Matérias >> Edição 164 >> De Criança Para Criança

Medo da Noite

Chayim Walder

De Criança Para Criança

Meu nome é Rivki.

Tenho oito anos e estudo na terceira série. Sou considerada uma aluna muito boa em minha classe. Ajudo minha mãe com as tarefas domésticas e também cuidando de meus irmãos menores. Preparo as lições, brinco muito e me divirto bastante!

Meu problema sempre foi com as noites. Toda noite, depois de colocar meus irmãos para deitar e de lavar a louça, entrava hesitante em meu quarto. Então, devagarinho, ia entrando um medo em meu coração. Não sei o que eu temia - talvez a escuridão, talvez o silêncio da noite. Simplesmente tinha medo. Eu fechava os olhos e tentava adormecer - em vão. Fechava bem todas as persianas - mas o medo continuava comigo dentro do quarto.

Este medo fazia com que eu não conseguisse adormecer em minha cama. Por isso, sempre ia ao quarto de minha mãe e pedia que me desse um lugarzinho em sua cama.

Toda noite eu decidia novamente: “Esta noite não terei medo”. E então ficava esperando e esperando... sem adormecer. Quando finalmente conseguia adormecer em minha cama, sonhava com coisas estranhas e medonhas. Acordava no meio da noite suada e corria para a cama de mamãe.

Depois as coisas foram piorando. Por exemplo: cada pequeno ruído se transformava, em minha mente, em um ladrão. Certa vez eu estava prestando a atenção no silêncio da rua e, de repente, ouvi um som que me deixou muito amedrontada. Corri para a cama de papai. Ele me acalmou e me levou até o terraço. Vimos que o barulho tinha sido feito por um gato ao brincar com uma lata de refrigerante... Papai me explicou que não havia lógica em meus medos noturnos, que a noite não é nada medonha. É um períodos calmo e silencioso propício para o descanso.

Mas para mim não adiantou. Os medos cresceram mais ainda. Mesmo quando não sonhava com ladrões, temia personagens imaginários e misteriosos que poderiam entrar no quarto a qualquer instante.

Assim foi, até que, numa noite, acordei assustadíssima. Papai e mamãe me levaram até seu quarto, acariciaram-me e me acalmaram. Papai perguntou-me, sussurrando:

- O que aconteceu, Rivki? Conte-me, querida.

- Vi um vulto enorme, com um focinho, aproximando-se de mim - disse chorando. Papai olhou-me com uma expressão séria e disse:

- Descreva-me como era a figura - Papai pediu.

Descrevi-lhe detalhadamente o rosto da figura que me assustara tanto.

Papai disse sereno:

- Vamos juntos para o quarto, querida. Vamos procurá-la.

Chegamos juntos no meu quarto. Papai acendeu a luz e, obviamente, não havia nem sombra do monstro. Era simplesmente minha imaginação.

Depois da “busca”, papai olhou para mim e disse:

- Venha dormir com a mamãe. Amanhã pensaremos juntos no que fazer.

De manhã, sentamos na sala - papai, mamãe e eu. Começamos a pensar no que fazer. Todos nós concordamos que meus medos eram ridículos. Mas, de qualquer maneira, eu tinha medo todas as noites...

Papai e mamãe disseram que me compreendiam. Mas explicaram também que eu não podia me acostumar a dormir sempre na cama da mamãe.

- Você já tem oito anos - disseram-me. Não queremos que você se torne uma menina estranha e insegura.

- Talvez haja uma solução - disse-me mamãe. Toda vez que você tiver medo, venha até nós como sempre. No entanto, em vez de você ficar dormindo comigo, eu irei com você para seu quarto e sentarei numa cadeira, até que você adormeça.

A idéia pareceu-me muito boa! Eu também não queria parecer um bebê, que dorme todos os dias com a mamãe.

A partir daquele dia, passamos a executar nosso plano. Toda vez que eu tinha medo, chamava minha mãe. Ela se sentava ao meu lado e me acalmava. Às vezes dava-me um livro para ler, com a luz acesa, até que eu me cansava e adormecia. Uma vez, minha mãe achou que eu já tinha adormecido. Ela me beijou na testa, apagou a luz e se foi. Ela não sabia que eu ainda estava acordada. Pensei comigo mesma: “Há um instante atrás eu me sentia segura e não tinha medo, porque a mamãe estava ao meu lado. E agora, onde ela está? No outro quarto, bem pertinho. Por que eu deveria ter medo?”.

Fechei os olhos e comecei a pensar nos versículos que se recita na leitura do Shemá antes de dormir: “D’us está comigo, não temerei”, “Você, D’us, me protege”... Quando pensei no versículo “Hamalach hagoel - o anjo que me salva de todo o mal”, senti um calor em meu coração. Senti-me segura. Afinal, eu estava nas mãos de D’us, um bom anjo cuidava de mim, e a mamãe estava no outro quarto...

Adormeci.

De manhã, fui direto para a cozinha e disse para mamãe:

- Mamãe! Meu medos desapareceram! De agora em diante, você poderá dormir tranquila.

De fato, desde aquele dia, sinto-me maior e livre daqueles medos ridículos.

Para vocês, crianças que têm medo de noite, eu digo: Não tenham vergonha de seus medos, isso é normal de acontecer com crianças. Mas façam de tudo para não se acostumarem a dormir com o papai e a mamãe. Façam o que eu fiz para se livrarem do medo sem motivo! Isto se chama “amadurecer”. Tentem e verão que vai dar certo!

Chayim Walder em “Yeladim Messaperim al Atsmam”, baseado em cartas recebidas de crianças.

Tradução de Guila Koschland Wajnryt.

Permissões exclusivas para a Nascente.