Hu hayá omer: Neguid shemá avad shemêh, udlá mossif yassef, udlá yalef ketalá chayav, ud’ishtamesh betagá cholaf.
“Ele (Hilel) costumava dizer: Aquele que procura engrandecer seu nome, há de perdê-lo. Aquele que não aumenta (sua sabedoria) diminui-a (segundo outra interpretação: “perecerá”). Aquele que não estuda merece a morte, e o que faz uso da coroa (da Torá) partirá deste mundo.”
Esta mishná é de autoria de Hilel Hazaken, o mesmo autor da mishná anterior. Ela consiste de um grupo de ditados curtos e inter-relacionados, todos tratando sobre o crescimento pessoal e o estudo da Torá em particular.
Estes ditados estão escritos em aramaico em vez de hebraico. O aramaico era a língua popularmente falada na época. O hebraico era a língua mais “oficial” em Israel. A Guemará foi escrita em aramaico, enquanto que a maioria da Mishná foi escrita em hebraico.
Um ponto a destacar-se é o contraste entre esta mishná e a anterior. Na mishná anterior, Hilel nos incentiva a ser como alunos de Aharon, amar os seres humanos, procurar a paz e, pacientemente, aproximar as pessoas à Torá. Nesta mishná Hilel aborda a atitude em relação a nós próprios. Nesta oportunidade ele toma uma posição muito mais rígida. Amor e autocontrole são maravilhosos e servem como excelentes meios de promover a harmonia no mundo. Mas, em relação a nós mesmos, não podemos ser tão complacentes e clementes. Estamos neste mundo para esforçarmo-nos e crescermos como indivíduos, concretizando nosso potencial. Precisamos estudar e aumentar nosso conhecimento. Conforme nos ensina Hilel: “Se não estamos subindo, estamos descendo!”.
Não nos foi dado 120 anos de vida para sentarmos e “curtirmos” a vida. Foi-nos designado um número preciso de dias na Terra - sejam poucos ou muitos - e foi-nos dada uma missão a completar neste período. Precisamos reconhecer nossas metas na vida e consumá-las.
“Aquele que procura engrandecer seu nome, há de perdê-lo”
Hilel nos ensina que, aquele que quer honrarias e cavod (respeito), que concentra todas suas ações no sentido de consegui-los, há de perdê-los.
Na Guemará (Eruvin 13b) consta: “Aquele que corre atrás do cavod, o cavod foge dele. Aquele que foge do cavod, o cavod corre atrás dele”. Quanto mais o homem procura honrarias, menos tende a recebê-las - e vice-versa.
O Maharal de Praga (Rabino Yehudá Loew, República Tcheca, 1525-1609) explica que isso não é nenhuma “mágica”. Aquele que exige o respeito e busca ter um nome importante, tem seu valor diminuído perante os outros. Ele passa a ser encarado de forma “barata” aos olhos dos que o vêem e, no final, perderá todo o nome que tinha. O contrário acontece quando a pessoa tenta fugir ao máximo do respeito: ele é realmente valorizado e procurado pelos outros, que percebem nele esta qualidade nobre.
O Chazon Ish recebia muitas consultas e perguntas, via correio, de todas as partes do mundo. Em uma de suas cartas ele escreveu que, para ter-se sucesso é muito importante o anonimato. Enquanto a pessoa não é conhecida, ela pode ter sucesso em sua vida. No momento em que todos sabem de seu sucesso, vários obstáculos aparecem para atrapalhá-la.
Certa vez escreveram num jornal dos Estados Unidos uma pequena biografia sobre o Chafets Chayim. O autor do artigo planejava escrever depois um livro contando a vida deste grande rabino. Ao saber disto, o Chafets Chayim enviou uma carta ao autor pedindo que, por favor, não escrevesse o livro. Durante toda a sua vida ele procurara fugir do cavod e da fama - não era nesta oportunidade que perderia sua luta. No final, o livro acabou sendo publicado à sua revelia.
Foi por este mesmo motivo que o Chafets Chayim nunca deixou que tirassem fotos suas. Ele não queria ficar famoso nem conhecido por ninguém. Uma das vezes que precisou tirar uma foto para o passaporte, combinou com o fotógrafo, que não era judeu, que ele lhe daria o negativo da foto após revelá-la. Mas houve algum engano no processo de revelação, um judeu descobriu a foto do sábio e acabou conseguindo o negativo. Somente por isso temos uma foto do Chafets Chayim hoje em dia.
“Aquele que não aumenta (sua sabedoria), diminui-a”
Sobre este assunto, o Rabênu Yoná explica um conceito básico. Existem pessoas que dizem: “Já estudei suficiente Torá na minha vida, já aprendi o seu caminho, agora posso parar e não preciso mais me esforçar”. A Mishná ensina que não se pode ser assim. Nossas vidas são legitimamente válidas pelo intuito de estudar Torá. Esse é o nosso objetivo.
O Rabênu Yoná segue explicando que nós, judeus, fomos criados exclusivamente para entender, estudar e seguir o caminho da Torá. Se a pessoa nunca estudou e continua sem querer fazê-lo, faltam-lhe méritos essenciais neste mundo.
Mas, e se o indivíduo não estuda Torá porque não “acha graça” no estudo?
É importante saber que não existe alguém que estude a sério, esforçando-se, e não sinta nenhuma satisfação em seu estudo.
O que frequentemente acontece é que o indivíduo não se esforça o suficiente ou não estuda da forma que devida. Esta pessoa pode acabar não sentindo o gosto doce da Torá. Se tudo for feito da maneira correta, o estudioso sempre se sentirá feliz, satisfeito e desejará estudar cada vez mais.
O Rabênu Yoná conclui explicando que, sem o estudo da Torá, a pessoa não possui méritos suficientes mesmo que cumpra outras mitsvot. A razão é que o estudo da Torá é a mitsvá mais importante de todas. Ele vale mais do que todas as outras mitsvot juntas!
“E aquele que se aproveita da coroa, perecerá”
Esta mishná termina ensinando que aquele que estuda e chega a conquistar a “coroa” da Torá, não pode fazer uso dela para fins materiais próprios. Não pode usar o seu estudo para conseguir respeito ou dinheiro, sob o risco de tornar seu estudo inválido.
Do livro “Mussar Avicha”.