Matérias >> Edição 167 >> De Criança Para Criança

Silencioso

De Criança Para Criança

Meu nome é Eli.

Sou um garoto comum, um pouco alto e de olhos castanhos.

Nada de mais. Só um menino comum.

Mas eu tenho um problema - tenho dificuldade para falar! Fico em silêncio sem motivo nenhum. Permaneço sentado na classe. Nunca atrapalho, mas também não participo das aulas. Simplesmente fico sentado, quieto.

Às vezes o professor me faz uma pergunta e então eu lhe respondo com uma voz tão fraca que ele pergunta algumas vezes: “O quê? O que você disse?” No final, ele sempre acaba se aproximando de mim, para poder ouvir minha resposta, ou me chama até ele. E então eu digo, ou melhor, sussurro em seus ouvidos.

Ultimamente, ele nem tem me perguntado nada. Simplesmente, não está a fim de perder tempo.

Às vezes não entendo algo na aula, mas não pergunto. Tenho vergonha.

Mamãe diz que essa minha timidez é um problema. Ela diz: “‘O tímido não aprende’, você precisa esquecer sua vergonha e perguntar”.

Ela tem razão.

Mas quando eu quero falar, as palavras parecem cravar-se em minha boca, e não querem sair. Então eu fico todo vermelho e sinto mais vergonha ainda...

Uma vez pensei comigo mesmo: “Por que isto acontece comigo?” Não encontrei resposta, somente uma pequena lembrança me vem à mente quando penso sobre isso.

Quando estava na primeira série, respondi algo para o professor. Não lembro se eu não sabia a resposta ou se respondi errado. Eu só lembro que toda a classe riu de mim. Eu era então um menininho pequeno de seis anos e decidi: “Chega! Não falo mais! Assim, não rirão da minha cara.”

Hoje tenho dez anos e sei que aquela decisão não foi especialmente sábia. Amigos, quase não tenho. Eles simplesmente não têm o que fazer com um garoto que não fala. Eu bem que gostaria de ter amigos, mas minha vergonha acaba com tudo.

Às vezes acontece de o professor perguntar algo na classe, sem que ninguém saiba a resposta e eu, justamente, sei - mas mesmo assim, não levanto a mão. Tenho vergonha.

Às vezes, o professor sacode meus ombros e diz delicadamente: “Acorde, grite, ria!” E eu sorrio e permaneço em silêncio.

Ele é tão bom - meu professor. Ele tenta me ajudar a vencer minha timidez. Mas ele não consegue.

Nem eu consigo.

Pode ser que, se viessem alguns amigos até mim e falassem comigo, me convidassem para participar dos jogos e me obrigassem a falar com eles - talvez isso ajudasse.

Talvez alguém lhes diga isso. Eu tenho vergonha de dizer.

O professor aconselhou-me a falar em voz alta pouco a pouco. De início, um pequeno trecho, e depois um trecho maior, e maior.

Talvez eu tente fazer isso. Talvez.

Chayim Walder em “Yeladim Messaperim al Atsmam”, baseado em cartas recebidas de crianças.

Tradução de Guila Koschland Wajnryt.

Permissões exclusivas para a Nascente.