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O Cérebro e as Dores

R. Kalman Packouz z"l

O pai de um adolescente que eu conheço tinha um belo Ford Galaxie 1965, conversível, amarelo e preto.

Variedades I

Um dia o rapaz perguntou ao pai por que ele tinha um Galaxie, enquanto a outra pessoa que competia com ele pelo posto número 1 na companhia dirigia um moderno Thunderbird.

O pai respondeu: “As pessoas não gostam de ver que você ganha tanto dinheiro em cima delas”.

Dois anos depois, o pai comprou um Thunderbird. O filho perguntou-lhe por que ele decidira comprar o carro. Desta vez o pai respondeu: “As pessoas gostam de ver que você é um homem de sucesso!”.

Paradoxal?

O cérebro é um instrumento poderoso. Peça-lhe 10 razões para assaltar um banco e ele lhe dirá: 1) Será muito emocionante. 2) Pense em todo o bem que poderá fazer com o dinheiro! 3) Eles têm seguro mesmo... e assim por diante. Peça agora ao seu cérebro 10 razões para não roubar um banco e ele lhe dirá: 1) É errado. 2) Você provavelmente será pego! 3) Seus companheiros de cela não serão tão gentis... etc.

Sabendo que o cérebro pode justificar praticamente qualquer atitude, devemos perguntar justo a ele qual a coisa certa a fazer?

Frequentemente vale a pena pedir a um amigo verdadeiro a sua opinião. Isto ajuda a mantermo-nos menos parciais, mais razoáveis na avaliação das situações.

Podemos usar nosso cérebro para melhorar nossa situação ou para piorá-la. Todos conhecemos pessoas que ‘conseguiram’ trocar muita alegria por uma enorme miséria.

Podemos olhar um copo que contém água como ‘meio cheio’ ou como ‘meio vazio’. Devemos usar nosso cérebro para focalizar sempre o lado positivo.

Como membro do “Bicur Cholim” de nossa cidade (um grupo de voluntários que visita e ajuda os doentes), geralmente visito os doentes na unidade de reabilitação, onde eles estão se recuperando de cirurgias no joelho ou nos quadris. Muitas vezes eles estão sentindo muitas dores. É aflitivo assistir sua dor.

Digo ao paciente: “Gostaria muito de poder eliminar a sua dor, mas isto não é possível. Além de rezar por sua rápida e completa recuperação, posso - se você tiver interesse - ensiná-lo como minimizar a intensidade de sua dor”. Nove em dez pacientes ficam fascinados e ansiosos por aprender. Um entre dez agradece a minha visita e pede que eu saia.

Então eu continuo: “Há dois tipos de sofrimentos: sofrimentos com significado e sofrimentos sem sentido. Se alguém leva uma surra, isto é doloroso. Porém se o sujeito apanha para proteger uma criança, é uma situação menos dolorosa. Por quê? Tomar a resolução de aceitar a dor em vez de deixar que uma criança a receba confere significado ao sofrimento”.

A dor pós-operatória tem significado: significa que o paciente está vivo, significa que o corpo está funcionando e, esperançosamente, irá se curar. Existe uma doença em que uma criança nasce sem a capacidade de sentir dor. Infelizmente, estas crianças em geral não vivem muito, porque não sabem quando estão sangrando, se estão muito perto de um fogo aceso ou se estão feridas.

Existem outros benefícios na dor. A dor pode ser um ‘chamado’ do Todo-Poderoso para que investiguemos nossos atos e nossas vidas. Será que há algo que precisamos mudar ou fazer melhor?

Existe um conceito na Torá que diz o seguinte: D’us se comporta conosco “midá kenêgued midá”, ou seja, medida por medida. Se uma pessoa tropeça e machuca seu dedão, ela deveria pensar não apenas na conveniência de usar sapatos, mas também num nível metafísico: “Será que andei chutando alguém?”. Mesmo se não conseguirmos descobrir a razão para cada coisa desagradável que nos acontece, com certeza nos beneficiaremos da reflexão, aperfeiçoando nosso caráter e atitudes.

Num nível espiritual, a dor também serve como reparo ou correção de algum ato. Quando eu estou sofrendo, peço ao Todo-Poderoso: “Por favor, aceite esta dor como reparação por algo que eu tenha feito de errado”. Certamente, é melhor aceitar o sofrimento com amor e consideração do que recebê-lo com raiva e ressentimento.

Digamos que D’us envie sofrimentos a alguém como um ‘chamado’ ou como expiação de algum erro. Se a pessoa os ignora, ela está relegando algo que tem significado e pode beneficiá-la ao plano de ‘coincidência’ ou falta de sentido - o que não é apenas triste, mas mais doloroso ainda.

Se você conhece alguém passando por uma fase de sofrimentos, talvez possa ajudá-la compartilhando algumas destas ideias.

Meor Hashabat Semanal