter à sombra do Eterno. É sempre possível manter a ligação com Ele, Que sempre ouve e atende os que clamam por Ele, aceita suas preces e os salva, em todos os momentos de aperto e de dificuldades.