
Em épocas como a que vivemos, de guerra, epidemia, mundo polarizado, a incerteza é reinante. Diante desse cenário, a humanidade se volta aos chamados “gurus” da autoajuda ou palestrantes motivacionais, que percorrem o mundo espalhando suas palavras a corações desesperados e, de quebra, aumentando o valor de sua própria conta bancária.
Lehavdil, felizmente, nós, o Povo Judeu, recebemos a Torá Hakedoshá de Hashem e, nela, encontramos respostas a todos os nossos dilemas. Ali, no nosso Tanach, temos à disposição, gratuitamente, o pensamento do homem mais sábio que já viveu ou viverá, Shelomô Hamêlech. Nem todo o dinheiro do mundo poderia comprar seu valoroso legado de sabedoria, que nos foi deixado há mais de três mil anos, parte dele na forma de um de seus livros mais famosos: Mishlê (Provérbios).
Segundo filho de David Hamêlech com Batsheva, e o mais jovem dos herdeiros do monarca, Shelomô Hamêlech ficou conhecido em todo o mundo por sua inteligência ímpar. Ele foi apontado por Hacadosh Baruch Hu como o mais sábio dentre todos os homens. Consta no naví (Melachim I 3:9), que depois de tornar-se rei, Shelomô Hamêlech foi a Guiv´on para fazer sacrifícios a Hashem. Nesta oportunidade, Hashem lhe apareceu em um sonho, à noite, dando-lhe a opção de escolher qualquer dádiva que quisesse. Por se considerar um jovem inexperiente para ocupar um cargo tão importante (segundo algumas fontes, Shelomô tinha apenas 12 anos quando subiu ao trono de Israel), ele pediu ao Criador que lhe desse um coração que “escutasse e entendesse” (lev shomea). Em seguida, o passuc afirma: “Eis que tenho feito conforme a sua palavra; eis que lhe dei um coração sábio e compreensivo; de modo que não houve ninguém como você, antes de você; nem depois de você surgirá como você”.
Assim, Hashem lhe concedeu sabedoria elevada, acima de qualquer outro ser humano, a ponto de compreender a explicação de todos os mandamentos Divinos (mitsvot). Sua fama espalhou-se pelo mundo inteiro. Tanto, que ele recebia a visita de reis, vindos de todas as partes, para escutar e desfrutar de sua vasta erudição, inclusive no campo do conhecimento secular e das ciências.
Chochmá, mussar e biná
Escrito por Shelomô Hamêlech e editado pela corte do seu descendente Chizkiyáhu, Mishlê é composto por pessukim divididos em três assuntos: chochmá (sabedoria), mussar (ética, instrução) e biná (entendimento).
O Volume 1 da obra recém-lançada “Mishlê Haim - Provérbios da Vida” é baseado nas aulas ministradas pelo Rabino Haim Dichi. O livro está disponível para retirada na Congregação Mekor Haim e, digitalmente, no site da Revista Nascente e na plataforma Amazon Kindle. A obra aborda os primeiros capítulos de Mishlê, que se voltam à chochmá (sabedoria). Neles, Shelomô Hamêlech se concentra em definir o que é a sabedoria de verdade, encontrada apenas na Torá, e como ela se diferencia das ideias contrárias ou alheias à Torá, chamadas pelo autor de “mulher estranha”. Isso porque, quando nos deu a Torá, Hashem fez a união do Povo Judeu com ela como num casamento; e seguir ideias distintas às dela seria como “cometer adultério”.
“Embora a sabedoria de Shelomô Hamêlech esteja disponível a todos, é preciso estudar com muita atenção seus provérbios, porque uma leitura superficial, infelizmente, não será suficiente para fazer o leitor captar toda a profundidade contida em seus ensinamentos”, observa o Rabino Haim Dichi, que por esse motivo escolheu essa obra para suas aulas.
O fascínio do Rabino Haim Dichi pelo pensamento de Shelomô Hamêlech vem de muito tempo: “No meu bar-mitsvá recebi de presente um livro Mishlê com comentários do Gaon de Vilna zt”l (Bielorrússia, 1720 - Império Russo, 1797). Assim, sempre que viajo, levo-o comigo, pois é um livro sobre o qual tenho muita vontade de aprofundar-me. Escolhi essa obra para nossas aulas de quinta-feira para que tivesse a obrigação e oportunidade de poder dedicar-me a entendê-la cada vez mais”.
Na sua imersão pela obra de Shelomô Hamêlech, o Rabino Haim Dichi também conta com outra fonte importante para sua análise: o livro “Biur Sêfer Mishlê”, do Rav Moshê David Vali zt”l (Itália, 1696-1777), além dos clássicos comentários do Rashi zt”l (Rav Shelomô Yitschaki, França, 1040-1105) e do Malbim zt”l (Rav Meir Leibush ben Yehiel Michel Wisser, Ucrânia, 1809-1879). “Sem a sabedoria e o legado desses autores e comentaristas, não poderíamos alcançar até mesmo um pouco da profundidade de Shelomô Hamêlech”, observa o rabino.
Conselho do Rabino Avigdor Miller zt”l
Certa vez perguntaram ao Rav Avigdor Miller zt”l (Estados Unidos, 1908-2001): “Eu gostaria de estudar Mishlê, do início ao fim, pela primeira vez na minha vida. O senhor poderia me dar conselhos sobre como aprofundar-me nesse livro?” O rav respondeu: “O primeiro passo é ter em mente a certeza de que Shelomô Hamêlech sabe muito bem do que está falando. Às vezes, o passuc parecerá um tanto simples, mas saiba que não há nada simples em Mishlê. É fundamental que você entenda que um homem sábio, o maior que já tivemos em todo o planeta, está falando com você. Por isso, tente entender a profundidade de suas palavras. Às vezes você precisará dos comentários para que eles o ajudem a elucidar uma passagem”.
O rabino explicou ainda: “De qualquer forma, tenha certeza de que Mishlê é um acervo de sabedoria profunda para a vida prática, como se fosse um guia. Apesar de ser um livro de yir’at Shamáyim, temor dos Céus, como vemos nos seus primeiros pessukim (1:7): ‘O temor a Hashem é o princípio do conhecimento’, trata-se de um livro para uma vida bem-sucedida. Se você quiser ser feliz neste mundo, Mishlê é o guia para isso. Shelomô Hamêlech fala sobre como lidar consigo, como guardar a saúde, zelar pela sua propriedade, pelo dinheiro, como tratar todos ao seu redor (cônjuge, filhos, amigos, vizinhos e até inimigos - esses últimos, físicos ou espirituais). É inaceitável que se encontre tempo para ler outras coisas, como jornais, revistas e outros tipos de leituras insignificantes, que nada acrescentam, mas para Mishlê não têm tempo. É claro que o mais importante neste livro é sobre como servir a Hacadosh Baruch Hu, mas neste mesmo contexto também se trata de uma obra repleta de sabedoria, que ensina a ter êxito neste mundo e no Mundo Vindouro”.
Convite ao estudo: mãos à obra!
Como diz a Mishná (Avot 2:17): “O tempo passa, o trabalho é abundante, os operários são preguiçosos, o salário é alto e o dono da casa é exigente”. Ou seja, o estudo de Mishlê requer muita dedicação; no entanto, a recompensa por se dedicar a ele é alta. Por meio de suas palavras, as pessoas simples serão elucidadas a não serem enganadas e as pessoas mais sábias aumentarão seu conhecimento. Por isso, Shelomô Hamêlech exorta (Mishlê 1:8): “Ouça, meu filho, a instrução de seu pai; e não se desvie da Torá de sua mãe”. Esses dons de aprendizado, transmitidos ao Povo Judeu geração após geração, são um adorno para a nação. E quem recusaria um presente assim?
Sendo assim, Mishlê o espera!