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Chanucá – Luz Para o Exterior

Rabino I. Dichi

O Nível Elevado dos Mandamentos da Torá.

Comemorando I

“E retirá-los dos mandamentos de Sua vontade”

Consta no “Al Hanissim” recitado em Chanucá nas preces e no Bircat Hamazon (bênção após as refeições) o seguinte trecho: “Quando se ergueu o perverso Império da Grécia contra o Teu Povo, Israel, para fazê-lo esquecer Tua Torá e forçá-los a transgredir os estatutos (chukê) de Tua vontade”.

Há aqui uma ênfase no fato de os estatutos (chukim) serem “Tua vontade”. O cumprimento dos estatutos da Torá é o cumprimento da vontade de D’us. Tentaremos explicar o que há de especial nos estatutos - que são os mandamentos Divinos cujo motivo não nos foi revelado - para serem considerados “a Vontade de D’us” mais que os outros mandamentos da Torá.

Nos livros sagrados encontram-se algumas explicações sobre o que há de especial no cumprimento dos chukim (estatutos) da sagrada Torá. A explicação mais conhecida é que, quando a mitsvá possui motivo e o indivíduo cumpre-a conforme seu entendimento, mescla-se em sua realização a parte pessoal do indivíduo, que compreende o porquê e, assim, deseja executá-lo por si próprio. Diante disso, nos estatutos cujo verdadeiro motivo está oculto, a única razão para cumpri-los é o fato de que esta ordem nos foi dada pela Torá. Assim, cumprimos estes estatutos (chukim) unicamente por ser a Vontade de D’us. Isto é especial.

O império perverso da Grécia decretou sobre os Filhos de Israel que não cumprissem principalmente estes estatutos de D’us, pois esperava cortar a ligação que existe entre o povo que guarda a Torá e o Eterno. Para cortar esta ligação, tentaram fazer que o Povo de Israel não cumprisse Sua Vontade, Que é explícita em Seus estatutos.

No “Al Hanissim”, louvamos a D’us porque “Tu, em Tua grande misericórdia, apoiaste-os na hora da sua aflição, lutaste a sua luta, defendeste a sua causa, etc.” Por meio disso, foi possível que Israel Cumprisse a vontade de D’us e, consequentemente, continuasse ligado - de um modo inseparável - ao Eterno.

Medida por medida

No livro “Benê Yissachar” (discursos dos meses de kislev - tevet; discurso 4, item 64) é explicado que uma das vantagens do cumprimento das mitsvot cujos motivos não foram revelados, é que isso causa uma conduta de “medida por medida” por parte do Criador. Ou seja, do mesmo modo que cumprimos Seus estatutos - embora os motivos não sejam revelados - também D’us age conosco medida por medida “lifnim mishurat hadin” - com uma justiça branda - não conforme o merecido, embora essa conduta de “lifnim mishurat hadin” não seja inteiramente compreensível e suas causas não serem plenamente reveladas para nós.

Portanto, o cumprimento da Vontade Divina por meio dos chukim desencadeia um relacionamento cheio de amor, vontade e ações “além do que é merecido” entre D’us e Seu Povo de Israel.

Esta conexão profunda e especial é o que os gregos, em sua perversidade, quiseram romper. O Eterno, em Sua imensa bondade, nos salvou de suas mãos e fez os chashmonayim vencerem os exércitos da Grécia. O serviço (avodá) das oferendas do Templo, por meio das quais a Presença Divina pairava sobre o Povo de Israel, foi então restituído e assim fortalece-se o laço entre Israel e D’us.

“Mezuzá na Direita e Vela de Chanucá na Esquerda”

O cumprimento das mitsvot exerce uma enorme influência educacional naqueles que as realizam e nos que estão a elas ligados. A luz das velas de Chanucá, em todas as casas, é capaz de acender, de forma renovada nos corações, o fogo sagrado dos macabim e o desprendimento que tinham para que não se esquecesse a Torá de D’us e o povo não abandonasse Suas mitsvot.

Assim como eles guerrearam e deram suas vidas pelo cumprimento da Vontade Divina e de Seus mandamentos, nós afirmamos, com o acendimento das velas de Chanucá, que continuaremos guardando e transmitindo para a próxima geração o desprendimento para cuidar das ordens da sagrada Torá e o cumprimento de Suas ordens, para sempre.

Consta na lei judaica que, quando se acende as velas de Chanucá na porta da casa, a chanukiyá (candelabro de oito velas) deve estar do lado esquerdo, oposta à mezuzá - que fica à direita de quem entra na casa. Também sobre isso foram declaradas muitas idéias e explicações. Traremos aqui o que escreve o Rav Yehudá Tsadca zt”l, em seu livro Col Yehudá, em nome do Gaon Rabi David Jungreiss zt”l.

Nas parashiyot (trechos inscritos)da mezuzá são trazidos os assuntos da Unicidade e do amor a D’us. O Rambam, no fim das Leis de Mezuzá (capítulo 6, halachá 13), explica extensivamente que isso vem para fixarmos esses conceitos em nossos corações, sempre que passarmos pela porta. Assim, a luz da emuná contida nesses trechos nos protegerá de qualquer influência nociva.

Na prática, a mezuzá na porta significa mais que isso. Ela simboliza que o lar judaico deve ser uma fortaleza de Torá, de santidade, de pensamentos corretos e de bons atos. Ele também deve ficar protegido de influências alheias e ventos estranhos que sopram fora dele.

A mezuzá é o que protege os moradores das influências daninhas da rua. Para educar e fazer crescer uma família centrada na espiritualidade, é preciso pôr uma separação entre a casa e o que está fora dela. O que nos protege destas influências negativas são a emuná (fé) em D’us e o prosseguimento no caminho da Torá.

“A vela de Chanucá à esquerda” é uma continuação do que foi dito anteriormente. Chega uma hora que o indivíduo protegido de influências nocivas e que cresce em Torá e mitsvot pode influenciar o outro com isso. Então, impõe-se a ele dar mérito a muitos, espalhar a Torá e aproximar o coração dos filhos a seu Pai Que está nos Céus.

A vela de Chanucá simboliza a luz espiritual que sai da casa e ilumina para o exterior. O horário de acendimento das velas de Chanucá é enquanto ainda há público circulando nas ruas. Enquanto há pessoas na rua, temos a obrigação de aproximá-las e iluminar suas almas com a luz da Torá.

Chanucá - Chinuch

“Chinuch” em hebraico é inauguração. Um dos motivos de Chanucá chamar-se assim é porque naqueles dias houve a reinauguração do Templo. Mais que isso; Chanucá é uma excelente oportunidade de se ocupar com os assuntos de “chinuch” - que também significa educação - e incutir no coração dos filhos a importância da espiritualidade e da necessidade de se sacrificar por ela, para chegar a seus níveis elevados.

A festa de Chanucá eterniza a vitória da espiritualidade sobre o materialismo. Não havia, naquela época, força material capaz de se opor ao tremendo exército grego e vencê-lo. A vitória foi alcançada pela espiritualidade. Por mérito dela e do espírito, os macabim tiveram ajuda dos Céus e chegaram ao triunfo almejado.

Isso serve de exemplo sobre a importância da espiritualidade e a necessidade de dedicar a ela toda a vida. É importante passar essa lição a nossos filhos e acender seu espírito até que a chama mantenha-se por si mesma. Assim, poderemos educá-los a continuar por toda a vida no caminho da Torá, apesar de todas as forças materiais de destruição que estão de tocaia, no exterior, para acabar com tudo que tenha a verdade como fundamento.

O Acendimento das Velas de Chanucá na Sinagoga

Pela mitsvá de espalhar o milagre de Chanucá, é preciso acender velas também na sinagoga, pois este é um lugar onde se reúnem muitas pessoas.

Também podemos dar outra razão para isso. A sinagoga é um lugar de oração e estudo da Torá. Nesse lugar, onde o indivíduo constrói seu mundo espiritual, é especialmente adequado divulgar o milagre, para que ele aprenda que não deve medir esforços para a espiritualidade, dominar as dificuldades e vencer o materialismo, que tenta conspirar e perturbar todo aquele que anseia servir seu Criador.

Seja a vontade de D’us que tenhamos o mérito de fazer penetrar, em nossa alma, a luz dos dias de Chanucá e que esta nos acompanhe durante todo o ano.

do livro “A Fonte da Vida”