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Sinagoga Hurvá

A Glória da Cidade Velha Onde estava e como era!...

Hurva

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A sinagoga Hurvá está situada em uma praça no centro do Bairro Judeu de Jerusalém Antiga. As escavações realizadas no local em julho e agosto de 2003 revelaram evidências de quatro períodos principais de assentamentos: Primeiro Templo (800-600 a.e.c.), Segundo Templo (século I e.c.), Bizantino e Otomano.

Três micvaot rochosos de imersões rituais judaicas foram descobertos ali, datando do século I. A história mais antiga a respeito do local diz respeito a uma sinagoga que lá existia na época do sábio Rabi Yehudá Hanassi, compilador da Mishná (século II e.c.).

Em 1488, Rabi Ovadyá ben Avraham Bartenura (1440 - 1516), o grande comentarista da Mishná, descreveu um grande pátio contendo muitas casas de ashkenazim, adjacente a uma “sinagoga construída sobre pilares”, referindo-se à “Sinagoga Ramban”. A Sinagoga Ramban foi usada conjuntamente por ashkenazim e sefaradim até 1586, quando as autoridades otomanas confiscaram o edifício.

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Rabi Yehudá Hechassid: 1700

No inverno de 1700, um grupo de aproximadamente 500 ashkenazim liderados por Rabi Yehudá Hechassid Segalchegou da Europa e imediatamente comprou um terreno em Jerusalém. Poucos dias depois de sua chegada à cidade, Rabi Yehudá Hechassid veio a falecer.

Sem um líder, a comunidade começou a desintegrar-se. Aqueles que permaneceram construíram quarenta habitações e uma pequena sinagoga. Logo depois, esforçaram-se para construir uma sinagoga maior, mas a tarefa se mostrou demasiadamente cara. Eles se viram precisando subornar as autoridades otomanas, a fim de obter a permissão necessária para prosseguir com seu projeto. Custos inesperados relacionados com a construção, subornos, impostos e dificuldades financeiras drenaram suas finanças. Eles ficaram empobrecidos e foram forçados a tomar empréstimos com altas taxas de juros de árabes locais. A pressão e as ameaças dos credores foram enormes. No final de 1720 os credores árabes perderam a paciência e aprisionaram os líderes da comunidade. Pouco depois, todos os ashkenazim foram banidos da cidade e a sinagoga foi transformada em uma pilha de entulho. Assim, ela ficou conhecida como a “Ruína de Rabi Yehudá Hechassid”.

Esforços dos perushim:
1812-1837

Entre 1808 e 1812, outro grupo de judeus místicos, conhecido como “perushim”, imigrou da Lituânia. Eles eram discípulos do grande cabalista Gaon de Vilna (Rabi Eliyáhu ben Shelomô, “Hagrá”, 1720-1792). Inicialmente estabeleceram-se em Safed. Alguns deles quiseram estabelecer-se em Jerusalém no local dos antigos seguidores de Rabi Yehudá Hechassid. Mas eles estavam preocupados com o fato de que os descendentes dos credores árabes ainda detinham as antigas notas promissórias relativas às dívidas centenárias dos seguidores de Rabi Yehudá. Provavelmente um novo grupo de imigrantes ashkenazim “herdaria” a responsabilidade pelo reembolso.

Em 1815, o líder dos perushim de Safed, rabino Menachem Mendel de Shklov, chegou em Jerusalém com um grupo de seguidores. Eles concentraram esforços para reconstruir a sinagoga de Rabi Yehudá, que simbolizara a expulsão dos ashkenazim de Jerusalém. Com isso, pretendiam demonstrar o restabelecimento da presença ashkenazi na cidade. Reconstruir uma das ruínas de Jerusalém também teria significado simbólico cabalístico - a “reparação” de uma destruição anterior representaria o primeiro passo da reconstrução de toda a cidade, um pré-requisito para a chegada do Mashíach.

Após grandes esforços junto às autoridades governamentais de Constantinopla, em 1819 o grupo conseguiu um decreto imperial que cancelava as dívidas centenárias e delineava o terreno adquirido por Rabi Yehudá em 1700. Em 1824 começaram a reconstruir as habitações no pátio, algo que nunca se materializou na prática, pois eles foram incapazes de exercer sua autoridade sobre o terreno devido ao confronto com os ocupantes árabes e à indiferença do governo local.

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Autorização egípcia: 1831

Com a anexação de Jerusalém pelo Egito em 1831, uma nova oportunidade surgiu para os perushim. Após cinco anos de grandes esforços diplomáticos, e com o apoio dos cônsules austríaco e russo, o Egito concedeu uma autorização de reconstrução. Mas não uma autorização explícita para a construção de uma grande sinagoga, apenas para a construção de habitações.

Em posse da autorização ambígua, os perushim começaram a limpar os escombros do pátio da Hurvá em 1836. Após muito debate, decidiram não reconstruir a Hurvá. Inicialmente construíram apenas uma pequena sinagoga próximo dali. Apesar do antigo decreto turco, os descendentes dos credores árabes continuaram a interferir com as obras. Embora a corte egípcia pendesse a favor dos perushim, eles tiveram que apaziguar os árabes com subornos anuais a fim de permitir que a construção continuasse. Em 1837 foram concluídas as obras da pequena sinagoga de Menachem Tsiyon. Em 1854, uma segunda sinagoga foi construída dentro do complexo ashkenazi. Mas a verdadeira Hurvá permanecia em ruínas.

Reconstruindo: 1857-64

No início da década de 1850, os perushim tentaram novamente reconstruir a Hurvá, desta vez com a disposição do governo britânico para intervir em Constantinopla por seus súditos judeus que residiam em Jerusalém. Finalmente, após grande empenho diplomático e a interferência de Sir Moses Montefiori, em 1854 a autorização foi concedida. Em 1856, a pedra angular foi colocada na presença do rabino chefe de Jerusalém, Rabi Shemuel Salant, que conseguira obter grandes doações em uma viagem à Europa.

Os trabalhos de construção progrediram lentamente devido ao enorme montante de recursos necessários. A comunidade se viu obrigada a organizar pedidos de doações em toda a diáspora para arrecadar um milhão de libras - uma verdadeira fortuna. Após oito anos de trabalhos, em 1864 a nova sinagoga foi inaugurada. Com a presença do Barão Mayer Alphonse James de Rothschild (1827-1905), o edifício foi oficialmente chamado de Bêt Yaacov em memória a seu pai. Os moradores, no entanto, continuaram a se referir ao edifício como Hurvá.

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Estrutura

A sinagoga era belíssima - por dentro e por fora. Construída em estilo bizantino e com um rico acabamento de extremo bom gosto, media impressionantes 24 metros de altura. Havia doze janelas ao redor da base da cúpula, cercada por uma varanda que oferecia uma bela vista de grande parte da Cidade Velha e da área em torno de Jerusalém. Sendo uma das estruturas mais altas da Cidade Velha, era visível mesmo a longa distância.

O Aron Hacôdesh tinha a capacidade de abrigar 50 Sifrê Torá em dois níveis. Ele fora retirado da Sinagoga Nikolayevsky em Kherson, Rússia, usada por recrutas judeus russos obrigados a passar vinte e cinco anos no Exército Imperial da Rússia. Numerosos candelabros de cristal pendiam da cúpula.

A Glória da Cidade Velha:
1864-1948

A partir de 1864, a sinagoga Hurvá foi considerada a sinagoga mais bonita e mais importante da Terra de Israel. Ela foi descrita como “a glória da Cidade Velha” e o “edifício mais impressionante em toda Israel”. Abrigou também a Yeshivat Ets Chayim, a maior yeshivá de Jerusalém. Bêt Kenêsset Hahurvá era o coração espiritual da cidade, local da instalação dos principais rabinos ashkenazim de Israel.

Sir Moses Montefiore visitou a sinagoga duas vezes - em 1866 e em 1875, quando 3.000 judeus compareceram para cumprimentá-lo. Em 1901 um memorial de serviço para a Rainha Vitória ocorreu na sinagoga em gratidão pela proteção concedida aos judeus de Jerusalém pela Grã-Bretanha. O serviço foi presidido pelo rabino-chefe ashkenazi Shemuel Salant.

Em 1921, Rabi Avraham Yitschac Kook foi nomeado primeiro rabino-chefe de Israel na Sinagoga Hurvá. Em 1923, o bar mitsvá do Gaon Hagadol Rabi Yossef Shalom Elyashiv zt”l, que se tornaria um dos maiores líderes do Povo de Israel desta geração, foi realizado na sinagoga. Na década de 1930 a sinagoga abrigava o Chêder Chayê Olam, onde os estudantes carentes da Cidade Velha recebiam a educação da Torá.

Destruição: 1948

Em 26 de maio de 1948, durante a batalha pela Cidade Velha, a Legião Árabe da Jordânia deu um ultimato aos judeus que ocupavam a sinagoga e o pátio adjacente para se renderem dentro de 12 horas. Não recebendo nenhuma resposta da Haganá, colocaram um barril de 200 litros cheio de explosivos contra a parede da sinagoga. A explosão resultou em um enorme buraco. Apenas quarenta e cinco minutos depois, hastearam uma bandeira árabe no topo do edifício mais sagrado do bairro, sinalizando o triunfo da legião. Logo depois, explodiram-no sem razão, reduzindo a sinagoga de 84 anos, juntamente com a Yeshivá Ets Chayim, a escombros.

Junto com a sinagoga principal, outros 57 santuários judaicos foram sistematicamente destruídos pelos jordanianos logo após sua ocupação da Cidade Velha.

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Novo projeto: pós-1967

Depois que Israel capturou Jerusalém Oriental da Jordânia na Guerra dos Seis Dias, em 1967, uma série de planos foram submetidos para a construção de uma nova sinagoga no local, como parte da reabilitação do Bairro Judeu.

Muitas figuras religiosas e políticas apoiaram a proposta de reconstruir a sinagoga original “onde estava e como era”. No entanto, os responsáveis pela Companhia de Desenvolvimento do Bairro Judeu, encarregada da restauração do Bairro Judeu da Cidade Velha, opuseram-se firmemente a ela. Eles desejavam que o edifício refletisse uma identidade ocidental moderna. Além disso, não se sentiam suficientemente qualificados para fazerem uma reconstrução fiel.

Um arquiteto de renome mundial foi contratado, Louis Kahn. Ele trabalhou vários anos para apresentar três projetos mirabolantes. Quando Teddy Kollek, então prefeito de Jerusalém, soube dos planos de Kahn de projetar a Hurvá em uma “escala comparável ao Côtel e, lehavdil, ao Domo da Rocha”, o prefeito não se mostrou solidário. Demonstrou sua preocupação em construir algo com a intenção de competir com o próprio Muro das Lamentações. O principal modelo de Kahn, uma enorme e pomposa estrutura com linhas modernas, foi exibida no Museu de Israel, mas seu plano foi arquivado quando ele morreu em 1974. Kent Larson mais tarde se referiu à proposta de Kahn como “o maior dos não construídos”.

Depois de anos de deliberação e indecisão, um arco comemorativo simbólico foi erguido no lugar, em 1977, tornando-se um marco proeminente do Bairro Judeu - o arco era uma lembrança de que a sinagoga deveria ser reconstruída.

O inglês Charles Clore tomou a iniciativa de financiar novos projetos de design. Ele contratou o famoso arquiteto Sir Denys Louis Lasdun, que elaborou planos entre 1978 e 1981 similares ao conceito original da Hurvá. Seus planos também foram rejeitados pelo primeiro-ministro Menachem Begin e pelo ministro do Interior.

Vinte e três anos após a construção do arco simbólico, o plano para reconstruir a sinagoga em seu estilo do século XIX recebeu a aprovação do governo israelense - no ano 2000. As obras tiveram início em 2007 e a nova sinagoga foi inaugurada em 15 de março de 2010.

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Reconstrução

O projeto para reconstruir a sinagoga em seu estilo original do século XIX foi do arquiteto Nahum Meltzer. Ele declarou que “por respeito à memória histórica do Povo Judeu e por respeito à área construída da Cidade Velha, é apropriado restaurar a glória perdida e reconstruir a Sinagoga Hurvá da maneira que era”.

Após uma pesquisa histórica bastante abrangente, as obras de reconstrução começaram em 2007. O rabino ortodoxo Simchá Hacohen Kook, de Rehovot, foi nomeado como o rabino oficial da sinagoga - uma atitude apoiada pelos principais rabinos de Yisrael, incluindo o Gaon Rabi Yossef Shalom Elyashiv zt”l.

Pouco antes do término das obras, surgiu uma disputa sobre que tipo de instituição a Hurvá seria. Ativistas secularistas e nacionalistas opuseram-se à idéia de outra sinagoga na Cidade Velha. Eles queriam que o local se tornasse um museu que apresentasse a saga histórica do Bairro Judeu e exibisse vestígios arqueológicos descobertos ali. Eles também discordavam da nomeação do rabino Kook como o coordenador do local. No entanto, o então rabino chefe da Cidade Velha de Jerusalém, Rabino Avigdor Neventsal, foi categórico ao afirmar que o edifício serviria como uma sinagoga e uma casa de estudos da Torá.

Apesar das manifestações contrárias de líderes palestinos, jordanianos e iranianos, finalmente, em 15 de março de 2010, na presença dos principais rabinos de Israel, de políticos e líderes comunitários, a sinagoga foi oficialmente inaugurada com uma emocionante cerimônia de gala. No dia anterior, milhares de pessoas participaram de uma calorosa e impressionante Hachnassat Sêfer Torá, uma manifestação que começou no Côtel Hamaaravie durante várias horas transbordou pura alegria.

O edifício imponente da sinagoga está localizado na Praça Hurvá - Rechov Hayhudim, 89. Fica no caminho para quem entra na Cidade Velha pelo Portão de Jaffa e segue em direção ao Muro das Lamentações. O interior da sinagoga é belíssimo e contém a arca sagrada mais alta do mundo. Das varandas do edifício, em torno da cúpula da sinagoga, desfruta-se de uma vista de 360 graus de Jerusalém.

O local está aberto para orações e visitações guiadas por aparelhos de áudio alugados que relatam a história do local. No interior da sinagoga deve-se manter o silêncio e o recato. A belíssima sinagoga funciona de maneira exemplar, com orações diárias e um centro de estudos da Torá coordenado pelos rabinos da Yeshivat Porat Yossef de Jerusalém - um ponto de luz que voltou a brilhar intensamente!