Garantindo Um Ano Feliz
Rabino Paysach J. Krohn
Sobre o Autor

Um dos maiores e mais solicitados oradores americanos da atualidade, o rabino Payssach J. Krohn conquista sua platéia através de suas idéias e das histórias que utiliza para frisá-las.

Conhecido mundialmente por sua série de livros sobre o Maguid de Jerusalém, o rabino Shalom Shwadron Z”tl (The Maggid Speaks, Around the Maggid’s Table, In The Footsteps of the Maggid, Along the Maggid’s Journey, Echoes of the Maggid e Reflections of the Maggid), repleto de histórias do cotidiano judaico, desde os anos 1700 até hoje, suas palestras são recheadas de humor, animação, sensibilidade, calor humano e sabedoria. Suas palestras, fitas cassete, vídeos e livros são entusiasticamente aguardados e bem-vindos em todo o mundo.

Seu estilo é inconfundível: transmite suas importantes mensagens falando um inglês muito rápido, mesclando seu gigantesco repertório de histórias com muitas ‘tiradas’ de humor.

O Rabino Krohn faz parte da quinta geração de uma família de mohelim e é autor do livro Bris Milah, um livro amplamente aclamado sobre as leis e costumes desde o nascimento da criança até a circuncisão. Nesta palestra ele mescla histórias e exemplos de sabedoria, idealismo, humor, amor, animação e sensibilidade por nossos irmãos.

Se ele tem sucesso? Pergunte a alguma das milhares de pessoas que comparecem às suas palestras ou que fazem de suas fitas parte indispensável de suas vidas.

Boa leitura!

Existe uma passagem no Talmud (Taanit 29a) que diz o seguinte: “Quando se inicia o mês hebreu de Adár devemos aumentar nossa alegria, ao passo que durante o mês hebreu de Av, devemos diminuir nossa alegria”. O motivo disto é que, entre várias coisas, Adár é o mês em que comemoramos a festa de Purim, enquanto no mês de Av ocorreram as destruições dos dois Templos Sagrados de Jerusalém. O Rabino Shimon Schwab, rabino da sinagoga K’hal Adat Yeshurun, em Nova York, explicou uma coisa muito interessante a partir deste trecho do Talmud: “O Talmud está nos ensinando que às vezes devemos aumentar nossa alegria e às vezes diminui-la, mas o fato é que alegria deve sempre existir, o ano inteiro. Um Judeu ou Judia deve viver sempre com alegria!”.

O Rei Salomão, em seu livro Mishlei (Provérbios) (17:22) nos ensina: “Um coração feliz é um maravilhoso remédio, um grande tônico. Já um espírito alquebrado suga as energias da pessoa”. Em outras palavras: o Rei Salomão está nos ensinando que a alegria é algo que complementa o físico da pessoa, que promove uma vida saudável e faz com que nos sintamos melhor.

Em outro trecho, o Talmud (Taanit 22a) nos relata que o Profeta Eliahu (Elias) estava caminhando com o Rabino Beroka. Ao passarem perto de duas pessoas, o Profeta falou ao Rabino: “Estes dois homens já têm garantido seu lugar no Mundo Vindouro”. O Rabino, muito surpreso, aproximou-se dos dois sujeitos e falou: “Desculpem-me. Por favor, o que vocês fazem na vida? Ouvi falar que vocês são muito especiais!” Os rapazes responderam: “Nós somos apenas pessoas felizes e que fazemos os outros felizes. Ao vermos alguém infeliz, nos aproximamos e fazemos todo o possível para que fique feliz também!”.

Impressionante, não? Esta palestra tem o objetivo de demonstrar e ensinar como podemos nos tornar pessoas alegres e que ajudam o próximo a também ficar alegre, conquistando e proporcionando um ano alegre e feliz para todos nós.

 

Qual o primeiro passo para nos tornarmos pessoas de alegria? A resposta é um versículo no Salmo número 100:2: “Yvdu et Hashém Besimcha – Sirvam o Criador com alegria! ”Parece fácil. Mas como fazê-lo? A resposta, dada por Rebes Hassídicos, está na continuação deste mesmo versículo: “Bou Lefanav Birnaná – Venham a Ele com cânticos”. As três primeiras letras em hebraico destas palavras (Beit, Lámed e Beit) formam a palavra hebraica ‘Belev’ – com o coração. O segredo de servir o Todo-Poderoso com alegria é utilizarmos o coração, ou seja, agirmos com entusiasmo.

A própria Torá, no livro Devarim (28:47), quando trata das maldições que recairiam sobre o Povo Judeu no futuro, faz uma declaração assustadora: “Todas estas maldições virão porque vocês, Povo de Israel, não serviram D’us com alegria e satisfação quando tudo lhes era abundante”. O Rabeinu Bahie (1263-1340) explica este versículo da seguinte maneira: “É verdade que vocês, Povo de Israel, fizeram o que D’us lhes ordenou, mas faltou o componente da alegria. A alegria em si também é um mandamento da Torá e deve acompanhar a realização dos demais mandamentos Divinos”.

O livro Pele Yoets, de autoria do Rabino Eliezer Papo, traz uma explicação muito interessante sobre o mandamento de cumprirmos as mitsvót com alegria: “É verdade que a recompensa pelo cumprimento das mitsvót não é pago neste mundo, apenas no Vindouro, mas existe sim uma recompensa neste mundo e ela vem por cumprirmos as mitsvót com alegria e regozijo”.

Outra explicação para o versículo acima, “... porque não serviram D’us com alegria e satisfação ...”, é a seguinte: a palavra ‘serviram’, em Hebraico é ‘Avadetá’. Ela também pode ser utilizada na expressão ‘Avodá SheBaLev’, que literalmente quer dizer ‘Servir com o coração’. E como é possível servir D’us com o coração? A resposta é: rezando! Talvez, fala o Rabino Eliezer Papo, o que a Torá esteja nos transmitindo é que devemos tentar rezar com mais entusiasmo, com mais alegria.

Alguns anos atrás houve uma convenção da Agudat Israel dos EUA (uma convenção onde grandes palestrantes discorrem sobre uma variada gama de assuntos Judaicos) e um dos assuntos abordados foi sobre as pessoas que conversam na Sinagoga durante os serviços religiosos. Infelizmente muitas pessoas conversam na Sinagoga enquanto os demais estão rezando. Qual a causa disto? Um dos motivos alegados é que elas se sentem aborrecidas e entediadas durante as orações em hebraico. Qual o motivo? Elas não entendem o que está sendo falado.

Em minha humilde opinião, a solução para termos mais sucesso nas orações é estudarmos o significado das rezas, dos Salmos e da Torá. Talvez pegar o Livro de Rezas (Sidur) em português e descobrir o significado das orações antes de começarmos a rezar. Podemos comparar esta situação com a de um músico: antes de apresentar-se em público, ele se prepara até ficar ‘tinindo’, pois na hora do recital não dá para tentar aperfeiçoar praticamente nada. Devemos ler e aprender o significado das orações antes de começarmos a rezar, pois na hora em que estamos ‘conversando’ com D’us, devemos nos apresentar da melhor maneira possível. Desta forma, com certeza faremos uma oração mais eficaz e eficiente, e logicamente, com mais alegria e empolgação.

Para ilustrar melhor este ponto, de alegria e serenidade nas orações, e da alegria resultante, gostaria de lhes trazer uma incrível história que me foi contada pelo Rabino Yisroel Grossman, dayán (juiz) em Jerusalém, sobre seu pai, o Rabino Zalman.


O Rabino Zalman Grossman era um Judeu extremamente piedoso, em Jerusalém, que manifestava uma singular abordagem na observância do Shabat: do pôr-do-sol de sexta-feira à tarde, até o final da Havdalá, sábado à noite, ele não dormia.

Explicava este costume a seus filhos, dizendo: “O Talmud (Shabat 119a) refere-se ao Shabat como uma bela rainha. Portanto, todo Judeu neste dia deve ser considerado como um rei, que tem a oportunidade de passar seu tempo com a rainha”. Contava-lhes, então, uma parábola: “Havia um rei que dormia muito pouco. O povo de seu reino lhe perguntava por que agia assim, e ele lhes respondia: ‘Quando durmo, sou como qualquer outro. Somente quando estou acordado e consciente de quem realmente sou, é que percebo que sou o Rei’. Portanto”, R’ Zalman continuava, “por que devo desperdiçar, ao dormir no Shabat, cada precioso momento desta maravilhosa oportunidade que tenho de passar com a Rainha Shabat?”.

R’ Zalman passava todo o Shabat estudando mishnaiót, recitando os Salmos, cantando zemirót ou rezando com grande fervor. Mesmo sendo pobre, no Shabat R’ Zalman personificava a realeza.

Em 1912, quando Israel (então chamado Palestina) estava sob domínio turco, a pobreza se espalhava por todo o país. As pessoas estavam literalmente morrendo de fome e havia poucas oportunidades de emprego. R’ Zalman não tinha outra opção que não deixar Israel por alguns anos, ir para os EUA e arrumar alguma forma de viver, para poder retornar e sustentar sua família. Emprestou dinheiro para a passagem, embarcou no navio e começou sua longa jornada pelo Mar Mediterrâneo e através do Oceano Atlântico.

Na primeira sexta-feira a bordo, R’ Zalman decidiu se portar da mesma maneira que fazia em terra: iria cumprir o Shabat da mesma forma que fazia todas as semanas. Depois de rezar com calma e serenidade, cantou Shalom Aleichem, Ribono shel Olám, Éshet Chail, fez o Kidush e comeu sua refeição de Shabat. Durante a refeição - que fez sozinho - cantou zemirót (músicas especialmente compostas para serem cantadas no Shabat) e examinou um dos muitos livros que trouxera consigo. Depois, sentou-se em um canto e começou a estudar mishnaiót.

O que não havia percebido é que, mais ou menos a partir do meio de sua refeição, continuando até depois, quando estudava as mishnaiót e a porção semanal da Torá, um homem estava em pé, de lado, observando-o. Por horas o homem observou, com surpresa, enquanto R’ Zalman absorvia a beleza e o esplendor do Shabat. Finalmente, o homem foi dormir, mas R’ Zalman permaneceu acordado toda a noite.

Pela manhã, o homem de novo observou a intensidade e a doçura das orações de R’ Zalman. Assistiu como fazia o Kidush, cantava as zemirót novamente e comia sua refeição, completamente envolto na santidade do Shabat. Por toda a tarde, em Minchá e na Seudá Shelishit (a terceira refeição de Shabat), o homem continuamente observava R’ Zalman. Finalmente, depois da Havdalá, o cavalheiro se dirigiu para onde R’ Zalman estava.

Começou a falar com respeito e admiração: “Observei-o por horas durante o Shabat. Nunca em minha vida vi alguém se envolver tanto com a beleza do Shabat como o senhor o fez. Mal consigo começar a lhe contar o quanto fiquei tocado por seu comportamento. Talvez o senhor não saiba quem eu sou, mas meu nome é Barão Rotschild”.

O Rabino Zalman estava verdadeiramente surpreso com as palavras deste homem e mais surpreso ainda com o fato que havia sido observado durante todo o Shabat. Os dois homens iniciaram uma curta conversa sobre suas origens e experiências e, quanto mais o Barão conversava com R’ Zalman, mais fascinado ficava com aquele homem. Então, de repente, o Barão fez uma declaração surpreendente: “Sr. Zalman, gostaria de honrar qualquer pedido que o senhor possa ter. Dar-lhe-ei 15 minutos para pensar e então me informe o que posso fazer pelo senhor”.

R’ Zalman não podia acreditar nesta súbita mudança da sorte. Tudo que tinha a fazer agora era pedir ao Barão Rotschild uma substancial quantia de dinheiro e, então, poderia pegar o primeiro barco de volta para Israel, poupando-se da humilhação de recolher dinheiro para si e sua família.

R’ Zalman voltou para sua cabine para refletir sobre o assunto. Mas quanto mais pensava, mais lhe vinha à mente um apuro:

Dois dias antes de partir de Israel, o irmão do Rabino Zalman, o Rabino Shlomo Levi, veio falar-lhe. R’ Shlomo Levi era um dos fundadores de Mishmár HaYardên, um mosháv (povoado) no norte de Israel, perto da fronteira com a Síria. R’ Shlomo explicou ao irmão que seu mosháv, bem como outros dois moshavim - Rosh Piná e Yesód HaMaláh - estavam infestados por malária. Crianças e idosos estavam morrendo diariamente como resultado desta terrível doença, e jovens pais eram confinados em suas camas, não podendo trabalhar para sustentar suas famílias. A situação estava piorando a cada dia que passava. Simplesmente não havia medicamentos para todos. “Quando você for para a América”, R’ Shlomo lhe implorou, “por favor, não se esqueça destas crianças e dos idosos. Famílias estão sendo dizimadas porque não há dinheiro suficiente para os medicamentos. Cada dólar que você nos mandar ajudará a salvar vidas”.

Agora, sentado sozinho em sua cabine, R’ Zalman estava num terrível dilema. Sua inclinação natural era tentar salvar sua própria família das garras da extrema pobreza e da fome. Mas o que seria das centenas e centenas de pessoas naquelas comunidades no norte de Israel? Após alguns minutos agonizantes, tomou sua posição e saiu ao encontro do Barão.

“Já decidiu o que gostaria de ter?”, perguntou o Barão.

“Sim, senhor”, respondeu o Rabino. “Tenho um irmão que se relaciona com três comunidades no norte de Israel. A área está infestada pela malária, que está causando a morte de muitas crianças e seus pais. Se o senhor conseguir alguma forma de enviar médicos para estas comunidades e tratar os doentes, este seria o maior favor que faria por mim”.

O Barão deu sua mão a R’ Zalman, cumprimentou-o e disse que faria o máximo possível. O resto da viagem transcorreu sem novidades. R’ Zalman finalmente chegou a Nova York e montou um escritório na parte sul de Manhattan, para poder recolher fundos para a Yeshivá Ohel Moshe, em Jerusalém.

Quatro meses após sua chegada, o Rabino Zalman recebeu uma carta de seu irmão, R’ Shlomo Levi. Após os cumprimentos preliminares, lia-se na carta: “Meu querido irmão Zalman, não sei como começar a descrever o que tem acontecido por aqui nas últimas semanas. De repente, do nada, como o maná que caía do céu, médicos e enfermeiras chegaram às nossas cidades, com caminhões repletos de medicamentos e suprimentos. Abriram 3 diferentes farmácias, distribuíram pílulas para os doentes, aplicaram injeções em quem precisava e prescreveram medicamentos. Quase imediatamente as pessoas pararam de morrer. Pode-se ver a saúde das pessoas melhorando dia-a-dia. Um período de 24 horas transcorreu sem que houvesse nenhuma morte. Estamos todos muito gratos a Hashém por esta súbita mudança nos acontecimentos. Pela primeira vez, em semanas, as pessoas estão realmente sorrindo e esperançosas”.

R’ Zalman mal podia acreditar no que estava lendo. O Barão tinha realmente atendido seu pedido! O Rabino continuou lendo a carta: “Meu querido irmão, você não precisa se preocupar mais conosco. Hashém tomou conta da gente. Preocupe-se com seus próprios problemas e, possa você e os seus serem ajudados da forma que nós o fomos”.

R’ Zalman leu a carta uma segunda vez, absorvendo cada palavra. Quando acabou, colocou o rosto sobre as mãos e chorou. Ele tinha realizado um ato básico e definitivo de héssed (bondade), pois ninguém em Mishmár HaYardên ou nos moshavim vizinhos imaginava que era ele o responsável pelas incontáveis vidas que foram salvas.

Anos depois, R’ Zalman contaria a suas crianças: “Chorei por outro motivo, também. Chorei porque estava muito agradecido a Hashém por ter me dado forças para superar minha inclinação natural de salvar minha família primeiro. Precisei de bastante coragem para pensar nos outros naquele difícil período de minha vida. Que eu tivesse sido capaz de reunir tanta força e ver os frutos de minha ação, isto foi indescritível. Como tive tanta sorte de ser capaz de beneficiar, de alguma forma, as pessoas de Klal Israel !!”

E as pessoas nos moshavim nunca souberam por quem foram ajudadas!

 

Qual exatamente é a alegria que devemos procurar sentir? O Rei David, nos Salmos (31:8), diz o seguinte: “Aguila Veesmeha Behasdeha - Exultarei e me alegrarei com Sua benevolência”. A palavra ‘Aguila’ tem sua origem na palavra hebraica ‘Gal’, que significa ‘onda’. Muitas vezes entramos numa tremenda ‘onda’ de alegria: um amigo ficou noivo, outro ganhou um bebê, o terceiro ganhou na loteria, etc. Mas na realidade, ninguém consegue viver o tempo inteiro numa ‘onda’ de alegria, pois uma onda é algo passageiro. Já a palavra seguinte, ‘Veesmeha’, vem da palavra hebraica ‘Simhá’, alegria. O Rambam (Maimônides, 1135-1204) nos ensina: “Não viva em extremos, entre a euforia e a depressão, e sim contente todos os dias de sua vida, sereno e com um semblante sorridente no rosto”. Esta é a alegria que devemos procurar ter: aquela acompanhada de tranquilidade, serenidade, sem altos e baixos, sem sobressaltos. Certa vez o Rabino Avraham Pam Z”tl (EUA, 1913-2001) contou sobre um artigo que ele lera quando jovem: “As pessoas estão sempre procurando uma Cidade de alegria, mas não percebem que tudo depende do Estado de espírito”.

Esta é uma grande verdade: tudo depende do estado de espírito de cada um. Certa vez um homem casado há um ano foi conversar com o Rabino Eliezer Menachem Man Shach Z”tl (1898-2001), um dos maiores líderes de nossa geração, e lhe fez a seguinte pergunta: “Minha esposa deu à luz uma menina. O sr. acha que eu deveria dar um kidush na sinagoga, afinal eu gostaria de ter tido um menino?” O Rabino, muito desapontado com o menosprezo pela menininha, perguntou-lhe: “Diga-me uma coisa: se você estivesse casado há dez anos e não tivesse nenhuma criança, e agora D’us lhe abençoasse com uma menina, você não daria uma tremenda festa? D’us lhe poupou nove anos! Que tipo de pergunta é esta que você veio me fazer?”

Muitas vezes um noivo ganha um relógio de ouro de sua noiva. Não é maravilhoso ganhar um relógio de ouro? Mas ele fica desapontado. Por que? A pulseira era apenas de couro. Nem se recorda que um relógio de ouro é algo muito caro! O mesmo ocorre hoje em dia com aparelhos celulares. A pessoa compra um modelo novinho, fica toda feliz até ... descobrir que o celular do amigo tem uma função que o seu não tem. Mas o seu é novinho: toca musiquinhas, entra na Internet, responde ao seu comando de fala, só falta dançar! Novamente vemos que o importante é o estado de espírito, a maneira pela qual a pessoa encara e enxerga os acontecimentos em seu dia a dia. A atitude frente aos fatos que nos aparecem é tudo!

Outra coisa que precisamos saber para sermos pessoas de alegria é que nada ocorre por acaso ou por coincidência: tudo faz parte de um plano Divino. Muitas vezes gostaríamos que determinada coisa ocorresse, ou gostaríamos de comprar tal casa, ou vender o carro por um bom preço, ou de entrar num bom emprego, ou um jovem deseja sair com tal moça ou uma moça quer sair com determinado rapaz, etc, mas nada do queríamos acontece. Saibamos que nada disto é motivo para perdermos nossa alegria, para ficarmos arrasados. Existe um Plano Mestre.

Leiam esta história:

O Rebe de Skulener, Rabino Eliezer Zisya Portugal (1896-1982), era conhecido pelo mundo inteiro por seu infinito Ahavát Ysrael (amor pelo Povo Judeu). Ele e sua esposa pessoalmente adotaram quase 400 crianças após a 2a Guerra Mundial e tomaram conta de suas necessidades tanto físicas como espirituais.

Quando jovem, na Romênia, certa vez foi preso pela acusação de enviar jovens para estudar numa Yeshivá ao invés de alistarem-se no exército romeno, onde com certeza seriam afastados do caminho do Judaísmo. A polícia o jogou dentro da solitária, tirou seus óculos, sua kipá (solidéu) e o deixou sozinho numa cela escura e suja. O Rebe era uma pessoa de constituição frágil e estava adoentado, e agora, naquela cela – onde o único lugar para se sentar era a terra úmida e fria – pensou que seu fim havia chegado.

O Rebe era conhecido por sua tremenda concentração nas orações. Sua reza da manhã (Shaharit) podia levar até 4 horas, e seu Shemá Israel cerca de 25 minutos. Ele era muito meticuloso na pronúncia de cada palavra. Lá, na prisão, sem nenhum outro assunto para distrai-lo, o Rebe cobriu sua cabeça com a jaqueta e começou a rezar com paixão e emoção. Aí ele chegou na prece de Baruch Sheamar. Esta prece inicia-se com uma série de frases nas quais abençoamos os vários aspectos do Todo-Poderoso.

O Rebe concentrou-se em cada frase como nunca o havia feito antes: “Baruch Sheamar Vehaia Haolam – Abençoado é Aquele que falou e o mundo passou a existir”; “Baruch Omer Veosse – Abençoado é Aquele que fala e faz”, “Baruch Gozer Umekaiem – Abençoado é Aquele que decreta e cumpre”. Mas ao pronunciar esta última frase, uma questão lhe ocorreu: O termo ‘Gozer’, decretar, é normalmente utilizado num contexto severo, não desejável às pessoas. Mais ainda, a frase continua: “Umekaiem – e cumpre”! Todas as outras frases desta oração ressaltam coisas positivas que o homem se regozija com elas. Por exemplo: “Abençoado é Aquele que tem misericórdia sobre a terra”, “Abençoado é Aquele que dá uma boa recompensa aos que O temem”, “Abençoado é Aquele que vive para sempre”. Então o que este termo tão duro estava fazendo entre os demais?

O Rebe ficou pensando por bastante tempo até que a resposta lhe veio! Ele ficou tremendamente feliz, pois agora sentia que havia entendido o significado de “Gozer Umekaiem”.

A palavra ‘Mekaiem’, além de significar ‘cumprir’, significa também perseverar, aguentar, superar. Então, o significado da frase era o seguinte: “Muitas vezes D’us decreta algo contra o homem, algo que o faz sofrer. D’us entende que isto é necessário para o bem desta pessoa. Mas ao mesmo tempo, o Todo-Poderoso dá forças e poder para a pessoa resistir e superar este teste”.

O Rebe percebeu que, naquele momento, ele estava sofrendo um destes decretos. Mas, a partir daquele instante teve certeza que ele seria também um ‘Mekaiem’, alguém que sobrepujaria o decreto e que não mais havia motivo para depressão.

E realmente, em poucos dias, com a intervenção de pessoas de fora, o Rebe foi libertado pelas autoridades romenas.

Daqui aprendemos que precisamos sempre manter a calma e a serenidade. Nada de desespero. Precisamos confiar que D’us tem um Plano Mestre mesmo que não o entendamos.

 

Outro ponto precisamos aprender do trecho do Talmud citado acima, sobre os dois homens que o Profeta Eliahu (Elias) disse que iriam diretamente para o Mundo Vindouro. Quando o Rabino lhes perguntou o que faziam de especial na vida, ambos responderam: “Nós somos apenas pessoas felizes e que fazemos os outros felizes. Se virmos alguém infeliz, nos aproximamos e fazemos todo o possível para que fique feliz também!”.

Aprendemos daqui que para fazer alguém feliz, precisamos estar felizes primeiro. Não há maneira de fazer outro genuinamente alegre se você mesmo não estiver alegre. Antes de podermos ‘espalhar’ alegria, precisamos estar felizes conosco mesmos. Como podemos atingir isto? Gostaria de lhes sugerir oito passos neste caminho. Cada um por si só não trará uma absoluta felicidade, mas acredito que, ao serem sobrepostos uns aos outros, ao serem unidos, poderemos chegar à alegria plena.

 

O primeiro passo, explicado pelo Rabino Ytschák Hutner Z”tl (EUA,1904-1980), é termos respostas e não perguntas. É melhor explicar do que reclamar. Por exemplo: se uma pessoa não recebe determinada premiação no seu emprego, ela logo começa a questionar: por que eu não fui o escolhido? Por que justo aquele fulano mereceu? Por que não me deram então o segundo prêmio? Por que isto e por que aquilo. Uma pessoa que está sempre perguntando e reclamando dificilmente será feliz.

Mas se esta mesma pessoa pensasse: “Bom, talvez ele recebeu o prêmio porque já vem se esforçando no tal projeto há muito mais tempo que eu; ou talvez ele recebeu o prêmio por ter dado mais lucro à empresa, etc e etc”, ela com certeza não ficaria nervosa e seria mais feliz. Uma pessoa menos ‘invocada’ com certeza será mais feliz.

 

O segundo passo é começarmos a ver o lado positivo das coisas. Há muitas pessoas que enxergam apenas o lado negativo. Por exemplo: Alguém foi a um casamento. Você lhe pergunta como foi o casamento e vem a resposta: “A noiva chegou muito atrasada”. Alguém foi a um Brit Milá. Você lhe pergunta como foi o Brit e vem a resposta: “O bebê chorou demais”. Será que isto é a única coisa que ele tinha a falar sobre o casamento? Não havia mais nada de bom no Brit?

Outro dia saiu um novo livro nas livrarias e eu comentei com um conhecido meu, que está sempre reclamando das coisas: “Olhe, este livro é excelente”. E ele respondeu: “É, mas a capa é horrorosa, as folhas são muito finas, logo vão se rasgar. A editora deveria ter feito este livro em dois volumes!”. Incrível, não?

Há pouco tempo estive em Londres com minha esposa. Fomos a lugares muito bonitos e conhecemos pessoas muito agradáveis e especiais. Entretanto, o tempo estava sempre nublado, algo comum em Londres. Quando estávamos para viajar de volta para os Estados Unidos, combinei o seguinte com minha esposa: “As pessoas provavelmente vão perguntar como estava o tempo. Mas vamos fazer um trato: não responderemos nada sobre o tempo, afinal estivemos entre pessoas tão maravilhosas e em lugares tão especiais, que não temos porquê ficar salientando algo não tão agradável”. E assim o fizemos.

Se pensarmos e falarmos positivamente, com certeza seremos pessoas mais alegres. Recentemente foi feito um estudo nos Estados Unidos sobre educação infantil. Vocês sabiam que para cada comentário positivo que os pais fazem a seus filhos, vinte outros são críticas ou broncas? Se as crianças são criadas assim, o que podemos esperar delas em seus relacionamentos diários? “O professor não ensina direito” ou “Meus colegas não prestam” ou “A professora ensinou errado”, etc. Se os pais ficam procurando defeitos para criticar as crianças, com certeza elas crescerão ‘reclamonas’ e infelizes.

Certa vez o Baal Shem Tov (1698-1760) relatou uma conversa que ocorreu entre um idoso carregador de água e um amigo seu. O homem idoso estava subindo com dificuldade a colina, em direção à vila onde faria suas entregas, com respiração pesada e suando, quando seu amigo o chamou: “Então, como estão as coisas hoje?”

“Olhe para mim”, reclamou o idoso senhor. “Já estou velho, frágil, sem poupanças e ainda tendo que trabalhar para pagar minhas contas! Onde está o descanso que eu tanto rezei para ter quando chegasse nesta idade?”

Alguns dias depois, o mesmo homem estava subindo a colina em direção à outra vila, mas desta vez cantarolando enquanto carregava os baldes d’água. O mesmo amigo o cumprimentou: “Vejo que hoje o senhor está sorrindo. Como vão as coisas?”

“Muito bem! Veja como eu sou um homem de sorte”, veio a resposta jovial. “Graças a D’us, embora eu seja um homem velho, não preciso depender de ninguém. Minha cabeça está boa, consigo me sustentar sozinho e não dependo de caridade de amigos ou parentes”.

Uma contradição? Dupla personalidade? Não, apenas a maneira como a pessoa enfoca a vida. Lembre-se: uma pessoa que coloca óculos pretos verá tudo sempre escuro. Se usar lentes azul claro, tudo que enxergar parecerá azul!

 

Minha terceira sugestão é: quando se envolver em algum projeto, conclua-o. Você já viu quantas pessoas resolvem passar a limpo suas agendas de telefone e param no meio? Você já reparou quantas pessoas começam a arrumar o escritório e limpam apenas metade? Outro exemplo: muitas pessoas escrevem cartas e esquecem de pô-las no correio. Tudo isto faz com que a pessoa não sinta que é capaz de realizar as coisas com eficácia e, consequentemente não consegue sentir um sentimento de realização e de plenitude. E uma pessoa realizada, em geral, é uma pessoa feliz.

 

O quarto item é baseado num famoso trecho do Talmud (Kidushin 70a): “Todo aquele que desqualifica ou critica outra pessoa, geralmente a desqualifica com a mesma coisa que ele tem de errado”. Saibam de uma grande verdade: ninguém pode fazer você se sentir mal a menos que você o permita. Não importa o que lhe falarem, se você não deixar estes ataques entrarem em seu coração, não há maneira que a tal pessoa possa fazer você se sentir mal. Mas se você der ouvidos a qualquer reclamão ou zombador que lhe agredir, logicamente o resultado não será bom.

Todos temos um tremendo potencial e ninguém deve dizer-lhe que você não consegue fazer determinada coisa. Todos podemos conseguir chegar a metas elevadíssimas, contanto que ponhamos a idéia correta na cabeça. É sabido que as pessoas não usam nem 10% de sua capacidade, mas se nos fixarmos em conseguir determinado objetivo e concentrarmos nossas forças nele, muito provavelmente teremos a alegria de uma vitória suada e bem sucedida.

 

O quinto ponto é agradecermos o Todo-Poderoso por tudo que temos. Será que já paramos para agradecer por estarmos vivos? Muitos dizem: “É lógico que estou vivo! Que mais eu poderia estar?” Mas há tantos milagres maravilhosos que acontecem a cada pessoa diariamente, que ela já não dão mais o devido valor a eles. Pensam que são coisas ‘naturais’. Infelizmente, quantas pessoas estão doentes hoje? E quantas pessoas ficaram gravemente feridas nos atentados em Israel? Só o Criador sabe quantos milagres Ele faz para todos nós todos os dias, para nos livrar de inúmeros problemas que nem imaginamos. Todos temos muito o que agradecer. Precisamos parar de olhar para o que não temos e começar a enxergar o que sim temos.

 

Meu sexto ponto é a pessoa aproveitar a vida, logicamente dentro daquilo que a Torá nos permite. Existe um famoso trecho no Talmud de Jerusalém (Kidushim 4:12) que diz: “No futuro a pessoa irá prestar contas por tudo aquilo que poderia ter desfrutado e não aproveitou”. Em outro trecho (Nedarim), o Talmud pergunta: “Não é suficiente tudo aquilo que a Torá lhe proibiu e você quer criar novas proibições?”.

O Todo-Poderoso criou um mundo maravilhoso para desfrutarmos. Você já viu as Grandes Montanhas Rochosas nos EUA? Ou os enormes rios e cataratas no Brasil? Já viu quantas frutas maravilhosas estão ao nosso dispor? E o arco-íris ou um pôr-do-sol? Devemos aproveitar as benesses que D’us nos presenteou sem culpa, e sim com alegria e felicidade. Logicamente, tudo de maneira a não transgredir nenhum mandamento da Torá.

O sétimo passo é não perdermos as oportunidades que D’us nos oferece em nossas vidas. Em nossas vidas, cada um de nós precisa estabelecer suas prioridades e mantê-las constantemente em mente, cuidando para que nossas decisões e ações reflitam estas prioridades, sem perder as boas oportunidades que aparecem.

Todo Judeu consegue seu ‘pacote’ de prioridades ao estudar a Torá, as leis do Shulchán Aruch (o Código de Leis Judaico) e as tradições e costumes de seus antepassados. O propósito de um Judeu neste mundo temporário, Olám Hazé, é manter e elevar os padrões de Torá durante toda sua vida, nunca desviando deles, apesar das influências em sentido oposto. O Chafêts Chaim, Rabino Israel Meir Kagan (Polônia, 1839-1933), contou uma parábola que explica muito bem este ponto:

 

O Sr. Nachman vivia numa pequena cidade na Polônia, onde era muito difícil ganhar a vida. Ele tentou muitos ofícios diferentes, mas sem sucesso. Chegando numa situação financeiramente difícil, decidiu viajar para uma ilha na costa da África onde, lhe disseram, havia tantos diamantes que estavam até espalhados pelas ruas. Mesmo sendo a viagem por mar arriscada e com duração superior a um ano, seguramente valeria a pena fazê-la. Quando voltasse para casa com os diamantes, poderia vendê-los e conseguir uma grande fortuna, vivendo então do jeito que sempre sonhara.

Contou à família sobre sua decisão e começou os preparativos para a viagem. Após semanas de excitação e planejamentos, o dia da partida chegou. Ele se despediu dos amigos e da família, garantindo-lhes que voltaria riquíssimo em poucos anos. O navio então partiu em direção ao horizonte, em sua longa jornada pelos mares.

Os navios não iam frequentemente a esta remota ilha e, portanto, teria que ficar lá por um ano, até que o navio regressasse. Com grande ansiedade, assistia o navio se aproximar da costa e imaginava, à distância, que poderia ver diamantes brilhando pelas ruas.

Ele desembarcou e enquanto andava pelas ruas, percebeu que os rumores eram verdadeiros: havia diamantes espalhados por todos os lados e as pessoas realmente andavam por cima deles. Sem conseguir conter sua alegria, largou seus pacotes, abaixou-se e começou a recolher os diamantes. Grandes, pequenos, perfeitos, imperfeitos, pegou todos que suas mãos conseguiam alcançar e guardou-os em seus bolsos.

Enquanto pegava as pedras, percebeu que as pessoas que estavam por perto riam com vontade. Ele não conseguiu entender. “Por que da pressa?”, um homem perguntou ao Sr. Nachman. “Você vai ficar aqui por um ano!”.

“Sim”, acrescentou outro homem. “Olhe para todos aqui. Eles também vieram pela mesma razão que você, mas temos tempo pela frente”. “Bem”, pensou o Sr. Nachman, “talvez eles estejam certos. Vou ficar por aqui por algum tempo e parece haver um número sem-fim de diamantes nesta ilha, portanto, há pedras para todo mundo”. Nos dias seguintes, enquanto se familiarizava com a ilha, ele de novo começou a recolher diamantes.

Mas percebeu que ninguém mais fazia isto e começou a sentir-se tolo. Será que os diamantes não significam nada por aqui? Como pode ser que todos ignoram esta riqueza? E começou a perguntar e descobriu que, realmente, os diamantes não tinham nenhum valor naquela ilha. O produto que os habitantes da ilha davam mais valor era a banha, usada para cozinhar e fritar. Era de extrema importância e muito difícil de ser encontrada. Qualquer um que conseguisse produzi-la, guardá-la e vendê-la ficaria muito rico. As pessoas daquela ilhota estavam tão isoladas da civilização, que não tinham óleo para cozinhar, algo tão facilmente obtido em qualquer outro lugar do mundo.

O Sr. Nachman era um homem muito determinado e começou a procurar os ingrediente para fazer banha e desenvolver métodos para guardá-la e vendê-la. O trabalho era duro e ele passou várias semanas explorando a ilha até encontrar os ingredientes apropriados.

Com o passar das semanas, envolveu-se tão completamente em suas tentativas de fabricar banha que acabou esquecendo completamente o motivo que o levara até esta ilha. Todo dia passava por cima dos diamantes espalhados pelas ruas e os ignorava, como todos os demais habitantes. Se acontecia de notar alguma pedra excepcionalmente brilhante, ele a examinava e a punha no bolso. Isto o fazia voltar um pouco à razão, mas logo dizia para si mesmo: “Ainda há muito tempo. Enquanto isto, preciso fazer meus suprimentos de banha!”.

As semanas viraram meses e finalmente notícias chegaram à ilha que, em duas semanas, o navio estaria passando para pegar os ‘estrangeiros’. O Sr. Nachman estava tão envolvido em seus negócios com banha que prestou pouca atenção ao que ouviu. Porém, alguns dias depois, quando o navio atracou, percebeu que precisava empacotar rapidamente suas banhas e estar pronto para levá-las para casa. Estava orgulhoso de si mesmo, pois teve um ano de sucesso. As pessoas na ilha tinham lhe dado muita honra e agora sua esposa, sua família e amigos teriam muito orgulho dele, também.

Porém, enquanto transportava os barris de banha para o navio, subitamente lembrou-se que este não era o motivo de sua viagem. Ele havia vindo pelos diamantes, não pela banha! Agora era muito tarde, pensou, mas a riqueza que faria com toda aquela banha com certeza o ajudaria. Pegou mais alguns diamantes no caminho para o navio e, depois de despedir-se de todos, iniciou sua longa viagem de volta para casa.

Depois de algumas semanas no navio, a banha começou a derreter. O cheiro tornou-se tão ruim que os passageiros foram reclamar ao capitão. O capitão ordenou à tripulação que descobrissem a origem do fedor e assim acharam os barris de banha apodrecidos, que o Sr. Nachman admitiu serem dele. Ele implorou-lhes que não jogassem ao mar toda a banha, pois havia trabalhado muito para consegui-la. Os marinheiros tentaram conter o cheiro, cobrindo os barris, mas em pouco tempo o fedor estava tão forte que não havia outra opção a não ser jogar tudo no mar. A banha pela qual havia trabalhado tanto se tornara apenas toneladas de mau cheiro.

Enquanto assistia o último barril ser arremessado pela amurada, percebeu o quanto havia falhado. Tinha desperdiçado seu precioso tempo na obtenção de bens sem nenhum valor.

Os dias arrastavam-se numa medonha espera. Em sua mente, via sua esposa e filhos esperando por ele e pelos ‘bons anos pela frente’ e seu ‘brilhante futuro’. O navio finalmente atracou, mas envergonhado, aflito e desesperançado, o Sr. Nachman foi um dos últimos a desembarcar.

Sua mulher e filhos cumprimentaram-no com excitação, mas ele não conseguiu compartilhar da alegria deles. Tudo que queria era ficar sozinho. Amigos e parentes vieram à sua casa para ouvir sobre sua viagem, mas ele se retirou para o quarto, deprimido e humilhado.

Em seu quarto, o Sr. Nachman jogou-se na cama e chorou até cair num sono profundo. Sua mulher, pensando que estava apenas exausto e sem querer acordá-lo, pegou seu casaco e deu uma olhada nos bolsos. Quando viu os dois enormes diamantes que ali estavam, correu com grande alegria para o joalheiro local e pediu que fizesse uma avaliação. O joalheiro não conseguia acreditar em seus olhos. “Senhora”, disse após examinar as pedras, “a senhora é uma mulher de sorte. Seja lá quem lhe trouxe estes diamantes, lhe trouxe uma imensa fortuna. A senhora terá dinheiro por muitos anos com a venda destes diamantes!”.

A mulher correu de volta para seu marido, que havia despertado, e o agradeceu profundamente por seu enorme esforço. Mas ele ainda estava abatido. “Por que você está tão infeliz?”, ela perguntou ansiosamente. “Nós temos tanta sorte e você foi tão esperto em conseguir tudo isto!”.

“Eu não fui nada esperto”, respondeu o Sr. Nachman com tristeza. “Se tivesse sido inteligente, teria mantido minha mente somente no propósito pelo qual viajei para a ilha. Acabei me envolvendo com o que aquelas pessoas achavam que era o mais importante ao invés do que era realmente importante para nós. É verdade, eu trouxe alguns diamantes, mas poderia ter recolhido uma fortuna que daria não só para nós e nossos filhos, mas para nossos netos, amigos e muito mais”.


“O motivo pelo qual viemos para este mundo”, disse o Chafêts Chaim, “é para recolher diamantes — que são as mitsvót. Enquanto estamos por aqui, entretanto, deixamo-nos influenciar por outros que desprezam e desdenham as mitsvót que estão prontamente disponíveis, e acabamos tentando adquirir riquezas segundo os critérios que eles acham importante”.

“Durante nossas vidas, as mitsvót estão ‘espalhadas pelas ruas’, esperando que alguém as faça. Existem mitsvót que envolvem atos de bondade, como visitar um doente, ajudar um necessitado ou consolar um enlutado. Existem momentos livres que podem ser somados, tornado-se horas, dias, até meses, que poderiam ser utilizados vantajosamente para o estudo de Torá, Talmud, ética e comportamento, etc., ou na prática de inúmeros atos de bondade. Se utilizássemos adequadamente nosso tempo em nossa ‘viagem’ por este mundo temporário, poderíamos ficar eternamente ricos no Olám HaÉmet (Mundo da Verdade)”.

“Mas passamos pela vida, deixando o tempo e as oportunidades escorregarem de nossas mãos. Quando é hora de retornar ao verdadeiro mundo, tentamos pegar alguns ‘diamantes’, mas aí já é tarde. Deveríamos ter mantido em mente nossas metas e prioridades o tempo todo.


Pegar alguns diamantes aqui e ali é maravilhoso, mas imagine que nível poderemos atingir se tivermos os ‘diamantes’ como objetivo de vida!

 

A oitava sugestão é nos importarmos com o próximo. Um ensinamento do Rebe de Gur vem nos esclarecer melhor este ponto. A Torá (Vaikrá 11:19) relacionou quais aves não são permitidas para o nosso consumo. Entre elas está a cegonha. Em hebraico, a cegonha é chamada de ‘Hassida’, Por que ela é chamada de ‘Hassida’? Porque faz ‘Héssed’ (atos de bondade) com os pássaros de sua espécie. Perguntou então o Rebe: “Se ela faz atos de bondade, porque a Torá a classificou de ‘Taref’, imprópria para o nosso consumo? A resposta é que ela só faz ‘Héssed’ para os de sua espécie, para os demais, nada!”.

Aprendemos daqui que devemos nos esforçar para ajudar qualquer um, seja ele ou ela religioso ou não, amigo do clube ou da escola, se é muito estudado ou não, independente de onde tenha vindo ou de que família pertença.


Há quase 60 anos atrás, um jovem chamado Biniamin Lifton queria estudar na Yeshivá de Grodno, na Polônia, dirigida pelo famoso Rabino Shimon Shkop (1860-1939). Ele vivia numa pequena cidade na Rússia e a viagem até Grodno levaria dois dias de trem. O garoto, então com 15 ou 16 anos, viajou pensando o tempo todo sobre a prova que o Rabino Shkop iria fazer para que pudesse ser admitido na Yeshivá. Ao entrar na sala do Rabino, temeroso, ele ouviu o seguinte: “Meu jovem, quero fazer-lhe duas perguntas”. O garoto estava literalmente tremendo.

“Quando foi a última vez que comeu e quando foi a última vez que dormiu?” O garoto respondeu: ”Oh, fazem dois dias”. O Rabino falou: “Vá até a cozinha comer e depois, dormir tranquilo. Amanhã teremos tempo para conversar sobre sua admissão”.

Muitos anos depois, o Rabino Biniamin Lifton (1907-1991) recontou que estas duas perguntas foram as respostas mais sensíveis que já ouvira e que o ajudaram a se tornar um grande educador em Nova York. A preocupação do Rabino Shkop pelo próximo foi uma lição que o marcou para sempre.


Certa vez um jovem foi conversar com o Steipler, Rabino Yaácov Israel Kanievsky (1899-1985), um dos maiores gênios da geração passada. O jovem começou a reclamar: “Eu não sei o que fazer com minha esposa. Sexta-feira à tarde eu chego em casa e está tudo uma bagunça. As crianças correndo, o chão sujo. O que devo fazer com ela?” Sabem o que o Steipler falou? “Pegue uma vassoura e vá ajudá-la!”.

Seja entre marido e esposa, entre irmãos ou amigos, devemos nos esforçar para alegrar e beneficiar o próximo, não atormentá-lo.


O Talmud nos ensina outra coisa que todos nós podemos fazer. Fala o Talmud: “É melhor mostrar o branco de seus dentes a uma pessoa do que lhe dar leite”. Em outras palavras: Sorria! Certa vez ouvi um belo ditado: “O sorriso é uma curva que endireita muitas coisas”. Isto é algo tão precioso e tão fácil de fazer!

Gostaria de concluir com uma maravilhosa lição que aprendi com o Rabino Yehuda Zev Segal Z”tl (1910-1993), antigo Rosh Yeshivá de Manchester, na Inglaterra: O livro Tana Divei Eliahu (capítulo 25) traz a seguinte passagem: “Cada Judeu é obrigado a perguntar-se: ‘Quando minhas atitudes chegarão ao nível dos atos de nossos Patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob?’ ” A princípio muitas pessoas pensam ser isto impossível: “Eu, uma pessoa tão simples e sem pleno conhecimento da Torá, chegar ao nível dos Patriarcas? Eles, que deram origem a todo o Judaísmo, o monoteísmo, às Doze Tribos, etc? Nunca!”. O Rabino Segal então falou o seguinte: “Imagine um passageiro viajando de trem de Manchester para Londres. Quando o cobrador passa cobrando as passagens, o passageiro pergunta: ‘Quando chegaremos a Londres?’ Sua pergunta é certamente razoável. Ele quer saber se o trem chegará na hora prevista.

“Entretanto”, continuou o Rosh Yeshivá, “se alguém está sentado em sua casa em Manchester e nem começou a planejar a viagem, será que faz sentido ele perguntar: ‘Quando chegaremos a Londres?’ A questão é prematura, pois ele nem começou a viagem.

O Rabino Segal explicou: “Se somos obrigados a perguntar ‘Quando minhas atitudes chegarão ao nível dos atos de nossos Patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob?’, isto só pode ser feito se já estivermos ‘dentro do trem’. Esta viagem é o estudo da Torá e a prática de boas atitudes. Precisamos iniciar a viagem do auto-aperfeiçoamento com alegria. Somente assim poderemos perguntar quando chegaremos a nosso destino”.

 

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Então, agora, após lermos todo este livreto, se quisermos nos tornar pessoas de alegria, examinemos em que ‘trilho’ estamos. Ajamos para nos tornar pessoas alegres e felizes e que podem alegrar os demais. Desta maneira poderemos chegar ao grande dia descrito no Salmo 118: “Ze Haiom Assa Hashém, Nagila Venismeha Bó – Este é o grande dia que D’us criou, vamos nos regozijar e ficar alegres nele”.

Que possamos todos ser inscritos e carimbados no Livro da Vida, para um ano muito alegre e feliz, com muito crescimento material e espiritual, saúde e alegria para nós, nossos familiares, amigos e para todo o Klal Israel, com a vinda em breve do Mashiach, Amén!

Ketivá Vehatimá Tová !!