Eu, Culpado?? Nunca!
Rabino Yissachar Frand

Maimônides, o Rabino Moshe ben Maimon, também conhecido como Rambam (Espanha e Egito, 1135-1204), em seu livro Mishnê Torá (Hilchót Teshuvá 2:2), nos ensinou que existem três elementos para uma teshuvá (processo de arrependimento) apropriada: (1) o transgressor precisa tomar a resolução, de todo o coração, de nunca mais fazer esta transgressão novamente; (2) precisa se arrepender de tê-la cometido no passado, de tal modo que o próprio Todo-Poderoso poderá testemunhar que ele ou ela está arrependido(a); e o terceiro ponto é o vidui – a confissão verbal das transgressões, em que a pessoa precisa articular e verbalizar cada transgressão que cometeu.

Se fôssemos fazer uma pesquisa pedindo às pessoas para colocar estes três componentes em ordem de dificuldade, eu me arriscaria a dizer que a maioria das pessoas classificaria o vidui como o mais fácil dos três, o arrependimento sobre o passado viria em segundo e o mais difícil na mente das pessoas seria a resolução para o futuro.

O vidui, a articulação verbal de nossos erros, é algo que fazemos dez vezes a cada Yom Kipur, e não parece particularmente problemático. Receber sobre o futuro, por outro lado, parece extremamente difícil – especialmente uma vez que o Rambam coloca este quesito num patamar muito alto, dizendo que o próprio Todo-Poderoso precisa querer prestar testemunho que a pessoa está sendo sincera ao fazer este comprometimento.

Porém, queridos leitores, creio que esta percepção está equivocada. O vidui pede muito mais do que meramente soltarmos palavras de arrependimento de nossas bocas. Mais ainda, os passos para um comprometimento para o futuro, que parecem particularmente difíceis, são na verdade muito mais fáceis do que imaginamos.

Podemos aprender algumas lições importantes de um capítulo do Tanach (os 24 livros que compõem a Torá Escrita), onde está relatada a história do Rei Saul e do Profeta Samuel. Preciso, porém, fazer uma introdução com uma ressalva. Vamos estudar os 'pecados' e 'equívocos' de um dos maiores homens da história do povo Judeu, o rei Saul. A Torá descreve o Rei Saul como "um homem excepcional e refinado; não havia em Israel alguém grande em qualidade e excelência como ele (ShmuelI 9:2)". O Rei Saul era um Sábio da Torá e um combatente de sucesso contra os inimigos de Israel. Nossos Sábios (Talmud Yevamót121b) nos contam que muitos dos 'pecados' que foram atribuídos a grandes personalidades do Tanach foram considerados errados somente porque o Todo-Poderoso esperava mais deles – não eram pecados no sentido literal da palavra. Se nós cometêssemos alguns destes 'pecados' de nossos antepassados, eles poderiam até mesmo ser considerados mitsvót (boas atitudes) para nós. Uma vez que o Profeta e nossos Sábios registraram estes eventos, podemos tirar certas conclusões e aplicá-las às nossas vidas, mas é imperativo que lembremos que mesmo após o incidente que vamos relatar, o rei Saul foi descrito pelo rei David como um perfeito tsadik – uma pessoa pia e íntegra (Talmud Moed Katan 16b).

Como lemos na haftará da Porção Semanal de Zachor (Samuel I 15:1-34), D’us ordenou o profeta Samuel a comandar o rei Saul a guerrear e exterminar a monstruosamente maléfica nação de Amalek, que gratuitamente atacou o Povo de Israel quando saíam do Egito. O Rei Saul é instruído a eliminar todos os seus membros e destruir todas suas posses, inclusive o gado. As palavras da profecia são explícitas e não é possível ter outra interpretação.

Porém, não foi o que aconteceu. O Rei Saul e o povo ficaram com pena dos animais mais belos e os trouxeram com eles. Mais calamitoso ainda, o Rei Saul não matou Agag, o rei de Amalek.

D’us ficou muito desapontado com o Rei Saul e falou para o profeta Samuel: “Eu reconsidero Minha decisão de ter feito Saul rei, pois ele desviou-se de Mim e não cumpriu Minhas ordens.” O profeta Samuel, que era amicíssimo do rei, ficou tão perturbado que passou a noite inteira chorando e lamentando. Surpreendentemente, quando o profeta foi encontrar o rei no dia seguinte, este o cumprimentou com as seguintes palavras: “Abençoado é você para o Todo-Poderoso! Eu cumpri as palavras de D’us”.

Esta declaração é impressionante, pois o Rei Saul foi ordenado a matar todos os amalekitas, incluindo seu rebanho, e não o fez. Nós esperaríamos que a conversa entre eles fosse, talvez, a seguinte:

O Rei Saul se aproxima do profeta e diz: “Samuel, há algo que tenho a lhe dizer”.

“Sim, rei Saul?”

“Nós na verdade não exterminamos todos os animais de Amalek. Nós trouxemos os melhores para usar como oferendas”.

Todavia, o rei Saul simplesmente disse: “Eu cumpri as palavras de D’us”.

“E o que”, perguntou o profeta, “é o som destes carneiros e de bois que estou ouvindo? Você não recebeu ordens específicas de exterminá-los também?”

O Rei Saul recusou-se a admitir. “Eu os trouxe dos amalekitas”, o rei respondeu, “pois os soldados tiveram pena dos melhores animais e decidiram trazê-los como oferenda para o Criador, mas nós exterminamos os demais”.

O profeta Samuel repreendeu o rei Saul com severidade, exclamando que D’us o tinha ordenado a exterminar todos os animais, e então o confrontou uma vez mais, perguntando: “Por que você não obedeceu à voz do Todo-Poderoso?”

Novamente Saul apegou-se à sua história. “Mas eu sim prestei atenção à voz de D’us... Eu trouxe Agag, o rei, e destruí o restante do povo de Amalek. Os soldados trouxeram os carneiros e bois – os melhores daqueles que deviam ser destruídos – para fazer oferendas para o Criador em Guilgal”.

“Será que D’us Se alegra com as oferendas”, Samuel respondeu, “como Ele o faz quando obedecem a Seu comando? Obedecer é muito mais importante que a melhor das oferendas ... Uma vez que você rejeitou a palavra de D’us, Ele o rejeitou como rei!”

Chocado, o rei Saul finalmente confessou sua culpa, mas não sem se justificar. “Eu pequei”, ele disse, “... pois temi o povo e ouvi sua voz”.

O profeta Samuel rejeitou o argumento de Saul e disse: “D’us tirou de você o reinado de Israel hoje e o deu a alguém superior a você”.

Finalmente, após todo este diálogo, o rei Saul falou: “Eu errei”.

Este capítulo no Tanach demonstra uma importante percepção da psique humana. Não é fácil admitir a culpa. É muito difícil para nós dizer “Estou errado” ou “Sinto muito”. Apenas com muita relutância tiramos estas palavras de nossas bocas.

O rabino Yehuda Leib Chasman (Lituânia e Israel, 1869-1935), um dos gigantes do mussár (ética judaica) da geração anterior, certa vez repreendeu alguém por ter feito algo errado. A pessoa insistiu que sua atitude era justificada. Eles discutiram sobre o ponto em questão e, finalmente, a pessoa admitiu para o rabino: “O senhor está certo”.

“Isto não é suficiente”, Rav Leib respondeu. “Você precisa dizer: ‘Eu estou errado’”. Rav Chasman entendia como os seres humanos funcionam. Precisamos que ‘torçam o nosso braço’ para soltarmos estas palavras.

Antes de Yom Kipur, precisamos pedir desculpas àqueles que prejudicamos ou magoamos durante o ano. O cumprimento desta halachá deixa algo a desejar. Frequentemente ouço pessoas que, sabendo que fizeram algo errado contra o próximo, se aproximam dele(a) e dizem: “Se eu fiz algo errado para você este ano, por favor, me perdoe” ou “Se eu o ofendi de alguma maneira...”. Poucas pessoas realmente vão e dizem: “Eu estava errado em prejudicá-lo(a)/magoá-lo(a)”.

É difícil culpar as pessoas por esta falha. Precisou ao rei Saul – em seu elevadíssimo nível espiritual e ético – cinco reprimendas para finalmente admitir “Eu errei”, sem dar uma desculpa ou justificativa. É, portanto, entendível que nós temos uma grande dificuldade em reconhecer que erramos.

A singularidade absoluta da capacidade de dizer: “Eu errei”, pode explicar a construção verbal incomum em outro capítulo do Tanach, que relata a história do rei David e a rainha Batsheva.

Quando o profeta Natan veio repreender o rei David por suas ações, sua resposta imediata foi: “Eu errei”. Se olharmos num pergaminho com esta passagem do Tanach, veremos um espaço em branco (indicado pela letra hebraica samech nas versões impressas do Tanach) logo após estas palavras. A imediata confissão pelo rei David de sua culpa é tão incomum que o Tanach fez questão de indicar que ele disse apenas as palavras ‘eu errei’ e não tentou justificar seu comportamento.

A resistência humana nata em dizer ‘eu errei’ coloca um grande obstáculo quando tratamos sobre o processo de teshuvá. Admitir que estávamos errados é a essência da teshuvá. Precisamos tentar entender a batalha psicológica que o rei Saul teve que travar consigo antes de admitir sua culpa, para que possamos tentar ter sucesso em nosso próprio processo de teshuvá.

Desconectando o Ego

A primeira pergunta que precisamos fazer é: por que temos tamanha dificuldade em admitir nossa culpa, em dizer que estávamos errados?

Parece que a dificuldade básica em se admitir a culpa é que isto traz um tremendo golpe aos nossos egos.

O Talmud (Yomá 22b) relata que o rei Saul tinha uma argumentação lógica para não cumprir a ordem de D’us à risca. Ele desenvolveu uma abordagem original para um assunto da Torá e investiu muito em sua tese para chegar depois e dizer: “Eu fiz um erro, eu estava errado”.

É interessante notar que noutra instância do Talmud (Pessachim 22b), na qual uma pessoa desejosamente voltou atrás e reconheceu seu erro, ele é referido em termos entusiásticos e com louvores. Um rabino do Talmud chamado Shimon HaAmsuni era conhecido por sua tese que a palavra ‘et’ na Torá é, por natureza, não essencial, e a cada vez que aparece, ela ensina algo que não saberíamos de outra maneira. Na maioria dos casos, a palavra ‘et’ ensina que algo semelhante ao assunto do versículo está igualmente incluído na halachá (lei) mencionada. Por exemplo, existe um versículo que nos instrui a não ter nenhum benefício ‘físico ou financeiro’ de certo tipo de carne. Já que o versículo declara ‘et bessaró’ – sua carne – ao invés de meramente bessaró, Shimon HaAmsuni ensinou que também é proibido ter benefício do couro do animal.

Para termos uma idéia de quanto tempo e esforço ele investiu em desenvolver sua tese, a palavra ‘et’ aparece mais de quatro mil vezes na Torá! Esta tese era sua magnum opus, a grande obra de sua vida.

Então chegou o dia em que ele chegou ao versículo “Et Hashem Elokecha tirá – o Eterno, seu D’us, você deve temer” (Devarim 10:20). Ele parou e disse: “Não há ninguém no mundo que possa ser comparado a D’us e que mereça ser temido neste nível”. Ele levantou-se e disse a todos os seus alunos: “Meus alunos, eu fiz um erro. Minha tese estava errada, é falsa. Passei 35 anos de minha vida desenvolvendo esta tese, mas estive equivocado”.

“Rabino”, seus alunos exclamaram, “o que será de todos os ensinamentos que o senhor desenvolveu baseados na palavra ‘et’ até agora? Tudo perdido?”

Vejamos: se o Rei Saul achou difícil voltar atrás de uma argumentação lógica que ele pensou sob o impulso do momento durante a batalha contra Amalek, quão mais difícil deveria ter sido para Shimon HaAmsuni voltar atrás do trabalho de toda uma vida, que levou décadas desenvolvendo! Sua resposta, por conseguinte, é muito mais surpreendente:

“Da mesma forma que recebi recompensa por formular estas explicações”, ele respondeu, “assim receberei recompensa por abandonar minha tese”. Shimon HaAmsuni nos ensinou que reconhecer o erro, a coragem, a abnegação e a força para admitir estar enganado depois de tanto esforço investido, são tão grandes aos olhos de D’us que Ele nos dá tanto crédito e recompensa por este minuto que se leva para desdizer uma tese como receberíamos por todos os anos de esforço investidos em desenvolvê-la.

Podemos agora entender a verdadeira dificuldade da terceira etapa do processo de teshuvá, o vidui (confissão). A confissão que fazemos não se trata apenas de bater no peito e tagarelar ‘errei, pequei, etc’. O processo de Vidui significa olharmos para nossas vidas e nos perguntarmos: “Estou fazendo as coisas certas? Será que minha vida inteira não está sendo desperdiçada por causa de alguma falha básica em minha percepção do mundo?” Queridos leitores: sabem o quanto isto é difícil? Olhar a si mesmo no espelho e dizer: “Talvez eu esteja errado”? Parece-me um passo doloroso, talvez até impossível. Mas isto é do que verdadeiramente se trata o vidui.

Gostaria de compartilhar com vocês uma carta que uma mulher da Filadélfia, Estados Unidos, me enviou. Pelo que consegui captar, trata-se de uma mulher de meia-idade que começou o seu processo de teshuvá (retorno ao judaísmo) cerca de seis anos antes de ter escrito esta carta. Hoje ela é uma mulher plenamente praticante, porém esforçou-se vigorosamente durante este processo. Para explicar sua luta, ela escreveu um ensaio intitulado: “Dizendo adeus às minhas calças”. Ela já se vestia com recato por três anos a esta altura, mas havia uma coisa que não conseguia fazer: jogar fora suas calças.

“A cada vez que tentava”, ela escreveu, “não conseguia. Especialmente minhas calças jeans. Eu as colocava de lado e decidia tomar esta atitude numa outra hora – num momento quando tivesse as forças para confrontar minhas calças, para mostrar a elas quem realmente ‘veste as calças’”.

“Se minhas calças pudessem falar, elas contariam a história de uma mulher que está começando a perceber que em seu esforço para dizer adeus às suas calças, na verdade está lutando contra algo muito maior”.

Sabem contra o que ela estava lutando? Não era apenas contra suas calças. Era o esforço de transformar o seu conceito do que uma mulher realmente é. Ela teve de fazer uma mudança radical para alterar em sua mente o conceito de como a civilização ocidental considera as mulheres para como o judaísmo as considera, e foi extremamente difícil mudar sua visão neste estágio de sua vida.

Isto é o vidui. Isto é teshuvá. Olhar para si mesmo e dizer: “Será que minha visão da vida tem sido correta ou estou enganado?”

E ela concluiu com o seguinte:

“Eu estive me definindo mais por minha imagem exterior do que por minha alma interna e verdadeira essência. Não percebi que meu estilo de vestir refletia meu compromisso com minha alma e minha missão singular e especial como uma mulher judia. Eu via as vestimentas recatadas mais como uma restrição do que como uma maneira de transcender e transformar-me para melhor”.

Vou lhes dizer algo: infelizmente, todos temos nossas ‘calças’. Todos temos algo que consideramos parte integral de nós – algo que sabemos que precisamos abrir mão, mas o achamos extremamente difícil – porque sabemos que isto exigirá de nós repensar e reorientar tudo que estimamos muito. E isto é muito difícil. Parte do processo de vidui é identificar e começar a lidar com nossas ‘calças’ e, então, encontrar as forças para tomar as decisões difíceis de abrir mão delas.

Os Mecanismos de Defesa

Agora entendemos porque o Rei Saul não quis admitir que cometeu um erro. Porém, ainda há algo na história que parece impossível de se entender. Com o gado e o rebanho de Amalek fazendo um ‘fundo musical’, como o Rei Saul pôde dizer ao profeta Samuel: “Eu cumpri as palavras de D’us”? Mais ainda, por que ele agarrou-se à sua versão da história duas outras vezes, apesar dos esforços persistentes do Profeta para que ele admitisse sua culpa?

Parece – e, novamente, precisamos lembrar que não estamos criticando o Rei Saul, mas tentando aprender lições para nossas próprias lutas – que o Rei Saul empregou alguns dos mecanismos clássicos de defesa utilizados por todos os seres humanos ao se confrontarem com uma realidade que não conseguem enfrentar.

Mecanismo De Defesa Nº 1:
Negar

Os seres humanos têm a capacidade de negar fatos que são óbvios para todos no mundo menos para quem o está negando. Vemos este comportamento ocorrendo ao lidar com pacientes terminais e suas famílias. Às vezes o próprio paciente, às vezes membros bem intencionados da família, se recusam a acreditar que a doença é incurável.

Minha filha estava fazendo um curso para tornar-se terapeuta ocupacional. Uma moça, cujo pai estava com uma forma de câncer considerada incurável, estava no curso. Durante uma das aulas médicas, o professor aconteceu de mencionar aquele tipo de enfermidade e disse: “Esta doença é terminal”. Ele não tinha como saber que o pai da moça estava doente.

A moça aproximou-se do professor depois da aula e disse: “Não é terminal. Nem todos morrem desta doença”.

“Sinto muito”, o professor disse, alheio à situação, “mas estes são fatos baseados em evidências estatísticas de cura. É terminal”.

“NÃO É TERMINAL”, a moça insistiu. Ela simplesmente não conseguia aceitar a verdade. Seu professor estava correto, mas ela estava usando seu mecanismo de defesa.

O Rambam, ao relacionar as leituras da Torá para Yom Kipur, escreveu (Hilchót Tefilá 13:11): “Em minchá (a oração da tarde), lemos a porção que trata sobre os relacionamentos sexuais proibidos que estão na porção semanal da Torá chamada Acharei Mot, de forma que aqueles que transgrediram qualquer uma destas proibições possam se lembrar, envergonhar-se e arrepender-se”.

Eu tenho uma pergunta para o Rambam. No momento que chegamos a minchá de Yom Kipur, já estamos na sinagoga há, aproximadamente, 8-10 horas e recitamos o vidui seis vezes: duas à noite, duas em shacharit (a prece da manhã) e duas em mussaf (a oração seguinte). Será que realmente existe uma pessoa que cometeu um erro tão grave durante o ano e simplesmente não percebeu que precisa fazer teshuvá sobre isto a menos que cutuquemos sua memória ao ler – no meio da tarde de Yom Kipur – a porção da Torá proibindo estes relacionamentos? Será que alguém que cometeu adultério repentinamente se despertará de seu devaneio e dirá: “Meu D’us! Acabei de lembrar que cometi uma flagrante violação da Torá!”?

A resposta é: Sim. É possível haver alguém que passa oito horas na sinagoga, recita o vidui seis vezes e está se defendendo de assuntos que ocorreram em sua vida particular. Pode sim levar até que se aproxime o final de Yom Kipur, quando ele ou ela ouve uma extensa lista dos relacionamentos ilícitos sendo lida da Torá para sacudi-lo(a) de seu mecanismo de defesa e forçá-lo(a) a enfrentar o que fez.

Mecanismo de Defesa No. 2:
Racionalização

Na segunda parte de sua conversa, quando o profeta Samuel perguntou ao Rei Saul de onde vinha o som de animais, o rei respondeu: “Trouxemos alguns dos animais para ofertá-los ao Todo-Poderoso”.

O rei procurou uma justificativa para o que aconteceu: não está correto trazer oferendas como um sinal de gratidão a D’us por tê-los ajudado a vencer a batalha? É uma mitsvá!

A racionalização que precisamos mais nos preocupar é aquela na qual nos convencemos que estamos cumprindo uma mitsvá (mandamento Divino). Não há como parar alguém que está numa ‘missão sagrada’.

Meu Rosh Yeshivá, o Rabino Yaacov Ytschák Ruderman (Lituânia e EUA, 1900-1987) costumava dizer que em versículos consecutivos do livro Kohelet (Eclesiastes) o Rei Salomão escreveu (7:16): “Não seja excessivamente íntegro” e depois (Ibid., 17): “Não seja demasiadamente mau”. “Qual deles você acha que é pior – uma pessoa excessivamente íntegra ou uma demasiadamente ruim?” Creio que a maioria das pessoas diria que consegue lidar com alguém extremamente íntegro, mas não com alguém demasiadamente ruim.

Ensinou o Rabino Ruderman: “Uma pessoa que pensa ser extremamente íntegra é muito pior, porque não há maneira de argumentar com ela – ela sempre acha que está correta. Existe uma chance de sensibilizar mesmo a pior das pessoas, e talvez ajudá-la a se arrepender. Mas um indivíduo que se acha demasiadamente íntegro não pode ser convencido que seu comportamento não é apropriado. Se você tentar que melhore seu comportamento, ele indubitavelmente dirá: ‘O que você está falando? Isto é uma mitsvá! ‘“.

Estejamos conscientes da tendência de justificarmos nossas atitudes, e especialmente de uma maneira que nos faça sentir ‘sagrados’.

Mecanismo de Defesa No. 3:
Não é Minha Culpa

O terceiro e último mecanismo de defesa que vimos o rei Saul utilizar é, na verdade, o mais antigo da história, da época que o mundo tinha apenas algumas horas de vida: “Não é minha culpa”.

“Pois eu temi o povo e ouvi sua voz”, o rei Saul disse. “Não é minha culpa. Os soldados quiseram trazer os animais e fiquei com receio que iriam se rebelar”.

Eu disse que este é o mecanismo de defesa mais antigo porque ele foi utilizado pelo primeiro homem, Adam HaRishon (Adão). Quando D’us perguntou-lhe por que comeu da fruta da Árvore da Sabedoria, Adão respondeu: “A mulher que o Senhor deu para viver comigo, ela me deu a fruta e eu comi (Bereshit 3:12)”.

O Rabino Ovadia Sforno (Itália, 1475-1550) explicou que Adam teve um erro adicional. Não só ele tentou colocar a culpa em Hava (Eva), mas na verdade estava dizendo: “É Sua culpa, D’us. Você me deu esta mulher e veja o que ela me fez fazer”.

As repercussões trágicas das declarações de Adam HaRishon estão conosco até hoje. Se ao ser confrontado por D’us, Adam tivesse dito a palavra “errei”, o Todo-Poderoso o teria perdoado imediatamente, mas ele colocou a culpa em outrem e foi punido com muitas maldições.

O Rabino Yerucham Levovitz, conhecido como Rav Yerucham de Mir (Lituânia e Polônia, 1874-1936), percebeu algo muito interessante sobre os pássaros, que é verdadeiro para todos os animais. E posso confirmar, por experiência própria, como isto é verdade. A ponta do meu quintal faz limite com um bosque. Há uma marmota que emerge do bosque todo mês de março, que considero como uma dica que a primavera no hemisfério norte chegou. Este ano a marmota veio com dois filhotes e, a cada dia, enquanto sentado à minha mesa, elas saem do bosque e começam a comer a grama. A cada cinco segundos, elas levantam a cabeça e olham em volta. “Vocês sabem por quê?”, perguntou Rav Yerucham.

“Marmota, pássaros e os seus equivalentes têm predadores procurando atacá-los e precisam estar constantemente alertas. D’us lhes deu um instinto de sobrevivência que faz com que corram ao menor sinal de perigo”. É só eu bater na mesa e as marmotas saem correndo de volta para o bosque.

“Nós também temos um predador”, falou Rav Yerucham. “É chamado yétser hará, nosso mau instinto. Mas por que não temos o mesmo instinto de sobrevivência dos animais? A resposta é: um instinto de sobrevivência é necessário apenas para aqueles que não têm nenhum recurso quando atacados”.

“Nós não recebemos um instinto de sobrevivência”, continuou Rav Yerucham, “porque o Todo-Poderoso nos deu o poder de fazer teshuvá, de nos arrependermos. Logo que somos atacados e derrotados por nosso predador, podemos fazer teshuvá. Quando Adam pecou naquele primeiro fatídico dia da Criação e, ao invés de dizer “errei”, culpou sua esposa – e, por extensão, D’us – ele prejudicou nossa capacidade de admitir nossa culpa e dizer: ‘Sinto muito. Eu errei’”.

Esta é a função do vidui. A mitsvá do vidui é sobre parar de negar e racionalizar nossos erros, e não culpar os demais por nossas falhas. Isto requer que sejamos fortes o suficiente para, em Yom Kipur, dizermos ao Criador: “Foi meu erro. Eu estava errado. Sinto muito”.

O Jogo da Culpa

Há vantagens extras em nos treinarmos a dizer: “Foi minha culpa”. Isto pode aprimorar nossos casamentos que, de outra forma, tendem a se enfraquecer com o passar do tempo.

Há muitos casais que, quando têm uma discussão, frequentemente começam a jogar o ‘jogo da culpa’. Um diz: “É sua culpa” e o outro rebate: “Não, é sua”, e seguem por este caminho até que nenhum dos dois tem mais interesse em conversar. Os casamentos seriam tão melhores se marido e esposa fossem fortes o suficiente em confessar francamente seus erros e dizer: “Foi minha culpa. Desculpe-me”.

Permitam-me trazer um exemplo comum. Um casal é convidado para um casamento num salão que nenhum dos dois conhece. Eles sabem que precisam sair mais cedo para que tenham tempo suficiente para encontrar o local. O marido fala para a esposa: “Está ficando tarde. Você pode se apressar, por favor?”.

Ela quer sair, mas seu vestido não quer cooperar. Ela puxa, mexe... mas não está dando certo. Ficando impaciente, ele grita: “Você poderia vir logo? Vamos chegar atrasados”. Finalmente ela vem e pergunta: “Você sabe como chegar lá?”

Sua resposta invariavelmente é: “Não, mas eu consigo descobrir sozinho”.

“Mas o mapa está aqui”, ela diz, segurando-o em sua mão. “Podemos apenas levá-lo?”

“Não preciso do mapa” ele repete firmemente. Não preciso lhes dizer que eles acabaram perdidos e, enquanto procuravam pelo local da festa, começaram a discutir: “Você demorou demais com seu vestido”, ele disse, “Você me deixou tão nervoso que acabei me perdendo”.

“Você sempre insiste que sabe onde está indo”, ela revidou. “Por que não podíamos ter pegado o mapa?”.

E assim eles perderam a cerimônia do casamento (chupá). E foram convidados apenas para a chupá...

Dirigem de volta para casa num silêncio total e mal humorado: ele não conversa com ela nem ela com ele. Por quê? Porque nenhum dos dois foi forte o suficiente para dizer “Desculpe, foi minha culpa. Eu errei”.

“A incapacidade de admitir erros nos afeta todos os dias de nossas vidas”, escreveu o Rabino Chaim Shmulevitz (Polônia e Israel, 1902-1978). Ela afeta a teshuvá, afeta casamentos e afeta cada aspecto de nossas vidas.

O Rabino Dr. Avraham J. Twerski (Estados Unidos) fez a seguinte colocação: há quatro necessidades básicas para a existência humana: 1) água e comida, 2) abrigo, 3) roupas e 4) alguém para culpar.

Esta declaração não é mera tentativa de fazer humor. É uma verdade profunda. O Rabino Twerski disse que aprendeu isto de seu extensivo trabalho com alcoólatras que, inevitavelmente, culpavam outros por seu vício. Um culpava seu chefe autoritário, outro culpava sua esposa irritante, o terceiro, o vizinho que não o deixava dormir de noite, etc. Todos os estavam levando a beber. Colocar a culpa em outro livra o alcoólatra da obrigação de mudar. Quando a culpa é do patrão, então beber é uma reação normal.

Esta é razão pela qual a atitude de “Não é minha culpa” é o maior impedimento para a teshuvá. Não há razão para mudar quando não há nenhum defeito ou erro.

Precisamos aprender a assumir responsabilidades por nossos erros, primeiro em Yom Kipur e depois ao longo do ano.

Estamos Sendo Sinceros?

O vidui revela-se como sendo mais difícil do que antevíamos, mas o oposto é verdadeiro em relação a aceitarmos sobre nós não repetir os erros no futuro.

Uma olhada superficial neste passo do processo de teshuvá nos levaria a acreditar que é impossível atingi-lo. Pessoas que passaram por vinte ou trinta Yom Kipurs sabem que nossas resoluções raramente – ou, ousaria dizer, nunca – duram. Como podemos esperar atingir a exigência que o Rambam estabeleceu – que o próprio Todo-Poderoso, que conhece nossos pensamentos e emoções mais profundos, deve testemunhar que nunca mais repetiremos estes erros novamente? Quem pode honestamente dizer que, no calor da batalha contra o yétser hará, não irá fracassar novamente e repetir o erro?

Honestamente, todavia, aceitar um comprometimento para o futuro é mais fácil do que pensamos. Num dos ensaios mais encorajadores que jamais li, o rabino Israel Salanter (Lituânia, 1810-1883) chamou à atenção que, como sempre, o Rambam escolheu suas palavras muito cuidadosamente. O Rambam não descreveu D’us no contexto Daquele que sabe o futuro, mas como “Aquele que conhece as emoções e pensamentos mais profundos das pessoas”. Aquele que conhece o futuro sabe muito bem que talvez não seremos capazes de resistir à tentação de errar quando testados uma vez mais. Mas Aquele que conhece nossos pensamentos e emoções mais profundas é capaz de ver como nos sentimos, em Yom Kipur, em relação às nossas falhas. Se conseguirmos chegar num nível em Yom Kipur no qual somos sinceros, do fundo do coração, em que não queremos repetir nossos erros, o Todo-Poderoso nos considerará como sendo completos baalei teshuvá. Neste dia podemos nos tornar tsadikim.

De modo similar, o rabino Tzadok HaCohen de Lublin (Lituânia e Polônia, 1823-1900) em seu livro Pri Tsadik (Beshalach 6) provou que se um indivíduo toma uma decisão sincera e convicta de abandonar seus caminhos não éticos, perversos ou não desejáveis, mesmo se mais tarde for derrotado por seu mau instinto, ele ainda é considerado um tsadik completo no momento que chegou àquela decisão.

Será que pelo menos em Yom Kipur não podemos ser tsadikim?

O Rabino Natan Wachtfogel (Lituânia e EUA, 1910-1998), orientador espiritual anterior da Yeshivá de Lakewood, Nova Jersey, certa vez apresentou uma parábola para ilustrar este ponto. Se é lenda ou verdade, há estórias de bebês que foram abandonados na floresta e criados por lobos ou macacos. Se encontrássemos esta criança selvagem, ela sem dúvida estaria agindo como um animal: comendo como um animal, dormindo como um animal e se comportando como um animal. Poderíamos atribuir este comportamento à natureza e dizer que a criança nasceu com uma predisposição genética para agir como um animal ou educá-la e atribuir seu comportamento ao fato que viveu entre animais e nunca viu outro tipo de comportamento. Se pegarmos esta criança e a levarmos de volta à sociedade civilizada e ela começar a se comportar como um ser humano normal, então poderemos afirmar com segurança que a razão pela qual ela se comportava como um animal é porque foi criada e educada como tal.

Por 353 de 354 dias do calendário lunar, podemos ser escravos do yétser hará, o nosso mau instinto. Por mais que tentemos, simplesmente não conseguimos nos livrar de sua sedução. Mas há um dia por ano quando o yétser hará não tem domínio sobre nós: Yom Kipur. Não há yétser hará em Yom Kipur. Se neste dia mostrarmos ao Todo-Poderoso que podemos ser íntegros, corretos e tsadikim, isto significa que essencialmente somos pessoas íntegras, corretas e tsadikim. E poderemos, então, aceitar sinceramente sobre nós não repetir os erros no futuro.

Seja Proativo

O passo de comprometer-se a não repetir o erro no futuro não requer que digamos: “Nunca mais vou falar Lashón Hará (maledicências, calúnias, fofocas) em minha vida”. Se você fez esta declaração no passado então já sabe como ela é ineficaz.

A maneira de fazer um comprometimento para o futuro é erigir uma barreira para nos impedir de afundar de volta no mesmo comportamento. Façamos um compromisso que mostre ao Todo-Poderoso que somos sinceros. Estudar, por exemplo, as leis da fala permitida cinco minutos por dia.

Mostremos que somos sinceros, que queremos melhorar.

Tenho um conhecido que tem um comportamento exemplar: estuda diariamente, trabalha e tem uma bela e maravilhosa família. Ele recentemente me surpreendeu ao admitir que, nos últimos anos, tornou-se um viciado nas seduções da internet. Ele veio falar comigo, de coração partido, sentindo-se horrível sobre si mesmo. Ele disse que a cada ano, nos dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, ele prometia a si mesmo que este seria o ano que ele se livraria das garras do yétser hará, mas acabava fracassando. Um ano ele conseguiu se controlar até Chánuca, outro até Pessach, mas acabava perdendo o controle e escorregando para o mesmo buraco novamente. Quando isto acontecia, ele ficava tomado de um sentimento de culpa tão grande, que beirava à depressão. Sua esposa lhe perguntava: “Qual o problema? Eu fiz algo de errado?” Ele tinha vergonha de contar-lhe que estava navegando pelos lugares mais desaconselháveis da internet.

Baseado na decisão que tomou no último Yom Kipur, finalmente ‘construiu’ uma barreira. Ele foi até o gerente de tecnologia de sua companhia e pediu-lhe que bloqueasse seu computador de acessar estes sites: “Você poderia colocar filtros em meu computador de tal modo que, por mais que eu tente, eu não consiga acessar estas páginas da internet?” O homem concordou e, Baruch Hash-m, esta pessoa conseguiu livrar-se deste yétser hará.

Isto é o que todos precisamos fazer. Erigir barreiras, cercas. Montar controles externos para a eventualidade de os internos falharem. Fazer tudo o que for possível para evitar transgredir a vontade Divina novamente.

Não Espere Até Que Seja Tarde

Nossos Sábios se referem ao Shabat como uma ‘grande dádiva’. Talvez a Torá se refira a Yom Kipur como Shabat Shabaton porque é uma dádiva ainda maior, pois pode ser um salva-vidas. É o único dia do ano que podemos fazer uma verificação de nossa realidade, encontrar as áreas que precisam ser melhoradas e os meios de consegui-lo.

Quão afortunados somos de ter um dia a cada ano em que podemos fazer um balanço de para onde estamos indo, se estamos fazendo erros, para que não cheguemos a um dia, no final de nossas vidas, quando, de forma repentina, percebamos que estávamos vivendo uma mentira – como aconteceu com Grigory Zinoviev.

A maioria de nós provavelmente nunca ouvir falar de Grigory Zinoviev – ou Ovsei-Gershen Aarónovich Apfelbaum, seu nome de nascença – mas ele é descrito numa biografia escrita sobre si como ‘O colaborador mais próximo de Lênin’. Conhecemos os nomes Lênin, Stalin e Trotski, mas essa foi uma pessoa que teve um papel muito importante em disseminar o comunismo. Grigory Zinoviev era um judeu, mas ele abandonou sua religião e seu povo completamente numa idade muito jovem e dedicou sua vida à ‘utopia do comunismo’. Quando Lênin estava em seu leito de morte, ele lhe disse: “Não importa o que você faça, livre-se de Stalin, porque ele vai voltar-se contra você”.

Zinoviev, não preciso dizer, não seguiu o conselho de Lênin e formou a Troika (triunvirato) junto com Stalin e Kamenev, para impedir as aspirações de Trotski. Zinoviev, Stalin e Leib Kamenev eram as três cabeças do Partido Comunista, até que um belo dia Zinoviev foi preso. Ele não conseguia acreditar. Deve ser um golpe capitalista, ele pensou. Stalin, a ‘Luz da Nação’, nunca faria isto comigo.

Em sua insensatez e tolice, ele escreveu uma carta atrás da outra de sua cela na prisão para Josef Stalin: “Há algo de errado aqui. Fui preso por engano. Tire-me daqui!” É lógico, nenhuma das cartas foi respondida. Depois de alguns anos, Stalin decidiu executar Grigory Zinoviev. Quando aguardava para ser executado, o comandante do pelotão de fuzilamento aproximou-se dele e disse: “Stalin fez isto com você. Ele o pôs na cadeia e agora o está fuzilando”.

Imaginem como Grigory Zinoviev sentiu-se neste momento. Ele tinha 52 anos de idade. Viveu sua vida pela criação do Partido Comunista e matou para que tivessem sucesso – o comunismo era sua vida. Ele abriu mão de tudo para vê-lo tornar-se realidade. De repente, percebeu que tudo era falso.

E então, logo antes de os soldados apertarem o gatilho, Grigory Zinoviev pronunciou suas últimas palavras neste planeta: “Shemá Israel, Hash-m Elokeinu, Hash-m Echad”.

Naquele último momento ele quis agarrar-se à única verdade que conhecia. De algum modo, por alguma razão, apesar de tudo, ele sabia que há um D’us.

Que nenhum de nós jamais tenha que enfrentar um momento na vida onde, inesperadamente e abruptamente, descubra que tudo ‘explodiu’, que foi por água abaixo.

Nunca alguém, em seu leito de morte, falou: “Arrependo-me de não ter passado mais tempo no escritório”. Porém, às vezes vivemos nossas vidas sem considerar o que e quem somos e o que estamos fazendo com o nosso tempo. O que é importante e o que é trivial. Este é o propósito de Yom Kipur. Ao utilizarmos Yom Kipur corretamente, ao utilizarmos este dia mais precioso do ano para rever nossas vidas e olhar para nós mesmos, admitindo nossos equívocos e falhas e dizendo “Errei”, então o que ocorreu a Grigory Zinoviev – mesmo numa escala menor – nunca ocorrerá conosco. Sem ‘poréms’, sem negar, sem culpar outra pessoa e sem racionalizar. Simplesmente: “Eu errei”.

Que possamos ter uma ketivá vehatimá tová, um ano com muito nachat (alegrias) com nossos familiares, saúde e presenciar a tão ansiosamente aguardada gueulá (salvação) deste longo e amargo exílio.