Tempos de Desafio
Rabino Moshe Meir Weiss
Sobre o Autor

O Rabino Moshe Meir Weiss vem servindo como Rabino da organização Agudath Ysrael de Staten Island, Nova York, há quase vinte anos. Ele recebeu sua ordenação rabínica do Rabino Moshe Feinstein Z”TL, a quem teve o privilégio de servir e estudar por mais de dez anos. Desde 1978 ele tem diligentemente disseminado a Torá e seus valores através de milhares de fitas e CDs, bem como sua aparição em rádios e suas abrangentes palestras públicas. Seu talento como palestrante é legendário, bem como sua extraordinária capacidade de articulação. Platéias por todo o mundo desfrutam suas apresentações tanto do lado prático como do lado emocionante do Judaísmo.

O Rabino Weiss vem ministrando aulas de Daf Yomi [aulas diárias de Talmud, com vistas a concluir o estudo de todo o Talmud em sete anos e meio] para grandes audiências nos últimos três ciclos do Daf Yomi e, além disto, há mais de 10 anos está envolvido em projetos educacionais.

Escritor e palestrante muito requisitado, seus artigos podem ser encontrados semanalmente no The Jewish Press, bem como em outros jornais e revistas. Seus dois primeiros livros, “Passionate Judaism” e “Meaningful Living” (à disposição do público no site www.judaicapress.com) continuam extremamente populares, e tocaram as vidas de milhares de leitores por todo o mundo. Ano passado, com o lançamento de seu novo livro, “On the Yamim Noraim”, o autor vem se consagrando entre o público leitor.

Com seu estilo revigorante e direto, o Rabino Weiss oferece uma valiosa orientação e conselhos sobre virtualmente qualquer aspecto da vida Judaica. Neste encantador livreto, o Rabino Weiss revela em três artigos a beleza por trás dos costumes e observâncias do Judaísmo. Baseado no provérbio Talmúdico de que “D'us deseja o sentimento de nossos corações”, ele nos orienta em relação aos desafios que enfrentamos em nosso dia a dia, bem como traz sugestões práticas para Rosh Hashaná e Yom Kipur.

Os leitores se sentirão cativados pela escrita dinâmica e sua capacidade de abordar questões mais complicadas. A intenção deste trabalho é ampliar nossos horizontes e verdadeiramente ajudar cada um a encontrar seu caminho nestes Tempos de Desafio.

Boa leitura!

Introdução do Autor do livro “On The Yamim Noraim”

Estou muito contente que você está lendo este livro. Significa que está se unindo a nós numa missão para melhorarmos nossas vidas e estarmos mais preparados para Rosh Hashaná e Yom Kipur. Minha fervorosa prece ao Todo-Poderoso é que as idéias contidas neste livro nos ajudem a conseguir um ano novo com saúde, alegria e muito significado.

Sabemos que o Shofar é tocado durante o mês de Elul como uma ‘sirene’ para nos despertar e incentivar a trabalharmos para melhorar nossas características pessoais. O Rabino Avraham Sofer (Hungria, 1815-1871), autor do livro Ktav Sofer, acrescentou que a palavra Shofar alude ao que está escrito no Midrásh Rabá (Vaikrá 29:6): “Shapru Maaseihem”, ou seja, “Aprimorem e melhorem os seus caminhos”. Logicamente cada pessoa é diferente e alguns precisam trabalhar em algumas áreas do comportamento mais do que outros. Os artigos a seguir são uma sugestão para iniciarmos este processo.

Espero que achem estes artigos bastante proveitosos e compartilhem estas idéias com amigos e familiares. Certamente não me intitulo ser nenhum tipo de especialista sobre as idéias e metas aqui mencionadas, mas espero trabalhar sobre elas em conjunto com você. Que esta possa ser uma missão inspiradora e agradável ao nos prepararmos para estes dias tão importantes!

Vivendo Eternamente Através de Nossos Atos

A segunda Porção Semanal da Torá chama-se Noach (Noé). Ela relata o nível espiritual extremamente baixo em que se encontrava a humanidade naquela época, sobre a construção de uma grande arca por Noach, o Dilúvio e o reinício da humanidade no mundo.

Esta Porção Semanal inicia-se com a seguinte frase: “Estes são os descendentes de Noach; Noach era um mentsch (homem correto), íntegro e de um comportamento irrepreensível (Gênesis 6:9).” Uma questão logo salta aos nossos olhos: quando a Torá começou com as palavras “Estes são os descendentes de Noach”, ficamos aguardando que citasse os nomes de seus três filhos, Shem, Ham e Yafet. Por que, ao invés disto, a Torá segue com uma salva de louvores sobre o próprio Noach?

Rashi, o Rabino Shlomo ben Ytschak (França, 1040-1104), um dos maiores comentaristas da Torá e do Talmud, respondeu a esta questão explicando: “A Torá está nos ensinando que os descendentes principais de uma pessoa íntegra são os seus bons atos”. Sobre esta resposta de Rashi, perguntou o Rabino Moshe Feinstein Z”TL (Bielorrússia e EUA, 1895-1986), em seu monumental livro Darash Moshe: “Por que a Torá usou a palavra ‘descendentes’ como uma metáfora para o relacionamento entre a pessoa e seus bons atos? Por que eles não são descritos como seus feitos, realizações ou méritos? Será que ‘descendentes’ não é uma palavra aplicável apenas ao âmbito biológico?”

Segue o rabino Feinstein explicando que a Torá está nos revelando duas incrivelmente importantes atitudes e abordagens que devemos ter em relação aos bons atos que praticamos. Primeiramente a Torá quer que sintamos por nossos bons atos o mesmo amor que sentimos por nossos filhos (ou pelos nossos pais, para aqueles que ainda não tem filhos). Não devemos tomar a decisão de cumprir Mitsvót (Mandamentos da Torá) tão importantes como visitar os enfermos, confortar um enlutado ou comparecer a um funeral meramente pelo sentido de dever, obrigação e compromisso, mas sim devemos realizá-los a partir de um sentimento de verdadeiro amor.

Em segundo lugar, ele nos esclarece que, da mesma maneira que um pai e mãe dedicados estão sempre tentando ajudar seus filhos a progredir, tornando-os melhores, mais carinhosos, mais simpáticos e misericordiosos, de forma similar devemos constantemente tentar aprimorar a qualidade de nossas Mitsvót. Devemos sempre nos esforçar mais e aspirar a aprender como cumpri-las de uma maneira melhor, mais refinada e mais bela. Seja concentrando-nos mais profundamente em nossas orações, seja acendendo as velas de Shabat com mais intenção, recitando o Kidush de Shabat mais docemente, afiando nossas características de bondade, etc. A comparação entre bons atos e descendentes vem nos ensinar como a procura pelo refinamento de nossas Mitsvót tem um paralelo muito próximo com a nossa dedicação em aperfeiçoarmos os nossos filhos.


Gostaria de acrescentar mais algumas sugestões do porquê a Torá chama os bons atos de ‘nossa descendência’. É óbvio que o desenvolvimento de nossos filhos resulta da cooperação conjunta do marido e da esposa. A Torá está nos ensinando que, de modo similar, o caminho correto para os bons atos passa pelos casais trabalhando junto dentro de casa. Seguramente não é um “bom ato” quando uma pessoa ajuda os demais às custas de sua esposa ou de seu marido.

Além disto, da mesma maneira que nossos descendentes são a origem das futuras gerações, assim também os bons atos das pessoas íntegras geram bons atos adicionais, numa corrente que se estende até a eternidade. Há um mandamento na Torá de que devemos nos levantar em respeito a uma pessoa com mais de 60 anos de idade. Quando alguém se levanta perante um idoso (ou idosa), ele encoraja [ou ‘dá a luz’ a] esta prática por parte daqueles que o viram fazer isto. Analogamente, quando alguém generosamente responde a um pedido por caridade, isto cria um impulso nos outros para fazerem o mesmo.


Mais uma maneira de entendermos a analogia entre bons atos e descendentes é o trabalho e esforço necessários para se fazer uma Mitsvá gerar frutos. Da mesma forma que um bebê emerge ao mundo após nove meses de gestação e as dores do parto de sua mãe, assim, também, muito esforço é requerido ao se tentar realizar uma Mitsvá da maneira correta.


Poderíamos nos perguntar: “Por que Rashi chama os bons atos de descendentes ‘principais’ de uma pessoa? Afinal das contas: e os nossos próprios filhos? Ficarão relegados a um status secundário? Por que Rashi simplesmente não escreveu que os bons atos são também considerados como ‘descendentes’? Creio que a resposta é a seguinte: os filhos de uma pessoa íntegra não são exclusivamente produto seu. Melhor dizendo, eles são a síntese de seus genes junto com os de sua esposa e o código genético de muitos de seus ancestrais. Adicionalmente, quando a criança chega na idade de entendimento e razão, ele ou ela tem seu livre arbítrio e, sendo assim, não são mais um produto puro das atitudes de seus pais. Por outro lado, os bons atos que uma pessoa realiza são exclusivamente frutos de seu esforço e permanecerão à sua disposição para toda a eternidade.


Gostaria de transmitir-lhes uma história impressionante que ouvi do Rabino Shmuel Dishon Shelita, mashguiach (orientador espiritual) da Yeshivá de Stolin-Karlin, em Nova York. Ele a contou num Shabat dedicado à Hatzolah, uma organização criada no final da década de 60 com o intuito de proporcionar rápido atendimento médico de emergência à comunidade. Seus paramédicos atendem chamados 24 horas por dia, 365 dias por ano. Uma das senhoras presentes veio conversar com o rabino Dishon e contou-lhe que na noite de Pêssach, quando sua família estava prestes a começar o Seder, o telefone tocou e seu marido, um membro da Hatzolah, teve de sair correndo para atender uma emergência, voltando cerca de 3 horas depois. A senhora lamentou que naquela noite a família ficou sem o seu Sêder de Pêssach.

O Rabino Dishon então lhe contou a seguinte história:


No ano de 1918, os comunistas tomaram o poder na União Soviética e começaram suas tirânicas campanhas para erradicar o Judaísmo e as demais religiões. Muitas pessoas se uniram aos comunistas e delatavam qualquer um que divergisse do novo governo. E o fim do delatado era certo.

Em Minsk (atual Bielorrússia) morava um senhor chamado Mordehai Timbelist que jurou que, custasse o que custasse, iria continuar cumprindo a Torá e ajudando outras pessoas a também manterem sua prática do Judaísmo. Assim foi e ninguém entendia como não era preso, pois os delatores informavam tudo às autoridades. Alguns diziam que os anjos o acompanhavam e protegiam, não faltavam histórias.

Quais eram os seus crimes? Ele trazia professores para ensinar as crianças, trazia Shohatim (pessoas que sabiam abater o gado conforme as leis da Cashrut), ajudava os carentes, ajudava a realizar Brit Milá, etc.

Sua tranquilidade durou quatro anos. Certo dia recebeu uma carta em que era ‘convidado’ a comparecer à Cheka, a polícia secreta soviética. Muito preocupado, pediu conselho aos seus conhecidos sobre o que fazer. Um deles lhe disse: “Prepare seu testamento, pois provavelmente você não voltará de lá. E mais uma coisa: quando for questionado, não fale muito, apenas responda o que lhe for perguntado”. Outro lhe disse: “Você será levado para uma sala grande em que há apenas uma cadeira e uma mesa, e passará incontáveis horas sendo interrogado”. O senhor Mordehai colocou seus negócios em ordem, despediu-se da família e preparou-se para o pior.

Ao chegar ao quartel-general da polícia secreta, foi introduzido numa sala onde havia uma mesa e duas cadeiras. O interrogador o cumprimentou cordialmente em idish: “O senhor se chama Mordehai Timbelist?” “Sim”. "O senhor gostaria de sentar-se?”, continuou o homem em idish. “Não era assim que estas sessões eram descritas pelas pessoas que tinham conseguido sobreviver a elas!”, pensou o senhor Mordehai. Vendo que ele estava paralisado pela indecisão, o interrogador disse-lhe: "Por favor, sente-se".

Perguntou, então: "Senhor Mordehai, talvez o senhor e a sua família gostariam de emigrar para Israel?" Ele não sabia o que responder. Se dissesse "sim" poderia ser considerado um cidadão desleal e as consequências seriam trágicas. Não respondeu.

Percebendo que assim não chegaria a lugar algum, o interrogador perguntou: “O senhor me conhece?” e mencionou o nome de um membro de uma das famílias mais importantes de Minsk, o diretor de uma Yeshivá que morrera ainda jovem. “Ele era o meu pai”.

O senhor Mordehai não sabia o que dizer. De repente o interrogador abriu uma gaveta de sua mesa e tirou uma pasta com quase 20 cm de espessura. “Senhor Mordehai, examine isto”. Cada página descrevia minuciosamente o que ele fizera durante os últimos quatro anos.

Lá estava tudo detalhado: cada mitsvá, cada criança que ele ensinara, cada Brit Milá que realizou". Por cada página ele poderia ser enviado para a Sibéria ou morto. Começou a suar frio e pensou que iria desmaiar. Apoiou-se na mesa para não cair.

"Senhor Mordehai ", falou o interrogador, "Nos últimos 4 anos eu estive designado para cuidar do seu caso. Fui eu quem o protegeu e cuidou do senhor. Agora estou sendo promovido e não há nenhuma forma de que as coisas continuem boas para o seu lado com uma ficha como esta. Não vou poder levar esta pasta comigo. Quando aquele que me substituir vir esta pasta, o senhor estará acabado. Mas uma coisa posso fazer: posso ajudar o senhor e a sua família a irem para Israel”.

O interrogador continuou: "O senhor não se lembra de mim, mas eu me lembro do senhor e quero que saiba porque vim lhe protegendo todo este tempo. A pobreza na Rússia naqueles tempos era descomunal e para os judeus era ainda pior. Depois que meu pai morreu, tudo ficou muito difícil para a minha família. Certa sexta-feira nossa despensa estava completamente vazia, não havia nada para se comer. Simplesmente pensamos que iríamos morrer de fome naquele dia. Antes do Shabat, minha mãe, que era uma jovem viúva, pegou-me pela mão e corremos para a sua casa. Naquela época o senhor era um dos dirigentes da comunidade. Minha mãe começou a chorar e implorar: ‘Nossa casa está vazia e literalmente vamos morrer de fome’. Lembro-me que o senhor estava vestido com um elegante casaco preto e havia um belo relógio de ouro pendurado numa corrente, também de ouro, em sua cintura. O senhor não hesitou por um instante: pegou o relógio, deu-o à minha mãe e disse: ‘Pegue isto’. O senhor sabia que não veria aquele relógio novamente. Por muitos meses vivemos com o dinheiro que conseguimos com a venda daquele relógio e nunca me esqueci disto!"

“Passaram-se os anos e ingressei no partido comunista. Dos céus ordenaram que a sua pasta caísse em minhas mãos. Fui guardando suas informações, mesmo sob o risco de ser descoberto e punido. Cada vez que pensava em mandar prendê-lo, lembrava-me daquele relógio de ouro”.

Depois desta conversa o interrogador liberou o senhor Mordehai e mandou preparar os papéis para a emigração. Em algumas semanas o inacreditável ocorreu: o senhor Mordehai e toda a sua família emigraram para Israel.


Continuou o rabino Dishon: “Muitas vezes pensamos que estamos fazendo um favor para os demais. O senhor Mordehai não pensou por um instante que poderia salvar a si, à sua família e ao Judaísmo de Minsk por quatro anos. Porém, nunca sabemos que bons atos podem gerar frutos que nos salvarão no final. Aquele pequeno ato de doar um relógio foi a sua salvação”.

E concluiu o rabino Dishon, o narrador desta história, para aquela senhora: "Não lamente que seu marido não pôde estar presente no Sêder. Com sua atitude ele ajudou a salvar alguém em estado de emergência e, quem sabe, talvez a si mesmo, à senhora ou a sua família! Não pense que quando auxiliamos alguém, estamos apenas ajudando à tal pessoa. Na realidade, estamos ajudando a nós mesmos!!"


Que o Criador nos ajude a viver conforme todas estas lições e que, por este mérito, possamos desfrutar de nossas descendências espirituais e biológicas todos os dias de nossas vidas! Que sejamos todos inscritos e carimbados no Livro da Vida!

Preces Mais Efetivas e Poderosas

A recente forte queda nas bolsas de valores em todo o mundo destruiu alguns e aterrorizou muitos. Aposentados estão se confrontando com a temível situação de ter a poupança de suas vidas se consumindo de forma alarmante enquanto muitas famílias estão enfrentando a estremecedora realidade de que o dinheiro que pouparam para o casamento ou a educação de seus filhos diminuiu consideravelmente.

Associado a esta drástica condição está o severo aumento do desemprego e o aumento geral no custo de vida em nossos dias. Todos estes fatores combinados resultam num clima financeiro sombrio. O que podemos fazer nestes tempos difíceis?

Ao mesmo tempo, o terrorismo está se expandindo no Oriente Médio e o mundo em geral está ativamente se preparando para um possível e horrendo ataque de bioterror.

Na arena social somos confrontados com o problema cada vez maior do número crescente de pessoas solteiras mais velhas que estão frustradas em seu desejo desesperado de encontrar alegria com um(a) companheiro(a) para a vida. Há também um alarmante crescimento nos problemas de infertilidade que está causando uma crescente angústia em um número cada vez maior de casais. Além disto, enquanto muito foi realizado para lidar com o número assustador de crianças que ‘escorregaram’ pelas frestas de nosso sistema educacional, ainda há uma quantia surpreendente de jovens que estão à mercê de uma completa gama de problemas que nossa sociedade tem a oferecer.

Este ‘bufê’ de infortúnios nos consterna e desencoraja. O que a Torá nos receita para lidar com estes problemas?

O rei David respondeu sucintamente: “Do sofrimento eu grito por ajuda (Salmos 118:5)”. Em outro versículo ele nos ensina: “Uma prece do carente quando ele se sente desmaiar (Salmos 102:1)”. De fato, todo o tema dos Salmos do rei David indica que as preces são a maneira correta de reagir quando a pessoa se encontra com problemas. Como ele próprio disse: “Uma prece com reflexão do rei David quando estava escondido numa caverna (Salmos (142:1)”, e também: “Um cântico de David enquanto fugia de Avshalom, seu filho (Salmo 3:1)”.

As páginas dos Salmos têm sido cobertas de lágrimas em todas as gerações conforme o Povo Judeu, de forma confiante, as utilizou durante as Cruzadas e inquisições, pogroms e expulsões, Holocausto e guerras. Ao nos prepararmos para energizar e revigorar nossas preces, analisemos alguns aspectos importantes sobre a tefilá (oração).


O primeiro princípio sobre o qual precisamos trabalhar para ter sucesso nas preces é internalizar que a pessoa está realmente conversando com D'us. Embora intelectualmente isto pareça elementar, na realidade muitas pessoas conversam com o Sidur (livro de preces) ao invés de focar Naquele Que está lá em cima. Isto ocorre mais comumente com as pessoas que moram fora de Israel e não falam hebraico e precisam ativamente traduzir as orações para entendê-las. Muitas pessoas, por distração, preguiça, cansaço, hábito ou falta de tempo, simplesmente pulam este passo e pronunciam as palavras da reza sem nenhum significado ou sentimento.

Então, mais uma vez, um primeiro e importantíssimo passo para uma carreira de sucesso nas rezas é elevarmos nossa percepção e consciência de que estamos realmente falando com D'us.


Uma vez que atinjamos este grande marco, o passo seguinte é fortalecer nossa crença de que, ao rezarmos corretamente, isto realmente ajudará a melhorar as nossas vidas. Muitas pessoas têm uma atitude apática e indiferente em relação às suas preces, talvez por não perceberem a grande melhoria que podem trazer na qualidade de suas vidas ao rezarem corretamente. Subconscientemente elas pensam: “Quem sou eu, qual a minha qualificação para que D'us deva me ouvir?” ou podem ponderar para si próprias: “D'us nunca Se importará de ouvir um pecador como eu”.

Estes pensamentos, embora comuns, são totalmente incorretos. Em nossa liturgia há uma prece que é recitada três vezes todos os dias chamada Shemona Esrê. Esta prece consiste de 19 bênçãos nas quais solicitamos saúde, entendimento, proteção, sustento, salvação, etc. Num de seus trechos há a seguinte frase: “Pois o Senhor, nosso D'us, ouve as preces de toda a Sua nação”. Os autores desta prece, o Grande Sinédrio de Jerusalém, vieram nos ensinar que D'us ouve cada uma e uma de todas as nossas preces. Portanto, se as proferirmos com sinceridade e significado, poderemos incrementar em muito a felicidade e o sucesso de nossas vidas e das vidas dos que nos cercam.


O próximo passo para uma oração valorosa é rezarmos em antecipação, não em reação, ou seja: antes de um problema acontecer e não como reação a ele. Por exemplo: o Talmud nos ensina (Shabat 32a): “A pessoa deve rezar sempre para não ficar doente”. O Talmud elabora e explica que é muito mais fácil prevenir uma doença do que livrar-se dela: uma vez que a pessoa ficou doente, precisará apresentar muito mais méritos espirituais perante D'us para curar-se do que para manter-se no status de ‘pessoa saudável’ que estava antes. Então devemos rezar diariamente para não sentirmos dores, não vermos manchas perturbadoras e nem inchaços, não sentirmos palpitações ou fraqueza.

O Talmud (Berahot 8a) explica que devemos orar em antecipação também para encontrar um shiduch (cônjuge) digno, ter sucesso nos estudos de Torá e até sobre o próprio funeral (que possa ocorrer sem acidentes ou infortúnios).

Meu bisavô, o Rabino Yossêf Weiss, Z”TL, que foi rabino da cidade de Sborov, na Rússia, comprou durante sua vida um lote para ser enterrado. De vez em quando ele ia visitar seu lote no cemitério levando o seu filho, Meir Weiss, Z”TL (o meu avô, que foi assassinado pelos nazistas em Aushwitz junto com sua esposa e cinco filhos jovens). Lá ele ia recitar Salmos sobre o seu futuro túmulo e costumava dizer que quando o seu dia chegasse, ele já teria um lugar ‘bem chorado’ para o seu descanso. Isto é um exemplo de orar em antecipação.

Um dos livros que fazem parte das Sagradas Escrituras é o livro de Yov (conhecido como Jó, em português). Nele está relatada a vida de um homem íntegro e temente a D'us, que passou por grandes sofrimentos em uma fase de sua vida. Num determinado trecho (Yov 36:19) o livro relata que os amigos que vieram consolá-lo pelo sofrimento e dar-lhe apoio moral lhe perguntaram: “Você organizou e planejou suas preces antes que todos estes problemas recaíssem sobre você?“ Em resumo, eles estavam lhe perguntando: “Você rezou em antecipação, de forma preventiva?”

É verdade que este tipo de prece não é algo fácil ou natural. A maioria das pessoas reza em reação a algum evento que lhe ocorreu. A mente humana não gosta de vagar muito tempo sobre possíveis problemas ou aborrecimentos. Quando as coisas estão indo bem não gostamos de pensar sobre uma potencial contrariedade ou aflição. Entretanto, isto faz parte da tarefa de orar – pensar à frente e com antecipação.


Há outra prece no Shemona Esrê em que dizemos: “O Senhor concede graciosamente sabedoria aos humanos”. Ao recitá-la devemos ter em mente um pedido de que os jovens se dêem bem na escola, que tenhamos sucesso no que estudarmos de Torá, que as pessoas saibam lidar sabiamente com seus cônjuges, pais, sogros, filhos, funcionários, patrões etc. Também devemos pedir para não esquecermos as coisas, algo que é muito frustrante e penoso. É uma realidade humana de que a maioria das pessoas, enquanto estão com sua capacidade mental totalmente alerta, não ponderam sobre o que o futuro pode trazer. Esta é a sabedoria de se rezar em antecipação, pedindo que nossas mentes se mantenham ágeis, vigilantes e perceptivas todos os dias de nossas vidas.


O próximo passo em nossa busca por ‘afiar’ nosso talento nas preces é começarmos a ficar mais ‘globalizados’ em nossas orações. Nossas rezas foram estabelecidas inicialmente como um substituto para as oferendas trazidas diariamente no Grande Templo de Jerusalém. Uma vez que eram oferendas públicas, a maioria de nossas preces está numa linguagem no plural. É algo muito mais bem visto aos olhos de D'us quando rezamos não meramente por nós próprios, mas por todo o povo.

Por exemplo: ao recitarmos a prece pela pronta recuperação dos enfermos (Refaenu) e pedindo por boa saúde, devemos considerar que a todo momento há alguém numa sala de cirurgias em algum lugar do mundo necessitando muito da misericórdia Divina. Nossa prece sincera de Refaenu pode representar uma total diferença para este paciente.


Nestes tempos de ‘esfriamento’ econômico, na prece em que pedimos por sustento (Barech Alenu), devemos ter em mente o enorme número de indivíduos passando de entrevista em entrevista, desesperadamente tentando encontrar um caminho para sustentar sua família.


De modo análogo, na prece por paz (Sim Shalom) devemos pedir a D'us por todos os casais que vivem constantemente discutindo e brigando, para que D'us os ajude na direção da tranquilidade doméstica.


O Talmud (Baba Kama 92a) nos traz uma lei espiritual muito interessante: “Aquele que reza por seu companheiro(a) e ele(a) mesmo precisa da mesma coisa que seu companheiro, este que reza será atendido antes”. O resultado prático deste ensinamento é que, ao rezarmos pela saúde e o bem-estar dos demais, seguramente estaremos ajudando a nós próprios também.


Que pelo mérito de aprimorarmos nossa habilidade em orar, o Todo-Poderoso possa realizar e satisfazer todos os nossos desejos para o bem!

Uma Idéia Memorável

Em meados de 2002, tive uma conversa com o então governador de Nova York, George Pataki. Mencionei a ele que um grupo de especialistas estava se reunindo para deliberar como comemorar o primeiro aniversário da tragédia da destruição das Torres Gêmeas do World Trade Center, a ocorrer no dia 11 de setembro de 2002. Algumas das idéias iniciais eram um momento de silêncio, um memorial no local do atentado e um grande concerto no parque.

Sugeri a seguinte idéia ao governador Pataki: “Façamos o dia 11 de setembro como um dia nacional de doação e auxílio. Uma vez que foi neste dia que o mais atroz e monstruoso ato de ódio sem sentido foi perpetrado, seria bastante apropriado que o contrabalanceássemos com um dia de ‘compartilhamento’ ilimitado uns com os outros. Quão admirável seria se 11 de setembro se tornasse um dia em que, ao invés de as pessoas abandonarem-se em sofrimento pelo desastre, vizinhos ajudassem uns aos outros, auxiliássemos os desempregados, fizéssemos a lição de casa com um órfão, visitássemos os idosos, fizéssemos amizade com os solitários e toda uma relação completa de outros atos abnegados e caritativos.

No Judaísmo o Hessed (bondade, caridade) é literalmente o ABC da vida. Como aprendemos no Talmud (Shabat 104a), as quatro primeiras letras do alfabeto hebreu são Alef, Beit, Guimel e Dalet. Elas são as letras iniciais da expressão (em hebraico) “Aprenda a entender e seja benevolente com os necessitados”. Vemos então que os ‘tijolos’ de nosso estilo de vida são o estudo da Torá e a prática de atos de bondade.

O Midrásh também nos ensina que a Torá (Bíblia) se inicia relatando um ato de bondade e conclui com um ato de bondade. Inicia-se com D'us preparando uma vestimenta para Adão e Eva (além da própria e grandiosa bondade de tê-los criado), e conclui com D'us, Ele próprio, enterrando Moshe, o profeta e líder máximo do Povo Judeu. Isto não apenas demonstra a importância do Hessed no estilo de vida judaico, mas também a atitude correta que devemos ter em relação a este tema. Muitas pessoas boas vivem vidas que revolvem em torno de si próprias e tentam encontrar algum tempo em meio à sua concorrida agenda para fazer alguma vista a enfermos ou ajudar os carentes. O Talmud veio nos ensinar que precisamos colocar a realização de atos de bondade e caridade no centro de nossa agenda diária e não apenas relegá-los a um papel de atividade casual quando a chance aparecer.

Todos tentamos ser bons. O que define o Povo Judeu? O Talmud (Avodá Zará 79a) nos revela que um Judeu possui três características que o definem: “Somos um povo com um forte sentimento de vergonha, demonstramos compaixão e temos um desejo inato de praticar atos de bondade”. Então é incumbente sobre nós fazer um balanço pessoal e vermos se de fato estamos de acordo com as nossas tendências nacionais e se temos estas ambições de ajudar com simpatia todos aqueles que estão ao nosso redor.

Na festividade de Shavuót lemos o Livro de Rut. O Midrásh faz uma pergunta fundamental sobre este livro. Após uma leitura compenetrada de seus capítulos, descobrimos que não há ensinamentos sobre leis de pureza e impureza espiritual, nem discussões sobre as leis do que é permitido ou proibido na religião. Por que, então, pergunta o Midrásh, este livro está incluído nas Sagradas Escrituras? Sabemos que os 24 livros que fazem parte das Sagradas Escrituras vieram ensinar inúmeras lições para todas as gerações. Respondeu o Midrásh que o Livro de Rut é dedicado a nos ensinar quão grande é a recompensa para aqueles que praticam atos de bondade.

Não é coincidência que este livro seja lido no dia em que comemoramos a outorga da Torá no Monte Sinai. Esta escolha nos revela que a Torá é Torat Hessed – dedicada ao fomento e promoção de atos de bondade por todas as nossas vidas. Além disto, Shavuót é o Yortzait (a data de falecimento) do rei David, descendente de Rut. Isto nos ensina que um rei judeu precisa ser a própria personificação da bondade e generosidade. Este é um pré-requisito para liderar o povo, como ocorreu com o rei David, o descendente direto da bondosa e caridosa Rut.

De modo similar, o louvor maior que a Torá utiliza para homenagear o Sumo-Sacerdote do Povo Judeu, Aharon HaCohen, é que ele era um amante da paz e que ativamente buscava a paz (Pirkei Avót 1:12). Para ter a oportunidade de entrar no local mais sagrado do Judaísmo, a parte do Grande Templo de Jerusalém conhecida como Kodesh HaKodashim, este homem necessariamente teria de ser do tipo que focava nas necessidades dos demais – não em si próprio – e que irradiava bondade e preocupação pelos outros.


Em nossos tempos conturbados - quando precisamos juntar dinheiro para comprar coletes à prova de bala para as crianças no sul de Israel – é imperativo que reconheçamos os poderes protetores do Hessed. Num trecho importantíssimo do Talmud (Taanit 21b), a Torá nos revela o escudo protetor que os atos de bonmas também para toda a sua vizinhança. O Talmud relata que na cidade de Sura, uma grande metrópole na antiga Babilônia, ocorreu uma epidemia devastadora que ceifou muitas vidas. Mas na vizinhança em que morava um rabino chamado Rav, todos foram poupados. Os habitantes da cidade estavam seguros que isto se devia aos méritos espirituais do grande líder do Povo Judeu na época, Rav. Todavia, de noite eles tiveram um sonho em que lhes foi dito: “É verdade que os méritos espirituais de Rav são muito grandes, mas este evento sobrenatural deveu-se a um certo senhor generoso que vive naquela vizinhança e que regularmente empresta sua enxada e pá para enterrar os indigentes”.

O Talmud então cita outro caso em que houve um incêndio arrasador na província de Drokerot, mas na área próxima de onde morava um rabino chamado Rav Huna, todas as casas foram poupadas. Os habitantes da cidade estavam certos de que o mérito espiritual do grande Rav Huna os salvara. Naquela noite lhes foi mostrado num sonho que não foi necessário utilizar os méritos de Rav Huna. Na verdade, a salvação veio pelo mérito de uma senhora bondosa em sua vizinhança que permitia aos pobres utilizarem seu forno diariamente para prepararem sua comida.

Aprendemos deste trecho do Talmud uma lição impressionante e poderosa – especialmente para os tempos atuais – de como atos regulares de bondade e generosidade podem proteger nossas famílias, as pessoas de que gostamos e muito mais. Portanto, se seu vizinho regularmente lhe pede o aspirador de pó emprestado, não seja pouco generoso(a). As recompensas para cortesias tão simples podem ser tremendas.


O Rabino Eliezer Papo (Bulgária, 1785-1828) escreveu em seu livro Pele Yoetz que ficou estupefato sobre como as pessoas gastam grandes somas para comprar o direito de segurar a Torá, abrir a Arca Sagrada ou ser o Sandak (a pessoa que segura o bebê) num Brit Milá. Ao final das contas, estas atitudes não são Mitsvót (mandamentos) de origem bíblica e nem rabínica, mas apenas costumes. Não obstante, estas pessoas se abstêm de atos simples de bondade que são tremendos mandamentos da Torá, como “Ame seu próximo como a si mesmo” e “Ajude ao próximo”.

Ele também recita louvores aos que compram coisas com o objetivo específico de emprestá-las aos demais. Por exemplo: alguém que compra um cortador de grama ou removedor de neve para emprestar aos idosos de sua rua, ou alguém que tem um quarto de visitas em casa disponível para parentes de vizinhos que aparecem para alguma festividade. Aqui também se inclui os que compram livros para colocá-los à disposição do público (não em sua própria estante). Estas pessoas estão ‘aplicando’ muito sabiamente em investimentos espirituais de grande retorno futuro.


O Rabino Yitschák Silberstein, rabino em Bnei Brak, Israel, relata em seu livro Tuvha Yabiu que alguns cabalistas (místicos) testemunharam sobre algo que lhes foi revelado a partir do Mundo Vindouro: há uma grande recompensa aguardando aqueles que distribuem pitadas de rapé (que nos dias de antigamente era um prazer raro e caro) na sinagoga. Isto se deve porque seu ato de dar prazer aos frequentadores da sinagoga ocorre de forma contínua e regular, e por isto serão amplamente recompensados. Poderíamos talvez ‘traduzir’ isto para os dias de hoje como aqueles que fornecem café, chá, leite, etc, aos frequentadores das sinagogas.

De modo similar, o livro Tzavaot D’Rabi Yehuda HaHassid escreveu quão admirável é carregar constantemente dinheiro trocado no bolso para poder dar para alguém que está em necessidade. Ele explicou que o recebedor fica normalmente muito grato, causando que o abençoe (o que já é uma boa lição por si só!), algo normalmente endossado pelo Todo-Poderoso. Portanto, carregar moedas para ajudar alguém que precise de troco pode ser um efetivo meio de se fazer Hessed.


Sabemos que o nível mais elevado de Hessed é o Hessed Shel Emet – ‘a bondade verdadeira’. Esta expressão é comumente utilizada ao se fazer bondades para com um(a) falecido(a), quando não há possibilidade de se receber recompensa do(a) beneficiário(a) e, portanto, é uma manifestação de generosidade desinteressada. Conta-se sobre o Rabino Haim Sofer Z”TL que ele desejava fazer Hessed Shel Emet. Entretanto, uma vez que sua constituição física frágil não o permitia, ele adotou a seguinte atitude: todos os dias, após recitar a bênção matinal agradecendo a D'us por ‘devolver a alma aos corpos’ (pois ao acordarmos passamos de um estado de mínima atividade para um de total consciência e agilidade) ele estudava mishnaiót (trechos da Torá) em memória das pessoas que faleceram em campos de batalha, prisões ou outras almas que provavelmente não teriam quem se enlutasse por elas. Desta maneira ele teria sua parte no importante ato de Hessed Shel Emet.

O livro Pele Yoetz sugere que de vez em quando devemos recitar uma prece para um amigo, parente ou conhecido que já se foi para o Mundo Vindouro, que sua vida após a morte seja honrável e pacífica.

Um jovem aluno de uma Yeshivá certa vez perguntou ao Rabino Yitschák Silberstein Shelita [rabino em Bnei Brak, Israel] por que ele deveria recitar um trecho das orações de Yom Kipur em que consta a frase: “Perdoe-nos [D'us] por ter realizado transações comerciais indevidas” quando ele nem tinha dinheiro próprio, tornando impossível que tivesse cometido esta transgressão. Embora a resposta mais simples a esta questão é que este texto está no plural e, portanto, refere-se aos que possam sim ter feito este equívoco, o Rabino Silberstein deu-lhe uma resposta muito interessante. Ele citou, em nome do Rabino Kanareck Shelita (EUA), que se alguém faz um ato de bondade tendo em mente receber pagamento em troca, este ato beira uma cobrança indevida, uma transação financeira imprópria. Cabe a nós, então, tentar imitar o comportamento de D'us que, como consta no início das preces diárias do Shemona Esrê: “[D'us] Que nos concede ‘boas’ bondades”. Logo poderíamos perguntar: “Mas existem ‘boas’ bondades e ‘más’ bondades?” A resposta é que um bom Hessed é a bondade praticada sem motivos ulteriores, um ato de pura generosidade sem nada ‘amarrado’. Estes são os tipos de atos que devemos nos esforçar para realizar.

Em nossos dias vivenciamos um triste aumento da taxa de divórcios dentro do nosso povo. O Povo Judeu, que é conhecido por ter uma forte unidade familiar, tem sido tragicamente influenciado pelo meio ambiente e está testemunhando a dissolução de uma quantia incomum de famílias. Acrescente-se a isto muitos casamentos que permanecem intactos mas que são experiências frustrantes para um ou ambos os cônjuges. Existem, infelizmente, muitos casais que permanecem juntos pelo bem de seus filhos, por vergonha ou insegurança, mas ao mesmo tempo vivendo vidas muito desagradáveis.

Uma das razões para este fenômeno é a falta de treinamento que é dado aos nossos filhos em seu processo de desenvolvimento de como serem mais generosos e menos egoístas, como enxergar de modo ampliado as necessidades do outro cônjuge ao invés de simplesmente ocupar-se com “comigo, eu e mim”.

O Talmud [Sucá 49b] cita o versículo escrito pelo rei Salomão no livro Mishlei (Provérbios 31:26): “A Torá da bondade está nos lábios de uma mulher virtuosa”. O Talmud pergunta: “Isto quer dizer que existe uma Torá que não é de bondade?” e responde que o estudo de Torá realizado com o intuito de transmiti-lo aos demais é uma Torá de bondade. Porém, estudar apenas para guardar os conhecimentos para si próprio é uma Torá sem bondade.

Há muitos jovens que se dedicam com total afinco a seus estudos. Devido à sua carga horária puxada, muitas vezes eles(as) perdem de vista a arte de dar e compartilhar. Apesar de muitas vezes lerem ou ouvirem palestras sobre comportamento ético, que transmitem mensagens de altruísmo e generosidade, às vezes a teoria não é o suficiente.

E quando este(a) jovem chega ao casamento e de repente tem que dar e compartilhar, deixar de lado as suas próprias vontades por causa de seu cônjuge de forma regular e contínua, às vezes ele(a) fica confuso sobre como fazê-lo pois simplesmente está mal preparado para este relacionamento.

Além disto, muitos jovens, quando finalmente tem suas férias após seus estudos intensivos, suas famílias lhes proporcionam conforto e tranquilidade, não lhe pedindo para fazer qualquer trabalho ou atividade necessária em casa. Infelizmente isto não é nenhum favor que se está fazendo a ele(a). Em casa o jovem deve também ajudar a limpar a mesa, arrumar o que for necessário para deixar a casa em ordem, etc. Mesmo que tenha mais irmãos ou irmãs, este treino é necessário para um futuro onde esperamos que ele(a) também participe nestas atividades para ajudar o seu cônjuge.

Nas Yeshivót (plural de Yeshivá) também se encoraja os alunos mais velhos a estudarem com os mais novos pelo menos uma vez ao dia. Este ‘veterano’ poderia retrucar que aproveitaria melhor seus estudos se estudasse com alguém de sua idade ou mais velho, uma vez que estes estudos seriam intelectualmente mais difíceis e desafiadores. Isto é verdade, mas há dois benefícios ao estudar com alguém mais jovem. Primeiro, ele afiará sua capacidade de expressão e clareza ao falar, o que lhe será muito útil no futuro. Segundo, esta é uma outra maneira de treinar a pessoa diariamente a pensar nos demais e a dar de si para o bem dos outros ao invés de focar somente em si própria.

Devemos também incentivar nossos jovens a visitarem os enfermos e incapacitados, visitar pessoas sozinhas em lares de idosos (que muito anseiam por conversar) e outros possíveis atos de generosidade. Embora as moças estejam frequentemente à frente dos rapazes no campo do Hessed, as famílias devem se assegurar de não privar suas filhas das responsabilidades do lar, também. Mesmo que tenham alguém que auxilie na limpeza da casa, isto não significa que as moças devam perder este treinamento vital de acostumar-se a ajudar, cuidar e compartilhar.

Então, voltando ao início, a sugestão de se fazer do dia 11 de setembro um dia dedicado à cooperação, isto não significa que deve ser um evento de um dia por ano! Pelo contrário, do mesmo jeito que o Dia das Mães transmite a mensagem de quão importante as mães são e como devemos pensar nelas e servi-las regularmente, então que este dia de cooperação incondicional, cuidado, compartilhamento e sentimento nos influencie e empolgue para o hábito vital de nos comportarmos desta maneira o ano todo.


Que por todas nossas boas decisões para o futuro, o Todo-Poderoso possa nos abençoar sempre com a presença de Sua Shehiná em nossos lares, com boa saúde, harmonia e com incrível idishe nachas (satisfação Judaica) de nossos filhos e netos!

Ketivá VeHatimá Tová!