Basra é a segunda maior cidade do Iraque e um importante porto comercial - localizada a sudeste da capital Bagdá. Esta história aconteceu antes do grande êxodo da comunidade judaica local.
De 1638 até a Primeira Guerra Mundial, o território iraquiano fez parte do Império Turco-Otomano; a chamada “Arábia Otomana”, formada predominantemente por árabes.
À época, Basra era governada por Suleiman Pasha, governador turco durante o Império Otomano, conhecido por seu respeito para com os judeus - os judeus sempre preferiram o domínio turco em relação aos dos governantes persas.
No ano de 5535 (1775), Basra foi invadida pelo governador persa Karim Khan - Mohamed Karim Khan Zand.
Apesar da ajuda do banqueiro e líder da comunidade judaica Jacob ben Aaron Gabbai, o governador turco de Basra não conseguiu resistir aos persas. A guerra durou quase um ano, houve muitas mortes e grande miséria para a população local, que acabou vencida pelo grande exército inimigo. Derrotados, os súditos de Suleiman Pasha apenas puderam assistir aos invasores pilhando e saqueando a cidade.
Tão logo Karim Khan se estabeleceu em Basra, ele tratou de impor novos regulamentos, que incluíam tributos pesadíssimos, em especial à população judaica. Jacob ben Aaron com sua família e os demais líderes judaicos foram levados como reféns para a Pérsia, enquanto o restante da população assistia, incrédula, àquela tragédia.
Os persas exigiram um impagável valor como resgate pelos judeus capturados e ordenaram que as tropas procurassem de forma brutal, nas casas da comunidade judaica, pelo dinheiro que imaginavam estar escondido.
Muitas mulheres judias jogaram-se no fogo para escapar das crueldades dos perversos homens de Khan.
Os judeus remanescentes passaram a se reunir na sinagoga da cidade, pedindo a D’us que os salvasse dos inimigos e daquela situação deplorável.
Khan estava envaidecido e confiante de que seu exército era invencível. Após a “brilhante” vitória de Basra, D’us dirigiu seu coração a continuar lutando para expandir seu domínio. Assim, ele tentou invadir territórios árabes vizinhos, mas sofreu uma grande derrota e foi obrigado a voltar para Basra. Não contente, reuniu um novo exército e voltou a lutar contra os árabes. Entretanto, não contava que seu exército sofreria uma nova emboscada que lhe traria grandes perdas. Entre a vida e a morte, Karim Khan conseguiu recuar mais uma vez para Basra, acompanhado de um exército debilitado e amedrontado.
Quando Karim Khan deu novas ordens para que seus soldados se reunissem para um novo ataque, estes se rebelaram e o assassinaram. Isso aconteceu quatro anos após a invasão de Basra, no dia 27 de adar, 13 dias após a data em que comemoramos o Purim de Ester.
Quando soube da grande perda e da morte de Karim Khan, o Xá da Pérsia ordenou que seus homens deixassem a cidade rapidamente em segredo e voltassem para a Pérsia.
No dia 2 de nissan, no ano de 1779, não havia mais nenhum homem de Khan em Basra, e a cidade voltou à sua tranquilidade sob o domínio turco.
Percebendo que os invasores haviam partido de Basra, a comunidade judaica local reagiu com grande alegria. Comemoraram o milagre como nos dias de Purim, e denominaram aquele dia 2 de nissan como “Yom Hanês - o Dia do Milagre”.
O líder judaico Jacob ben Aaron Gabbai retornou do exílio, recebeu privilégios de Estado pelos turcos e foi nomeado Nassi, Príncipe da comunidade judaica de Bagdá.
A comunidade de Basra comprometeu-se a guardar aquele dia como festivo, anualmente, para todas as gerações, denominando-o de “Purim de Basra”.
Uma Meguilá Persa - “Meguilat Parás” - foi composta pelo sábio Yaacov Shaul ben Eliezer Yehoram (Eliashar), relatando toda a história, para ser lida anualmente naquele dia nas sinagogas. Foi assim que, anualmente, os judeus de Basra passaram a comemorar o dia 2 de nissan como um novo Purim - não trabalhando, fazendo doações aos necessitados, presentes aos companheiros e organizando refeições festivas.