Nervoso? Lógico que Não!
Rabino Paysach J. Krohn
Sobre o Autor

Um dos maiores e mais solicitados oradores americanos da atualidade, o Rabino Paysach J. Krohn conquista sua platéia através de suas idéias e das histórias que utiliza para frisá-las.

Conhecido mundialmente por seus livros sobre o Maguid de Jerusalém, o rabino Shalom Schwadron Z”tl (The Maggid Speaks, Around the Maggid’s Table, In The Footsteps of the Maggid, Along the Maggid’s Journey, Echoes of the Maggid e Reflections of the Maggid), repletos de histórias do cotidiano judaico desde os idos de 1700 até hoje, suas palestras são recheadas de humor, animação, sensibilidade, calor humano e sabedoria. Suas palestras, fitas cassete e CDs, vídeos e livros são entusiasticamente aguardados e bem-vindos em todo o mundo.

Seu estilo é inconfundível: transmite suas importantes mensagens falando um inglês rápido, mesclando seu gigantesco repertório de histórias com muitas ‘tiradas’ de humor.

O Rabino Krohn faz parte da quinta geração de uma família de mohelim e é autor do livro Bris Milah, amplamente aclamado sobre as leis e costumes desde o nascimento da criança até a circuncisão, além de outros seis livros recheados de histórias e parábolas. Nesta palestra, ele mescla histórias e exemplos de sabedoria, idealismo, humor, amor, animação e sensibilidade por nossos irmãos.

Se ele tem sucesso? Pergunte a qualquer um dos milhares de pessoas que comparecem às suas palestras ou que fazem de suas fitas e CDs parte indispensável de sua vida.

Shaná tová e boa leitura!

Um Exemplo

No livroPirkei Avót (Ética dos Antepassados), capítulo 2, mishná 10 consta a seguinte passagem: “O Rabino Eliezer ensinou: ‘Que a honra de seu amigo lhe seja importante como a sua própria e que você não se enerve facilmente’ ”. A princípio parece haver aqui duas afirmações: a primeira seria ‘Que a honra de seu amigo lhe seja importante como a sua própria’ e a segunda: ‘que você não se enerve facilmente’.

Porém, o Rabino Ovádia de Bartenura (Itália, 1450-1510) explica que, na verdade, trata-se de uma única afirmação: Quando uma pessoa pode honrar o próximo? A partir do momento em que não se enerva facilmente e nem perde o controle, pois uma pessoa que fica nervosa com facilidade, quase sempre despreza o próximo.

Para sabermos como honrar o próximo e se dar bem com todo mundo, precisamos saber primeiro como lidar com nosso nervosismo, como conter o ‘fogo’ dentro de nós e como ‘manobrar’ a nossa raiva.

O Steipler Gaon, o Rabino Yaacov Israel Kanievsky (1889-1985), escreveu um livro com explicações sobre a Torá chamado Birchat Peretz. No capítulo dedicado à Porção Semanal de Vaierá, ele traz uma grande lição sobre a característica da raiva. Ele cita um versículo muito famoso sobre a Praga dos Sapos que infestaram o Egito: “Aharon estendeu sua mão em direção às águas do Egito e o sapo ascendeu e cobriu todo o Egito (Shemót 8:2)”. Rashi, o grande comentarista da Torá (França, 1040-1104), traz um Midrash explicando que apenas um sapo saiu das águas; as pessoas ficaram nervosas e começaram a bater nele para matá-lo. A cada pancada recebida, o sapo se duplicava e assim a praga se espalhou pelo Egito. Imagine a cena: Um sapo entra na casa de uma pessoa, esta fica com raiva e dá uma paulada para matá-lo. E agora são dois sapos. Ele bate novamente nos dois e de repente tem quatro sapos em sua casa; depois 8 e a seguir 16. Sua mulher grita: “Pare, pare! Veja o que está acontecendo! Com 16 sapos podemos conviver, mas com 32, 64, 128, etc é impossível!” E o mesmo aconteceu nas outras casas, todos batiam e não conseguiam se controlar. Mas por que não? Todos estavam vendo as terríveis conseqüências ...

A resposta? É justamente isto que a raiva causa, faz com que as pessoas percam o controle. Todas viam os sapos se multiplicando a cada pancada recebida, mas como já estavam fora de si, continuavam fazendo o que as prejudicava, apesar do bom senso lhes dizer para parar.

Este primeiro exemplo mostra como a raiva e o nervosismo nos fazem perder o controle da situação e nos levam a cometer atos que nos prejudicarão ao longo do tempo.

A Afobação

O Rabino Shalom Shwadron, o famoso Maguid de Jerusalém, costumava sempre repetir a seguinte frase, de autoria do Rabino Shlomo Ibn Gabirol (1021-1058): “Pri Hamehirut, Haharatá”, ou seja, “O fruto de se agir rapidamente é o arrependimento”.

Sou uma pessoa muita impulsiva: dirijo rápido, falo rápido, ajo rápido. E o Rabino Shwadron me dizia: “Mais tranqüilidade, o fruto de agir rapidamente e com impulsividade é o arrependimento”.

Esta é uma grande lição para todos nos lembrarmos sempre. Muitas vezes reagimos a uma determinada situação de uma maneira tão rápida, que depois de as palavras terem saído de nossa boca já é tarde demais. Precisamos aprender a ir mais devagar, a pensar antes de agir e reagir.

A Torá descreve um cenário muito interessante e, ao mesmo tempo, revelador da força que o nervosismo pode exercer sobre as pessoas. Quando nosso patriarca Yaacov estava para falecer, mandou reunir todos seus filhos para abençoá-los. Reuven, o primogênito, estava aguardando, pois, como irmão mais velho e líder da família, provavelmente receberia uma bênção especial de seu pai.

Qual foi sua surpresa quando Yaacov lhe disse: “Reuven, você é meu primogênito, o primeiro em relação ao sacerdócio e ao poder. Porém, impetuoso como a água, você não será o primeiro, não será o líder! (Bereshit 49:3)” Yaacov quis lhe dizer: “Você perdeu o direito à liderança da nação por causa da impetuosidade com que correu para expressar sua fúria. Você tem a característica ruim do nervosismo!”

O que Reuven havia feito para merecer tal castigo? Alguns anos antes, Reuven agiu de forma a defender a honra de sua mãe, Lea, uma das quatro esposas de Yaacov. Ele não agiu por maldade e até arrependeu-se sinceramente depois. Mas isto não o ajudou a manter sua posição de líder. Um líder não pode ser impetuoso. Ele precisa pensar e pesar suas decisões e conseqüências.

Gostaria de lhes contar uma história incrível sobre o que pode acontecer numa situação de correria, onde não se pára um instante para pensar. Todos os que estavam presentes jamais esquecerão da lição sobre a importância de agir com cautela e ponderação.

Certa vez fui realizar um Brit Milá em Staten Island, Nova York, numa sinagoga que ficava a 5 casas de onde os avós da criança moravam. Eu já estava para iniciar o Brit, quando percebi que não havia vinho. Virei para o pai da criança e falei: “Haim, precisamos de vinho”.

Como este era o seu primeiro filho, Haim estava compreensivelmente tenso. Ao ouvir, instantes antes do Brit, que não havia vinho, só aumentou sua tensão. Ele virou-se para um parente e gritou: “Pinny, vá até a casa dos meus sogros e traga rápido o vinho. Você é que deveria tê-lo trazido. Corra para buscá-lo, pois estão todos esperando!” “Mas não sei onde está, eu não conheço a casa dos seus sogros”, retrucou Pinny.

“Desça no porão, que está num garrafão ao lado da porta”, falou o pai da criança. “Você não percebe que estão todos esperando?”

Tudo bem, Pinny estava tão intimidado que correu até a casa dos avós da criança e trouxe um garrafão. Enchi o copo e estávamos prontos para iniciar o Brit. O Rabino pronunciou a bênção sobre o vinho mas, não sei por que, não o bebeu, passando o copo ao pai da criança. O vinho me pareceu um pouco amarelado, mas pensei que fosse um vinho feito de uvas passas. O pai bebeu e ... de repente, começou a cuspir e a gritar: “O que é isto? O que é isto?” Continuou cuspindo e tentando limpar a boca com a manga do paletó, protestando contra o engano. Tentei acalmá-lo, sem sucesso. O homem estava fora de si.

Um convidado examinou o conteúdo do galão e logo gritou em choque: “É óleo de motor!”

Inacreditável! O que ocorrera é que os sogros de Haim tinham trocado o óleo do motor do carro e guardado o óleo num garrafão no porão onde ninguém iria pegá-lo – assim eles pensaram. Na correria, Pinny acabou pegando o garrafão errado. E o pior de tudo é que eu havia dado um pouquinho do líquido para a criança tomar.

Logicamente eu fiquei muito assustado, liguei para o pediatra e contei todo o caso. “O que devo fazer? O que devo fazer?”, perguntei. O médico respondeu, rindo: “Não há problema, mas não esqueça de trazer o nenê para a revisão dos 5.000km!”

Este é um exemplo verídico de como não devemos agir com afobação. Se o fizermos, é arrependimento certo.

O Rei Salomão já nos ensinou em seu livro Kohelet (Eclesiastes 7:9): “Não aja afobadamente, pois o nervosismo repousa no colo dos tolos”. Não aja precipitadamente.

Portanto, da próxima vez que você ouvir ou vir algo, durma com o assunto, espere uma noite antes de reagir. Logicamente, não estou falando de assuntos emergenciais que exigem uma atitude imediata.

Por exemplo, se alguém vier lhe contar que fulano disse que você é um péssimo músico ou um fotógrafo de segunda categoria, ou que é um mau desenhista, dentista, ou seja lá o que for, não telefone imediatamente para tirar satisfações, pois acabará dizendo algo que depois se arrependerá de ter dito. Espere, aguarde. Lembre-se das temíveis palavras que Yaacov falou para seu filho Reuven: “Impetuoso como a água, você não será o primeiro, não será o líder!” Mesmo que Reuven teve a melhor das intenções, agiu muito rápido, não parou para pensar duas vezes. É verdade que nossos Sábios nos afirmam que ele fez Teshuvá (arrependeu-se), mas o problema é que o nervosismo estava presente e, por isto, não pôde receber a recompensa que originariamente lhe estava destinada.

Outro exemplo: você quer comprar um apartamento, mas o vendedor começa a pressionar para aumentar o preço, dizendo que há mais interessados em adquiri-lo ou que ele precisa viajar e tem que fechar o negócio imediatamente. Pense bem antes de entrar neste tipo de conversa. Há grandes chances de o apartamento continuar à venda amanhã e se o vendedor achar que você não está tão interessado, irá diminuir a pressão ou até negociar um desconto. Lembre-se: muitas vezes você pode ir dormir, pois o problema ou o desafio estarão lhe esperando no dia seguinte também. A diferença é que depois você estará mais descansado e propenso a resolver a situação com ponderação e não afobadamente.

Precisamos saber que o nervosismo não causa apenas mal às pessoas que estão ao nosso redor, mas também a nós mesmos. Não traz angústia somente aos demais, também nos traz aflição e agonia. Precisamos aprender a não magoar os demais e, conseqüentemente, não nos prejudicarmos.

As Consequências do Nervosismo

Gostaria de lhes contar uma história que me foi contada pelo Rabino Shalom Mordechai Shwadron, o Maguid de Jerusalém.

Heikel era um professor de crianças e um homem muito bom e piedoso. Infelizmente, aos 48 anos de idade, contraiu uma terrível doença e sua perna teve de ser amputada. O restante de sua vida foi muito sofrido e precisou sempre do auxílio de uma cadeira de rodas. Ele vivia em Jerusalém e costumava ir de cadeira de rodas até o quintal de sua casa onde pegava um pouco de ar fresco, e levava seus livros para estudá-los. Ele sempre falava a seus filhos: “Nunca, mas nunca mesmo, entrem numa discussão!” E também deixou escrito em seu testamento a seguinte mensagem: “Mesmo se vocês estiverem na sinagoga, no meio das orações, e uma discussão irromper, saiam imediatamente da sinagoga. Nunca se envolvam numa discussão!”

Um dia, ele estava sentado em seu quintal e presenciou a cena de uma jovem discutindo furiosamente com um senhor de idade. A moça falou: “Eu é que mereço o apartamento, tenho crianças para criar e toda minha vida pela frente. Eu é que tenho direito a este apartamento que está vagando agora!”

O senhor de idade retrucou: “Do que você está falando? Estou na lista de espera por este apartamento há muito tempo e você sabe que estou na sua frente!” E a moça falou: “Não venha com histórias, você é uma pessoa de idade!” O senhor disse então: “Ninguém sabe quantos anos de vida ainda tem pela frente!”

O senhor Heikel ficou muito chateado com aquela discussão e recolheu-se para casa.

Esta história aconteceu no final da década de 40, no século passado, antes da Guerra de Independência de Israel. Era uma época em que os árabes estavam atirando bombas e granadas em Jerusalém, aterrorizando sua população e causando muitas mortes e ferimentos. Dois dias depois, quando ele estava se dirigindo para o quintal, subitamente ouviu o assobio de uma bomba voando e, em seguida, uma granada caiu lá. Logo ouviu gritos e berros e pensou se algum de seus filhos havia sido atingido. Esforçou-se em sua cadeira de rodas para chegar até o quintal e, infelizmente, encontrou um de seus filhos ferido pelos estilhaços da granada. Ele tentou ajudar o garoto, mas não conseguiu por causa da cadeira de rodas e o menino estava sangrando muito. Graças a D’us, uma ambulância estava passando pela rua, os gritos do menino foram ouvidos e logo o pegaram e o levaram para o hospital onde salvaram sua vida.

O senhor Heikel ficou lá sozinho, pois a ambulância já estava levando outros feridos e não havia lugar para ele. Um pouco mais calmo agora, começou a olhar em volta, onde havia outras pessoas feridas pela granada. De repente, seus olhos reconheceram um corpo: caída no chão, morta, lá estava aquela jovem. O homem de idade estava ferido, mas conseguiu sobreviver para contar a história.

Alguns anos depois, no Sheva Berachot (a semana de comemoração que ocorre após o casamento dos noivos) de seu filho, este mesmo filho que se salvou do ataque, o senhor Heikel contou toda esta história. E ele relatou o episódio da discussão entre o senhor de idade e a jovem da seguinte maneira:

“Não seja tão ‘sangue quente’, deixe sua temperatura esfriar,

Pois ninguém sabe quem é o jovem, quem é o velho, até onde a vida vai nos levar!”

Aquela jovem pensou que iria viver para sempre, mas tinha um temperamento terrível, e não viveu muito.

O nervosismo leva à catástrofe. Lembremo-nos sempre deste sábio conselho: “Nunca, mas nunca mesmo, entremos numa discussão!”

O Trânsito: Um Ótimo Local Para Treinar a Paciência

Gostaria de lhes dar alguns pequenos conselhos práticos de como se controlar em momentos ‘delicados’:

Na próxima vez que alguém buzinar violentamente sem que você o tenha feito por merecer, não erga seu punho para fora da janela nem grite um desaforo para ele/ela. Fique tranqüilo e siga em frente. E, na próxima vez que o semáforo ficar verde para você e o carro à sua frente não partir ‘voando’, não buzine. Tente se controlar, pois a impaciência também é uma forma de nervosismo.

Outra coisa: esforce-se para não passar em todos os sinais amarelos: além do risco de acidentes, a pessoa que ‘fura’ os sinais amarelos ou vermelhos está demonstrando que é impaciente, está de mau humor e precisa de qualquer maneira fazer o que deseja. Não, não dirija feito um louco! Treine aqui sua paciência (ou saia de casa mais cedo)! A grande maioria de nós dirige e precisamos nos controlar: não toque a buzina a não ser em casos urgentes. Desta maneira, você logo perceberá que está dirigindo de maneira mais calma, o que o ajudará a ser mais calmo.

Uma pessoa calma se torna uma pessoa mais querida pelos demais e acaba gerando reações mais tranqüilas ao seu redor também.

A Paciência: Um Antídoto Contra o Nervosismo

Quando Moshe Rabeinu (Moises) percebeu que não poderia entrar na Terra de Israel, pediu a D’us: “Por favor, aponte um líder para o Povo de Israel, que os dirija após o meu falecimento”. No quarto livro da Torá, Bamidbár (27:16), a Torá nos relata o pedido de Moshe: “Possa o Todo-Poderoso, D’us dos espíritos de todos os seres, apontar um líder para o Povo”. Rashi explica: “Moshe falou a D’us: ‘O Senhor sabe que cada pessoa é diferente da outra e nenhuma é igual à outra. Por favor, escolha para eles um líder que tenha paciência para lidar com cada um conforme suas virtudes e falhas’ ”.

A paciência é uma virtude em cargos de liderança, para pais e professores ou qualquer outro que precise liderar e orientar pessoas. E em especial para aqueles que desejam ser os líderes do Povo de Israel.

Ouvi uma bela e impressionante história sobre o Rabino Chaim Oizer Grodzinsky (Lituânia, 1863-1940), o grande líder do Povo Judeu naqueles anos. Além de sua fabulosa erudição, o Rabino Grodzinsky ficou conhecido pelo incontável número de órfãos e viúvas que ajudou durante sua vida.

Certa vez, um jovem aproximou-se do Rabino Chaim Oizer contando-lhe que seu pai já era um homem idoso e que na cidade onde moravam havia aberto uma vaga para o cargo de Rabino. Talvez o Rabino Chaim Oizer pudesse utilizar suas conexões para indicar ou recomendar seu pai para o cargo. O Rabino ouviu o pedido, mas não respondeu nada e o jovem entendeu que o pai não conseguiria o emprego. Nesse instante começou a ficar nervoso, pois como o Rabino não respondeu, certamente não iria fazer a recomendação. Então começou a falar com extrema arrogância e falta de respeito com o Rabino que se manteve calado. Num determinado momento, quando as ofensas já eram tantas, o Rabino, ao invés de responder, saiu da sala. O rapaz entendeu a situação e foi embora.

Depois disso, uma das pessoas presentes perguntou ao Rabino Chaim Oizer: “Como o senhor pôde tolerar esta situação de tamanha falta de respeito, permitindo que ele falasse desta maneira?” O Rabino respondeu: “Você não percebe como toda esta situação é dolorosa para o rapaz? Ele entende que seu pai está ficando velho e é muito difícil para um filho aceitar o fato de que seus pais estão envelhecendo e não são mais capazes nem produtivos como costumavam ser. Sei que ele estava descarregando esta enorme frustração sobre mim, mas não era algo pessoal dirigido contra minha pessoa, era sua frustração e raiva em relação a uma situação”.

É lógico que ele não deveria ter falado assim com um dos lideres do Povo Judeu, mas este líder era uma pessoa paciente, que sabia entender cada um conforme suas virtudes e defeitos.

Uma Multa Contra o Nervosismo

O Rabino Elyah Lopian (1872-1970) certa vez falou: “Eu pensava que tinha meu nervosismo sob controle, mas logo percebi que o motivo de meu controle era outro. As pessoas me dão tantas honras e me tratam tão bem, que não há motivo para eu ficar bravo ou me comportar de maneira não apropriada. Eu seria um tolo se ficasse nervoso em público. O verdadeiro teste para saber se controlo meu nervosismo ou não é quando estou em casa com meus familiares: como converso com minha esposa e como trato minhas crianças”.

O Rabino Lopian tinha um grupo de alunos que combinaram entre si que cada vez que um deles ficasse nervoso, deveria dar uma determinada soma de dinheiro para a Tsedaká (caridade). E querem saber? Creio que esta é uma excelente idéia: cada um de nós talvez deva se comprometer, em caso de ficar nervoso, seja lá onde for ou com quem estiver, a pagar uma ‘multa’ e dar este dinheiro para a Tsedaká. Esta com certeza é uma maneira de começarmos a treinar a analisar todas as nossas atitudes e falas.

E qual era o dia em que o grupo do Rabino Lopian estava mais suscetível a pagar multas? No Shabat, pois este é um dia em que estamos com nossos familiares e amigos, onde encontramos pessoas e há grande chance de agirmos ou falarmos impetuosamente, sem controle.

O Nervosismo Derruba Oportunidades

O Rabino Chaim Shmulevitz (1902-1978), antigo diretor da Yeshivá de Mir, em Jerusalém, certa vez deu uma palestra sobre como é desprezível e lamentável a característica do nervosismo. Num determinado trecho o Rabino trouxe uma passagem do Talmud (Pessachim 66b): “A todo aquele que fica nervoso, mesmo que lhe tenham decretado nos Céus uma vida de grandeza, tiram-lhe esta oportunidade ”. De onde aprendemos isto? Da história que ocorreu com o Rei David. O Rei David tinha um irmão chamado Eliav, o primogênito de 8 filhos. Ele deveria ter sido o Rei do Povo Judeu, mas por seu péssimo temperamento perdeu o direito ao cargo. Certa vez, quando o Povo Judeu estava para guerrear contra os filisteus e o gigante Golias, o pai de David falou-lhe: “Leve estes pães e queijos para seus irmãos e para os capitães, pergunte-lhes como estão passando e volte para me informar”. David acordou cedo na manhã seguinte, deixou seu rebanho com outro pastor e dirigiu-se ao front para obedecer às ordens de seu pai. Quando Eliav viu David conversando com alguns soldados, ficou furioso e começou a gritar com ele: “O que você está fazendo aqui? Com quem deixou as ovelhas no campo? Você é um pastor! Eu sei de suas más intenções e que você veio só para assistir a batalha! Saia já daqui!”

Nesta hora D’us falou: “Uma pessoa tão nervosa? Isto é maneira de falar, de humilhar o próximo?” Sabem o que aconteceu depois? A Torá nos relata (no livro de Samuel I (16:7)) que na hora que o Profeta Samuel foi ungir o novo Rei de Israel entre os diversos filhos de Yshai (o pai de David), ele aproximou-se de Eliav para confirmar sua escolha como o novo Rei, mas D’us lhe falou: “Não olhe sua bela aparência ou seu porte majestoso, pois Eu o rejeitei. O homem enxerga o que seus olhos vêem, mas o Todo-Poderoso enxerga o coração”. O Criador enxergou que Eliav era uma pessoa nervosa e este acabou perdendo o posto de rei para David.

Muitos de nós provavelmente poderiam estar ocupando posição de proeminência e liderança, mas não o estão. O motivo? D’us não deseja que pessoas com mau temperamento dirijam ou orientem seu Povo. Daqui entendemos que, se temos um mau temperamento, estamos ferindo, e muito, a nós mesmos.

Gritar Vale a Pena?

O livro Orchot Tsadikim nos ensina mais uma coisa: além de estarmos nos ferindo, uma pessoa de mau temperamento é odiada por todos. Ela não encontra graça aos olhos dos outros, as pessoas não o suportam e nem dão bola às suas palavras. Muitas pessoas acham que ao gritar e fazer escândalo conseguirão conquistar a atenção de seu interlocutor ou interlocutores, acham que estão ‘abafando’; mas, na verdade, as pessoas apenas riem e sentem desprezo por este sujeito nervoso.

O Shulchán Aruch, o Código de Leis Judaicas, no Tratado Orach Haim 180:6, traz o seguinte: “Nunca fique zangado ou furioso numa refeição, especialmente em frente de visitas”.

Certa vez minha filha me contou que foi passar Shabat na casa de uma colega. O pai estava tão bravo e brigando com cada um dos filhos e filhas que, após 20 minutos, ela era a única na mesa – o pai tinha mandado todos os outros para o quarto. Dá para imaginar? Ela nem me falou sobre a esposa, mas podemos imaginar a situação da pobre mulher.

É penoso para as pessoas sentadas à volta da mesa quando um pai está berrando com as crianças. O Mishná Berurá (um dos explicadores do Shulchán Aruch) explica que as visitas olham para o seu prato com receio de comer e até de falar qualquer coisa, pois quem sabe? Ele pode começar a gritar com elas também.

Se é que se faz necessário gritar com alguém, seja um cônjuge com o outro, um pai com seu filho, etc, não o faça na frente de outras pessoas. È muito desconfortável para os que ouvem e, lá no fundo, todos consideram este que está gritando um grande pateta. Não vale a pena ...

O Nervoso Teme Críticas

O livro Orchot Tsadikim nos ensina também o seguinte: pessoas nervosas nunca aceitam críticas. Alguém poderia me perguntar: “E qual o mal nisto?” A resposta é: Ninguém cresce na vida sem permitir que outros o critiquem. Precisamos entender que as outras pessoas enxergam nossas falhas de uma maneira que não enxergamos. Vou lhes trazer um exemplo: suponhamos que o marido esteja dirigindo o carro acompanhado de sua esposa. O marido faz uma ‘barbeirada’ e a esposa fala: “Você está dirigindo feito um louco! Está dirigindo muito mal!” Ele rebate: “Quem é você para falar sobre dirigir? Você mal sabe ligar um carro!”

Este com certeza não é o ponto que o marido deveria focar. Não importa quem está criticando. Pode até ser que ela também dirija com imprudência, mas ele deveria aproveitar essa ocasião e aprender algo do fato de estar dirigindo de uma maneira irresponsável. Precisamos nos ater ao que foi falado, não a quem falou.

Às vezes alguém lhe diz: “Você fala demais ao telefone, tente falar menos”. A pessoa fica muito ofendida e pensa ou fala: “Quem é ele para me criticar? Ele também conversa bastante com os amigos!” Mas pode ser que ele esteja certo. Talvez seja doloroso ouvir a mensagem daquela pessoa, mas devemos nos focar no que foi dito e não em quem o disse, pois se estivermos nervosos neste momento, acabaremos levando o assunto para o lado pessoal e com certeza a coisa irá explodir. Precisamos nos manter calmos e nos ater ao que está sendo falado.

Sobre o que falamos acima, de que apenas D’us sabe o que se passa no coração das pessoas, gostaria de citar mais um fato não tão incomum. Às vezes alguém dá uma festa e convida várias pessoas, mas estas não comparecem. Mas quem sabe o que está acontecendo na casa destas pessoas? Talvez uma criança não esteja passando bem, talvez o sujeito perdeu um processo na justiça, talvez tenha recebido a notícia de que um amigo está (D’us nos livre) com aquela terrível doença, talvez tenha perdido o emprego. Quem sabe? Como é possível saber? Precisamos entender que ao darmos uma festa, nem todos estão à nossa disposição e às vezes não podem comparecer. E isto não é motivo para ficar chateado ou nervoso.

Às vezes alguém nos critica aparentemente ‘de graça’, mas na verdade pode ser que as coisas estejam indo mal para o lado dele e essa pessoa acabe descontando no primeiro que aparece, mas tem vergonha de pedir desculpas.

Apenas D’us sabe o que se passa na cabeça de cada um e qual o motivo de suas atitudes, enquanto nós enxergamos apenas o que nossos olhos vêem.

“Eu Estava Errado!”

Tenho um amigo, Dr. Meir Wikler, um dos principais terapeutas americanos e especializado em aconselhamento matrimonial. Ele tem ajudado e orientado pais, filhos e educadores porque conhece muito bem, por experiência, os problemas familiares e já fez com que um número incontável de pessoas atingisse a felicidade e a realização. Ele contou-me que nos seus mais de 25 anos de trabalho nesta especialidade, chegou à conclusão de que um grande número de pessoas pensa que as três palavras mais importantes num casamento são: “Eu te amo!” Mas estão errados. As três palavras mais importantes são: “Eu estava errado!”

Se conseguirmos dizer: “Eu estava errado!” para nossos pais, cônjuges, professores, amigos ou até a nossos filhos quando necessário, teremos aprendido a lição contida no versículo 15:1, no livro de Provérbios (Mishlei), escrito pelo Rei Salomão: “Uma resposta gentil, suave afasta a fúria mas uma palavra dura, ofensiva, desperta a raiva”.

Gostaria de concluir com um bonito raciocínio sobre este assunto: O Talmud, no Tratado Pessachim (113b), traz a seguinte afirmação: “Existem três tipos de pessoas que o Todo-Poderoso ama. Uma delas é aquela que não fica nervosa”.

No final do texto das preces diárias (Shemoná Esrê), aqueles que oram conforme o costume Sefarad, falam o seguinte trecho: “Que seja Sua vontade, D’us, que ninguém tenha inveja de mim e que eu não tenha inveja dos outros; que eu não fique nervoso hoje e que eu não deixe o Senhor nervoso comigo”.

Fiquei pensando: qual seria esta situação na qual eu ficaria nervoso e deixaria o Todo-Poderoso nervoso comigo. Logo encontrei em nossos livros a resposta: trata-se das situações em que não damos o devido respeito aos demais, acabamos deixando os outros nervosos conosco por tratá-los de uma maneira não cortês, ou falando com muita ‘intimidade’, de uma maneira não respeitosa. Qual o grande exemplo disto? O Talmud responde trazendo a história sobre os 24.000 alunos de Rabi Akiva que faleceram entre Pessach e Lag Baómer justamente por não manifestarem o mais alto nível de respeito em relação ao próximo.

Fiquei pensando: “Quem será que escreveu o texto desta oração? Quem será que escreveu estas palavras “Que eu não fique nervoso hoje e que eu não deixe o Senhor nervoso comigo”?” Depois de muito procurar, achei a resposta no livro Sefer HaHaredim: Rabi Akiva.

Diariamente Rabi Akiva pedia a D’us: “Que seja Sua vontade, D’us, que eu não fique nervoso hoje e que eu não deixe o Senhor nervoso comigo”. Por que Rabi Akiva? Porque ele viu o que aconteceu com seus alunos, viu o que o nervosismo pode causar, e como D’us pode chegar a castigar aqueles que não dão o devido respeito ao próximo.

A Grande Decisão Para o Ano que se Inicia

Qual a minha sugestão para ter um grande ano de 5765?

Que tomemos todos esta importante decisão para o ano que se inicia: que tomemos o máximo cuidado para não desrespeitar o próximo, não o deixando nervoso ou magoado conosco; que desenvolvamos nossa humildade para não ficarmos nervosos se alguém não nos respeitar da forma como desejamos. Que possamos aumentar o amor e a união dentro do Povo Judeu, nos comportar de maneira exemplar no trato com amigos, cônjuges, sócios, etc, e assim, presenciar a chegada do Mashiach em nossos dias.

Shaná Tová a todos!