Matérias >> Edição 164 >> Dinheiro Em Xeque

Imprudência

Todas as dúvidas e divergências monetárias de nossos dias podem ser encontradas em nossos livros sagrados!

Dinheiro em Xeque

Certo dia, Efráyim estacionou seu lindo Mercedes na rua ao lado do pátio de um colégio.

O carro permaneceria ali por apenas dois ou três minutos, enquanto Efráyim fosse deixar alguns documentos urgentes na portaria de um prédio de escritórios que ficava lá perto.

Na pressa, Efráyim acabou deixando o carro com o motor ligado, mesmo sendo algo proibido por lei, bem ao lado das crianças e adolescentes que brincavam no pátio do colégio.

Ao levar os documentos para o edifício de escritórios, Efráyim encontrou um antigo conhecido e parou para conversar com ele por alguns minutos. Depois entregou os documento e, ao sair do local, encontrou outro amigo - mais cinco minutos de conversa.

Enquanto isso, os adolescentes que brincavam ao lado do carro escutaram o ronco do motor daquela bela máquina.

Avi, um jovem de 14 anos, vangloriou-se diante dos amigos, afirmando que já sabia dirigir “um desses”. “E muito bem!” acrescentou em tom convencido.

Os colegas disseram não acreditar em Avi e desafiaram-no a dar uma voltinha no quarteirão para provar que era verdade.

O destemido Avi não pensou duas vezes!... Estufou o peito e entrou no carro para dar a voltinha e exibir-se para os amigos. Sua palavra estava em jogo.

Confiante, já nos primeiros metros Avi acelerou sem medo, para “mostrar quem sabe das coisas”.

Antes mesmo de chegar na primeira esquina, um carro que estava na frente de Avi brecou no farol amarelo. Sem instintos para frear também, Avi viu-se obrigado a desviar para não bater em cheio no carro da frente. E ele conseguiu! Não bateu no carro da frente. Mas acertou em cheio uma enorme árvore que estava à beira da calçada.

O carro se espatifou na árvore!

Felizmente Avi tinha colocado o cinto de segurança e saiu ileso do acidente - mas não o automóvel. Funilaria, faróis, para-choques, frisos, espelhos e muito mais! Prejuízo de três mil dólares!

Na volta do seu destino, Efráyim constatou, incrédulo, a cena de seu carro abraçando a enorme árvore na calçada. Em poucos segundo entendeu tudo o que tinha acontecido naqueles poucos minutos que se ausentou.

Efráyim agora está cobrando dos pais de Avi o dinheiro do conserto. O jovem travesso e atrevido “roubou” seu carro apenas para se mostrar perante os colegas e, pior do que isso, dirigiu de forma imprudente sabendo que era totalmente inexperiente na direção!

Os pais de Avi, por sua vez, alegam que não precisam pagar nada. Argumentam que a imprudência foi de Efráyim - e não de Avi - por deixar o automóvel ligado num local onde circulam e brincam crianças e adolescentes. Como Efráyim podia ter a petulância de inverter a situação e solicitar ressarcimento de algo ocorrido graças à sua própria irresponsabilidade? E os pais do menino ainda afirmam que, caso Avi tivesse se machucado, teriam processado Efráyim.

Quem está com a razão? O irresponsável Efráyim ou os pais de Avi, o jovem travesso?

O veredicto

Ainda que os dois envolvidos no episódio tenham agido de forma errada e irresponsável, o jovem Avi precisa pagar pelo dano causado ao automóvel - mesmo Efráyim tendo cometido um grave erro, sendo displicente e imprudente ao abandonar o carro ligado.

No “Shulchan Aruch”, o código de leis judaicas, está escrito o seguinte: Se Reuven colocou seu boi no quintal de Shim’on sem sua permissão, e Shim’on causou um dano ao boi, a lei é que Shim’on está obrigado a pagar a Reuven pelo dano causado ao seu boi. Isso porque, apesar de que Shim’on tinha o direito de tirá-lo do seu quintal, de todos os modos, não tinha o direito de danificá-lo.

Também no caso do Mercedes, apesar de Efráyim não ter permissão de estacionar o carro daquela forma, isso não dá direito a Avi danificar o carro dele. E, uma vez que ele danificou o automóvel, deve pagar.

Do semanário “Guefilte-mail” (guefiltemail@gmail.com).

Traduzido de aula ministrada pelo Rav Hagaon Yitschac Zilberstein Shelita

Os esclarecimentos dos casos estudados no Shulchan Aruch Chôshen Mishpat são facilmente mal-entendidos. Qualquer detalhe omitido ou acrescentado pode alterar a sentença para o outro extremo. Estas respostas não devem ser utilizadas na prática sem o parecer de um rabino com grande experiência no assunto.