O episódio dos espiões ensina uma lição importante para a análise da alma de um membro de Israel.
De acordo com o que é descrito na Torá, doze pessoas foram mandadas para espionar a Terra de Kenáan (Bamidbar 13). Quando retornaram, após quarenta dias, dez deles falaram mal sobre a terra, suas frutas e seus habitantes, enquanto os outros dois, Yehoshua e Kalev, louvaram a terra e até mesmo se estenderam sobre a capacidade de conquistá-la, com a ajuda de D’us.
Nossos sábios tratam desse episódio em diversos lugares e explicam as causas da diferença antagônica entre os dois grupos. De acordo com eles, os dez espiões temiam que, quando os Filhos de Israel conquistassem a Terra, cairiam de posição em relação a seus postos no deserto.
Assim, quando saíram para sua missão, eles já aspiravam que a impressão que tivessem fosse negativa. Escondido em seus corações, estava o desejo de ver a Terra como ruim, com uma enorme taxa de mortalidade, fortificada demais e assim por diante.
É uma grande regra na psicologia da alma o fato de o olho do indivíduo ver e interpretar o mundo de acordo com o desejo íntimo, que está gravado profundamente no coração.
Efetivamente, foi isso que aconteceu com os espiões. D’us lhes proporcionou diversos milagres, para que pudessem percorrer toda a Terra de Israel com segurança: quando passavam por um local, muitos habitantes dele faleciam, para que os outros estivessem ocupados com o luto e não reparassem neles. Os dez espiões, no entanto, interpretaram isso de modo negativo e decidiram que a terra faz com que os que moram nela, pereçam.
Além disso, as frutas de lá eram muito grandes e boas, o que é certamente positivo. Os espiões, no entanto, argumentaram: “assim como suas frutas são estranhas, também suas criaturas são estranhas”- e se esforçaram por prová-lo.
Em oposição a eles estavam Yehoshua e Calev. Estes caminharam na trilha da verdade, sem intenções pessoais e se impressionaram com a Terra de modo correto, louvaram-na e estimularam o povo a conquistá-la.
Daqui se aprende uma lição muito importante: que o coração, o âmago do indivíduo, é o principal fator de influência da impressão exercida sobre si e do modo como ele age na prática. É o interior que define como ele verá e interpretará as coisas, para bem ou para melhor, dirigindo seu pensamento e suas idéias quanto a quase todos os detalhes de sua vida.
Se o indivíduo estiver livre de intenções pessoais e interesses secundários, chegará ao ponto da verdade e nada turvará sua visão nítida. Em compensação, se interesses materiais ou más características habitam seu coração, a pesquisa da verdade estará muito longe dele.
Essa conclusão auxilia no entendimento da importância dos grandes sábios da Torá e de suas decisões, tanto no campo público quanto no privativo, dentro do Povo de Israel. Com sua visão de Torá, eles são capazes de se elevar acima de considerações particulares e enxergar os problemas e as soluções em uma perspectiva correta.
Por isso é tão importante o aconselhamento com eles. Aquele que segue a luz de sua sabedoria terá o mérito de obter sucesso e êxito, com a ajuda de D’us.
Os Animais Percebem o Nível do Ser Humano
Consta no Talmud (Shabat 151b): “Disse Rami bar Aba: Um animal não domina um ser humano até este lhe parecer como um animal, conforme está escrito: ‘o ser humano, com seu prestígio não dormirá; comparado aos animais ele se parece’ (Tehilim 49)”.
O Rav Yitschac Zilberstein explica isso de um modo condizente com o que foi trazido anteriormente. Não apenas o modo de ver do próprio indivíduo é influenciado pelas forças internas que nele atuam; a própria posição dele e a forma como é visto pelos outros é definida por seu conteúdo interior.
Aquele que trilha o caminho da espiritualidade e se afasta do desejo e de assuntos sem importância, tem também sua imagem elevada, aos olhos dos outros, a ponto de mesmo as criaturas selvagens o temerem e não o atacarem.
O leão é o rei dos animais e não os teme. Portanto, um ser humano que desce de nível e se ocupa somente de assuntos materiais, assemelha-se a um animal, sendo então dominado pelo rei destes. Por outro lado, aquele cuja trilha espiritual é extremamente elevada, estará acima de seu corpo e é considerado como um anjo.
Assim como Daniyel - que foi jogado na cova dos leões e saiu intacto - há muitas histórias sobre grandes sábios, ao longo dos tempos, que não foram prejudicados por animais selvagens.
A lição aprendida disso é que âmago, o coração e os pensamentos definem a imagem e a existência do indivíduo, sendo o corpo apenas uma vestimenta para a alma. Isto é tão real que mesmo os animais o percebem. Até mesmo o leão, rei dos animais, não ataca um verdadeiro ser humano, alguém no nível de Rabi Shim’on Bar Yochai, sobre o qual está escrito: “faremos o ser humano - foi dito sobre você”.
As Leis Naturais e as Leis Espirituais
Consta em Massêchet San’hedrin (59b): “Rabi Shim’on ben Chalaftá estava andando pelo caminho quando encontrou um bando de leões que queriam devorá-lo. Disse: ‘os leões rugem para terem presa’ (Tehilim 104). Desceram (dos Céus) dois pedaços de carne; um comeram e um deixaram. Recolheu-o, levou-o à casa de estudos e perguntou sobre ele: ‘isto é algo puro ou impuro?’ Disseram a ele: ‘não há algo impuro que desce dos Céus’”
Ao se encontrar com os leões, Rabi Shim’on ben Chalafta não se apavorou e nem temeu por sua vida. Ele se dirigiu a D’us dizendo que, uma vez que os leões procuram naturalmente uma presa para se alimentarem, ele pede que o Eterno lhes dê comida de outro modo. Sua prece foi aceita e desceu para eles carne dos Céus. Daqui se vê que mesmo os leões não dominam uma pessoa que é inteiramente espiritual e que se afastou da materialidade dos animais.
Apesar de D’us ter fixado leis naturais, as leis espirituais são muito mais fortes. Deste modo, para aqueles que se elevaram e se santificaram, as leis materiais não funcionam como para os outros.
A conclusão é que o indivíduo deve se esforçar para se afastar das más características e da visão materialista. Então, seu modo de ver e de ser visto pelos outros se manterá claro e nítido; ele terá o mérito de se elevar acima dos limites materiais e de se ligar a D’us constantemente.
do livro “A Fonte da Vida”