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Merecer um Milagre

Em 1943, após mais de três anos de controle alemão sobre a França, a Grande Sinagoga de Lyon continuava a funcionar. Entretanto, no dia 10 de dezembro, a Milícia de Lyon - a tropa de choque do governo de Vichy - decidiu pôr um fim ao culto dos judeus.

O rabino da sinagoga sobreviveu à guerra e contou esta história, que está registrada num livro sobre Klaus Barbie, o infame “Açougueiro de Lyon”.

O título do livro é “Butcher of Lyon”, escrito por Brendan Murphy - Editora Empire/Harper & Row, 1983.

Este maravilhoso artigo foi-me enviado pelo Rabino Avi Shafran, diretor da organização Am Echad.

Um membro da Milícia de Lyon sorrateiramente entrou pelos fundos do santuário durante as preces de sexta-feira à noite. Armado com três granadas de mão, ele pretendia atirá-las sobre a multidão que orava, e depois escapar antes das explosões.

Ele abriu a porta silenciosamente e entrou no salão sem ser notado por quase ninguém. Apenas o rabino o tinha avistado, pois o rabino estava em pé, voltado para os congregantes.

O que o terrorista viu, entretanto, chocou-o de tal forma que ele permaneceu de olhos arregalados e sem movimento por alguns cruciais segundos. Só então ele conseguiu arremessar as granadas e fugir. Alguns congregantes ficaram feridos pelos estilhaços, mas ninguém morreu.

O que surpreendeu tanto aquele terrorista foi a repentina e inesperada visão dos rostos das possíveis vítimas quando os congregantes, todos juntos, viraram-se para trás e o enxergaram.

O assassino entrara na sinagoga precisamente no trecho “Bôi veshalom... bôi calá”, a última estrofe do poema litúrgico Lechá Dodi, que é cantado nas preces de sexta-feira à noite. Neste trecho, os congregantes tradicionalmente voltam-se em direção à porta para saudar o Shabat. A visão de centenas de pessoas se voltando em sua direção atordoou-o por preciosos instantes, dando tempo de os congregantes se protegerem e salvarem suas vidas.

Isto me veio à mente porque foi, pelo menos para mim, um lembrete de algo fundamental, mas facilmente esquecível: que nós judeus frequentemente sobrevivemos por milagre!

Não há dúvida, nós não baseamos nossa crença neles. O grande sábio Maimônides já nos ensinou que os milagres relatados na Torá - mesmo a abertura do Mar Vermelho - são demonstrações não da existência de D’us, mas sim de Seu amor por Seu Povo.

Nós sabemos que D’us existe por meio de nossa tradição histórica cuidadosamente preservada, que Ele transmitiu a nossos antepassados no Monte Sinai - um evento que celebramos anualmente em Shavuot.

A história recente não tem sido menos miraculosa. Mas nestes tempos terríveis de provações para os judeus, onde o ódio cuidadosamente fomentado durante décadas irrompeu numa onda de cruéis assassinatos, e os fantasmas horríveis e antigos do anti-semitismo se despertaram, cabe a nós lembrarmos deste fato. Todos nós perguntamos o que podemos fazer, apesar da distância, por nossos irmãos e irmãs envolvidos em problemas. Com certeza, há muitas opções. No topo da lista devem constar algumas destas:

- Rezar - com concentração e do fundo do coração.

- Fazer caridade - com generosidade e preocupação.

- Cuidar do judaísmo - com carinho e determinação.

- Estudar a Torá e as nossas tradições - com esforço e comprometimento.

- Esforçarmo-nos para promover o diálogo e a fraternidade dentro de nosso povo. Lembrem-se: quando alguém começa a gritar e ofender, é sinal claro de que seus argumentos estão ‘furados’.

Além de tudo, ao unirmo-nos espiritualmente como expressão da nossa herança judaica, fazemos algo muito importante e difícil de se conseguir: merecer um milagre!