Matérias >> Edição 164 >> Visão Judaica I

Não se Deixar Envolver pelo Meio Ambiente

Rabino I. Dichi

A priori, os primogênitos foram escolhidos para servir ao Todo-Poderoso - para fazerem corbanot, trabalharem no Mishcan, no Bêt Hamicdash - até que o Povo de Israel cometeu o grave erro do bezerro de ouro.

A Torá  nos relata, em Parashat Bamidbar (3:12), que após o pecado do bezerro de ouro, o Todo-Poderoso escolheu a tribo de Levi em substituição aos primogênitos para servir ao Todo-Poderoso no Tabernáculo e no Templo Sagrado. A partir deste acontecimento, a tribo de Levi, que se classifica em cohanim e leviyim, passou a ter esse privilégio para sempre. Assim, eles serviram no Mishcan (Tabernáculo), no primeiro e no segundo Bêt Hamicdash. E também servirão no terceiro Bêt Hamicdash - que seja construído brevemente em nossos dias.

Os cohanim e leviyim possuíam as responsabilidades do Templo, bem como atendiam a todas as pessoas que traziam seus corbanot - as oferendas.

Analisemos qual foi o mérito pelo qual a tribo de Levi se fez merecedora deste nobre encargo.

Após o Êxodo do Egito, o povo de Israel cometeu o terrível erro de adorar o bezerro de ouro. Conforme explica Rashi, a tribo de Levi manteve-se alheia ao pecado, não praticando esta falta que contagiou o povo.

Consta que, quando Moshê desceu do Monte Sinai e viu o que estava acontecendo, perguntou ao povo (Shemot 32:26): “Mi Lashem elay - Aqueles que querem permanecer fiéis a D’us, que se aproximem de mim”. A resposta positiva partiu somente da tribo de Levi, conforme consta: “Vayeassefu elav col benê Levi - E juntaram-se a ele todos os filhos de Levi”.

Antes de comentarmos esta resposta de Rashi, vejamos outros dados sobre esta tribo.

Levi era o terceiro filho de Yaacov e é dele que a tão honrada tribo de Levi descende. Nossos sábios chamam a atenção sobre um fato ligado a este filho de Yaacov. Quando do nascimento dos dois primeiros filhos de Yaacov - Reuven e Shim’on - como também dos demais filhos de uma forma geral, foi a mãe quem deu o nome a eles, conforme relata a Torá a cada nascimento: Vaticrá shemô... - e (ela) chamou-o com o nome de...”. Porém, quanto ao nome de Levi, a linguagem usada pela Torá foi (Bereshit 29:4): “Al ken cará shemô Levi - Assim, foi chamado de Levi”. Portanto, sobre Levi não consta que sua mãe chamou-o de Levi, mas que ele “foi chamado” de Levi. Mas quem o denominou assim?

Trazendo o comentário do Midrash Rabá, Rashi explica que Levi teve a exclusividade de ser denominado pelo anjo Gavriel, enviado especialmente pelo Todo-Poderoso para esse fim. Portanto, desde o início Levi recebeu uma atenção toda especial.

Rambam, em seu livro Mishnê Torá, em Hilchot Avodá Zará (cap. 1 par. 3), escreve que Yaacov ensinou a todos os seus filhos a Torá e seus preceitos. Yaacov também escolheu especialmente Levi como responsável pela transmissão da Torá para as novas gerações. Ordenou a ele que o estudo da Torá nunca fosse interrompido por seus descendentes, para que elanão fosse esquecida. Assim, o conhecimento da Torá foi aumentando e formou-se uma nação que reconhecia a existência Divina e os Seus mandamentos.

No entanto, os anos de escravidão de Benê Yisrael no Egito prolongaram-se. O Povo de Israel começou a assimilar os costumes egípcios, a ponto de praticar a idolatria daquele povo. A exceção ficou com a tribo de Levi, que permaneceu fiel aos ensinamentos dos patriarcas Avraham, Yitschac e Yaacov, jamais tendo praticado idolatria.

Por muito pouco os princípios de Avraham não desapareceram e os filhos de Yaacov não voltaram aos tempos anteriores a Avraham.

Como o Todo-Poderoso zela pelo Povo de Israel, mandou seu enviado especial Moshê Rabênu, alav hashalom, e cumpriu a promessa feita a Avraham Avínu. Hashem escolheu o Povo de Israel, coroou-o com as mitsvot e instruiu-o no caminho de servi-Lo. Assim, ficou descartada a hipótese de que os descendentes de Yaacov voltassem à época anterior a Avraham.

Sobre a escolha dos descendentes de Levi para substituírem os primogênitos no serviço sagrado dos Templos, cabe-nos perguntar por que eles receberam este enorme mérito por uma atitude aparentemente normal. Poderíamos dizer que eles simplesmente não fizeram mais do que sua obrigação ao não adorarem o bezerro de ouro. Pois o mínimo que se exige de alguém, seguidor dos princípios da Torá, é que não cometa o pecado da idolatria.

O que realmente caracterizou a atitude tomada por esta tribo foi o fato de não terem se envolvido num erro que abrangeu toda a comunidade. Foi por isso que o Todo-Poderoso confiou a eles o serviço do Templo. Era uma tribo imbuída de profunda responsabilidade e que não se deixava envolver. Nela, portanto, cabia confiar o que há de mais sagrado.

Assim também, todo indivíduo que souber manter o equilíbrio, o bom senso e a visão correta nos momentos em que os erros e os desajustes espirituais tomarem conta do meio ambiente em que vive, será merecedor da confiança e de uma proximidade especial do Todo-Poderoso.