A razão não grita
  “O cerco (medida preventiva) para a sabedoria é o silêncio”,  diz Rabi Akiva. Escreveu Shelomô Hamêlech que, quando você mantém  silêncio, poderão especular o quanto você é inteligente; ao falar, descobrirão  o quanto você não o é. Assim, é preferível optar pelo silêncio.
  Ao ser questionado sobre algo, diz o Rambam, não se deve ser  afoito em responder. É preciso que pare, reflita, examine a pergunta sob vários  aspectos . Está escrito no Pirkê Avot (capítulo 1, mishná 1): “Sejam prudentes no julgamento; formem muitos discípulos e ergam uma cerca  para a Torá”. A questão sobre ser prudente no julgamento refere-se a,  também, não ser precipitado ao tirar uma conclusão e evitar comparações. Essa  mesma cautela deve ser mantida ao responder a uma questão.
  Há situações em que alguém lança uma questão e, antes que o  outro a responda, o inquiridor insere algum detalhe que pode mudar  completamente a resposta. Por isso, a necessidade de cautela. A partir disso,  percebemos como também é importante saber formular uma pergunta. Antes de  fazê-la, é necessário refletir um tempo sobre ela, para se certificar de que  está sendo elaborada de maneira clara e objetiva, sem omitir detalhes que  possam comprometer a resposta.
  Quando ensinar seus alunos, faça-o com sossego e  tranquilidade, sem ser afoito ou com gritos. E não se prolongue sem  necessidade. Shelomô Hamêlech escreveu, em Cohelet (9:14): “As  palavras de um sábio são ouvidas quando ditas de forma tranquila”. Assim,  homens e mulheres devem evitar se expressar aos gritos. Se quiser ser ouvido,  fale as coisas de forma tranquila e serena.
Não ter “lábios dúplices” 
  Ninguém deve pensar uma coisa e falar outra. Sempre deve se  dizer o que se pensa. Ser o que nossos chachamim chamam de tochô  kevarô (ter seu íntimo como seu exterior). Diz o Rambam, que a pessoa deve  ser íntegra, ou seja, não falar algo sobre o qual pensa exatamente o contrário.  É proibido bajular o próximo, seduzindo-o com palavras, sendo um em sua fala e  outro completamente diferente em seu coração. Seu íntimo deve ser como seu  exterior, para que haja coerência entre seus lábios e seus sentimentos. E uma  das chaves para isso é, sem dúvida, o estudo da Torá.
Não enganar
  Também não se pode enganar um não yehudi.  Infelizmente muitos pensam que não é proibido; porém, enganar ou roubar um não yehudi é proibido pela Torá.
  O Rambam complementa que, conforme a Torá, é proibido  enganar as pessoas. Exemplo disso é a hipótese de convidar alguém para uma  visita, sendo que, em seu íntimo, trata-se de uma companhia indesejada .  Ou convidar alguém já sabendo de antemão, que ele não virá e, mesmo assim,  continuar a insistir para que venha, embora, no íntimo, não queira isso.
  Outro exemplo: querer dar algo sabendo que a pessoa não o  aceitará. Nesse caso, também não se deve insistir. Uma outra situação é aquela  em que se tenta ludibriar o outro, fazendo com que ele pense que está sendo  honrado, quando, na verdade, está se servindo dessa ação para outro propósito.  Por exemplo, se eu vendo vinhos e digo que estou abrindo um barril  especialmente para servir alguém, mas, na verdade, o estou fazendo porque tenho  a intenção de vender o restante posteriormente. Minha ideia original não era  servi-lo, mas a de abrir o barril de qualquer maneira, para oferecer o produto  à clientela.
  Mesmo uma única palavra de sedução ou com o objetivo de  enganar alguém é proibida. Os lábios devem falar única e exclusivamente a  verdade. Que se tenha o espírito de alguém correto e o coração limpo de  qualquer tipo de trama.
Temos de ser alegres
  David Hamêlech diz: “Sirvam Hakadosh Baruch Hu com alegria, júbilo e temor”. Parece uma contradição. Mas não é. Primeiramente,  há a necessidade, indispensável, de servir Hashem com alegria. Em  qualquer situação, apenas pelo fato de servi-Lo. Este já deve ser um motivo  suficiente para ficarmos alegres. Por outro lado, devemos tomar cuidado para  que essa felicidade não se torne gozação, leviandade, pouco caso, sarcasmo. Por  isso, também se deve temê-Lo.
  O Rambam quer nos transmitir que devemos ser felizes, apenas  pelo fato de podermos servir Hashem. Por outro lado, não se pode perder  o foco de que ser feliz significa ter controle sobre a ironia, conduzindo as  coisas de modo sério.
Nem leviandade, nem tristeza 
  Não devemos rir à toa, estando o tempo todo em uma atmosfera  de leviandade. Isso não significa estar alegre de verdade. Muitas vezes,  pessoas que têm esse comportamento na realidade estão camuflando sua profunda  tristeza interior. 
  Assim como não devemos rir à toa, por outro lado, não  podemos viver tristonhos. 
  Há aqui três pontos: 
  Simchá: componente indispensável no serviço (avodat)  a Hashem;
  Leviandade, sarcasmo, falta de seriedade: um extremo que  deve ser evitado;
  Tristeza: outro sentimento a ser evitado.
  Disseram nossos chachamim que o riso, a falta de  seriedade e a leviandade levam a alguns dos piores pecados da Torá, que  são as proibições ligadas à sexualidade. Por isso, nossos sábios ordenaram a  não sermos alegres - de forma que isso nos leve à libertinagem - nem tristes.  Devemos receber a todos com o semblante agradável e sorridente. Veja nota de  rodapé no 15.
Ser verdadeiramente rico
  Outra recomendação do Rambam é de que não persigamos a  riqueza, pois isso pode levar a grandes equívocos. E que também não sejamos  preguiçosos, improdutivos e ociosos - sem ocupação. Devemos ter um “olho bom” (ayin  tová), para que fiquemos felizes e satisfeitos com a prosperidade material  e espiritual de nossos semelhantes. 
  E, ainda, o Rambam nos aconselha a procurar trabalhar menos,  se preciso for, para ter tempo de estudar Torá.
  Agora, ele fala sobre o ensinamento: “Quem é o verdadeiro  rico? Aquele que está satisfeito com o que tem”. Contenta-se com o que possui  mesmo que aos olhos dos outros seja pouco. Nossos chachamim concluem  esta lição a partir de observações, como o fato de alguém que tem, por exemplo,  uma quantia de dinheiro, sempre ansiar ter o dobro dela. Se atingir o dobro,  almeja o triplo e, assim, sucessivamente. Ele se sente pouco favorecido porque só  tem olhos para o que lhe falta, não para o que tem.
  Não se deve ser alguém que briga, discute o tempo todo; nem  ser invejoso. Muito menos ambicioso, que tem desejos constantes e nunca se  satisfaz. Nem se deve cobiçar o cavod (honras, glória e reconhecimento).  Nossos sábios ensinaram: “Todo aquele que persegue o cavod, o cavod foge dele. Já aquele que foge do cavod, o cavod o persegue”. E  completaram: “Três coisas podem tirar o homem deste mundo: a inveja, o desejo e  a busca pelo cavod” . As pessoas acometidas por esses sentimentos  não possuem vida, pois estão, a todo o momento, “alimentando” essas  necessidades absolutamente vazias de sentido.
  Qual a regra de tudo isso? Diz o Rambam que é a de encontrar  o caminho intermediário, ficando longe de um extremo a outro desses  sentimentos. É preciso encontrar o equilíbrio e a estabilidade em tudo o que  diz respeito à mentalidade, caráter, traços particulares, índole e  temperamento, até que todas as midot atinjam esse nível. E é isso o que  Shelomô Hamêlech nos recomendou: “Se você souber equilibrar e balancear  constantemente seus caminhos, todos os seus caminhos serão corretos” (Mishlê 4:26).
  do livro “Íntegro”