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Bituach Haim - Seguro da Vida

Este novo livro de autoria do Rabino Haim Dichi nasceu das aulas ministradas sobre o capítulo "Sháar Habitachon" da obra "Chovot Halevavot", do Rav Bachyê ben Yossef ibn Pacuda zt"l. "Bituach Haim" é uma verdadeira injeção de fé e confiança!

Livros do Povo do Livro

Em todos os momentos, mas especialmente em períodos turbulentos, como os que estamos enfrentando, é preciso que voltemos nossa atenção ao que dizem nossos sábios, nossa Torá Hakedoshá. Uma das obras mais lidas, comentadas e analisadas da nossa literatura é o livro “Chovot Halevavot” (“Os deveres do coração”, em português) considerado a obra-prima do Rav Bachyê ben Yossef ibn Pacuda zt”l (Espanha, 1050-1120). Figurando entre os clássicos de filosofia e mussar (ética) judaicos, o livro foi traduzido de seu original (escrito em árabe, porém, com as letras do álef-bêt) para o hebraico pelo famoso tradutor Rabi Yehudá ibn Tibon em 1167. A obra está dividida em “shearim” (“portões”, em hebraico), correspondendo aos dez princípios fundamentais que, de acordo com Rabênu Bachyê, constituem a vida espiritual humana. Sua primeira publicação ocorreu em 25 de Tevet de 1559. Desde então, já ganhou versões para uma infinidade de idiomas, tão diversos quanto o latim e o nosso português.

No início de 2020, quando praticamente o mundo todo parou em virtude da covid-19, o Rabino Haim Dichi deu início a um grupo de estudos, a distância, sobre um dos capítulos do “Chovot Halevavot”, chamado Sháar Habitachon (Portão da Confiança). Segundo o rabino, “trata-se de um assunto sempre necessário mas, naquele momento - e que se estende até agora - havia uma oportunidade para fortalecer nossa emuná (fé) e bitachon (confiança) em Hashem. Nesse ano conseguimos entender conceitos que seriam muito difíceis de serem assimilados por nós em ‘épocas normais’. E essas ideias estão no Sháar Habitachon do ‘Chovot Halevavot’”.

As aulas foram transcritas, editadas e agora chegam às mãos do leitor no recém-lançado livro “Bituach Haim - Seguro da Vida”, que está disponível para retirada na Congregação Mekor Haim, bem como em versão digital no site da Revista Nascente e na plataforma Amazon Kindle.

Desde suas páginas iniciais, a obra discorre sobre a vital e primordial importância de ter-se confiança plena em Hacadosh Baruch Hu em todas as áreas de nossas vidas: saúde, sustento, casamento, educação dos filhos... “A verdadeira tranquilidade só é alcançada por meio do bitachon pleno em Hashem”, frisa Rabênu Bachyê na introdução de seu livro. Assim, estando conscientes do papel fundamental do bitachon em Borê Olam, o livro aborda questões que permeiam nossa existência, como: “Que profissão escolher?”; “Quanto devemos nos dedicar ao trabalho?”; “Como lidar com as finanças?”; “Por que as massas têm de trabalhar muito”, entre outras.

Para elucidar os conceitos profundos embutidos no Sháar Habitachon, Rabino Haim lançou mão de um paralelo entre a confiança que devemos depositar em Hashem a uma apólice de seguro. Diferentemente das restrições impostas nos contratos das seguradoras, Hashem, Nosso Único e grande segurador, não deixa de cobrir nenhuma de nossas necessidades, ainda que nós não mereçamos. Isso tudo devido, exclusivamente, à Sua infinita bondade e misericórdia.

Entretanto, alerta Rabênu Bachyê, devemos seguir os conselhos da Mishná (Avot 1:3): “Não sejam como servos que trabalham para seu mestre com a condição de receber recompensa. Em vez disso, sejam como servos que trabalham para seu mestre sem a condição de receber recompensa”. A confiança total em Hashem é a chave para nosso serviço a Ele, bem como de nossa aproximação a Ele.

Outro ponto interessante abordado pelo Sháar Habitachon é a clássica pergunta: “Por que o caminho do perverso prospera”? “O tsadic (que anda nos caminhos de Hashem e não gasta seu tempo com coisas banais) deveria ter tudo, enquanto o rashá (perverso) não deveria ter nada. Um dos motivos que explicam por que o tsadic pode vir a enfrentar dificuldades em sua vida é que, talvez, ele tenha feito um pecado antes de se tornar um justo. Dessa forma, ele tem ‘contas a acertar’ com Hashem, pois o desejo do Borê Olam é que ele tenha um Olam Habá pleno, como merece, livre de faltas. Assim, é preferível que as pague no Olam Hazê (...) Por outro lado, os reshaim muitas vezes são agraciados com bondades de Hashem neste mundo. Talvez eles tenham feito alguma boa ação e por esse motivo recebam a recompensa ainda neste mundo, uma vez que Hashem não fica devendo a ninguém. Neste caso, em vez de receberem o Gan Êden pleno que Hacadosh Baruch Hu reserva aos tsadikim, os reshaim receberão um Guehinam completo, uma vez que já ganharam seu quinhão neste mundo.”, escreve Rabênu Bachyê.

Mas, a “espinha dorsal” do Sháar Habitachon é o conceito de que devemos nos apoiar em Hashem “como uma criança que confia em sua mãe”. Como diz David Hamêlech (Tehilim 131:2): “Juro que acalmei e silenciei minha alma, como um bebê de colo ao lado de sua mãe, como um bebê de colo é minha alma”. E a raiz para esse bitachon em Borê Olam é acreditar, com toda nossa alma e nosso coração, que Ele é o melhor seguro que há e todas as Suas ações para conosco são para nosso bem maior. “Devemos interiorizar que tudo se trata do melhor para nós, pois é assim que Hashem age: para nosso total benefício”, observa o Rabino Haim. Quem assim procede, entende que todos os benefícios, ou o que é aparentemente o contrário disso (lô alênu), só podem vir de uma fonte: Hacadosh Baruch Hu. Dessa forma, compreendemos que não há mal no mundo e não depositamos nossas esperanças e confianças em outra coisa ou ser humano, que são limitados e finitos. “Se o báal habitachon estiver no meio de uma multidão de pessoas, num círculo de amigos, nada mais desejará do que fazer Sua vontade - ansiará apenas pela Sua proximidade. Sua alegria e seu amor a Hashem são ainda maiores do que os prazeres que as pessoas têm no Olam Hazê e até mesmo do que o contentamento das almas dos tsadikim no Olam Habá”, diz Rabênu Bachyê.

“Todos nós devemos nos fortalecer neste sháar em todos os momentos de nossas vidas. É verdade que passamos por um período propício para estudar esse tema, mas ele nunca deve sair de nossas mentes. Devemos agir como cegos, cujo único guia é Hashem. Sem Ele, não podemos sequer sair de nossos lugares, ou seja, desempenhar qualquer tipo de atividade, da mais simples à mais complexa, como lucrar, educar os filhos, fazer tefilá, etc. Que Hashem nos ajude em nossa jornada para atingir níveis mais elevados de Bitachon e Emuná. Só assim teremos uma vida plena de paz e felicidade, neste mundo e no Olam Habá”, escreve o Rabino Haim Dichi. Essa é a lição do Sháar Habitachon.