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Um Etrog Para Berditchev

Infantil

Os yamim

noraim (dias temíveis) passaram e eis que se aproximavam os dias de Chag Hassucot; um chag que é todo de alegria e possui muitas mitsvot que deleitam o coração dos yehudim. Dentre elas, Arbaat Haminim (as Quatro Espécies), a construção da sucá, seu embelezamento e a mitsvá de habitar nela.

Um vento fresco e agradável de outono soprava e trazia com ele a notícia de festividade que estava para chegar. Os yehudim de Berditchev ocupavam-se com muito empenho na construção de suas sucot. Sons de serrote e pancadas de martelo vinham de todos os lados da cidade.

Apesar da alegria que pairava no coração de todos, uma nuvem de preocupação cobria os seus rostos. Faltavam dois dias para o chag e em toda a Berditchev não havia sequer um etrog. Sem ele não seria possível cumprir a mitsvá e fazer a berachá do lulav. Os muitos mensageiros que foram enviados para diversas cidades para conseguir etroguim, voltaram de mãos vazias. Foi um ano difícil para os que cultivavam etroguim. Somente alguns etroguim kesherim foram colhidos e estes logo foram comprados pelos ricos das grandes cidades por preços altíssimos.

Já era êrev Sucot. O tsadic Rabi Levi Yitschac e toda a comunidade aguardavam impacientes por um etrog, porém nem sinal dele. Rabi Levi Yitschac mandou seus discípulos irem para as encruzilhadas das estradas, pois quem sabe encontrariam um homem carregando um etrog. Os discípulos fizeram conforme seu rav ordenou e eis que alguns deles viram de longe uma bela carruagem que se aproximava. Quando chegou perto, notaram que dentro dela havia um comerciante yehudi honrado e de belo semblante. Dirigiram-se a ele e perguntaram-lhe:

- “Será que você tem um etrog?”

- “Sim”, respondeu o comerciante. “Louvado seja D’us! Este ano eu consegui um etrog muito belo”.

Porém, para a frustração dos alunos, contou-lhes o comerciante, que ele morava na cidade de Djitomir e que estava apressado para chegar em casa antes de começar o chag. Depois de muitas tentativas de persuasão, o homem concordou em ir com eles para Berditchev - para a casa do Rabi Levi Yitschac. Chegando lá, o Rabi insistiu que o homem festejasse com eles o Chag Hassucot em Berditchev, para que ele possibilitasse que toda a cidade pudesse cumprir a mitsvá com o etrog. Porém o comerciante não concordou. Preferia seguir seu caminho para a sua casa.

- “Se você concordar com minha oferta - disse Rabi Levi Yitschac para o comerciante - eu lhe garanto riqueza e filhos”.

- “Baruch Hashem eu tenho riqueza e filhos”, disse o homem.

O Rabi disse então para o comerciante:

- “Se você aceitar o meu pedido, eu lhe garanto que você ficará junto de mim no Mundo Vindouro”.

Assim que o comerciante ouviu estas palavras, concordou imediatamente em ficar em Berditchev nos dias do chag. Pouco antes do chag, Rabi Levi ordenou através de seus discípulos, a todos os yehudim da cidade, que não permitissem que aquele comerciante entrasse em suas sucot. O aviso do tsadic soou aos ouvidos de todos como uma charada. Qual seria o pecado desse homem? Porém, todos obedeceram, pois sabiam que havia algum motivo para o Rabi tomar essa atitude.

Ao cair da noite de Sucot, o nosso amigo comerciante voltou do bêt hakenêsset para a estalagem onde estava hospedado e ficou muito espantado ao ver que prepararam para ele, dentro de casa, vinho para o Kidush, velas, chalot e uma mesa posta.

O comerciante ficou surpreso: “Será que o dono da estalagem não tinha uma sucá kesherá?”, pensou ele.

Saiu para o quintal e encontrou uma linda sucá construída conforme a halachá e os familiares do estalajadeiro sentados ao redor da mesa. O comerciante pediu para também entrar na sucá, porém o dono da casa explicou-lhe, com muito pesar, que por uma razão obscura, ele não podia permitir que o seu hóspede entrasse na sua sucá. O comerciante admirou-se e não entendeu o que estava acontecendo. Afinal, há poucas horas, o dono da estalagem honrou-o e de repente, ele o repele e não permite que entre em sua sucá!

Sem escolha, o comerciante bateu na porta de outra sucá e novamente deparou-se com a mesma situação: de jeito nenhum deixariam-no entrar. O comerciante implorou que ao menos lhe dissessem a razão. O homem compadeceu-se e contou-lhe que era uma ordem do Rabi Levi Yitschac. Imediatamente o comerciante correu em pânico para a casa do tsadic.

- “Por favor, Rabi” - suplicou o homem chorando - “Diga-me no que pequei, pois que você ordenou para todos os yehudim da cidade que não permitissem a minha entrada em suas sucot?!”.

Rabi Levi respondeu:

- “Se você abrir mão da promessa que eu fiz relacionada ao Olam Habá, imediatamente o receberei na minha sucá”.

O comerciante não sabia o que escolher. Vários pensamentos passavam por sua mente: O que é preferível? A garantia do tsadic para o Mundo Vindouro ou cumprir a mitsvá de sentar-se na sucá?

Depois de muito pensar, decidiu com seus botões: “A mitsvá da sucá eu não vou perder por nada nesse mundo! Será possível que todos os yehudim vão sentar nas sucot e eu vou comer dentro de casa?! Não! Isso não irá acontecer!”.

- “Rabi!” - disse o homem convicto - “Eu abro mão da sua promessa, contanto que possa cumprir a mitsvá da sucá!”.

O comerciante deu a mão ao tsadic, num gesto que simboliza a anulação da promessa.

Imediatamente, o Rabi Levi Yitschac recebeu-o em sua sucá e o colocou ao seu lado na cabeceira da mesa.

- “Meu filho, agora eu lhe restituo minha promessa, para lhe mostrar que eu não queria que você ficasse comigo no Gan Êden por intermédio de uma negociata. Eu queria que você fosse merecedor disso pelos seus próprios atos. Por isso, procedi dessa maneira. Para lhe pôr à prova na mitsvá da sucá. Agora, você passou pela prova com dedicação. Você até estava disposto a ceder sua recompensa no Mundo Vindouro para cumprir a mitsvá da sucá. Agora sim, você realmente merece ficar ao meu lado no Mundo Vindouro”.