Matérias >> Edição 173 >> Judeus no Mundo

Judeus na República Dominicana

No Novo Mundo, Cristóvão Colombo esperava encontrar as dez tribos perdidas.

Judeus No Mundo

Milhões de turistas visitam a República Dominicana - a segunda maior nação do Caribe - a cada ano.

Quando Cristóvão Colombo descobriu essa ilha que fica entre Cuba, Jamaica e Porto Rico, no coração do arquipélago do Caribe, ele não foi o primeiro europeu a andar pelas praias do Novo Mundo - foi Luis Torres, o intérprete judeu que acompanhava a expedição.

Torres falava hebraico e fora escolhido porque Colombo esperava encontrar o povo das tribos perdidas de Israel. Obviamente, não foi este o caso. Os nativos que encontraram eram índios arawak da tribo Taino, que não conheciam o hebraico.

Liberado de seu papel de tradutor, Torres visitou a ilha e observou os tainos fumando folhas enroladas na forma de cigarros - o tabaco ainda era desconhecido na Europa. Depois, ele se estabeleceu em Cuba, onde se tornou administrador independente do território espanhol e obteve a concessão do tabaco enviado do Caribe para a Espanha.

Quando Colombo deixou a ilha, seu irmão, Bartolomeu, foi indicado governador geral da Ilha Hispaniola, que depois foi dividida em dois países: Haiti, a leste, e República Dominicana, a oeste.

Santo Domingo: na rota dos judeus

Os 12 quarteirões da área colonial da capital Santo Domingo chamavam-se originalmente Nova Isabel. Fundada por Bartolomeu Colombo em 1496, Nova Isabel é a mais antiga cidade do Novo Mundo. Quase todos os exploradores, de Balboa até Ponce de Leon, passaram sobre essa charmosa cidade colonial.

Conforme a Inquisição se espalhava pelo Novo Mundo, os judeus continuavam a se estabelecer na ilha, longe do olhar atento do rei e da Igreja. Os cemitérios em Santo Domingo e nas cidades e aldeias do país possuem túmulos antigos adornados com a estrela de David, ou sem qualquer símbolo cristão. Os nomes originais dos judeus locais eram Cohen, Levi, Attias, Marchnea e Henríquez .

Em 1916, Francisco Henríquez Y Carvajal, provavelmente descendente de uma das famílias cripto-judaicas mais famosas da região, assumiu a presidência da República Dominicana. Seu filho, Max, foi nomeado embaixador do país na ONU quando Israel foi admitido na Organização das Nações Unidas, em 1949.

De acordo com o site do Congresso Judaico Mundial, a vida da comunidade local é organizada pela Parroquia Israelita de la República Dominicana, o centro comunitário judaico do país. Há duas sinagogas para os 300 judeus da ilha - uma em Santo Domingo e outra em Sosúa. No total, a ilha possui uma população de mais de 8 milhões de habitantes.

Em Santo Domingo há também uma escola dominical, que atende de 15 a 20 crianças, um grupo ativo de mulheres do Conselho Judaico Internacional e uma revista bimestral.

É interessante conhecer a sinagoga de Santo Domingo, não apenas por sua charmosa e confortável arquitetura caribenha, mas também por sua notável história. O edifício foi parcialmente subsidiado pelo brutal ditador general Rafael Trujillo, que dirigiu o país com mão de ferro de 1930 a 1961.

Sosúa, nascida da dor, representa o triunfo da vida

Em 1938, o presidente Franklin D. Roosevelt organizou a Conferência de Evian, na qual representantes de 32 países se reuniram na França para discutir caminhos para salvar as comunidades judaicas condenadas pelo nazismo na Europa. Cada um dos países expressou sua simpatia pelos judeus, mas fechou as portas para eles.

A República Dominicana ofereceu 100.000 vistos para judeus europeus. Trujillo disponibilizou 22.230 acres de terras ao American Jewish Joint Distribution Committe (JDC) para os imigrantes. Um ato, aprovado por unanimidade no Parlamento Dominicano, garantiu aos judeus refugiados de Hitler a liberdade de religião, isenção de impostos e taxas alfandegárias.

Em 10 de maio de 1940, cerca de 450 anos depois que Colombo aportou naquelas praias, o primeiro navio de refugiados judeus chegava à República Dominicana. Em 1940 havia 40 judeus na ilha. Mas, no final da Segunda Guerra Mundial, mais de 700 judeus haviam passado pelo país. Eles criaram o primeiro moshav local - baseado no modelo israelenses de cooperativa - em uma plantação de bananeiras entre a selva e o Oceano Atlântico, na parte nordeste da ilha. A cidade recebeu o nome de Sosúa.

A terra era pobre e o clima sufocante. Havia um temor real do Comitê do Joint de que aqueles intelectuais urbanos refugiados falhassem em seu empreendimento agrícola. Assim, a organização recomendou que apenas 600 jovens independentes fossem para a ilha.

Com a ajuda do JDC, os recém-chegados aprenderam agricultura. Cada um recebeu 80 acres de terra, 10 vacas, uma mula e um cavalo, pelo preço de 10 dólares por mês. Os fazendeiros judeus construíram lojas, sistema de esgotos e uma clínica. A coletividade também estabeleceu uma escola e um jornal diário chamado “Produtos Sosúa”, editado ainda hoje.

Muitos dos pioneiros originais deixaram o país após o término da Segunda Guerra, mas algumas famílias permaneceram, dedicando-se a preservar a velha sinagoga de madeira de Sosúa - uma pequena jóia histórica, onde são realizados serviços religiosos todo o quarto sábado de cada mês.

Hoje, Sosúa é um tranquilo resort de exótica beleza. Cerca de 25 famílias judias permanecem ali. Seus negócios são responsáveis pela maior parte da manteiga e queijo consumidos na República Dominicana. Próximo à sinagoga da cidade há um museu. A mensagem final da exposição diz: “Sosúa, uma comunidade nascida da dor e nutrida com amor, deve em última análise representar o triunfo da vida.”

da revista Herança Judaica