Matérias >> Edição 173 >> De Criança Para Criança

O Melhor da Classe

Chayim Walder

De Criança para Criança

Não vou contar meu nome para não acharem que eu estou me gabando.

Sou considerado o aluno mais aplicado da classe.

Presto atenção a todas as aulas, participo e respondo a todas as perguntas. Nunca aconteceu de o professor me fazer uma pergunta que eu não soubesse a resposta correta.

Termino as provas em primeiro lugar e recebo sempre um “excelente”.

Quando algum dos alunos da classe tem alguma dúvida sobre a matéria, sabe que pode me procurar para obter uma boa explicação.

Também dizem que minha escrita é a mais bonita da classe.

A cada início de ano, o professor do ano anterior pede-me os meus cadernos. Meus cadernos ajudam o professor e também são usados como exemplo para os novos alunos da série. Isso me deixa lisonjeado.

Mas o problema é que há aqueles que me invejam. Às vezes, percebo crianças conversando sobre mim em voz baixa dizendo palavras como estas:

“Grande coisa! Ele simplesmente sabe a matéria. Nem precisa se esforçar para ser aplicado”.

Até parece que os anjos me trazem os conhecimentos como um presente celestial... Que eu não preciso me esforçar...

Gostaria de contar a vocês que isso não é verdade. Certamente não é!

A verdade é que vivo em constante medo e tensão.

Eu simplesmente não sou capaz de entrar em uma aula sem estar pronto. Tenho medo de que o professor me pergunte algo que eu não saiba. Todos se acostumaram de tal forma ao fato de que eu sempre sei tudo, que, se uma vez não souber, todos comentarão e farão gozações. E é isso que temo.

A verdade é que o segredo que está por trás de meus conhecimentos é o trabalho que invisto nos estudos em minha casa. Sei que há crianças na classe que têm mais talento do que eu, mas que não se esforçam como eu para serem aplicadas.

Às vezes, tenho dificuldades com os estudos. Às vezes não entendo a matéria. Nestes casos, fico sentado estudando e revisando a lição até tarde da noite.

Papai me diz que é maravilhoso ser estudioso e a aplicação é muito importante, mas que é uma pena que minha vontade de ser persistente provém do medo de falhar.

“Ficarei feliz também quando você tirar nota 8 ou 7”, ele diz. “Vou amá-lo e orgulhar-me de você mesmo se você não for o primeiro da classe.”

Mas, mesmo assim, tenho dificuldade em superar meu medo.

Acreditem, não é fácil ser o primeiro da classe!

O professor confia em mim e frequentemente me envia para realizar missões de responsabilidade.

Meus pais também me tratam com seriedade e sinto-me bem com isso.

Não pensem que sou um garoto que não sorri, ou algo assim. Pelo contrário; vocês poderão me ver dando uma gostosa gargalhada, correndo e chutando bola. Um garoto deve brincar, não pode ser como um adulto. Mas, para ter sucesso na vida, é preciso acostumar-se a pensar antes de cada coisa que fazemos.

Contei a vocês um pouco do meu mundo.

Ainda não sei como resolver meu problema - meu medo de ser alvo de zombarias caso decepcione com minhas atitudes e conhecimentos.

Também não sei o que vai acontecer emocionalmente comigo se algum dia eu falhar.

Espero que em meu amadurecimento eu encontre as respostas e soluções que estou procurando.

Agora vocês entendem um pouco sobre o mundo do “melhor aluno da classe”.

Tradução de Guila Koschland Wajnryt
Permissões exclusivas para a Nascente
Chayim Walder em “Yeladim Messaperim al Atsmam”,
baseado em cartas recebidas de crianças.