A Sra. Sara Green (nome fictício) chegara exausta em casa naquela tarde. Tinha percorrido vários estabelecimentos fazendo compras e outros afazeres diários.
Não demorou para perceber que não trouxera sua carteira para casa. Tomada pelo susto, começou a pensar onde poderia ter esquecido a carteira. Seria uma dor de cabeça infinita resolver os problemas que decorreriam desta “calamidade”: a perda de vários documentos, do talão de cheques, cartões de crédito, senhas, cartões de lojas, anotações pessoais, sem falar em todo o dinheiro!
“Minha carteira é minha vida!”, ela pensou inconformada.
Correu para o telefone e começou a discar freneticamente para todos os lugares onde lembrava ter passado.
Nada.
Não se conformando, pegou a chave do carro e resolveu sair para fazer a busca pessoalmente. Duas horas depois, estava novamente em casa... sem a carteira.
Ouvindo o relato da esposa ao chegar em casa, o marido de Sara também ficou extremamente desapontado.
Ela se sentou no sofá e tentou organizar os pensamentos em sua mente. Teria que cancelar todos os cartões, sustar os talões, trocar as senhas, providenciar novos documentos...
Quando se aproximou do telefone para dar início à árdua tarefa, ouviu o aparelho tocar.
- Alô...
- Quem está falando? - disse um estranho.
- Com quem você gostaria de falar? - perguntou a Sra. Sara.
- Com a Sra. Sara, por favor.
Ela imaginou que fosse algum vendedor, um pesquisador, alguém pedindo donativos ou oferecendo enormes vantagens para adquirir um novo cartão de crédito.
- Pois não. O que você deseja? Seja rápido, por favor, pois estou ocupada.
- Foi a senhora que perdeu uma carteira?
- Sim sim sim... Como você sabe? Quem é você? Como sabe meu telefone?
- Fique calma, minha senhora. Meu nome é William, mas pode me chamar de Willy. Eu encontrei a carteira e procurei o seu telefone no catálogo telefônico. Agora, diga-me como faço para chegar em sua casa, pois eu gostaria de devolver seus pertences pessoalmente.
Menos de uma hora depois, a Sra. Sara foi atender a porta.
Ao abri-la, um pequeno susto. Um rapaz enorme, muito forte, quase tampava todo o vão da entrada. Ele vestia uma camiseta tipo regata e um boné sobre a cabeça careca. Tinha a pele muito escura e usava brinco em uma das orelhas.
Instintivamente, a Sra. Sara recuou um passo.
- Boa noite, minha senhora! - disse o rapaz gentilmente. - Eu sou William, e aqui está a sua carteira!
A Sra. Sara pegou a carteira e rapidamente verificou que não faltava absolutamente nada em seu conteúdo - inclusive todo o seu dinheiro estava lá.
- Muito obrigada, meu jovem! - disse a senhora com um leve sorriso e um profundo suspiro de alívio. - Queira entrar, por favor. Como posso recompensá-lo por seus esforços, por sua gentileza e por sua extrema honestidade?
- Não quero nenhum dinheiro, madame! Mas há algo que gostaria de ganhar... - afirmou Willy reticente.
- Pois não... o que seria?
- Bem... Quando eu era pequeno - Willy falou um pouco encabulado - minha mãe costumava dizer que não há nada melhor do que uma bênção de um judeu...
- Uma bênção! Uma bênção minha! - exclamou Sara. - Claro que sim! Como eu poderia recusar uma bênção para alguém que foi tão atencioso e prestativo!
Sara ergueu suas mãos e colocou-as sobre a cabeça do gigante Willy. Fechou os olhos e comprimiu as pálpebras formando rugas. Concentrou-se, tentando lembrar de bênçãos que ouvira de tsadikim no passado. Procurou as palavras mais bonitas e, finalmente, abençoou o jovem com vida longa, muita saúde e sucesso em todos os seus empreendimentos.
Depois, Sara chamou seu marido para abençoar o jovem também.
Satisfeitíssimo, Willy se despediu dos Green e retornou para sua casa.
Na manhã seguinte, Willy despertou cedo com uma dor de barriga insuportável.
Ele acordou sua esposa, contou sobre a dor que estava sentindo, e pediu que ela chamasse um médico.
Assustada, a jovem ligou imediatamente para um gastroenterologista conhecido.
O doutor atendeu o telefone e explicou que não poderia visitar Willy naquela manhã. Aconselhou que ele tomasse um comprimido para aliviar a dor. Caso não melhorasse logo, sugeriu que sua esposa o levasse a um pronto-socorro, onde provavelmente lhe ministrariam uma injeção na veia e fariam os exames necessários.
Willy tomou o comprimido e ficou de repouso.
Enquanto esperava o medicamento fazer efeito, teve que ouvir as “observações” de sua esposa:
- Eu sabia que você não deveria pedir uma bênção para aquelas pessoas! Isso lá é bênção?! Dor de barriga é bênção? Desde quando?... Como que uma bênção de muita saúde dá uma tremenda dor de barriga?! Como você vai ter sucesso em seus empreendimentos se nem pode sair para trabalhar? E também não está parecendo que você vai ter vida longa não!...
Depois de algum tempo, a dor começou a ceder.
Já passara das nove horas da manhã. Para tentar obter um pouco de “silêncio”, Willy pediu para sua esposa ligar a televisão.
Assistindo as imagens à sua frente, logo Willy percebeu que, além da dor de barriga, estava perdendo seu emprego. O prédio em que ele trabalhava, uma das torres gêmeas em Manhattan, estava pegando fogo e desabaria poucos minutos depois.
Willy estava perdendo o emprego, mas ganhando uma vida longa!