Yehudá ben Tabai e Shim’on ben Shatach kibelu mehem. Yehudá ben Tabai omer: Al táas atsmechá keorechê hadayanim uchshehayu baalê dinim omedim lefanecha yihyu veenecha kezacain keshekibelu alehem et hadin.
“Yehudá ben Tabai e Shim’on ben Shatach receberam deles (da geração anterior de sábios). Yehudá ben Tabai diz: Não aja como um conselheiro entre os juízes. Quando os litigantes estiverem à sua frente, considere ambos como culpados. Quando se forem, após o julgamento, ambos devem ser como inocentes aos seus olhos uma vez que aceitaram o veredicto”.
Esta mishná se concentra no sistema judicial judaico. Seus conselhos são direcionados em princípio aos juízes.
A Mishná diz para o dayan (juiz) não servir como o advogado para o réu. O Rabênu Yoná explica que é óbvio que o juiz não pode ensinar o réu a mentir ou ajudá-lo a sair inocente. Mas esta mishná ensina algo mais: que o juiz tampouco pode ajudar o réu a esclarecer suas palavras, mesmo que sejam verdadeiras. Ele não pode tentar explicar o que o réu quis dizer. Não pode fazer o trabalho do advogado, deve deixar a pessoa dizer o que quer por si só, sem ajuda.
Depois a mishná diz ao juiz que, quando tiver que julgar entre um tsadic (justo) e um rashá (malvado), ou um rico e um pobre, que não deve se influenciar com a aparência ou com a fama deles, julgando de forma parcial. Ambos os litigantes devem ser encarados como malvados, para que possa fazer um julgamento imparcial.
Existiam juízes que, na hora do julgamento, colocavam um manto sobre a cabeça. Assim, não viam qual dos pleiteantes estava falando e julgavam os fatos de maneira isenta, sem nenhuma influência da aparência de cada litigante. Depois do julgamento, tiravam o manto e cumprimentavam as partes envolvidas.
Continua a mishná dizendo que, depois do julgamento, ao despedir-se dos litigantes, os dois devem ser aos olhos do juiz como pessoas corretas - inclusive aquele que foi condenado. Uma vez que aceitou o veredicto e a autoridade do tribunal, o juiz não deve pensar mal dele - que é ladrão, por exemplo. Deve considerá-lo positivamente, ter uma ótima impressão e relação com ele, não importa qual tenha sido sua ação.
Shim’on ben Shatach omer: hevê marbê lachacor et haedim vehevê zahir bidvarecha shema mitocham yilmedu leshaker.
“Shim’on ben Shatach diz: investigue a fundo as testemunhas e seja cauteloso com suas palavras, para evitar que elas saibam como mentir.”
Esta mishná, como a anterior, é dirigida a juízes, instruindo-os como se relacionar adequadamente com os litigantes.
Como vimos acima, os juízes devem manter uma suspeita saudável em relação aos pleiteantes e não aceitar nada como fato consumado. Embora “inocente até prova em contrário” seja um princípio fundamental da jurisprudência judaica, uma das realidades da justiça é que cada parte enxerga o caso de sua própria perspectiva. Os juízes, que representam a verdade absoluta e a justiça Divina, devem estar acima disto. Os litigantes relatam seu lado da história de forma subjetiva. Os juízes devem se elevar acima da discussão e tornarem-se veículos da justiça absoluta e imparcial de D’us.
Os comentaristas do Pirkê Avot explicam que o juiz deve fazer muitas chakirot - investigações. A única forma de o juiz saber se o réu e as testemunhas estão dizendo a verdade ou não, é através do questionamento. Ele deve fazer muitas perguntas às partes envolvidas, até que alguém se contradiga. Se a história é verdadeira, o depoente responderá às perguntas calmamente e com lógica. Mas se for mentira, em algum momento se contradirá. Portanto, o juiz deve saber como perguntar e extrair das partes a verdade ou a mentira.
Continua a mishná dizendo que o juiz deve ser cauteloso para que não saiam mentiras. Isso quer dizer que ele não pode fazer as perguntas muito devagar, pois acabaria proporcionando ao réu mentiroso tempo de imaginar uma boa resposta. Se perguntar rápido, uma questão após outra, a parte que está mentindo não saberá mais o que responder, tropeçando em suas respostas, e o juiz a pegará na mentira.