Matérias >> Edição 174 >> Educação I

Vontade de Estudar

Rabino I. Dichi

Em situações normais, a criança gosta de estudar. Se o relacionamento com os pais é positivo, o filho também desejará estudar.

Educação I

Quando o relacionamento entre pais e filhos for positivo e os pais não sobrecarregarem seus filhos, eles desejarão estudar Torá. Se o filho observa que seu pai estuda, ele sentirá vontade de fazer o mesmo.

Existe a possibilidade de a criança não querer estudar. Para isso pode haver, basicamente, dois motivos. O primeiro é um erro na educação. O segundo é uma cobrança exagerada por parte dos pais. Quando os pais exigem da criança um comportamento acima de suas possibilidades, sobrecarregam-na ao ponto de ela não querer mais estudar. Fora esses casos, normalmente a tendência é que a criança tenha disposição de aprender e sinta prazer nos estudos.

Há pais que são muito exigentes com seus filhos e nem mesmo deixam que brinquem o suficiente. Até uma certa idade, brincar é muito importante. Ao sobrecarregarem seus filhos com estudos e mais estudos, eles passam a se sentir sufocados, prejudicando intensamente seu futuro.

Rabênu Yoná escreve no seu livro Shaarê Teshuvá que os pais têm obrigação de observar seus filhos e entendê-los, sabendo distinguir as características de cada um. Ou seja, os pais precisam conhecer bem seu filho e avaliar seu potencial: o que se pode ensinar a ele e o que não. Se os pais percebem que o filho tem uma certa limitação, não podem enviá-lo para uma yeshivá em que o nível de estudos é muito forte. Nesse caso, o filho ficaria sujeito a uma tensão constante, pois sua capacidade não suportaria tal ritmo de estudos; ele simplesmente não aguentaria tamanha exigência.

O que devem fazer os pais que percebem que seu filho não quer estudar? A guemará conta que na cidade de Usha decretaram que o pai “mitgalguel im benô” - tenha cautela, paciência com seu filho - até os doze anos. Se ele não quiser estudar, o pai deve procurar orientá-lo com boas palavras, para convencê-lo e seduzi-lo. A partir dessa idade, se o filho não quiser estudar, o pai deve agir com mais severidade.

A guemará relata que o decreto, naquela época, foi estipulado para crianças de até doze anos. Mas, conforme sabemos, os parâmetros de idade hoje são bem diferentes daqueles. Da mesma forma que os padrões da época da Torá não são iguais aos da época da guemará, assim também as idades citadas na época da guemará não condizem com as de hoje. Se antes um jovem com doze anos já era uma pessoa madura e formada, hoje isso só acontece aos vinte anos. Os doze anos de idade citados pela guemará representam hoje um jovem de vinte anos. Até essa idade, o pai deve tentar conquistar o filho de forma amigável e com muita paciência.

Na yeshivá ketaná - dos 13 aos 17 anos - há três turnos de estudo de guemará diariamente. Mas há crianças normais que, pela própria personalidade natural, não são capazes de participar de três turnos de guemará diariamente. Isso já fica evidente no último ano do talmud Torá, antes mesmo de a criança entrar para a yeshivá ketaná. Não adianta forçar esse jovem a frequentar uma yeshivá ketaná e os três turnos de estudo se sua natureza não lhe permite isso. Então, se os pais colocarem-no numa yeshivá ketaná com uma programação especial, voltada especialmente para esse tipo de jovens, ele vai continuar a estudar com boa vontade e, depois de três anos, estará preparado para entrar na yeshivá guedolá junto com os demais. Assim sendo, na yeshivá guedolá ele continuará estudando com ânimo, já que souberam como tratá-lo durante os anos anteriores.

Entretanto, infelizmente, nesses casos a maioria dos pais não quer aceitar a realidade. Eles não admitem que seu filho não é capaz de estudar em uma yeshivá ketaná com três sedarim de guemará. Assim, eles decidem fazer um teste. Levam seu filho para uma yeshivá ketaná com nível puxado e a criança não aguenta - ela acaba saindo com o tempo. Mas nessa oportunidade ela já não pode mais ingressar na instituição que deveria ter sido colocada desde o início e fica sem um lugar para estudar. Esse é um teste amargo para muitos pais.

Internatos

Os internatos apresentam problemas - e não poucos. Até uma determinada idade, é adequado que a criança durma em casa. Certamente, estamos tratando de casas que não têm televisão, vídeo, revistas... e em casas em que a yir’at shamáyim - o temor a D’us - predomina. Nesses casos não há por que a criança dormir fora de casa. Quando o pai estuda Torá e não fica assistindo televisão e vídeos, a criança tem um bom exemplo. Por que deveria sair de casa?

Mesmo que a criança queira estudar na yeshivá até tarde da noite, é preferível que volte para casa a dormir em regime de internato. Esse conceito passou a ser cada vez mais aceito entre os pais. Convém ressaltar que, há cerca de dez ou doze anos, o Rav Shach Shelita determinou que crianças que moram em lares onde paira o temor a D’us puro não sejam enviadas para internatos, mas que elas voltem para dormir em casa.

Um internato precisa de uma supervisão minuciosa. Sem isso, pode se transformar em um lugar de desgraças, de pecados, de maus hábitos. Muitas instituições de internatos carregam a possibilidade de perigo iminente na educação das crianças. Fugindo da generalização, isso não significa que absolutamente todos os internatos são ruins. Há lugares com monitores e supervisores constantemente, nos quais até mesmo de madrugada o monitor circula pelos quartos.

Muitas vezes, os pais enxergam um internato como a salvação para corrigir a educação de seus filhos. Ao mandar o filho para uma dessas instituições, os pais imaginam que aquele é o lugar que surtirá a melhor educação possível. No entanto, um internato pode destruir a educação da criança para sempre. Por vezes, mesmo na época do casamento o jovem ainda carrega defeitos adquiridos nessas instituições.

Nenhum internato é garantido. Uma criança sente falta de sua casa - e se não sentir é um mau sinal. A criança precisa do amor da mãe e do calor do lar. Quando ela fica distante da casa por um período longo, começa a procurar um substituto para o amor da mãe e o calor do lar, o que é muito perigoso.

Quando o jovem estuda numa yeshivá ketaná longe de casa, em regime de internato, os pais têm a obrigação de demonstrar uma atenção especial por ele. Quando ele volta para o Shabat, toda a casa deve estar em clima de festa, todos contentes, demonstrando que gostam dele. Um jovem que passa apenas um Shabat por mês em sua casa, deve receber o máximo de amor e atenção para compensar o tempo que permanece fora.

A particularidade que acompanha a pessoa durante todos os anos de sua vida é o amor. Quanto mais amor os pais oferecerem para seus filhos, mais estreito será o relacionamento entre eles. Isso é especialmente importante para um ben Torá (um menino que estuda Torá) em idades precoces. É bom que a criança saiba, veja e sinta que ela é importante para seus pais e querida por eles. Que os pais se preocupam com ela, se interessam por ela e por seus estudos. É importante que os pais telefonem para o menino, visitem-no. Esses detalhes são imprescindíveis.

Existe um limite entre o calor da família e o mimo. O mimo excessivo prejudica como o abandono, como a falta de amor. O abandono prejudica porque a criança sente que ninguém lhe dá atenção e amor. Por outro lado, uma criança que faz o que quer e tem todas as suas vontades satisfeitas, também sofre um grave defeito em sua educação.

Sabe-se que crianças negligentes provêm de dois tipos de lares. Um tipo é o lar no qual mimaram a criança o tempo todo. O segundo tipo é o lar no qual os filhos são abandonados, não recebendo a devida atenção de seus pais. Crianças mimadas apresentam os mesmos sintomas e características de crianças que não viveram em lares calorosos.

Adolescência

Analisemos alguns detalhes referentes à idade da adolescência - cerca de treze anos de idade.

Sobre a cerimônia do bar mitsvá não há o que falar. Isso todos sabem muito bem - os preparativos, a festa.

Quanto à adolescência em si, a física e a espiritual, sobre isso há o que falar. Se o relacionamento entre pais e filhos é amigável, os pais podem conversar com os filhos sem nenhuma vergonha. Assim sendo, os pais têm por obrigação conversar com os filhos para prepará-los para a adolescência.

A mãe precisa preparar sua filha antes dos doze anos de idade quanto às alterações físicas e sintomáticas que lhe sucederão. Quando uma menina chega à idade da adolescência sem ter sido devidamente esclarecida, pode acontecer de ficar assustada. Pode até ficar com um trauma difícil de ser suprimido. Muitas vezes, jovens mal preparadas para a adolescência sofrem traumas que prejudicam até mesmo seu casamento.

Os meninos também precisam ser preparados para a adolescência. Cabe ao pai esclarecer para o menino conceitos de kedushá - santidade e pureza - o que ele pode ou não olhar e assim por diante. O jovem deve ser preparado para a vida por seu pai, para saber o que é permitido ou proibido.

Em idades mais avançadas o pai deve acrescentar outros detalhes sobre o assunto. O Chafets Chayim falava sobre a adolescência com seus filhos quando atingiam 15 anos de idade. Ele explicava para eles, em uma oportunidade, todos os detalhes ligados com a adolescência.

O pai tem a obrigação de ficar atento quanto ao desenvolvimento físico, ao psicológico e ao ambiente que seu filho frequenta, para perceber o momento correto de conversar com ele sobre as fases da vida que está prestes a enfrentar.

Existe um conceito ensinado por nossos sábios que diz: “en apotropos laarayot” - não existe um tutor para os assuntos relacionados com a sexualidade. Ou seja, ninguém pode dizer que está seguro e protegido quanto a essas proibições. Todo cuidado com relação a isso é pouco. Infelizmente, os jovens hoje enfrentam muitos testes - armadilhas e desafios enormes, até mesmo dentro das próprias instituições de ensino. Quão grande é o trabalho dos pais e dos educadores em saber vacinar os jovens contra todos esses testes.

De passagem, citaremos uma última observação. É necessário - na medida do possível - separar os filhos e as filhas em casa para que não durmam no mesmo quarto. É aconselhável fazer isso já a partir de idades precoces, pelo menos a partir dos nove anos aproximadamente. Quanto mais devem ser os cuidados nas escolas e movimentos juvenis!

Rabino Isaac Dichi, baseado em“Zeriá Uvinyan Bachinuch”
do Rabino Shelomô Wolbe Shelita