O cantor e compositor Shelomô Carlebach (1925-1994) viajava muito para recitais judaicos em todos os lugares do planeta. Assim, era uma personalidade conhecida entre as tripulações das grandes companhias aéreas.
Em um de seus vôos, quando se levantou de seu assento durante a viagem, observou uma das aeromoças murmurando enquanto segurava um sidur.
Carlebach ficou surpreso com a visão um tanto incomum e esperou até que ela finalizasse suas orações. Quando ela fechou o livro, ele disse:
- Percebi que você estava rezando em um sidur. Por acaso você é judia?
- Apesar de que meus pais não são judeus - respondeu a aeromoça - fiquei encantada com o judaísmo. Estudei vários anos com um rabino ortodoxo e depois me converti de acordo com a lei judaica. Hoje me comporto, como você pode ver, de acordo com a Torá e seus preceitos, conforme dita a halachá.
- Recentemente - continuou a moça um tanto desanimada - conheci um rapaz judeu. Mas seus pais se opõem de forma veemente a nossa relação. Eles não querem permitir que seu filho se case com uma convertida. Nós gostaríamos muito de formar juntos um lindo lar judaico, mas ele está muito unido aos seus pais e não quer fazer com que eles sofram. Ele está arruinado com toda a situação. Temo que muito em breve romperá nossa relação. Acaso você poderia nos ajudar?
- Eu tentarei - ele disse. - Dê-me o seu número telefônico e o dos pais dele. Talvez eu consiga convencê-los a não se oporem ao casamento.
Quando o Senhor Carlebach chegou ao seu destino, telefonou para o pai do rapaz. Tentou explicar que a moça se convertera sinceramente, sem qualquer outro interesse. O pai foi frio e nada amistoso. Todas as tentativas para que enxergasse a situação de outra forma foram inúteis. Quanto mais o Senhor Carlebach tentava convencê-lo, mais o pai se mostrava agressivo, até que finalmente gritou:
- Saiba que eu sou um sobrevivente do Holocausto! Pelo que D’us fez aos judeus por meio dos outros povos, odeio o judaísmo. Ainda assim, nunca aceitarei que meu filho se case com uma moça de outro povo!
O Senhor Carlebach entendeu que não havia motivo para continuar a conversa. Agradeceu a atenção do interlocutor e desligou o telefone. Em seguida ligou para a jovem aeromoça para contar sobre seu fracasso.
Não foi ela quem atendeu o telefone, mas sim seu pai.
O Senhor Carlebach começou a conversar com ele e contou sobre o que tentara fazer por sua filha. Logo o pai da moça também ficou irritado pela intromissão do estranho naquilo que não lhe dizia respeito.
O Senhor Carlebach tratou de desculpar-se, dizendo:
- Acaso não está escrito no Talmud que o Todo-Poderoso, Ele Mesmo, ocupa-Se em juntar casais para que se casem? Eu apenas tentei participar um pouquinho... Acredito que sua filha e este rapaz formariam um lindo lar, e tenho muita pena de ver que isso não acontecerá.
Sua voz de preocupação tocou o coração do pai da moça. Ele começou a chorar e, depois de alguns instantes, disse muito emocionado:
- Já que o senhor está tão preocupado com minha filha, contarei um segredo a você que nunca contei a ninguém, e estava certo que jamais o faria. Todos pensam que eu e minha mulher somos cristãos, mas não somos de fato. Nós dois somos judeus sobreviventes do Holocausto. Pelo que D’us fez conosco por meio dos outros povos, nós odiamos o judaísmo. Comportamo-nos como cristãos e educamos nossos filhos assim. Nem eles sabem da verdade.
- Então - disse o Senhor Carlebach admirado - sua filha é judia de nascimento e os pais do rapaz não verão problemas nesta união! Revele a verdade para que eles sejam felizes!
O pai da aeromoça concordou e o Senhor Carlebach convenceu as duas famílias a participarem de uma reunião para conhecerem-se.
O encontro foi marcado para acontecer no hotel onde ele se hospedava.
Primeiro chegou a família da aeromoça. Logo em seguida chegou o rapaz com seus pais.
Logo que se avistaram, o pai do rapaz gritou: “Yankele!”
E o pai da moça respondeu efusivamente: “Hershele”!
Eles correram para um abraço longo e apertado, entremeado de beijos e lágrimas.
Depois, eles explicaram para todos os presentes que, antes de começar a guerra, estudaram juntos em “chavruta” na yeshivá.
Os dois disseram que estavam certos que seu companheiro havia desaparecido no Holocausto. Suas memórias começaram a fluir com muita emoção. Recordaram sua infância com nostalgia e uma alegria mesclada com as dores da guerra.
Então, um deles disse o que mais comoveu a todos:
- Você se lembra como sonhávamos nossos futuros quando éramos estudantes? Dizíamos que, quando casássemos e tivéssemos filhos, faríamos todo o possível para que eles se casassem e formássemos uma linda família! Nós nos esquecemos, mas Hashem não Se esqueceu!
Do jornal “Hashavua”