Matérias >> Edição 159 >> Comportamento II

Sobre o Amor Entre o Casal

O amor entre marido e mulher é algo extraordinário nas faculdades da alma.

Numa primeira reflexão, parece que realmente não há uma essência concreta para a existência deste amor. Talvez seja algo implantado em nós pelo Criador, abençoado seja, como parte de seus profundos desígnios para a preservação do mundo, assim como nos foi dada a fome para a subsistência do corpo.

Mas esta ideia está distante da realidade pois, para atingir este objetivo, as necessidades biológicas do desejo físico e o anseio por filhos bastariam.

Então, qual o motivo do acréscimo deste envolvimento emocional, deste amor?

Ouvi dizer que este amor é produto do reconhecimento. Ambos estão cheios de gratidão um pelo outro, porque eles se ajudam mutuamente a satisfazer seus instintos naturais. Porém, estão enganados os que dizem isso. Pois são tantos os mal-agradecidos no mundo e, no entanto, o amor entre marido e mulher não necessariamente lhes falta.

Por isso, seria melhor dizermos que este amor surge entre marido e mulher porque eles se complementam um ao outro. Este fato resulta da natureza com a qual o Todo-Poderoso os dotou. Sozinho, o indivíduo é incompleto e incapaz de executar suas funções, conforme disseram nossos sábios, que sua memória seja uma bênção (Bereshit Rabá, 17): “Todo aquele que não possui uma  esposa... não é um ser humano completo.” Juntos eles se completam mutuamente e, ao conceder um ao outro este complemento, eles se amarão, conforme o princípio: aquele que dá, ama. E isso porque, com seu amor, todo o seu anseio é dar e exuberar prazer e deleite um ao outro.

Com este princípio fundamental, podemos esclarecer algo aparentemente incompreensível. Por que tão frequentemente este amor entre marido e mulher é tão passageiro?

A resposta é simples. As pessoas geralmente são receptoras e não doadoras. Enquanto seus instintos naturais dominavam (para gerar filhos), eram doadores e amantes. Porém, rapidamente, assim que a natureza relaxa seus tentáculos, voltam a tornar-se receptores como antes. Esta mudança é imperceptível; os cônjuges não percebem o momento em que mudam sua atitude. Antes eles estavam unidos em uma atmosfera de amor e dedicação; eram doadores. Depois se tornaram receptores, cada um exigindo do parceiro o cumprimento de suas obrigações.

Será possível um amor nestas condições?

Por isso, eu sempre digo ao casal na alegria do dia de seu casamento:

“Neste momento, toma conta de seus corações um desejo maravilhoso de proporcionar deleite um ao outro. Cuidem-se, meus queridos, para que sempre se empenhem em manter este anseio tão viçoso e tão vigoroso como neste instante. E saibam que, no momento que começarem a exigir um do outro, sua felicidade se distanciará.”

Há entre as pessoas aquelas que não querem o casamento. Isto porque não conseguem se afastar da poderosa força de receber. Até seus instintos naturais não conseguem torná-las doadoras mesmo por um momento.

Da mesma forma, há aqueles que desejam poucos filhos - fato corriqueiro em nossos dias. Tais indivíduos são evidentes receptores - não querem dar nem mesmo a seus filhos.

Mas o bom convívio entre o marido e a sua esposa será alcançado quando os dois atingirem o grau da virtude da dedicação. Então, seu amor não cessará e suas vidas serão repletas de felicidade e prazer por todos os dias em que viverem nesta terra.

Tradução livre do “Michtav Meeliyáhu” do Rabino Eliáhu Eliêzer Desler zt”l