
Meu nome é Yossi.
Moro em Netánia e estudo na sexta série.
Tenho um bom amigo, cujo nome é Uzi.
Uzi é exatamente dois dias mais velho do que eu. Ele mora na mesma rua que eu. Sempre vamos juntos para a escola e voltamos juntos para casa.
Um dia, no meio do caminho, quando chegamos ao final da rua, avistamos o velho senhor Boim tentando juntar dois pedaços de madeira com um prego.
- O que está fazendo, Sr. Boim? - perguntou Uzi.
- Vocês podem sair da luz?! - exclamou Sr. Boim, nervoso.
- Perdão - dissemos, enquanto nos movíamos para o lado. Mas Uzi não se deu por vencido:
- O que o senhor está construindo, Sr. Boim? - continuou a perguntar.
Sr. Boim desviou seu olhar por um momento dos dois pedaços de madeira, olhou em nossa direção e disse:
- Estou construindo uma sinagoga. E agora, sumam daqui!
Demos risada e fomos embora. Era muito engraçado imaginar que o Sr. Boim pretendia construir uma sinagoga com aqueles dois pedaços de madeira.
No dia seguinte, vimos novamente o Sr. Boim batendo pregos. Desta vez, os dois pedaços de madeira do dia anterior estavam presos e, entre eles, havia uma plataforma de madeira.
- O que está fazendo, Sr. Boim? - perguntou Uzi.
Sr. Boim nem se deu ao trabalho de levantar os olhos.
- Uma sinagoga, já lhe disse...
Fomos embora e, de repente, pulei e disse:
- Já sei o que ele está construindo: um shtender! Era um porta livros que se coloca na frente das cadeiras.
Assim, passamos a acompanhar, dia após dia, o trabalho da construção da sinagoga.
O Sr. Boim construiu também as cadeiras, a bimá e o Aron Hacôdesh. Ele tinha boas mãos.
- Onde será a sinagoga? - perguntou Uzi, um dia.
- Aqui, no primeiro andar de minha casa - disse o Sr. Boim, absorto em seu trabalho.
O Sr. Boim tinha uma velha casa de dois andares. Ele costumava alugar o primeiro andar para outras pessoas mas, pelo jeito, decidira transformá-lo em uma sinagoga.
Passaram-se meses e o Sr. Boim ainda construía, lixava, pintava.
A nova sinagoga começou a florescer perante nossos olhos.
Uma semana depois estávamos andando ao lado da casa do Sr. Boim quando o vimos, sobre uma escada, desenhando algo na parede da entrada.
Sobre a parede apareciam os seguintes dizeres: “Sinagoga Chasdê Efráyim”.
No dia seguinte, apareceram avisos em toda a cidade, convidando o público para participar das orações na nova sinagoga “Chasdê Efráyim”.
Chegamos no dia seguinte na hora de Minchá.
Havia três pessoas lá dentro: o Sr. Boim e dois homens que não conhecíamos.
Sr. Boim veio ao nosso encontro alegremente:
- Que bom que vieram! Estes são meus dois filhos. Vieram ajudar-me.
Permanecemos em silêncio.
Uzi disse-me baixinho:
- Veja, ele não tem minyan.
Mas o Sr. Boim parecia muito feliz. Ele olhou para o relógio e disse.
- Com certeza, o pessoal está atrasado. Eles ainda não se acostumaram à nova sinagoga.
Os minutos foram passando. Mais três pessoas apareceram, mas ainda faltavam quatro para o minyan.
Percebendo que não havia 10 homens, o Sr. Boim disse:
- Vou correndo lá fora providenciar um minyan.
Ele saiu da sinagoga e, depois de alguns minutos, trouxe dois homens que já haviam rezado, mas que concordaram em completar o minyan.
- Temos minyan! - exclamou com alegria.
- Mas, Sr. Boim - disse Uzi. - Só há oito homens aqui e, para um minyan, são necessários dez!
Sr. Boim pareceu surpreso. Ele levantou a cabeça, observou todos os presentes e disse com voz firme:
- Somos dez! Certinho!
- Sr. Boim - eu lhe disse olhando para baixo - eu e Uzi só temos 12 anos, ainda não temos bar mitsvá.
- Então por que ficaram zanzando por aí durante meses, atrapalhando?
Sr. Boim ficou irritado e correu para fora para trazer mais dois.
No último minuto a reza começou. O Sr. Boim parecia radiante de tanta felicidade.
Nós também rezamos.
Na verdade, Uzi ficou um tanto ofendido com o tratamento do Sr. Boim, mas eu o acalmei, explicando que ele devia estar muito preocupado e tenso com toda a história da sinagoga; era este o motivo de sua impaciência.
Os dias se passaram. A cada dia o Sr. Boim acrescentava mais um enfeite ou móvel novo à sinagoga. No entanto, quanto mais cadeiras tinham, menos pessoas apareciam para rezar.
Todo dia, cerca de uma hora antes de Minchá, víamos o Sr. Boim correndo entre as casas, suplicando para que as pessoas fossem à sua sinagoga.
Todo garoto no bairro que fazia bar mitsvá ganhava um grande presente do Sr. Boim, para que fosse participar do minyan. Mas eles iam somente durante uma ou duas semanas, e depois paravam. Isso porque a sinagoga do Sr. Boim ficava no final do bairro, num local bastante afastado. Já no centro havia uma grande sinagoga, repleta de minyanim, onde era mais confortável rezar.
Uzi e eu íamos todo dia para a sinagoga, mas parece que isso só deixava o Sr. Boim nervoso. Não por maldade, D’us nos livre. Ele simplesmente ficava chateado porque não podíamos completar o seu minyan e só o confundíamos na hora de contar as pessoas.
Depois de presenciarmos durante algumas semanas o sofrimento do Sr. Boim, tive uma ideia.
- Vamos para a Rua das Rosas - disse para Uzi - e tentemos ajudar o Sr. Boim a trazer pessoas para o minyan.
A Rua das Rosas era uma rua movimentada, ao final de nossa rua.
Fomos.
Muitas pessoas passavam por lá, mas eu estava com vergonha de abordá-las.
Uzi sempre foi menos tímido.
- Senhor, poderia, por favor, ajudar-nos a completar um minyan? - dirigiu-se a um homem que não tinha kipá.
- Minyan? - espantou-se o homem. - O que é isso? - e, dando de ombros, continuou o seu caminho.
- Senhor - Uzi dirigiu-se a outro homem sem kipá - talvez poderia participar da oração de Minchá?
O homem pareceu confuso, mas disse: - Onde?
- Siga esta rua - disse-lhe Uzi. - No número 36 há uma sinagoga no primeiro andar.
O homem fez o que Uzi disse.
Nós permanecemos lá, porque sabíamos que ainda faltavam mais duas pessoas para completar o minyan.
Conseguimos recrutar mais dois em dez minutos.
Com a missão cumprida, eu disse a Uzi:
- Vamos para a velha sinagoga, não para a do Sr. Boim.
- Por quê? - Uzi se espantou.
- Tenho medo que o Sr. Boim fique bravo conosco por lhe mandarmos pessoas desconhecidas - expliquei.
De fato, daquele dia em diante, ficávamos na rua, mandávamos pessoas para completar o minyan e íamos rezar na velha sinagoga.
Assim, passou-se meio ano e nós dois fizemos bar mitsvá.
No nosso bar mitsvá lemos na Torá na sinagoga que meu pai e o pai de Uzi frequentam. Alguns dias depois do nosso bar mitsvá, Uzi me disse:
- Venha! Vamos para a sinagoga Chasdê Efráyim. Agora já podemos completar minyan. Ouvi dizer - ele acrescentou - que o Sr. Boim já tem um minyan fixo mesmo sem as pessoas que nós lhe mandamos.
Com muito orgulho, dirigimo-nos à sinagoga, onde não estivemos por quase meio ano.
Fomos recebidos pelo Sr. Boim:
- São vocês? Quase não os reconheci! Por que não vieram por todo este tempo? Deve ser porque viram que no começo não tinha minyan. Mas saibam que o único motivo para a falta de minyan é que a sinagoga era muito nova e desconhecida. Mais ou menos desde que vocês pararam de vir, tivemos minyan todo dia. Até mesmo pessoas não religiosas vinham rezar! - disse o Sr. Boim com orgulho.
- Sério? - dissemos com espanto.
- E como! - exclamou o Sr. Boim. - Todo dia vinham algumas pessoas desconhecidas. Quando perguntava quem os havia mandado, diziam: “Dois garotos da rua principal pediram que viéssemos”.
- Mas eu - revelou-nos o Sr. Boim em voz baixa - não acredito nesta história. Não conheço nenhum garoto que tivesse interesse em trazer gente da rua para cá. Eu acho que são dois anjos que D’us mandou para me ajudar. Certamente Ele viu quanto esforço dediquei à construção desta sinagoga e quanta tristeza e desespero passei quando precisei, pela primeira vez em minha vida, rezar sem minyan...
- Não contem a ninguém o que lhes contei agora sobre os dois anjos - sussurrou aos nossos ouvidos - porque as pessoas não iriam acreditar e pensariam que só estou inventando.
- O senhor sabe, Sr. Boim? - respondi - o senhor mesmo é um anjo...
O Sr. Boim olhou para nós em silêncio, quando um raio de compreensão passou pelos seus olhos. Ele não disse nada. Só nos abraçou, emocionado.
- “Ashrê yoshevê vetecha...” - ouviu-se a voz do chazan iniciando a oração.
Tradução de Guila Koschland Wajnryt
Permissões exclusivas para a Nascente
Chayim Walder em “Yeladim Messaperim al Atsmam”,
baseado em cartas recebidas de crianças.