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Crianças na Sinagoga

Rabino I. Dichi

"Crianças de quatro ou cinco anos não sabem o que acontece na sinagoga, não sabem ler no sidur e, logicamente, não rezam. Assim, quando são levadas para a sinagoga, é natural que fiquem conversando, brincando e atrapalhando as orações dos adultos.

O principal problema de levar crianças pequenas à sinagoga não é o fato de atrapalharem as orações, mas a sua própria educação com respeito à santidade do local. As crianças devem ser conscientizadas, desde o primeiro momento que pisam na sinagoga, que lá é um lugar especial. Deve-se possuir o temor e o respeito devido ao local. Se a criança é muito pequena e não se pode ainda exigir dela um comportamento adequado na sinagoga, simplesmente não se deve levá-la para lá.

Quanto mais se demora em levar a criança para a sinagoga, melhor ela entenderá o que acontece lá e a importância do local. Sua educação em relação à santidade do recinto será melhor e o respeito que desenvolverá dentro de si para com a sinagoga será mais correto. Se a criança começa a ir à sinagoga desde muito cedo, o local passa a ser encarado como um salão de recreações, tornando-se muito difícil mudar seus hábitos e seus sentimentos.

O mesmo raciocínio deve ser considerado em relação ao ensinamento das tefilot. Não se deve forçar esse ensinamento prematuramente. Ensina-se às crianças pequenas apenas o Bircot Hasháchar e o Keriat Shemá. A obrigação de rezas prolongadas as sobrecarrega e elas procuram se esquivar da tefilá em todas as oportunidades.

Com seis ou sete anos elas aprendem uma parte da tefilá. Com essa idade,já se pode exigir delas um controle moderado. Em determinados momentos da tefilá, um menino com esta idade também já consegue acompanhar o público. Ainda assim, quando a criança fica entediada, não adianta insistir para permanecer rezando. Nessa situação, deve-se deixá-la sair ou pedir que alguém a leve para casa. Mas não se pode permitir que fique entrando e saindo da sinagoga, circulando, brincando e gritando. Antes dessa fase, não há motivos para se levar as crianças à sinagoga.

Os pais anseiam ver seus filhos na sinagoga rezando, mas devem ter paciência e aguardar o momento adequado para isso.

Constantemente observamos nas sinagogas cenas que não deveriam acontecer: crianças rodando em volta da bimá, ao lado do aron hacôdesh... Em Rosh Hashaná até chegam a rir do tokea se ele não consegue tocar bem o shofar!... Deixar as crianças circularem desta maneira é falta de responsabilidade dos pais. Isso destrói a educação relacionada com a seriedade, o respeito e o temor que a sinagoga merece. E quem sabe se será possível consertar esse dano algum dia?

Há outro motivo frequente que faz os pais levarem seus filhos pequenos à sinagoga. Muitas vezes a mãe precisa de descanso e, para agradar a esposa, o marido leva as crianças para a sinagoga. Como no Shabat as escolas estão fechadas, o bêt hakenêsset vira um jardim de infância. Com essa conduta, certamente se estraga a criança.

Sem dúvidas, é necessário deixar a mãe descansar, mas a solução não é essa. Precisa-se encontrar uma outra solução satisfatória. No Shabat, por exemplo, quando as crianças não vão para a escola, não é necessário que a mãe acorde cedo, como o marido que vai para a sinagoga. Talvez uma alternativa seja contratar alguém para ficar com as crianças, ou deve-se procurar outras opções. Mas a solução não é a sinagoga.

Se, apesar de tudo, o pai levar seu filho pequeno para a sinagoga, precisa tomar cuidado para não acontecerem as situações, e os danos, citados. O pai deve cuidar para que a criança esteja ao seu lado o tempo todo. Isso se aplica a algumas crianças maiores também, quando ainda não sabem se comportar na sinagoga.

Há um outro fator importante neste contexto. A escolha da sinagoga à qual levamos nossos filhos exige uma atenção especial. É extremamente negativo levar uma criança a um bêt hakenêsset no qual se conversa durante as rezas. A oração deve ser realizada com seriedade, e a seriedade observada na sinagoga é o que a criança vai absorver.

Não significa que se deva rezar com as crianças em uma yeshivá. Há lugares, em Israel por exemplo, com muitas yeshivot, e é comum que as pessoas prefiram rezar nestes ambientes. Assim, o pai pode querer ter o privilégio de rezar numa yeshivá. Mas a tefilá na yeshivá em geral é muito mais comprida. Numa yeshivá, a oração de Shemoná Esrê pode durar quinze minutos... isso também não é apropriado para as crianças. Para elas, é impossível rezar num lugar onde o tempo das orações é “interminável”, tendo que permanecer quietas todo o tempo.

É importante encontrar uma sinagoga que preencha, dentro do possível, as condições necessárias: um lugar onde não se conversa durante a tefilá e keriat Hatorá, que tenha uma tefilá organizada, com bons chazanim, etc.

Ir ao bêt hakenêsset deve ser uma recompensa, um prêmio para a criança, não uma obrigação. Quando a criança se comporta de forma adequada, aí se consente em levá-la para a sinagoga. Quando os pais agem assim, o conceito da sinagoga se mantém elevado. A sinagoga não se transforma em um lugar de recreação.

Não é correto forçar uma criança pequena a ir à sinagoga, mesmo que ela ainda não saiba expressar bem sua recusa. Para ela, tudo é muito demorado e sem interesse. Obrigá-la a isso não surtirá um bom resultado. É necessário ser paciente; chegará um tempo que ela gostará de ir à sinagoga.

Na tefilá, a pessoa deve colocar seus sentimentos, sua alma. Quando se acostuma uma criança pequena a rezar apenas como algo superficial, externo, ou quando até mesmo se bate na criança se ela não rezar, ela passa a sentir que a tefilá é algo pesado, chato. Depois, quando for um adolescente, não terá uma relação amigável, interna, sentimental com a tefilá. Então a culpa recairá sobre os pais, que a obrigaram a rezar em uma idade precoce.

A escolha do talmud Torá

Quando se escolhe uma escola para os filhos, deve-se procurar um lugar que não enfatize somente a transmissão de conhecimentos, da matéria. Deve-se escolher uma escola que leve em consideração, principalmente, a parte educacional.

Em muitos lugares, toda a ênfase é sobre o conhecimento. Sobrecarrega-se as criança com conhecimentos, mas a educação, o comportamento, não são levados em consideração. São locais que não dão a devida atenção sobre a forma de conduta das crianças: se comem direito, se brincam de uma forma ordenada, seus modos, seu relacionamento com os colegas, etc. Esses estabelecimentos devem ser evitados.

As crianças precisam brincar no recreio e existe a possibilidade de educá-las através da própria recreação. Por exemplo, o costume de não pegar tudo para si, mas levar em consideração que os outros também precisam brincar. Esse bom hábito pode ser ensinado também através da recreação. A educação de que nem sempre se vence e de que nem sempre se recebe o que se deseja pode ser ensinada através das brincadeiras. Isso quando se sabe orientar da forma correta. Ao escolher a escola para as crianças, precisa-se optar por uma que coloque ênfase na parte educacional e comportamental.

Yeshivá ketaná

Chega uma idade que os pais precisam optar por uma yeshivá ketaná, normalmente dos 13 aos 17 anos. Depois disso o jovem passa para a yeshivá guedolá.

Os pais não devem se precipitar em enviar seus filhos para a yeshivá ketaná. O ritmo da yeshivá ketaná (em Israel) é muito puxado para uma criança de doze anos. Essa criança ainda não está madura e enfrenta dificuldades para acompanhar os estudos.

Hoje em dia, é comum realizar concursos de conhecimentos para os jovens. Os vencedores, com as melhores notas, recebem títulos como “chatan hamishná”, “chatan hahalachá”, etc. Como devemos encarar essas competições?

Esses concursos normalmente incentivam as crianças para que estudem. Entretanto, quando se acompanha o desenvolvimento das crianças que venceram os concursos com o passar do tempo, não se constata, na prática, um resultado tão admirável. Elas não continuam os estudos com a mesma assiduidade com a qual se prepararam para o concurso. As honras que recebem com os títulos fazem com que saiam um pouco do sério, imaginando já conhecerem toda a Torá. Depois de ganhar o título, elas não sentem mais tanta necessidade de se esforçar.

Não é necessário abolir esses concursos, mas é importante conhecer também o outro lado da moeda; que o cavod, as honras, podem subir à cabeça dos vencedores.

Rabino Isaac Dichi, baseado em
“Zeriá Uvinyan Bachinuch” do
Rabino Shelomô Wolbê Shelita z”l