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Regulamentos Para a Véspera de Pêssach no Shabat

Rabino I. Dichi

Quando a véspera de Pêssach coincide com um Shabat, como neste ano, ocorrem várias diferenças nos preparativos para Pêssach.

Na quinta-feira

Normalmente, o jejum dos primogênitos é feito na véspera de Pêssach. Quando a véspera cai no Shabat, antecipa-se o jejum para a quinta-feira (neste ano, 25 de março).

Há o costume de os primogênitos participarem de um siyum massêchet - término de estudo de um tratado do Talmud ou inclusive de um tratado de mishnayot com as explicações de Rabênu Ovadyá Mibartenura. Os primogênitos que participarem do siyum massêchet e, em seguida, da seudat mitsvá, a refeição comemorativa, não precisarão mais jejuar neste dia. É costume comer mezonot nesta refeição, e que seja no mínimo de um kezáyit, para poder fazer berachá acharoná - a bênção posterior.

O chamets necessário para as refeições da noite de Shabat e de Shabat de manhã deve ser guardado num lugar seguro, antes de fazer a vistoria do chamets, a fim de que crianças ou animais não o espalhem pela casa.

Faz-se a vistoria do chamets na quinta-feira à noite, depois da oração de Arvit. Pronuncia-se a bênção Al Biur Chamets e recita-se o trecho Cal Chamirá.

A venda do chamets será efetivada pelo rabino na manhã de sexta-feira. Portanto, a procuração da venda do chamets deve ser entregue ao rabino até a tarde de quinta-feira.

Na sexta-feira

Queima-se o chamets na sexta-feira, no mesmo horário de véspera de Pêssach comum, ou seja, até as 10h30m (horário para São Paulo). Não se fala o trecho Cal Chamirá logo após a queima do chamets, mas somente no Shabat de manhã, no mesmo horário (10h30m), como em qualquer outra véspera de Pêssach.

A cozinha deverá estar devidamente “casherizada” na sexta-feira, pois este processo não pode ser realizado no Shabat.

Todos os preparativos do Sêder de Pêssach devem ser feitos na sexta-feira (antes do Shabat), pois não é permitido quaisquer desses preparativos (charôsset, água salgada, zerôa, etc.) no Shabat, por não serem necessários no Shabat.

Nesta ocasião, é recomendável preparar todas as comidas para o Shabat em panelas de Pêssach, obviamente utilizando-se somente de ingredientes casher lepêssach, e usar nas refeições do Shabat a louça e talheres de Pêssach.

No Shabat

Todo Shabat precisamos fazer três refeições com pão - uma à noite e duas de dia. Porém, na véspera de Pêssach é proibido ingerir pão após as 9h30m e também não podemos ingerir matsá antes do Sêder.

Preparando as comidas do Shabat em panelas de Pêssach (com ingredientes casher lepêssach) e utilizando-se nas refeições do Shabat a louça e talheres de Pêssach, sugerimos a seguir os cuidados a serem tomados nas três refeições.

Shabat à noite

Na sexta-feira, após o cabalat Shabat, faz-se Kidush, netilat yadáyim e come-se pão em uma outra mesa no mesmo ambiente (obviamente, sem utilizar a louça e talheres de Pêssach). Posteriormente, deve-se passar à mesa de refeições. Pode-se também comer na mesma mesa, trocando a toalha após o consumo do chamets.

Depois de comer ao menos um cabetsá, lavamos bem as mãos e enxaguamos a boca a fim de remover resíduos de chamets para podermos comer comida casher lepêssach com a louça e talheres de Pêssach.

Agindo como acima mencionado, a limpeza dos restos de chamets ficará facilitada, não se correndo o risco de misturá-lo com a louça de Pêssach.

Entretanto, se tiver feito comidas com chamets, deve limpar todos os utensílios não descartáveis (panelas, travessas, etc.) com um papel preparado antes do Shabat. Não é permitido lavar no Shabat utensílios que não serão mais utilizados no dia. Caso não fiquem limpos desta maneira, pede-se a um não judeu para lavá-los no tanque. Se isto não for possível, podemos enxaguá-los. De qualquer forma, não se deve preparar comidas que grudem nos utensílios. Depois de limpos, deve-se guardá-los com os demais utensílios não utilizados durante Pêssach e o papel utilizado na limpeza deve ser jogado no vaso sanitário.

Após a refeição, não se deve esquecer de lavar as mãos e limpar as roupas de eventuais migalhas.

Shabat de dia

Neste Shabat de manhã, as orações na sinagoga devem ser feitas bem cedo, para não transgredir os regulamentos referentes a chamets. Assim, deve haver tempo suficiente para todos voltarem para casa, fazer o Kidush e conseguir comer o cabetsá de pão antes das 9h30m (em São Paulo), horário que devemos cessar o consumo de chamets.

Para fazer esta refeição, segue-se o mesmo procedimento da noite. Optando-se por ingerir cozidos de chamets nesta refeição, ela também deverá ser concluída até as 9h37m.

Após esta refeição, limpamos todo o local onde se comeu chamets.

Caso sobrar muito chamets, existe a opção de presentear o que sobrou a um não judeu - zelador ou porteiro, por exemplo - tendo combinado com ele de antemão, pois não é permitido usar o interfone. Porém, as comidas não devem ser entregues em sua mão, mas colocadas num lugar dentro de casa à sua disposição, para que ele o retire. Se o chamets for pouco em quantidade, pode-se esfarelá-lo e jogá-lo no vaso sanitário (não é suficiente jogá-lo na lata de lixo).

A toalha de mesa utilizada deverá ser devidamente sacudida, destinando as migalhas ao vaso sanitário, e depois guardada com os utensílios de chamets. Deve-se também varrer o local (com uma vassoura cujas cerdas não se quebrem no Shabat) ou, de preferência, pedir para um não judeu varrer.

Depois de toda a limpeza concluída (que deve ser feita no máximo até as 10h45m), recita-se o Cal Chamirá.

Durante todo o dia de Shabat, as matsot mitsvá destinadas para o Sêder (matsot shemurá) não podem ser removidas do lugar onde se encontram, pois recai sobre elas a proibição dos sábios de comê-las a esta altura, sendo, portanto, objetos proibidos (muctsê).

Seudá Hashelishit

Já que à tarde o pão não é mais permitido e matsá ainda não se pode ingerir, a seudá shelishit (a terceira refeição de Shabat) é feita com outros alimentos, como carnes, peixes e frutas. Não se deve exagerar nesta refeição para poder comer a matsá no Sêder com apetite.

As velas e a mesa do Sêder

Após a saída do Shabat, antes de acender as velas de yom tov, de preparar a mesa do Sêder e dos demais preparativos para yom tov, as mulheres que não rezam Arvit, ou que esqueceram de dizer “Vatodiênu” no Arvit, devem dizer: “Baruch hamavdil bên côdesh lecôdesh”.

De qualquer forma, não se deve preparar a mesa ou qualquer outra coisa necessária para o Sêder antes da saída do Shabat.

A respeito de quais alimentos podem ser preparados no próprio yom tov, quais devem ser preparados na sexta-feira e sobre a proibição de preparar algo no yom tov para outro dia, vide capítulos 38 a 45 do livro “Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot”.

Vatodiênu

No Arvit desse motsaê Shabat recita-se na Amidá o trecho “Vatodiênu”. Quem se esqueceu de recitá-lo, não deverá refazer a Amidá. Porém, caso esteja no meio da Amidá e tenha lembrado antes de dizer o nome de D’us da berachá de “Mecadesh Yisrael Vehazemanim”, retomará desde “Vatodiênu”.

O Kidush

Quando o yom tov coincide com motsaê Shabat (neste ano a primeira noite do Sêder e o oitavo dia de Pêssach), o Kidush segue a ordem “yaknehaz”:

Yáyin: Baruch... borê peri haguêfen (hagáfen).

Kidush: Baruch... mecadesh Yisrael vehazemanim.

Ner: Baruch... borê meorê haesh (sobre fogo aceso desde a véspera do Shabat, pois é proibido criar fogo no yom tov).

Havdalá: Baruch... hamavdil ben côdesh lecôdesh.

Zeman: Baruch... shehecheyánu vekiyemánu vehiguiánu lazeman hazê.

Não se usam bessamim.

Havdalá no motsaê yom tov

No fim do segundo dia de yom tov (segunda-feira à noite) e no fim do oitavo dia de Pêssach (domingo à noite), faz-se a Havdalá como no fim de cada yom tov, sem proferir as bênçãos de Borê Minê Bessamim e Borê Meorê Haesh, que são pronunciadas somente no motsaê Shabat.

Para maiores esclarecimentos sobre o caso de êrev Pêssach coincidir com Shabat, consultar os livros “Yechavê Dáat” vol. I cap. 91, de autoria do Rishon Letsiyon Rabino Ovadyá Yossef Shelita e “Êrev Pêssach Shechal Beshabat” de autoria do Rabino Tsvi Cohen Shelita.

Do livro “Pêssach e Suas Leis”.
As fontes pesquisadas encontram-se na referida obra.