Matérias >> Edição 148 >> De Criança Para Criança

“Mola”

Chayim Walder

De criança para Criança

Meu nome é Asher.

Eu sou considerado um menino esforçado e capaz, mas os professores não estão satisfeitos comigo.

Nas provas eu sempre ganho "excelente". Quando o professor pergunta algo, eu sempre sei a resposta. Às vezes eu faço perguntas tão boas, que o professor diz que foram perguntadas por grandes homens.

No entanto, não estão satisfeitos comigo. Eu não consigo ficar sentado no mesmo lugar por mais de cinco minutos seguidos. Eu simplesmente não consigo! Uma vez ouvi um professor dizer para outro que eu pareço uma mola.

O professor fica explicando durante uma aula inteira coisas que eu já entendi nos primeiros minutos da aula. Então eu começo a ficar entediado.

Nas aulas de guemará eu sonho mesmo! Eu estudo guemará com meu pai todos os dias em casa, como se estuda numa yeshivá. Por isso, quando o professor ensina, parece-me por demais infantil.

Então o que eu faço na classe? Fico passeando entre as carteiras...

Não aguento mais ficar o dia inteiro sentado sonhando!

E quando eu não estou passeando, fico cortando papel em pedacinhos pequenininhos, desmontando meu relógio, fazendo aviões de papel... Sou ótimo na elaboração de aviões!

Descobri que quando se faz um avião de papel muito estreito, ele logo cai. Então eu faço asas compridas, preocupo-me para que as dobras sejam exatas e finas - quase passadas a ferro. Meus aviõezinhos ficam bastante tempo voando no ar.

Certa vez, testei um desses aviões no meio da aula. Eu não queria atrapalhar o professor, de jeito nenhum! Mas eu estava tão concentrado no meu avião, que esqueci estar no meio da aula...

O professor ficou muito nervoso e me mandou direto para o diretor. O diretor enviou uma carta para meu pai assinar. Papai ficou muito bravo comigo. Ele ficou triste o dia inteiro por minha causa.

Eu não gosto de atrapalhar meus colegas de classe e também não gosto de entristecer o papai; por isso me esforço para prestar atenção nas aulas, mas não dá. Eu sei quase tudo o que o professor ensina - não tenho quase nada para fazer na classe!

Certo dia, depois das aulas, o professor me chamou para a sala dos professores. "Ouça, Asher" ele disse. "Talvez você seja o menino com maior capacidade da turma. Apesar disto eu não estou satisfeito com seu comportamento, e você sabe muito bem disto."

Não sabia o que responder para ele. Naquele mesmo instante eu estava dobrando uma folha de papel. O professor pegou-a delicadamente de minhas mãos. Ele fez algumas dobras e depois mostrou-me um barquinho. "Está vendo" disse ele. "Isso eu também sei fazer. A pergunta é: Qual a utilidade disso?"

Permaneci em silêncio.

O professor olhou para dentro dos meus olhos e disse: "Eu sei qual é o seu problema. Quando você chega na escola, tudo aquilo que eu vou ensinar já está bem armazenado em seu cérebro. Daí, durante a aula você sente que não tem mais o que fazer, não é mesmo?"

Concordei com a cabeça.

"Então por que você se ocupa com bobagens?" ele perguntou. "Você poderia ficar em casa e fazer algo mais útil. Se você não faz nada na classe, deveria aproveitar melhor o seu tempo em casa".

Eu não tinha o que responder. Permaneci em silêncio.

"Vá para casa e tente voltar amanhã com uma solução para o problema" terminou o professor. Acariciou-me e foi embora.

Durante todo aquele dia fiquei sentado em casa pensando em alguma solução, mas não a encontrei.

À tardinha, como sempre, papai chegou e disse: "Asher, você quer estudar?" De repente uma idéia iluminou minha mente.

"Papai!" eu disse para ele. "Nós podemos estudar uma outra guemará? Uma guemará que não estamos estudando na escola?"

Papai espantou-se e perguntou: "Por que você não quer estudar a guemará que você está aprendendo na classe?"

"Porque se eu estudo antes, fico entediado na classe", respondi. "Eu gostaria de chegar na classe e ouvir a guemará do professor pela primeira vez. Com você, papai, poderia fazer apenas uma revisão. Eu aprenderia com você outra coisa." Papai ficou muito contente com aquela idéia original. Naquela noite, sentamos e estudamos outra guemará.

O que direi para vocês, crianças? Desde aquele dia, eu sento na classe e ouço com vontade as palavras do meu professor. A matéria nova é sempre cativante e gostosa de ser estudada. É legal sentar e prestar atenção ao professor dando aula de maneira tão interessante e dedicada.

Não pensem que eu parei de montar aviões de papel! Mas para esta "importante" ocupação, eu encontrei uma outra hora.

Chayim Walder em"Yeladim Messaperim al Atsmam",

Tradução de Guila Koschland Wajnryt

Permissões exclusivas para a Nascente