A proibição de cozinhar de yom tov para Shabat
1) Quando o yom tov cai na véspera de Shabat, só nos é permitido cozinhar para o Shabat se for feito o Eruv Tavshilin na véspera do yom tov.
Cozinhar de yom tov para Shabat sem ter feito o Eruv Tavshilin é uma proibição de nossos sábios. Porém, há uma discussão quanto ao período que a Torá isenta cozinhar no yom tov para Shabat.
Uma opinião sustenta que, pela Torá, seria permitido cozinhar no yom tov (a qualquer hora) para o Shabat. Outra opinião sustenta que, pela Torá, somente seria permitido cozinhar no yom tov com certa antecedência do Shabat, ficando assim uma possibilidade de ainda aparecerem alguns convidados inesperados no yom tov e esta comida ser necessária no próprio yom tov.
Portanto, para não entrar nesta dúvida, por medida de segurança, devemos preparar a comida do Shabat ainda cedo no yom tov, em tempo de aparecerem possíveis convidados.
Como deve ser o eruv
2) O eruv deve ser feito com a quantidade de cabetsá de pão (ou matsá) equivalente a 57,6 ml - o que caberia, quando esfarelado, em 1 1/3 (um mais um terço) de copinho descartável de café (de 50ml) - e um cozido - como um ovo, um pedaço de peixe, carne ou qualquer outro alimento cozido - na quantidade de um cazáyit, equivalente a 28,8 ml - o que caberia, quando esfarelado, em dois terços de um copinho descartável de café (de 50ml).
Se fizer o eruv somente com um cozido, a posteriori será válido. Contudo se o fizer somente com pão, o eruv não terá validade nem mesmo para fazer pão de yom tov para Shabat.
3) O cozido usado no eruv pode ser uma comida assada, cozida, defumada ou em conserva.
É necessário que o cozido e o pão perdurem até que estejam terminados todos os preparativos para o Shabat, como cozinhar, assar, acender velas, etc. Por isso, convém que o eruv seja posto de lado e guardado em separado, de forma que não se misture, se perca, ou seja, consumido antes, por engano.
Se, antes que se terminem os preparativos de cozinhar, assar e acender, o eruv se perder ou for consumido e não tiver sobrado dele a quantidade de cazáyit do cozido, a partir daquele momento ficam proibidos os preparativos para o Shabat (vide item 7 a seguir).
Quando preparar o eruv
4) O eruv deve ser feito na véspera do yom tov. Se o primeiro dia de yom tov coincidir com uma quinta-feira, o eruv deverá ser feito na quarta-feira e a comida de Shabat deve ser preparada na sexta-feira.
Se o primeiro dia de yom tov coincidir com a sexta-feira, deve-se fazer o eruv na quinta feira, que é a véspera do yom tov.
Se lembrar depois do pôr do Sol - antes do nascer das estrelas - que não fez eruv, poderá fazê-lo neste período sem recitar a berachá, apenas recitando a declaração Beden Eruvá (ou Bahaden Eruvá, para ashkenazim), conforme explicado no item 6.
Se já estiver na sinagoga quando lembrar que não fez o eruv e não houver tempo para voltar a sua casa para fazê-lo, poderá, neste caso excepcional, considerar algum pão e algum alimento cozido que tiver em sua casa e destinar - especificando-os - para este fim. Isto pode ser feito apesar de não os estar segurando nesse momento. Então fará a declaração, dizendo: que, por intermédio desse pão e desse cozido (nos quais ele estiver pensando), ser-nos-á permitido assar e cozinhar, etc., conforme explicado adiante no item 6. Neste caso, não recitará a berachá.
Proibição de cozinhar no primeiro dia de yom tov para o Shabat
5) Quando o primeiro dia de yom tov coincidir com a quinta-feira, e, portanto, o eruv tenha sido feito na quarta-feira, é proibido cozinhar no primeiro dia de yom tov - quinta-feira - para Shabat, pois o eruv se relaciona somente com a véspera do Shabat, ou seja, só permite cozinhar na sexta-feira.
Se o primeiro dia de yom tov coincidir com a sexta-feira, é óbvio que se pode cozinhar na sexta para o Shabat. Este caso somente pode ocorrer nos últimos dois dias de Pêssach e em Shavuot.
Como proceder
6) O procedimento do Eruv Tavshilin é o seguinte:
Segure o pão e o cozido com as mãos e recite a seguinte berachá: Baruch Atá Ad-nay El-hênu Mêlech haolam Asher kideshánu bemitsvotav vetsivánu al mitsvat eruv - A Fonte das Bênçãos és Tu, Hashem nosso D’us, Rei do Universo, Que nos santificou com os Seus mandamentos e nos ordenou quanto ao mandamento de eruv.
Após esta berachá, deverá fazer a seguinte declaração:
Para sefaradim:
“Beden eruvá yehê sharê lána laafuyê ulvashulê (ulashchutê) uladlukê shargá ulmebad col tsorchana miyom tov LeShabat (lána ulchol benê hair hazot).”
Para ashkenazim:
“Bahadên eruvá yehê sharê lána lemefê ulvashalá ul’atmaná (velishchot) ul’adlacá sheragá ulme’bad col tsorchana miyomá tavá Leshabetá (lánu ulchol Yisrael hadarim bair hazot)”.
“Em virtude deste eruv, ser-nos-á permitido assar, cozinhar, acender fogo a partir de uma chama acesa desde a véspera do yom tov, preparar e fazer no yom tov tudo o que for necessário para o Shabat. (Isto será permitido a nós e a todos os yehudim desta cidade).”
Portanto, por intermédio deste pão e deste cozido (frango, peixe ou ovo) - em Pêssach: matsá e um cozido (como frango, peixe ou ovo) - preparados na véspera do yom tov, é como se já tivéssemos dado início aos preparativos da refeição do Shabat, podendo então, na sexta-feira, dar prosseguimento aos preparativos referentes ao Shabat.
Muitos sustentam que esta declaração é imprescindível.
Fazer seu próprio eruv
7) É uma mitsvá que cada um faça seu próprio Eruv Tavshilin a priori, e não se baseie no eruv feito pelos rabinos da cidade. Contudo, a posteriori, no caso de ter esquecido de fazê-lo ou ter perdido o eruv, é permitido apoiar-se naquele feito pelo rabino da cidade ou por qualquer outra pessoa que tenha feito eruv tendo a intenção de beneficiar a outros, conforme será esclarecido no item 9.
8) Embora no caso de perder ou de ter esquecido de fazer o eruv, seja permitido, a posteriori, apoiar-se no eruv feito por alguém que o tenha feito com intenção de beneficiar os esquecidos - a pessoa deverá ficar atenta para não esquecer de fazer o seu próprio eruv, pois se for reincidente, não poderá se basear no eruv de outros, por ser considerado negligente.
Quando um yom tov coincidir com a véspera de Shabat e alguém se esquecer de fazer o eruv na véspera do primeiro dia de yom tov, poderá se basear no eruv de alguém que ao fazê-lo teve a intenção de beneficiar terceiros. Entretanto, se no próximo yom tov que coincidir com a véspera de Shabat, ele se esquecer de fazer o eruv, não poderá se basear no eruv de terceiros, porque será um reincidente.
Portanto, alguém que esqueceu de fazer o eruv e precisou se basear no eruv do rabino da cidade, não poderá se basear no eruv do rabino no próximo yom tov que coincidir com a véspera de Shabat. Mas, se nesta segunda oportunidade fizer o eruv, poderá voltar a se basear no eruv do rabino novamente na próxima oportunidade que esquecer.
Se um indivíduo esquecer de fazer o eruv e perguntar de um rabino o que deve fazer, o rabino não deverá perguntar nada a ele e dirá: “Você pode se basear sobre o meu eruv”.
Exemplo: quando os dois primeiros dias de yom tov de Sucot coincidirem com a quinta e a sexta-feira e, consequentemente, o mesmo ocorrer com Shemini Atsêret. Se alguém se esquecer de fazer o eruv na véspera do primeiro dia de Sucot, ele poderá se basear no eruv de terceiros. Porém, se ele se esquecer de fazer eruv também na véspera de Shemini Atsêret, não poderá se apoiar no eruv de terceiros por ser um reincidente. Ele mesmo terá de fazer um eruv uma vez depois desta ocorrência, para que se numa próxima vez se esquecer novamente, a posteriori, possa se basear no eruv de terceiros.
Eruv para terceiros
9) Alguém que faz eruv incluindo terceiros (ou incluindo todos os yehudim da cidade que esquecerem de fazer) deve fazê-lo com a ajuda de outra pessoa, em princípio que não more na mesma casa. Esta pessoa deve levantar o eruv um têfach (10cm) com a intenção de adquiri-lo para todos os beneficiados e entregá-lo na mão do responsável.
O responsável recitará a berachá sobre o eruv e fará a declaração: “Em virtude deste eruv, ser-nos-á permitido assar, cozinhar, acender fogo a partir de uma chama acesa desde a véspera do yom tov, preparar e fazer no yom tov tudo o que for necessário para o Shabat. Isto será permitido a nós e a todos os yehudim desta cidade”.
Quando se lembrar que não fez o eruv no 1º dia de yom tov
10) Se alguém se esquecer de fazer o eruv na quarta-feira, véspera de yom tov, mas se lembrar no primeiro dia de yom tov que não o fez, fará o eruv al tenay (sob condição). Isto exceto quando o primeiro dia de yom tov for Rosh Hashaná, ou se o yom tov cair na sexta-feira e no Shabat - nestes dois casos não poderá fazer o eruv al tenay (sob condição).
Ao tomar o eruv em suas mãos, declarará: “Se hoje é yom tov, não necessito fazer eruv; porém se hoje é chol (dia comum da semana), com este eruv nos será permitido assar, cozinhar, etc.” No segundo dia, não é necessário fazer nenhuma declaração.
Neste caso o eruv deverá ser feito sem berachá.
O pão e o cozido não poderão ser feitos no yom tov. Portanto, deverão ser usados para eruv alimentos que sobraram da refeição do primeiro dia de yom tov.
Importante: É sempre melhor que a própria pessoa faça seu eruv. Por isso, ainda que o rav da cidade tenha feito eruv beneficiando as pessoas que porventura tenham se esquecido de fazê-lo, caso alguém se lembrar no primeiro dia de yom tov, será preferível fazer seu próprio eruv, a apoiar-se no eruv de outros.
Quando consumir o eruv
11) Uma vez que os preparativos para o Shabat estejam prontos e as velas estejam acesas, pode-se comer o eruv. No entanto, o costume é usar o pão do eruv como um dos lêchem mishnê (dois pães) nas seudot de Shabat e consumi-lo na Seudat Shelishit (terceira refeição de Shabat).
Se a pessoa costuma comer a Seudat Shelishit na sinagoga, poderá consumir o eruv - o pão e o cozido - em qualquer uma das duas outras refeições do Shabat.
Quando não houver necessidade de cozinhar
12) Quem souber que não precisará preparar comida do yom tov para o Shabat, somente precisará acender as velas, deve fazer o eruv sem berachá. Da mesma forma deve proceder aquele que fizer suas refeições de Shabat em outra casa e que acende velas, embora não tenha necessidade de cozinhar.
Muitas pessoas preparam toda a comida do Shabat antes, na véspera de yom tov. Assim sendo, farão o eruv sem berachá, para acender as velas de Shabat.
O mesmo se aplica a quem precisará somente esquentar a comida no yom tov. Deverá fazer o eruv sem berachá.
Hóspedes
13) Pessoas que estejam se hospedando (para refeições e pernoite) em casa de pais, parentes ou amigos, pedirão, de preferência, ao dono da casa, que os inclua no seu eruv. Na véspera do yom tov, o dono da casa entregará os alimentos do eruv para uma terceira pessoa, ou para o próprio hóspede, e este - chamado de “zochê” - deverá erguer os alimentos por 10cm (zikuy) e, em seguida, devolver ao dono da casa. Procedendo desta forma, o zochê adquire direito de propriedade (posse) para ele próprio ou para o hóspede, que assim estará incluído no eruv do dono da casa, podendo sua esposa acender as velas de Shabat (vide item 12) e ele e sua esposa auxiliarem nos preparativos do Shabat.
E assim deverá proceder também quando se hospedar em hotéis; pedirá ao responsável pelo eruv que inclua todos os hóspedes no eruv por intermédio do zikuy.
Caso não tenha procedido desta forma, sua esposa poderá acender as velas de Shabat normalmente.
Do livro “Rosh Hashaná,
Yom Kipur e Sucot”.
Todas as fontes pesquisadas
se encontram na referida obra.