Matérias >> Edição 184 >> Comemorando III

Comentários da Hagadá

Livro Chazon Ovadyá

A explicação dos trechos da Hagadá fascina não somente as crianças, mas também os mais sábios adultos. Os novos comentários aprendidos a cada Sêder tornam-no singular todos os anos.

Jóias do Maguid

O principal motivo da comemoração do Sêder de Pêssach é a transmissão da história dos nossos antepassados por meio da narração da Hagadá de Pêssach. Ela ensina lições imprescindíveis para nossos dias.

“Vechol hamarbê lessaper bitsiat Mitsráyim harê zê meshubach - Todo aquele que se prolongar em contar sobre o Êxodo do Egito é digno de louvor”.

As Dez Pragas

Podemos entender melhor as dez pragas que o Todo-Poderoso enviou aos egípcios por meio de um exemplo:

“Um rei ordenou que um de seus servos fosse à feira e trouxesse-lhe peixe para uma refeição. O escravo obedeceu, mas trouxe um peixe estragado. O rei disse então: ‘Você terá de escolher um destes três castigos: comer o peixe, receber cem chicotadas ou pagar cem moedas’.

“O escravo escolheu a primeira opção - comer o peixe estragado. Porém, quando já comera metade, disse que não conseguiria continuar; preferia as chicotadas como castigo.

“Não aguentando mais, após cinquenta chibatadas, o escravo pediu que parassem, pois ele pagaria as cem moedas.”

“Portanto, o que aconteceu de fato foi que ele comeu o peixe estragado, levou as chicotadas e pagou as moedas!”

Algo parecido aconteceu ao Faraó. Ele escravizou o Povo de Israel e D’us lhe disse: “Deixe Meu povo ir, ou apanhe, ou pague uma indenização por todos os anos de escravidão.”

O Faraó respondeu: “Quem é esse D’us para que eu O obedeça? Eu não O conheço e também não mandarei o povo!”.

Então D’us replicou: “Você não somente os mandará, como também apanhará e pagará pela escravidão do povo.”

O Faraó acabou por receber as dez pragas, libertar o povo, e Am Yisrael ainda saiu com muitas riquezas do Egito.

Quantas Coisas Boas!

Há um trecho da Hagadá que diz: “Cama maalot tovot Lamacom Alênu - Quantas coisas boas para D’us a nós”.

Por que está escrito “para” D’us e não “de” D’us?

Porque D’us também sente satisfação em fazer coisas boas a Seu povo; então estes atos também são “para” D’us.

O Sábio e o Perverso

Quando a Torá se refere ao sábio, diz (Shemot 13:14): “Vehayá ki yish’alechá vinchá - E será quando te perguntar teu filho”. O sábio pergunta, pois está interessado em saber, em conhecer a Torá e seus mandamentos.

Já quando se refere ao perverso, consta (Shemot 12:26): “Vehayá ki yomeru alechem benechem má haavodá hazot lachem - E quando vos ‘disserem’ vossos filhos: ‘Que culto é este para vós?’”. O perverso não pergunta, ele apenas fala e vai embora. Faz uma afronta sem esperar a resposta!

Neste mesmo sentido, vemos que a resposta ao perverso é a seguinte: “Veilu hayá sham lô hayá nig’al - E se ele estivesse lá (no Egito), não teria sido salvo.” Já que o perverso fez uma pergunta, deveríamos responder na segunda pessoa: “se tu estivesses lá...” e não, como consta, na terceira pessoa. A explicação para isto é que, no momento da resposta, o perverso não está mais presente. Ele vai embora sem mesmo esperar a resposta! Por isso respondemos na terceira pessoa.

E Foram Naqueles Dias

Na linguagem sagrada, pode-se iniciar o relato de um episódio com a palavra “vayhi” ou com a palavra “vehayá” que, na prática, têm o mesmo significado. Entretanto, nossos sábios disseram (Meguilá 10b): “En vayhi ela lashon tsáar”. Ou seja, todas as vezes que está escrito “vayhi” - e foram - é uma linguagem que expressa dificuldades. Refere-se ao início de um episódio sofrido para o Povo de Israel.

Disseram também (Vayicrá Rabá 11:7): “Vehayá lashon simchá”. Sempre que está escrito “vehayá” - e será - é uma linguagem que expressa felicidade. Refere-se ao início de um episódio alegre para o Povo de Israel.

O motivo disso é que o nosso povo, durante as gerações que se passaram, esteve sempre cercado de problemas e dificuldades. Por isso, a regra é que a linguagem “e foram” (no passado) é só de sofrimentos. Nosso consolo, porém, está em nossa fé de que dias melhores virão com a vinda, em breve, do Mashiach. Por isso “e será” é uma linguagem de alegria, pois o futuro será só de alegrias para todo o Povo Judeu.