Matérias >> Edição 184 >> Comemorando II

Os Três Estágios da Vida

Rabino I. Dichi

Comemorando II

Pêssach, Shavuot e Sucot Simbolizam as Fases da Vida

No livro Olelot Efrayim (parte 2, ensaios 43-45) consta que as três festas, nas quais se devia ir a Jerusalém, indicam os três estágios da vida do ser humano.

A festa de Pêssach representa a juventude. Ela cai na prima-vera, que indica o começo do verão. Nesta época, tanto o ser humano quanto os animais preparam seu alimento para o inverno, quando é mais difícil consegui-lo.

Nesta fase, o indivíduo pensa bastante sobre seu corpo e, naturalmente, medita menos sobre sua alma, que é o principal da vida e seu objetivo. A oferenda trazida em Pêssach é a do “Ômer” - (uma medida de) cevada, que é o alimento dos animais. Isto vem indicar que aquele que se inclina a pensar apenas em seu corpo, compara-se a um animal, pois é apenas disto que estes se ocupam.

É imposto a cada um discernir entre o que é principal e o que é secundário, ocupar-se do que é útil à sua alma e do que o leva à vida eterna, não apenas à vida momentânea que está ligada unicamente à matéria.

A festa de Shavuot cai no auge do verão, simbolizando a época da maturidade. É então que se trás os bikurim (primícias): as primeiras frutas maduras, passíveis de serem consumidas. O mesmo ocorre com a pessoa nesta época, com o pleno desenvolvimento do corpo.

Nesta fase, a pessoa costuma pensar tanto no corpo quanto na alma, o que é simbolizado pela oferenda especial de Shavuot, dois pães, que simbolizam estas duas partes.

A festa de Sucot vem no fim do verão, simbolizando a parte da vida na qual o corpo começa a declinar e a pessoa a envelhecer. Esta festa é também chamada de “Festa do Recolhimento”, assim como então começa o indivíduo a se aproximar da época de ser recolhido deste mundo.

As oferendas de Sucot são constituídas de bois em número decrescente, simbolizando também este mesmo conceito. Por outro lado, aumenta a força da alma e o indivíduo dedica a ela sua atenção e dirige o principal de sua ocupação, ao sentir que se aproxima o dia no qual seu corpo já não terá mais nenhum valor.

Isso vem nos ensinar que o corpo e tudo que a ele se refere não é eterno; somente a alma. É necessário dedicar a ela toda a atenção e cuidar constantemente de assuntos espirituais, que possuem um valor inestimável, mesmo depois de terminada a tarefa do corpo e não restar nada dele.

“Três Vezes ‘e Faça’”

A expressão “e faça” aprece três vezes na Torá, simbolizando também os três estágios da vida do ser humano.

1. “E faça para mim iguarias, conforme eu gosto” - dito por Yitschac a Yaacov, antes de abençoá-lo. É sabido que este episódio ocorreu em Pêssach, o que se liga ao fato de aludir aos dias da juventude, quando o indivíduo gosta da boa comida e dedica sua vida a assuntos sem tanta importância. Obviamente, o pedido de Yitschac não era puramente material, servindo apenas de alusão ao nosso assunto.

2. “E faça um Keruv (a imagem de um tipo de anjo) na ponta, de um lado e um keruv na ponta, de outro lado”. Este versículo simboliza os dias da maturidade, nos quais há uma preocupação tanto com o corpo quanto com a alma, que estão em dois lados opostos. Os keruvim foram postos em cima da Arca Sagrada, na qual estavam os Dez Mandamentos, indicando a Festividade de Shavuot.

3. “E faça para eles (os sacerdotes) calças de linho”. Isto indica os dias da velhice, quando se procura não utilizar o corpo para o que não é necessário e também oculta seu pudor, o que é simbolizado pelas calças de linho dos sacerdotes. É então que há um esforço por tratar da alma e prepará-la para receber o Jugo Divino, eternamente.

“Dê uma Parte para Sete e Também para Oito”

Consta em Cohêlet (11:2): “Dê uma parte para sete e também para oito, pois não saberá o que haverá de mal sobre a Terra”. Explica o midrash: “‘Dê uma parte para sete’ - são os dias de Pêssach. ‘e também para oito’ - são os oito dias da festividade (de Sucot). ‘E também’ - vem incluir também Atsêret (Shavuot), Rosh Hashaná e Yom Hakipurim”.

A meta deste versículo é estimular o indivíduo a fazer teshuvá, pois não se sabe o que poderá acontecer no futuro. Isto vem frisar que em cada uma das três épocas da vida é necessário fazer teshuvá, sem adiá-la para mais tarde.

Além disso, em cada estágio atuam diferentes interesses e forças, sendo importante se dirigir à espiritualidade e retornar em teshuvá em todos eles, aproveitando as características especiais de cada um.