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Govi, Campeão Sem Louvor

Visão Judaica I

A equipe era boa. Govi, o piloto, melhor ainda!

A escuderia desenvolvera três carros de corrida, aparentemente idênticos.

Mas um deles era medíocre. Somente o utilizavam em último caso - se os dois outros carros estivessem quebrados.

O segundo era bom. Com ele, Govi quase sempre conseguia terminar a prova entre os dez primeiros colocados.

O terceiro carro... este sim! Era imbatível! Nesta máquina o piloto sempre vencia a corrida com grande vantagem sobre os demais.

Mas o melhor automóvel era muito frágil e instável. Raras vezes apresentava condições para participar das provas.

Chegou o dia tão esperado: o último grande prêmio, que definiria o melhor piloto da temporada.

Govi precisava chegar entre os três primeiros colocados para consagrar-se como campeão.

Se ele corresse com seu melhor carro, seria moleza. Já se imaginava segurando o troféu no pódio e chacoalhando uma imensa garrafa de champanhe.

Mas alguns minutos antes da largada, Govi foi avisado que precisaria participar com o segundo carro da escuderia.

O piloto ficou decepcionado, atordoado.

Eram dezenas de participantes e, para sua infelicidade, ele largaria entre os últimos.

No começo da prova Govi ainda estava confuso, e pensou em desistir. Seria quase impossível ultrapassar tantos colegas e chegar entre os primeiros.

Nas primeiras voltas, Govi mostrou ao público sua grande habilidade e ultrapassou três concorrentes.

No decurso da prova, Govi foi ganhando confiança e decidiu que faria todos conhecerem seu grande talento.

Dito e feito!

Um a um, seus rivais foram sendo ultrapassados.

Brioso e destemido, Govi já sentia novamente as bolinhas da champanhe entre seus dedos.

Mais algumas voltas e Govi continuou deixando para trás seus inimigos.

Finalmente, na última volta do GP, Govi fez sua última ultrapassagem e recebeu a bandeirada final em terceiro lugar.

Não foi fácil, mas ele conseguiu! Agora era o novo campeão!

Ainda no carro, recebeu uma bandeira, que começou a agitar freneticamente.

Quando saiu do carro, foi comemorar o grande resultado com sua equipe.

Mas logo que se aproximou dos companheiros, percebeu que eles não compartilhavam de sua alegria.

- Vencemos, companheiros! Somos campeões! - exclamou Govi.

Silêncio.

- Vocês não estão orgulhosos? Não vencemos?... Não somos campeões? - perguntou o piloto reticente.

- Estamos muito contentes, Govi - disse calmamente o dono da escuderia. - Realmente, somos campeões. Mas não estamos tão orgulhosos assim. Nem parece que você percebeu em qual carro pilotou! Este é o nosso melhor carro. Ele é imbatível! Investimos muito dinheiro nele. O prêmio oferecido ao primeiro colocado desta última prova é uma verdadeira fortuna. Você não poderia tê-lo perdido.

Em sua aflição inicial, Govi não percebeu que conseguiram reparar o melhor carro da escuderia. Assim, apesar de ultrapassar os adversários e vencer o campeonato, frustrou as expectativas de sua equipe.

*   *   *

Nossa vida pode ser encarada como as diversas provas de um grande prêmio automobilístico.

Quando nos esforçamos para cumprir nossa tarefa e percebemos os bons resultados, podemos - e até devemos - ficar contentes e satisfeitos. Afinal, estamos vencendo!

Mas quanto ao orgulho... Quem dirá em que “carro” pilotamos, quais nossas verdadeiras capacidades, qual a expectativa que depositam em nós?