Quatro Perguntas Para Yom Kipur
Rabino Yissachar Frand

Kól Nidrei (a oração mais famosa da noite de Yom Kipur) ocupa um lugar muito especial no coração do Povo Judeu. É interes sante que mesmo os Judeus muito afastados da observância religiosa, que nunca são vistos em nenhuma sinagoga, aparecem, obrigatoriamente, uma vez ao ano, para a oração de Kól Nidrei. Existem dúzias de nigunim (melodias) para as diversas partes das orações, mas praticamente todo Klal Israel usam o mesmo nigun para Kól Nidrei.

E sempre me causou curiosidade o porquê de as pessoas ficarem "agitadas" nesta noite. Na verdade, a influência do Kól Nidrei na imaginação coletiva do Povo Judeu é, à primeira vista, um pouco difícil de entender. A oração, em si, não contém a força dramática ou a história envolvente de coragem ou martírio que levaram à composição de U'nesaneh Tokef. Kól Nidrei também não evoca a imagem de uma balança pendendo entre a vida e a morte. Kól Nidrei é, na realidade, uma reza extremamente técnica, onde cancelamos as diversas formas de promessas e juramentos que tenhamos feito durante o ano.

Num esforço para avaliar a importância do Kól Nidrei, o Levush Mordechai explica que existem, na verdade, 3 tipos de mitsvot. Estamos todos familiarizados com duas categorias: mitsvot entre o homem e seu semelhante, e as mitsvot entre o homem e D'us.

Mas, diz o Levush Mordechai, existe uma terceira categoria, a das mitsvot entre o homem e si mesmo. Quando uma pessoa faz um juramento ou uma promessa, ela se insere nesta categoria de mitsvot, pois, essencialmente, está dando sua palavra. E o que é o homem , senão a qualidade de sua palavra ?

O que nossos sábios estão tentando nos dizer é que, ao chegarmos a Yom Kipur, devemos começar a pensar sobre as mitsvot entre a pessoa e ela mesma. Isto é o que o Kól Nidrei aborda: que este processo de Teshuvá (retorno aos caminhos Divinos) que estamos para começar não é apenas entre “eu e D’us”, mas, na realidade, “entre eu e eu mesmo”.

Eu ouvi uma boa definição de Yom Kipur: é o dia que visitamos a nós mesmos. E para muitos de nós, é uma visita que não fazíamos há muito, muito tempo. Se parar para pensar, por mais estranho que possa parecer, há quanto tempo não fica um pouco consigo próprio? Nossos dias são tão corridos, que raramente temos tempo para considerar nosso próprio estado espiritual. De manhã, quando você acorda, já está ocupado. Durante o dia, no trabalho, passa a maior parte do tempo preocupado, e ainda assim, com os outros. À noite, tem de se dedicar à casa, à família ou aos estudos. Então, quando você pensa, conversa ou interage com você mesmo?

Antigamente, os mestres do mussar, ética judaica, desenvolveram a idéia de ir a um lugar isolado, onde poderiam parar alguns momentos, para uma reflexão interna e um auto-exame; os chassidim, pessoas que seguem a orientação de um determinado Rebe, costumavam ter o que chamavam de “hora morta”, um período de tempo somente para sentarem e pensarem. Não estudavam, nem rezavam nestas horas, apenas pensavam. Estas práticas, entretanto, parecem ao judeu moderno como uma curiosa relíquia de tempos antigos, mais simples e sossegados.

O tempo para uma auto-análise fica cada vez menor, enquanto que uma profusão de modernas tecnologias continuamente se intrometem em cada momento do dia. Anos atrás, uma pessoa poderia usar o tempo que lhe sobrava durante o trabalho para uma “conversa” com sua alma. Hoje em dia, numa sociedade que abomina o silêncio, as pessoas usam seus intervalos para ouvir radio ou fita ou qualquer outra coisa.

A principal mitsvá positiva de Yom Kipur é o vidui, a confissão dos prórpios pecados. Além da confissão, não há nenhuma mitsvá explícita de teshuvá (arrependimento) na Torá. O interessante é que, em Hebraico, o verbo “confessar” (Lehitvadót) só é encontrado na forma reflexiva, isto é, “confessar-se”. E por quê?

“Ok, eu confesso. Mas confessar para quem? Eu confesso perante D’us, mas para quem?” A resposta é: “Para mim mesmo !!!”. “Quem sou eu? Onde estou? Que tenho feito?”

Esta é uma mitsvá muito difícil, pois neste processo de vidui (confissão), acabamos nos confrontando com um sentimento chamado CULPA.

Na era pós-Freud, CULPA é quase um palavrão! A “pior” coisa que se pode fazer a outra pessoa é fazê-la sentir-se “culpada”. Mas a verdade é que a CULPA é um sentimento básico e necessário do ser humano. E ela aparece quando não agimos da forma que o deveríamos, quando não vivemos pelos motivos que deveríamos viver.

D'us, na sua enorme sabedoria, deu à mente humana uma emoção chamada CULPA, que nos adverte quando não agimos corretamente, que nos diz “MUDE SUA ROTA!” Na verdade, existe muita culpa que é doentia e injustificada, mas a CULPA em si é crucial para noso desenvolvimento espiritual. A CULPA é para a alma o que a dor é para o corpo. A dor nos avisa que alguma coisa está errada e que precisa ser tratada, e a CULPA exerce a mesma função em relação à alma: nos adverte que não estamos realizando os propósitos para os quais fomos criados.

A CULPA pode ser comparada à fome: quando o corpo necessita de alimentos, avisa “Estou com fome! Me alimente!”. Que aconteceria se desenvolvessemos uma pílula que, a cada vez que aparecesse este aviso, nós a tomaríamos e a fome passasse? Depois de algum tempo morreríamos de fome!

Quando a alma não está sendo nutrida, está sendo maltratada, também emite um aviso, cahamado CULPA: “Mude! Faça alguma coisa! Você não está agindo certo!” E se constantemente negamos esta CULPA, a varremos para baixo do tapete, mataremos de “fome” nossa alma.

Para evitarmos a culpa, racionalizamos os fatos e acontecimentos, descobrimos “boas” desculpas. O Rei Salomão, em sua obra Kohélet (Eclesiastes 7:29), nos conta, sucintamente, e talvez esta seja a melhor definição dos seres humanos, o seguinte: “D’us criou o homem um ser correto e o que este passou fazendo desde sua criação foi arrumar ‘boas’ saídas, desculpas”.

Racionalizações para antes de fazer algo errado, e depois de tê-lo feito, todo tipo de desculpas para evitar a CULPA, para não ter de se confrontar com “Quem sou eu? Onde estou?” E isto continua até hoje.

D’us deu a Adão somente uma mitsvá – não comer a fruta de uma única árvore – e mesmo isto lhe foi demais. E com o primeiro pecado veio a primeira desculpa. D’us perguntou-lhe: “Por que comeu desta árvore?” Adão lhe respondeu com a primeira racionalização da história, a mais velha de todas: “A mulher que o Senhor deu para viver comigo ela me deu o fruto e eu comi...” (Gênesis, 3:12).

Foi culpa da minha mulher! E quando D'us inquiriu a Eva, qual a resposta? “A cobra me fez comer!” (Gênesis, 3:13).

“A CULPA é sempre de outra pessoa! Nunca é minha CULPA! Tenho uma desculpa, um álibi!”

Logo veio o segundo pecado, Caim matou Abel. O versículo (Gênesis, 4:8) conta: “Caim falou para seu irmão Abel. E estavam no campo, e Caim levantou-se contra seu irmão Abel e o matou”. Há algo faltando aqui: o que, precisamente, Caim falou para Abel? Por que esta frase está incompleta? O Targum Yonatan ben Uziel (um dos explicadores da Torá) responde esta pergunta, mas a Torá omite a resposta. Por quê? O rabino Yossef Harari Raful traz uma bela resposta para esta pergunta: “Porque não faz a menor diferença qual as palavras de Caim !!” O que ele falou não foi nada mais que uma racionalização do que estava prestes a fazer. Não faz diferença qual desculpa em particular ou racionalização foi dita, porque sempre haverá uma culpa da esposa, culpa do patrão, culpa dos filhos, meu emprego, a falta de emprego, etc, etc.” NUNCA a CULPA é minha!

Isto é um impedimento básico para a teshuvá. Porque, para se fazer teshuvá, para fazer o vidúi (confissão), para lidar consigo mesmo, você precisa reconhecer uma coisa: “a CULPA é sua!” Nada de desculpas! “Tudo depende realmente de mim!”

Certa oportunidade, o Rav Chaim Friedlander Z’tl, mashguiach (orientador) da Yeshivá de Ponovez, mostrou como é importante esta atitude, assumir sua responsabilidade, a partir da famosa história de Elazar ben Dordaya, no Talmud Avodá Zará (17A). Elazar ben Dordaya era tão hedonista, que já havia passado por cada uma de todas as prostitutas do mundo. Uma vez, ouviu falar sobre determinada prostituta, que morava muito, muito longe, e que cobrava uma fortuna por seus serviços. Elazar ben Dordaya fez a longa viagem e lhe pagou uma fabulosa soma. Antes de praticar o ato, ela, em sua obsessiva imoralidade, falou-lhe: “Elazar ben Dordaya, você nunca fará teshuvá!” Suas palavras o atingiram como nada antes o fizera. “Olhe o quão baixo você afundou, que uma prostituta chegou a lhe dizer que nunca faria teshuvá!”

Mas este fato não acontece somente no Talmud. O rabino Berel Wein contou sobre uma pessoa, que hoje é um Báal Teshuvá, que certa vez estava dirigindo seu carro, com duas entradas para um show na Brodway.

Como o trânsito estava muito pior que o normal naquele pedaço de Manhattan, o homem perguntou ao guarda de trânsito:

– Que está acontecendo hoje?
– Você não sabe? – respondeu-lhe o guarda – Hoje à noite é Yom Kipur!

Isto foi como uma bofetada em sua cara. Quando alguém houve de um guarda, no meio da rua, que é Yom Kipur, ele sabe o quanto está afundado, o quanto ele caiu.

O Talmud continua contando: “Elazar ben Dordaya procurou todo tipo de desculpas para seu comportamento. Culpou seus pais, a sociedade, mas a resposta foi negativa. Até que chegou à inescapável conclusão: “A culpa não é de ninguém, a não ser minha!” E, assim, ele fez teshuvá! E isto porque chegou à conclusão que a vida é só dele, que a responsabilidade é só dele e que somente ele poderia mudá-la. Somente depois disto ele foi perdoado, e a partir daí o Talmud o chama de Rabino Elazar ben Dordaya. E por quê? Porque ele nos ensinou um dos pilares da teshuvá: Devemos assumir nossas responsabilidades, assumir quando estivermos errados, começar de novo! Nada de desculpas ou culpar os outros!

O dia de Yom Kipur é como olhar-se num espelho.

Há dois jeitos de se olhar num espelho: o primeiro, de longe, onde pensamos: “Nada mal! Relativamente falando, somos todos tsadikim (justos)!” Mas não nos deixemos cair neste erro.

Devemos nos lembrar do que falou o Brisker Rav, Z’tl: “Noventa por cento do Povo Judeu foram criados sem nenhum conhecimento de D’is. 90% do povo não sabe nada e não serão responsabilizados por seus atos! Não são aquelas pessoas que estão atrasando a vinda do Mashiach, somos nós! Pois nós sabemos o que é Yom Kipur, o que é Shabat, Tefilim, Kashrut! Não aponte seu dedo para eles, pois é nossa culpa, não deles!

Portanto, certifique-se de olhar no espelho bem de perto, para enxergar os detalhes, para conhecer-se melhor. E para fazer isto, sugiro quatro perguntas:

A primeira questão é: “Como é meu cumprimento das mitsvot? Quão observante eu sou?”. “Ah, esta é moleza”, você poderia dizer, “respeito o Shabat, comida kasher, pureza familiar”.

Mas, tudo isto tornou-se uma coisa mecânica, rotineira, envelecida pelo passar dos anos de vida?

Olhe os Baalei Teshuvá, que mudaram seus hábitos de vida, trocaram de emprego quando necessário, confundiram seus amigos, antagonizaram-se com seus familiares e tudo pelo seu comprometimento com o Judaísmo.

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A segunda pergunta é: O que, realmente, o deixa feliz? O que lhe dá prazer na vida?

A questão não é somente se temos alegria com as mitsvot, mas se constituem as alegrias principais de nosssas vidas.

No final da porção semanal Ki Tavo, quando lemos as terríveis advertências caso o Povo Judeu não seguisse no caminho de D’us (de fato, cada uma delas se cumpriu durante a história), a Torá atribui sua causa ao não cumprimento das mitsvot com alegria e satisfação. O grande sábio Arizal, que viveu no século XV, explica que o problema não é não termos feito as mitsvot com alegria, mas que a alegria das mitsvot nunca foi maior que nossa alegria pelos prazeres materiais. Vivemos em uma sociedade cheia de abundância, onde se tem tudo que se deseja. Mas a alegria que você tem de suas mitsvot, de forma alguma, se compara àquela proporcionada pelo mundo material. Os carrões zero quilometro, belos apartamentos, as viagens de férias, isto é o que lhe dá alegria na vida!

Deixem-me trazer-lhes um exemplo do que significa viver para as mitsvot.

Ano passado fui a Nova York, fazer uma palestra. Ao acabar, um membro daquela congregação, um comerciante de móveis, levou-me à estação para pegar um trem de volta a Baltimore. Me sentia muito bem, pois a palestra havia decorrido sem problemas. Em meio à nossa conversa, o homem me contou o quanto lhe era importante a Tefilá (orações) em sua vida. Contou-me que não havia perdido uma única Tefilá com minian (dez pessoas) nos últimos 17 anos. Nunca, em 17 anos, havia este homem rezado Minchá depois do pôr-do-sol, nem Arvit antes de seu horário, nem Kriat Shemá depois de seu horário! Costumava passar suas férias na Flórida, mas agora não vai mais por temer perder a reza com minian! Este homem vive para rezar!!

Este é um homem que seus prazeres, suas alegrias, não vêm do mundo material, de carros ou qualquer coisa do gênero! Sua alegria vem de poder afirmar: “Nunca perdi uma Tefilá com minian em 17 anos!”

OO Rambam (Maimônides), em seu comentário sobre Mishnayot, escreve que D’us nos deu tantas mitsvot para que cada Judeu pudesse achar uma mitsvá em particular, para agarrá-la e cuidá-la o melhor possível, e assim, será merecedor do Olam Habá (mundo vindouro).

Pode ser que aquele homem não soubesse estudar uma mishná, mas tenho certeza de uma coisa: ele é merecedor do Olam Habá, pois eu prazer na vida, sua essência, é a mitsvá de rezar!

Isto é sobre o que se referia o Arizal. Quando saí daquele carro, era uma pessoa muito mais humilde, pois alí estava um homem que sabia responder à pergunta: O que lhe dá prazer nesta vida?

Quero lhes dizer uma coisa: A maneira como vivemos nesta vida não nos afeta somente neste mundo, mas em todo nosso percurso para o Olam Habá, para o Gán Êden (Paraíso).

Vou lhes contar uma história chassídica. O Chidushei HaRim, o fundador da dinastia Gur, estava, certa vez, caminhando por uma estrada, quando uma carroça parou e lhe ofereceu uma carona. Depois de algumas milhas, um dos cavalos subitamente caiu morto. Algumas milhas depois, o segundo cavalo seguiu o mesmo caminho. O cocheiro havia perdido toda sua fonte de sustento de uma hora para outra. Ficou desesperado, inconsolável. Desceu da carroça e chorou, e chorou, até que também caiu morto. À noite, o Chidushei HaRim teve um sonho, onde viu que este cocheiro havia ido para o Céu, para o Olam Habá (mundo vindouro)! E vocês sabem qual foi seu Olam Habá? Uma bela carroça com dois incríveis cavalos! Este foi seu Olam Habá, pois este era seu Olam Hazê (nosso mundo).

Nós fazemos nosso Olam Habá !! Você pode, agora, escolher o que quiser! Mas será seu Olam Habá um belo escritório, com seu nome na porta? Você quer que seu Olam Habá seja um BMW? Ou um banheiro decorado daquele jeito que sempre quis? Ou quer uma cadeira cativa no New York Stadium, porque só vive para os esportes ou qualquer outra maluquice? Mas pense como irá se sentir, quando receber um belo apartamento decorado, enquanto que aquele simples judeu da sinagoga, que você nunca prestou atenção, estiver desfrutando da luz da Shechiná (a Presença Divina).

Quando era criança, bem garotinho, sempre quis ter um estilingue. Tentei fazer um, mas não deu certo. Um dia, passei em frente a uma loja e vi um belo estilingue de plástico, com grandes tiras de borracha. Pedi a meus pais: “Por favor, me comprem aquele estilingue!”, mas eles, sabiamente, não quiseram. Imaginem como me sentiria, no dia de meu casamento, quando meus pais se aproximassem e dissessem: “Filho, aqui está aquele estilingue que você sempre quiz!”

Mas agora eu cresci, não preciso mais do estilingue...

Como nos sentiríamos, então, quando chegarmos ao Olam Habá e D'us nos der aquilo que sempre desejamos?

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A terceira pergunta é a mesma que o capitão do navio que Yoná (Jonas) viajava lhe fez. No meio da tempestade, com o navio quase afundando, ele lhe perguntou: “Como pode continuar dormindo?”

Vocês percebem o que está acontecendo pelo mundo? Tudo virou de cabeça para baixo: presenciamos o desmanche da União Soviética, a reunificação da Alemanha, centenas de milhares de judeus soviéticos estão livres para partir! Um louco apontou seus mísseis, potencialmente armados com gases venenosos ou agentes biológicos, para Erets Yisrael, e presenciamos nossa miraculosa salvação daqueles mísseis. Com certeza isto prendeu nossa atenção algum tempo, mas depois que o show acabou, pensamos seriamente a respeito ou internalizamos algumas lições disto?

D’us está reestruturando seu mundo, e que fazemos a respeito? NADA!!

Nós reagimos, nos mexemos? NADA!!

Então você diz: “Que me importa comunismo, não comunismo. Isto não me atinge!”

Mas o que acontece ao Povo de Israel lhe importa alguma coisa ?

Você pensa que talvez signifique alguma coisa , que D'us tirou mais de 100.000 Judeus da União Soviética ? Isto tem algo a ver com você?

É um mundo novo!! Você mudou alguma coisa ? NÃO !!

Vou lhes fazer outra pergunta: você gosta do que está acontecendo em nossa comunidade? Se incomoda com todas as doenças que estão aparecendo? Há muitas pessoas falando kadish, há ônibus capotando nas estradas, isto já e mais próximo a você?

Dá para perceber que o Atributo Divino da Justiça está em ascensão sobre o Atributo Divino de Bondade?

Não sei o motivo disto tudo, mas vou lhes ler o que escreveu o grande sábio Chafetz Chaim, Z’tl, em seu livro Achavát Hessed: “O que estamos vendo com nossos olhos é uma época em que Midat Hadin (o Atributo Divino de Justiça) governa o mundo; que D’us, por algum motivo, está nos julgando de forma mais rígida, mais estrita, e não com Midat Harachamim (o Atributo Divino de Misericórdia). Devemos, para reverter o julgamento Divino, atuar com a mesma bondade em relação às pessoas que aquela que imploramos a D’us que mostre a nós.

Caridade (tzedaká) e bondade (chessed) são nossas únicas esperanças em alterar a maneira que D’us se relaciona com o mundo. Quando demonstramos nossa preocupação com os oprimidos e carentes entre nós, necessariamente influenciamos o julgamento Divino.

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A quarta pergunta é: Estou, realmente, ansioso pela vinda do Mashiach?

Não irei prever que o Mashiach virá este ano, ou no próximo, ou mesmo no ano seguinte. Mas ele virá. Os sinais estão aí, e faremos bem em considerar o que isto significa para nós.

A medida de nosso desejo pela vinda do Mashiach são nossos esforços para extirpar o ódio infundado de nosso meio, que é o que retarda a Redenção.

Sermos extremamente honestos, educados, calmos e generosos, evitar ao máximo intrigas e fofocas, discussões e ironias, isto tudo trará a Redenção e o reconhecimento de D’us no mundo.

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Quando era mais jovem, sempre fiquei intrigado pela declaração do Talmud (Taanit) que o Povo de Israel não tem dia melhor que Yom Kipur, que Yom Kipur é o dia mais alegre do ano. Conforme fui ficando mais velho, descobri que aquela suposição era verdadeira: Yom Kipur é o ponto alto do ano, onde sinto que me livro de minhas algemas terrestres.

É um dia que não posso comer nem beber, mas um dia que não preciso comer e beber. É um dia completamente livre de todas as preocupações materiais: nada de telefonemas, de distrações de todo tipo. Um dia somente para sentar na sinagoga, elevar-se e meditar. Um dia de purificação, de entrar em contato com nossas raízes espirituais.

Acima de tudo, um dia para sentir a proximidade de D'us, e como Ele deseja que voltemos a Seu caminho.

Você acha que foi uma prostituta que disse a Rav Elazar ben Dordaya que ele não poderia fazer Teshuvá? Você acha que foi um guarda que respondeu ao judeu, completamente assimilado, “Você não sabe que esta noite é Yom Kipur?” Foi D’us falando. O Talmud nos ensina que, diariamente, uma Voz Celestial sai do Monte Sinai e lamenta a perda para a humanidade causada pelo distanciamento da Torá. E você sabe onde nossos Livros Sagrados situam esta Voz? Dentro de nós mesmos. O único problema é que abafamos tanto nossas almas, que não conseguimos ouví-la.

Yom Kipur, entretanto, é o dia para descascarmos as camadas de incrustrações de nossa alma e ouvir aquela Voz Celestial. “Você dá Sua mão aos pecadores e Sua mão direita está estendida para receber os arrependidos”, nós dizemos em Neilá, a última oração de Yom Kipur, e o Zohar comenta que D’us “estende sua mão” como a salvar alguém afundado na escuridão.

Férias ajudam o corpo, mesmo que tenhamos que retornar aos problemas que deixamos para trás. Yom Kipur são as férias para a alma, um dia em que ela escapa das limitações de nosso corpo físico. Mesmo que ao anoitecer voltemos às nossa preocupações diárias, não somos mais os mesmos. Ao liberarmos nossas almas por aquele único dia, e sentir nossa proximidade ao nosso Amado Pai, que está, pacientemente, nos aguardando, estamos melhor capacitados para mudar. Podemos alcançar aquela mão estendida em nossa direção.

O dia de Yom Kipur nos conclama: “Faça algo diferente, por D’us e por você, agarre Sua mão!”

GUEMÁR HATIMÁ TOVÁ !