Matérias >> Edição 148 >> Dinheiro em Xeque

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Todas as dúvidas e divergências monetárias de nossos dias podem ser encontradas em nossos livros sagrados!

Dinheiro em Xeque

Certo dia o Sr. Efráyim ligou para Dan, seu operador na bolsa de valores, e pediu para ele comprar um milhão de reais em ações da companhia Sony.

Após duas semanas, Efráyim novamente ligou para Dan, desta vez para consultar como estava sua carteira de ações. Eis que, ao comentar sobre a aplicação que tinha feito há duas semanas na companhia Sony, Dan lhe respondeu:

- Efráyim querido, ao que tudo indica, você deve estar se confundindo, pois você me pediu para comprar ações da companhia “Kony”, e não “Sony”!

- O quê?! Que Kony que nada! - esbravejou Efráyim. - Eu lhe disse para comprar as ações da Sony!

- Mas agora nada mais pode ser feito sobre aquela aplicação. Estou vendo bem aqui na minha frente, na tela do computador, que a aplicação foi feita nas ações da Kony! - respondeu Dan.

Devido a um mal-entendido, Dan comprou ações da Kony em vez de ações da Sony.

No entanto, deste equívoco acabou saindo um lucro impressionante. Justamente naqueles dias o valor das ações da companhia Kony subiram de forma impressionante, duplicando seu valor, de forma que o milhão de reais se transformou em dois milhões!

Quando Efráyim tomou conhecimento de sua incrível boa sorte, pediu para Dan vender imediatamente as ações da Kony, pois gostaria de retirar o dinheiro enquanto suas ações estavam em alta.

Surpreendentemente, ao receber a ordem de venda, Dan respondeu-lhe o seguinte:

- Ok Efráyim, realizarei a venda. Mas saiba, querido, que parte deste lucro cabe a mim. Se não fosse pelo excelente negócio que eu operei, você não receberia esse milhão de reais! Você nunca imaginaria que esse investimento seria tão rentável!

Efráyim discordou totalmente do argumento de Dan, afirmando que todo o lucro cabia a ele, o dono do capital inicial.

Após muito discutirem não chegaram a um acordo, e resolveram procurar um rabino.

Quem tem razão? Efráyim, dono do capital inicial investido? Ou Dan, que realizou um excelente negócio sem a autorização e o consentimento de Efráyim, mas utilizando o dinheiro de Efráyim?

O veredicto

Está escrito no Shulchan Aruch que, quando alguém entrega dinheiro a um enviado para comprar-lhe trigo e o enviado acaba comprando centeio - ou vice-versa - se houver uma perda, o enviado precisa pagar o prejuízo. E se houve um ganho, o lucro pertence ao dono do dinheiro.

Portanto, vemos que um enviado que modificou a orientação de quem o enviou precisa pagar por eventuais prejuízos decorrentes de suas ações. Não somente isso - caso haja um ganho no negócio que o enviado realizou de forma incorreta, sem orientação, o lucro vai integralmente para quem enviou o sujeito.

Sendo assim, no caso das ações compradas sem orientação, quando o “enviado” investiu dinheiro em outra companhia, todo o lucro deste equívoco pertence ao dono do dinheiro, a Efráyim.

Porém, o comentarista do “Shulchan Aruch” “Siftê Cohen” (o “Shach”, Rav Shabetay ben Meir Hacohen) diz que há opiniões que sustentam que se houve algum ganho, os dois devem dividi-lo. Isso porque o lucro surgiu devido não somente ao dinheiro de quem enviou, como também pela ação do enviado, que alterou a intenção original do dono do dinheiro.

No entanto, o Netivot Hamishpat escreve que as opiniões trazidas pelo Shach tratam apenas do caso em que o enviado propositadamente modificou a intenção original de quem o enviou, com o intuito de dividir os ganhos (consequentes de sua ação) com ele. Somente neste caso os dois dividiriam os lucros. Porém, num caso em que o enviado agiu sem intenções de gerar lucros para si - mas sim visando o bem de quem o enviou - e apenas devido a um equívoco acabou se desviando das intenções dele, a lei é que todo o eventual lucro será de quem o enviou.

Portanto, no caso das ações, em que Dan teve a intenção de fazer o que Efráyim havia solicitado e por um equívoco acabou modificando o que lhe havia sido pedido para fazer, a lei é que todo o lucro proveniente deste engano deve ser de Efráyim, o dono do dinheiro!