A viúva Frank viu-se diante de uma decisão difícil.
Sua filha mais velha já estava na idade de casar-se e ela deveria encontrar um candidato que preenchesse os requisitos que seu finado marido deixara em testamento.
O testamento deixado pelo Sr. Shraga Faivl Frank dizia textualmente que sua fortuna deveria ser igualmente dividida entre suas quatro filhas, desde que se casassem com jovens extremamente sábios que se tornassem rashê yeshivot - diretores de academias talmúdicas.
A Sra. Golda Frank visitou as yeshivot da época, que não eram muitas, e sugeriram-lhe um jovem estudante chamado Aharon Yossef Baksht. Conforme as informações, era um gênio, muito perspicaz.
Logo que conheceram o rapaz, a Sra. Frank, sua filha e toda a família, ficaram muito bem impressionados.
Em pouco tempo marcaram uma data para o noivado.
Porém, havia algo que a Sra. Frank ainda desconfiava. Ela receava que, com sua mente brilhante, o jovem pudesse ficar tentado a entrar no mundo dos negócios no futuro - e nunca se tornasse um rosh yeshivá. Quem poderia garantir que, sendo uma pessoa afortunada, diante de uma oportunidade tentadora o rapaz não se desviaria para atividades seculares?
Astutamente ela o convidou para que fosse visitá-la no escritório da firma de seu finado marido.
Quando o jovem chegou no escritório, ela lhe expôs perguntas sobre como ele achava que ela deveria solucionar algumas questões da empresa. Como o jovem Aharon era muito inteligente, logo foi tecendo palpites e conselhos de excelentes ideias para a viúva. Ao constatar tamanha desenvoltura nos negócios, a Sra. Frank logo pressupôs que sua suspeita tinha fundamentos e imediatamente separou os dois jovens, deixando um sentimento amargo em todos.
Após um curto espaço de tempo, sua filha foi apresentada a um outro rapaz excelente chamado Moshê Mordechai Epstein, igualmente inteligente, e em pouco tempo casaram-se.
O jovem Aharon também se casou. Ambos casais levaram suas vidas nos caminhos da sagrada Torá e em paz.
Passados alguns anos, o Saba de Slabodka, Rabino Natan Tzvi Finkel zt”l, procurava um candidato para que fosse o rosh yeshivá de Slabodka, e foi procurar o jovem Aharon Baksht por ser reconhecidamente um gênio na Torá.
Ao ser indagado por seu rabino, o jovem solicitou alguns dias para pensar na proposta.
Passados estes dias, o jovem dirigiu-se ao Rabino Finkel e declinou da proposta.
Ao ser indagado sobre o motivo da negação, ele explicou:
- Fui me informar se a viúva Frank ainda está viva. Descobri que sim. Não quero que ela pense nem por um momento que ela perdeu a oportunidade de deixar sua filha casar-se com um rosh yeshivá. Aliás, gostaria de pedir-lhe algo, rabino. Por favor, escolha o genro dela, Moshê Mordechai Epstein, para ser o rosh yeshivá. Na época foi ele o escolhido, em vez de mim, para casar com a filha dela. Ele é muito capaz! A viúva ficará feliz e terá muita satisfação disso.
E assim de fato ocorreu! Rabi Moshê Mordechai Epstein foi o escolhido pelo Rabino Finkel para ser o rosh yeshivá de Slabodka. A yeshivá floresceu sob a liderança conjunta dos rabinos Finkel e Epstein. Muitos de seus alunos assumiram papéis essenciais no desenvolvimento espiritual do povo judeu nas gerações subsequentes.
Depois do Rav Moshê Mordechai Epstein, seu filho Rabi Avraham Epstein seguiu com o mesmo posto. E hoje, seu neto ainda é o rosh yeshivá de Yeshivat Chevron.
Que sensibilidade e integridade demonstrou o jovem Aharon Baksht com uma viúva! Ele poderia ter aceitado o cargo e pensar triunfante: “Agora ela está vendo onde cheguei!”.
Entretanto, considerando o sentimento do próximo de uma forma tão louvável, Rabi Aharon Baksht atingiu maravilhosos níveis espirituais e, certamente, causou um grande impacto nas mais altas esferas dos mundos celestiais!
História baseada em relato do Rabino Chayim Zaíd