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Na Jaula dos Leões

Infantil

Rabi  Chayim Ben Atar, o “Báal Or Hachayim Hacadosh”, nasceu no Marrocos e no fim de sua vida foi para Êrets Yisrael.

Enquanto estudava na yeshivá do seu avô, aprendeu ourivesaria, pois não queria ganhar seu sustento por meio do estudo da Torá.

Mesmo quando se transformou em rosh yeshivá, o diretor acadêmico, ele se recusou a receber um salário da yeshivá e continuou no seu trabalho de ourives.

Como era especialista em sua profissão e sabia fazer lindas jóias, poderia ganhar muito dinheiro com seu trabalho. Mas ele não estava interessado em riquezas, somente no estudo da Torá. Por isso, empregou-se com um ourives não judeu. Trabalhava pouco, apenas para ganhar dinheiro suficiente para sustentar sua família e depois voltava para o estudo da Torá. Quando o dinheiro terminava, ele voltava a trabalhar mais algumas horas para seu patrão.

O chefe do Rabi Chayim Ben Atar não gostava de yehudim, mas estava feliz por tê-lo como seu empregado, pois o trabalho dele era excelente. Várias vezes o ourives pediu para que Rabi Chayim trabalhasse mais horas com ele e prometia pagar um salário mais alto pelas horas extras, mas Rabi Chayim nunca concordou. O dinheiro não era importante. Ele lamentava cada minuto que não santificava para o estudo da Torá.

*   *   *

Um clima muito feliz predominava no palácio do sultão. A princesa, sua filha única, estava para se casar. Certo dia, o sultão chamou o patrão do Rabi Chayim e encomendou algumas jóias caras e bonitas para sua filha. Ele pediu que elas ficassem prontas para o dia do casamento.

A partir desse dia, o ourives passou a acordar todas as manhãs bem cedo e a trabalhar até tarde da noite. Apesar de todos os seus esforços para terminar a criação das jóias, não conseguiu terminar no tempo que havia sido estabelecido. Principalmente porque, neste período, o Rabi Chayim estava com dinheiro suficiente para sustentar sua família e não precisava trabalhar. O sultão ficou com muita raiva do ourives e disse:

- Já que você não cumpriu a minha ordem, como castigo, será jogado na jaula de animais selvagens que está no pátio do meu palácio!

O jardim que rodeava o palácio do sultão era muito bonito; possuía árvores frondosas, lindas plantas e muitas flores. No centro havia uma jaula com leões e tigres. Quando o sultão tinha raiva de alguém e queria castigá-lo, ordenava que o indivíduo fosse jogado dentro dessa jaula e em poucos minutos as feras o devoravam.

O ourives ficou muito assustado com o horrendo castigo e decidiu culpar Rabi Chayim:

“Vossa Majestade, muita atenção

no que eu tenho para contar:

Não julgue-me com precipitação,

pois o culpado é Chayim Ben Atar.

As jóias do sultão eu gostaria de criar, mas o outro, ourives por profissão, não gosta de trabalhar.”

O sultão, que não gostava dos yehudim, muito nervoso bradou:

“Este yehudi será condenado, nem imagina o que o espera!

Por seu trabalho não ter terminado,

será devorado por uma fera.”

Os soldados do sultão dirigiram-se então para a casa do Rabi Chayim e anunciaram:

“Ouça agora tua trágica sorte

por não fazer as jóias da princesa.

Uma horripilante pena de morte,

foi-te decretada por Sua Alteza.”

Rabi Chayim não se assustou e pensou:

“Mesmo um rei maldoso eu não preciso temer. Pois à vontade do Todo-Poderoso ele há de se submeter.”

Como último pedido, Rabi Chayim implorou que o deixassem levar consigo seu talet, tefilin e alguns livros sagrados.

- Há, há, há! - começaram a rir os soldados. - Por acaso você pretende transformar os leões em grandes eruditos?

Depois de alguns minutos, quando os soldados se acalmaram de suas gargalhadas, deixaram que Rabi Chayim levasse consigo as coisas que pedira.

As ruas do bairro yehudi vestiram luto. As lojas fecharam e, entre choros e gritos de cortar o coração, os yehudim acompanharam o grande sábio ao ser levado pelas ruas para o trágico castigo.

- Não chorem, queridos irmãos! - dizia Rabi Chayim tentando acalmar a todos. - O Santo, bendito seja, que nos salva e nos redime de todos os infortúnios, há de me salvar das garras dos leões.

Nas laterais das ruas enfileiravam-se cidadãos ruins, felizes com a desgraça que acometera os yehudim, zombando deles.

Quando chegou o dia de executar a sentença, ouviam-se os grunhidos dos animais selvagens no pátio do palácio. Eles não haviam sido alimentados há algum tempo. Os yehudim empalideceram de terror. Os guardas amarraram Rabi Chayim e jogaram-no dentro da jaula dos leões, zombando:

- Que banquete saboroso nossos leões terão agora!

Eles esperaram que, como sempre, as feras atacassem imediatamente o homem. Mas, para sua surpresa, perceberam que os animais nem chegavam perto dele. Antes de abandonarem-no na jaula, comentaram entre si:

- Com certeza ainda não estão famintos. Vamos deixá-lo aí por mais algum tempo. Seu fim está muito próximo!

Ao passar três dias, os guardas voltaram para a jaula na certeza de encontrar apenas os ossos de Rabi Chayim. Qual não foi a surpresa ao presenciarem a cena: Rabi Chayim sentado no centro da jaula, ornado com os tefilin e envolto em seu talet, absorto no estudo da Torá. À sua volta, agachados, os leões e os tigres, muito calmos, ouviam atentos ao estudo e olhavam para o Rabi com olhos brilhantes e amigos. De vez em quando, um deles lambia os pés do sábio.

Ainda atônitos com a cena que presenciaram, os guardas foram relatar tudo ao sultão, que custou a acreditar naquelas palavras. Ele correu para ver o que estava acontecendo na jaula e observou a cena maravilhado. Quando se acalmou, ordenou que Rabi Chayim fosse retirado da jaula e disse:

“Agora que fostes salvo dos animais selvagens, percebo que D’us ama e guarda Seu povo inteiro.

Gostaria de me desculpar por fazer tantas bobagens, e convidá-lo a ser meu amigo e conselheiro.”

Foi um dia de muita alegria para os yehudim. Os antigos inimigos ficaram muito envergonhados por terem zombado deles. A partir de então, mudou completamente a relação entre eles, pois ficaram sabendo que D’us ama Seu povo, o Povo de Israel, e o protege de todas as desgraças.