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Um Professor do outro Mundo!

No final de um seminário judaico de fim-de-semana em Israel, a mãe do pequeno Ami comoveu os demais participantes com suas lágrimas e a emocionante história que marcou sua vida para sempre.

Jóias do Maguid

Esta memorável história foi contada por uma mulher no final de um seminário de fim-de-semana em Israel para “baalê Teshuvá”. Ou seja, todos os participantes do seminário tinham sido pessoas não observantes das mitsvot no passado. Através de diferentes incidentes ocorridos em suas vidas, aquelas pessoas tinham se inspirado para retornar ao autêntico judaísmo da Torá.

Aquele fim-de-semana transcorrera em uma atmosfera bastante amigável. Os rabinos e convidados que ministraram palestras, tinham respondido a inúmeras questões e dado valiosos conselhos aos interessados participantes. Todos sentiam suas almas revigoradas e estavam muito contentes por ter participado do evento.

No final do banquete de encerramento, foi dada a cada pessoa a oportunidade de contar a sua história. O emocionante e surpreendente relato a seguir foi contado por uma das participantes daquele seminário.

Essa moça e o marido tinham sido enviados pelo governo de Israel para uma missão nos Estados Unidos. Eles deveriam ficar naquele país por um ano e depois voltariam para casa. O casal e seus três pequenos filhos alugaram um apartamento em Nova Iorque.

Em Israel, o domingo era um dia de trabalho normal para eles, mas nos Estados Unidos, tinham a oportunidade de descansar e passear com a família aos domingos. Assim, num certo domingo à tarde, eles decidiram sair de carro e ir passear nas montanhas.

Mal pegaram a estrada que os levaria para seu destino e o tempo mudou repentinamente. Uma chuva torrencial começou a cair. Todo o cuidado do motorista era pouco naquelas condições desfavoráveis. O marido dirigia atentamente, mas não estava acostumado com aquelas estradas sinuosas e estava dirigindo numa velocidade muito alta, considerando tais circunstâncias adversas.

Numa determinada curva à esquerda, o carro não acompanhou a estrada, seguindo direto para um despenhadeiro. O terrível acidente fez com que o carro, e seus cinco tripulantes, fossem atirados violentamente num trecho inferior da estrada.

Os pais, que não estavam usando cintos de segurança, foram jogados para fora do carro e caíram inconscientes. Depois de alguns momentos desmaiada, a mãe começou a recuperar a consciência e ouviu suas três pequenas crianças gritando “mamãe, mamãe!” de dentro do carro. Ela olhou em volta e viu que o marido estava caído sem movimentos próximo dali. Sua prioridade naquele instante, entretanto, era salvar seus filhos - os dois garotinhos e a irmãzinha. O carro tinha caído em cima de uma enorme pedra e lá permanecia, instável, correndo o risco de tombar despenhadeiro abaixo a qualquer momento. As crianças tinham que ser retiradas do carro o quanto antes.

A mulher juntou forças para se levantar e, com grande dor, dirigiu-se até o carro. As crianças estavam aterrorizadas e continuavam implorando a ajuda da mãe. Ela receava abrir a porta do carro, temendo que isso fizesse o veículo capotar. Mas não havia outro jeito de tirá-los de dentro. Então, vagarosamente e com muito cuidado para balançar o carro o mínimo possível, ela abriu a porta da frente.

Assim, em poucos instantes ela conseguiu tirar as duas crianças mais velhas que estavam ao seu alcance. O bebê, entretanto, estava sentado numa cadeirinha fixa no banco de trás, totalmente fora de alcance. A mãe percebeu que pela porta da frente seria impossível tirá-lo de lá sem jogar seu peso no outro lado do automóvel, o que provavelmente faria o carro despencar.

Mesmo desesperada por salvar sua filhinha, sentindo-se como se estivesse vivendo um pesadelo, a mulher tentou manter o controle. Ela saiu do carro cuidadosamente e tentou abrir a porta de trás. Se conseguisse abri-la sem balançar o carro, seria possível alcançar o bebê. Mas a porta traseira do veículo estava completamente amassada e travada.

As duas únicas possibilidades de salvar a criança sem tombar o carro tinham falhado. Procurar ajuda em outro lugar nem passava pela cabeça da pobre mulher. Ela não sairia dali nem por um instante sem seu bebezinho nos braços. Então, ela voltou para o banco da frente e, novamente, tentou se esticar até a criança, que se inclinava para a frente aterrorizada, tentando alcançar a mão da mãe. Todo esforço parecia inútil. Ainda assim, a mulher se esticou mais uma vez o máximo possível e, de repente, o bebê estava em suas mãos. Ela não conseguia entender nem mesmo acreditar no que ocorrera. A mãe estava convencida de que seria impossível se esticar o tanto que faltava para salvar seu bebê. Mas agora a sua pequena criança estava em seus braços.

Uma vez fora dali, ela colocou o bebê perto das outras duas crianças, que estavam sentadas perto de uma árvore e pediu que todas não saíssem dali até ela voltar. Em seguida, dirigiu-se até seu marido. Ele ainda estava inconsciente. A mulher temia pelo pior, embora esperasse milagrosamente pelo melhor. Em seu coração, entretanto, ela sabia que o marido estava morto. Então, ao aproximar-se dele, ela entrou em estado de choque. A senhora não soube dizer durante quanto tempo permaneceu naquele  lugar. Tudo que ela se lembrava depois disso era a partir do momento em que as crianças gritaram “papai, papai!”. Espantada, ela se virou, limpou os olhos, e viu um homem se dirigindo em direção a eles.

Num acidente muito parecido com o que ocorrera com ela e sua família, o carro daquele homem tinha derrapado na estrada e caído próximo do lugar onde estava o carro deles. O homem tinha se machucado na perna e estava procurando por auxílio para ser socorrido. Foi então que percebeu o outro carro em cima da pedra e a família ali perto, desamparada. Em sua confusão e desespero, as crianças pensaram que o homem que se aproximava era seu pai e começaram a gritar “papai, papai!”, enquanto esticavam seus braços para serem socorridas.

O homem se aproximou da família acidentada e entendeu toda a situação. Com poucas palavras, ele pediu para a senhora permanecer com suas crianças naquele lugar, pois voltaria logo com alguma ajuda. Apesar de sua perna ferida, ele conseguiu voltar para a estrada para tentar encontrar socorro. Finalmente, ele e aquela família israelense foram levados para um hospital próximo.

A mulher conseguira salvar seus três filhos. Seu marido, entretanto, tinha perecido no acidente.

Numerosas cirurgias plásticas precisaram ser realizadas no rosto da senhora, e só depois de três meses ela recebeu alta do hospital. Agora ela teria de recomeçar sua vida sozinha.

Durante sua estada no hospital, ela continuava refletindo intrigada em como a terceira criança fora salva, mas não encontrava uma resposta. “Tinha que ser um milagre!”, ela pensou. Talvez tivesse sido um anjo que agarrou sua criança e entregou-a em suas mãos. Ela se lembrava claramente que era humanamente impossível alcançar sua pequena filha.

Numa forte resolução, antes mesmo de sair do hospital, ela decidiu mudar sua vida. Ela voltou para Israel com seus três filhos e se tornou uma mulher cumpridora das mitsvot.

Logo que chegou na Terra Santa, a mulher matriculou seus dois filhos mais velhos em escolas observantes da Torá. Como anteriormente eles tinham frequentado colégios seculares, os meninos estavam muito atrasados em relação aos seus coleguinhas de classe. Especialmente Ami, seu filho mais velho, de dez anos de idade, que foi colocado numa classe onde já estavam estudando guemará.

Embora fosse um garoto brilhante, Ami encontrava dificuldades em se adaptar ao estudo racional e à linguagem do Talmud. Apesar de se esforçar, não conseguia acompanhar a classe. Depois de algum tempo sem bons resultados, acabou ficando frustrado, porque queria ter sucesso e não conseguia.

Determinado dia, depois de alguns meses naquela escola, Ami voltou para casa com o rosto cheio de lágrimas. Na escola, o professor tinha anunciado que sua turma logo teria que fazer um grande exame sobre o quinto capítulo do tratado de Bavá Camá. Inconsolável, ele estava certo de que não conseguiria passar naquela avaliação de jeito nenhum.

- Como posso passar nessa prova se ainda estou tão atrasado?! - ele disse, chorando desiludido.

- Não se preocupe, querido - sua mãe respondeu com amor, contendo suas lágrimas. - Não importa o que você vai fazer, eu sei que o seu professor vai entender! Além do mais, ele sabe muito bem que você começou a estudar bem depois de todos os outros alunos. Fora isso, eles também têm estudado em casa, mas você não.

Um pouco mais calmo, Ami foi dormir, sentindo-se miserável em relação a toda aquela situação.

Na manhã seguinte, entretanto, ele estava surpreendentemente alegre. Admirada com a feliz, mas estranha, reviravolta, a mãe arriscou um comentário:

- Bom dia, querido! Parece que você teve uma ótima noite de sono!

- Muito mais do que isso, mamãe! - exclamou o garotinho eufórico. - Eu tive um maravilhoso sonho! Agora eu sei que vou passar na prova da escola!

Ainda mais surpresa, a mãe perguntou:

- Como?! Sonho?! Que sonho? Você sonhou que tirou uma boa nota na prova? Isso é muito bom!

- Bem - disse o menino um pouco hesitante. - Não é nada disso. Quer dizer, é muito melhor! Eu sonhei com o papai!

- Você sonhou com ele?! - perguntou a mãe já um pouco assustada.

- Sim! - exclamou o filho entre sorrisos. - Nós estávamos andando por uma rua e eu disse para ele: “Papai! Você sabia que agora nós estamos religiosos?” E ele disse para mim: “Sim, eu sei, querido Ami. No dia em que todos vocês fizeram teshuvá, foi maravilhoso para mim! Naquele dia permitiram-me entrar no Gan Êden!

- Então - continuou o menino - eu disse para ele que eu estava matriculado numa yeshivá. Ele disse que sabia disso também. Daí eu falei que agora a gente estava estudando guemará e eu ia ter uma prova muito grande. Então o papai me disse: “A guemará que você está estudando na escola é a mesma guemará que estão me ensinando no Gan Êden!”

O menino contava tudo com muita clareza, como se tivesse acabado de conversar com o pai. Ainda mais animado, ele continuou o relato:

- “Então você pode me ensinar ela?”, eu perguntei para o papai. “Claro que sim, querido!” Ele me disse satisfeito. Então ele começou a me ensinar tudo o que eu precisava saber sobre o quinto capítulo de Bavá Camá!

Nesse momento, quando a mulher contava a história no seminário, ela parou por um momento e sua voz se encheu de emoção. A platéia estava tão emocionada quanto ela. Com os olhos cheios de lágrimas, ela disse: “Meu Ami tirou dez na prova!”

do livro “In the Footsteps of the Maggid” do Rabino Pessach J. Krohn.
Publicado com permissão da Mesorah Publications.