Matérias >> Edição 167 >> Comemorando II

Leis e Costumes de Purim

Rabino I. Dichi

Purim é celebrado anualmente no dia 14 do mês de adar - ou adar II, quando houver - para comemorar a salvação dos judeus da conspiração de Haman, conforme relatado na "Meguilat Ester".
Essa conspiração aconteceu há 2371 anos, no ano 3.409 do calendário judaico, antes da reconstrução do Templo Sagrado.
Neste ano, as comemorações se iniciam na quarta-feira, dia 20 de março, com o Jejum de Ester.
Purim será comemorado na segunda-feira à noite e na terça-feira, dias 9 e 10 de março. O dia 22 de adar, sexta-feira, é denominado "Shushan Purim".
As leis que dizem respeito à festa de Purim foram prescritas pelos sábios da Grande Assembleia - Anshê Kenêsset Haguedolá.

Comemorando 2

A Meguilat Ester

Em Purim deve-se ouvir a leitura da Meguilat Ester, na qual consta a história de Purim, duas vezes. A primeira vez na noite de Purim - este ano segunda-feira, 9 de março. A segunda leitura da Meguilá é realizada na manhã seguinte, 10 de março, após a oração de Shachrit. Quem não ouvir a leitura de manhã deverá cumprir esta mitsvá ao longo do dia. Este é o motivo principal da celebração, conforme nos conta a própria Meguilá (9:28): “E esses dias serão recordados e celebrados de geração em geração, de família em família, de província em província, de cidade em cidade.”

Há algumas cidades que realizam a leitura da Meguilá no dia 15 de adar e não no dia 14. São as cidades que estavam cercadas por muralhas na época de Yehoshua bin Nun - mesmo que hoje não mais estejam. Isso acontece em lembrança àqueles que em Shushan Habirá (a capital do Império Medo-Persa) não descansaram até esse dia (15 de adar). É por essa razão que em Jerusalém, por exemplo, festeja-se Purim no dia 15 de adar.

Antes da leitura da Meguilá é necessário desenrolá-la totalmente. Isso por causa da passagem da Meguilá: “...por todos os ditos desta ‘carta’”. Já que o normal ao ler uma carta é abri-la totalmente antes de começar a ler, assim devemos proceder em relação à Meguilat Ester.

Antes e depois de proceder à leitura da Meguilá, em um rolo de pergaminho escrito à mão, o chazan profere as berachot. Os demais presentes devem prestar atenção às berachot respondendo amen. É necessário ter intenção de que as berachot valham também para eles e, depois, acompanhar atentamente a leitura em seus rolos de pergaminho ou em seus livros. Ao ouvir a berachá de “Shehecheyánu”, deve-se pensar também nas demais mitsvot do dia.

Deve-se observar o máximo de silêncio durante a leitura da Meguilá, já que é necessário escutar todas as palavras, e é proibido conversar até o final da última berachá.

Tanto homens como mulheres devem ouvir a leitura da Meguilat Ester.

Mishlôach Manot

É o envio de alimentos. No dia de Purim, entre o nascer e o pôr do Sol, devemos enviar pelo menos dois alimentos a um amigo, símbolo da irmandade e amizade entre os judeus.

Não é necessário que os alimentos sejam de berachot diferentes.

Os alimentos devem ser de consumo imediato e conter, no mínimo, 28g (sólidos) ou 86ml (líquidos).

Um homem deve enviar mishlôach manot para outro homem e uma mulher para outra mulher - de preferência por intermédio de um mensageiro.

Matanot Laevyonim

Em Purim lembramo-nos dos pobres e necessitados com mais generosidade que em

outros dias, oferecendo-lhes presentes e donativos; é o que chamamos de “matanot laevyonim” - presentes aos necessitados.

Os presentes devem ser dados a pelo menos duas pessoas diferentes e é melhor dar dinheiro ou comida já preparada. Essa mitsvá é ainda mais importante que mishlôach manot e Seudat Purim. Rambam - Maimônides - diz que não existe maior felicidade que a de alegrar o coração dos pobres.

De uma forma geral, durante a festa de Purim devemos ser caridosos com o próximo e aumentar nossos atos de tsedacá.

Não se deve fazer nenhuma distinção entre os pobres. Em Purim deve-se dar as “matanot” a quem deseje recebê-las.

É obrigatório que os mais pobres também dêem presentes a seus semelhantes, mesmo se eles próprios dependem da caridade. Esse sentimento de igualdade se manifesta por intermédio da felicidade que sentimos na festa de Purim. Quando Haman, o Perverso, planejou aniquilar os judeus e saquear suas riquezas, ricos e pobres sentiram-se igualmente atingidos. A riqueza não era um meio de salvação e todos sentiam-se pobres. Experimentavam o que era a humilhação, o temor constante pela morte e a opressão.

O que se distingue em Purim é a fraternidade reinante entre os yehudim, que celebram essa festa da salvação com a mesma alegria e felicidade.

Em Purim o pobre recebe mais caridade do que de costume e é tratado com mais bondade e cuidado. Ainda que o dinheiro seja algo tão material, capaz até de corromper alguns indivíduos, em Purim demonstramos quão útil ele pode ser se empregado corretamente. Nessa festa, uma pessoa pode demonstrar muito amor, carinho e objetividade por meio dos mishlôach manot e matanot laevyonim.

Seudat Purim

Seudat Purim é a refeição festiva que fazemos no dia de Purim, entre o nascer e o pôr do Sol. Nesta refeição não deve faltar carne e vinho.

Normalmente, costuma-se iniciar a Seudat Purim no final do dia, estendendo-se noite adentro.

A palavra “festividade” é a chave de toda a história de Purim. A Rainha Vashti foi condenada à morte em uma festividade e a derrota de Haman também resultou de uma festividade.

A “festividade”, portanto, é uma das facetas importantes na celebração de Purim. Festejar Purim é uma mitsvá tão significativa como a de acender as velas de Chanucá.

As comemorações de Purim nos ensinam ainda a seguinte lição: além da oração e do jejum - com o que se acredita geralmente estar servindo a D’us - podemos também servir ao Criador com “simchá” - alegria. Os alimentos e as bebidas habituais também podem ser elevados a um nível especial.

Machatsit Hashêkel

Na época do Templo, todos os homens com idade entre 20 e 60 anos doavam, uma vez por ano, meio shêkel, que era destinado para a compra dos corbanot (oferendas, sacrifícios) públicos. Esta quantia era recolhida desde o princípio do mês de adar.

Em nossos dias, costuma-se dar aos pobres três moedas no valor ­- cada uma - de meio shêkel, ou três vezes o valor de meia unidade da moeda circulante no país, ou o valor de meio shêkel da Torá (aproximadamente 10g de prata) em recordação ao meio shêkel que era doado na época do Templo. Também em memória a que Haman quis comprar, de Achashverosh, todo o povo de Israel por 10.000 moedas de prata para aniquilá-los. Nossa tsedacá é a resposta para a maldade de Haman.

Parashat Zachor

No Shabat anterior a Purim lê-se, nas sinagogas, os versículos do livro de Devarim (25:17-19) nos quais se relata o preceito bíblico de lembrar (zachor = lembra) o ódio do povo de Amalec para com o nosso povo: “Recorda do que te fez Amalec no caminho, quando saías do Egito... quando estavas cansado e debilitado. Mas quando o Eterno teu D’us te fizer descansar de todos os teus inimigos na terra que te deu por herança, apagarás a memória de Amalec de debaixo dos Céus, não te esquecerás.”

Este ano o Shabat anterior a Purim cai no dia 16 de março.

Jejum de Ester

Tal qual nos relata a Meguilat Ester, no dia em que o povo de Israel deveria ser aniquilado pelos seus inimigos, isto é, no dia 13 do mês de adar, os judeus conseguiram sua salvação vencendo o adversário. O dia 13 de adar foi declarado, então, como sendo um dia de jejum, em memória da petição que a Rainha Ester fez ao povo, para que jejuassem e suplicassem a D’us pela anulação da malvada sentença de Haman.

Este ano, o dia 13 de adar cai na segunda-feira, dia 9 de março. Na cidade de São Paulo, o jejum deve ser realizado das 04h53m às 18h59m.

Apesar da vitória, jejuamos para que a cada ano, através das gerações, recordemos que nossos inimigos continuam à nossa espreita. Apesar de termos vencido naquela ocasião, não temos assegurada a vitória em combates vindouros.

É por isso que a alegria de Purim não pode ser completa e deve ser precedida por um dia de jejum, de reflexão e de aflição, pois somente por meio de nossas boas ações e do nosso arrependimento sincero conseguiremos vencer sempre os nossos inimigos.